tag:blogger.com,1999:blog-23882312542619098422024-02-20T23:36:29.579-03:00Blog do Rafael CastilhoUm espaço para os espíritos livres!Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.comBlogger406125tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-55790419808426950072021-03-23T11:47:00.001-03:002021-03-23T11:47:15.580-03:00Ao Presidente Duílio Monteiro Alves<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidyA6MLZ609A2qtCYKEoSDPNjm_Ucz3zBbSzH8k2o6H0w7dFqUZ5ciffKfJJ_IPO7RYmNJXBMI9RFLClvlvbenScSk5jz8P5P0G4DvC-TgEcw9vNI3n0BmsY4Smj5ZPXAQa3YDBc9l4cQ/s614/158850942_186344586315989_7027030924153046399_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="326" data-original-width="614" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidyA6MLZ609A2qtCYKEoSDPNjm_Ucz3zBbSzH8k2o6H0w7dFqUZ5ciffKfJJ_IPO7RYmNJXBMI9RFLClvlvbenScSk5jz8P5P0G4DvC-TgEcw9vNI3n0BmsY4Smj5ZPXAQa3YDBc9l4cQ/s320/158850942_186344586315989_7027030924153046399_n.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal">Seu passado é uma bandeira, seu presente é uma lição.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Essa frase do Hino do Corinthians não é algo banal. Não foi
colocada por um acaso no meio da letra, no meio da canção.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Quando dizemos que o passado do Corinthians é uma bandeira,
damos a justa medida da importância histórica da nossa amada instituição. Não
somos somente um time de futebol. Somos uma bandeira a ser hasteada nos
momentos de glória e também nos momentos mais importantes da nossa história.
Significa que somos um símbolo, uma representação, um instrumento, uma força.
Significa que nosso passado é a maior indicação de quem somos. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Como o hino foi composto por Lauro D’Ávila em 1952, o
passado ao qual ele se referia, era a fundação e formação do nosso Corinthians,
fruto do esforço coletivo de seu povo que construiu o clube de futebol mais
relevante, importante e original do mundo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Certamente, entre outras coisas importantes na nossa
formação, Lauro olhava para eventos como a mobilização de seus associados e
torcedores para enfrentamento da crise da Gripe Espanhola, há um século. Embora
a gripe não fosse necessariamente espanhola, o Corinthians sempre teve a
participação efetiva da comunidade espanhola na Cidade de São Paulo que adotou
esse clube como seu. Até porque, eles não tinham um grande clube como
instrumento de representação àquela altura. Muitos eram chamados de sucateiros
ou de carroceiros. Do mesmo modo o Corinthians foi adotado por judeus, árabes,
japoneses, portugueses, retirantes nordestinos, mineiros e todos os povos que
se identificavam com a formação do Corinthians. Com essa bandeira do passado
que se fazia uma lição em seu presente. Hoje somos o clube dos bolivianos,
haitianos, entre tantos refugiados que se equilibram nessa selva de pedra.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Mas por que se faz necessário dizer tudo isso? Para que
recuperar toda essa história? O Corinthians sempre foi o clube dos vulneráveis.
Foi esse povo, fundamentalmente, que construiu o Corinthians. Sempre foi missão
e dever do Corinthians expressar, representar ser uma continuação da história
de vida de sua gente. Aliás, essa gente corinthiana já não vive apenas nas
quebradas ou bairros ricos da Cidade de São Paulo. Vive também nas quebradas e
bairros ricos de diferentes cidades do Brasil e também do mundo. Bom que se
diga, embora muita coisa tenha mudado, ainda estamos mais para as quebradas do
que para os bairros chiques. E mesmo quem subiu na vida, guarda em seu
corinthianismo a marca indelével de que carrega dentro de si a miscelânea do
povo brasileiro.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Pois bem, é esse nosso povo que está morrendo já sem leitos
nos hospitais. Essa nossa gente que tem chorado seus mortos, muitas vezes sem
poder sequer velá-los e se despedir. Esse nosso povo que vive angustiado agora
fazendo orações, pedindo para que seus amores sobrevivam a esse momento. Quem
de nós não viveu a angústia de perder alguém querido? É nossa gente que está
nesse momento em leitos de UTI, entubados, acordando desesperados já sem medicamentos.
Poderia ser cada um de nós, deitado numa maca, imaginando que nunca mais
veremos nossos familiares e nunca mais ver o nosso Coringão jogar.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A questão do enfrentamento à pandemia, não deveria sequer
ser motivo de debates. Não deveria ser coisa de quem é a favor ou contra. A
politização do tema foi um ato criminoso e fatal para a vida de milhares de
pessoas. O enfrentamento dessa crise deveria ser, antes de tudo, técnico, não
motivo de aposta política.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Seu presente é uma lição! Sim, corinthianos, mesmo
convivendo com trancos e barrancos em sua história, mesmo conciliando o atraso
que permeia diferentes momentos do Corinthians, sempre houve espaço para a
renovação, para a transformação, para a inovação, para que o Corinthians seja
efetivamente uma lição para a nossa sociedade.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A interrupção temporária dos jogos é uma necessidade
sanitária. Não são apenas atletas e comissão técnica que se aglomeram e se
deslocam para as partidas de futebol. A chamada “cadeia produtiva”, é composta
por centenas ou até milhares de pessoas, muitas vezes precarizadas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Sim, seres humanos que precisam trabalhar, que precisam
garantir o sustento de suas famílias, não tenha dúvida que o momento é mais do
que dramático. Porém, nada pode ser mais importante do que a vida. No mais, o
fato de não haver programas sociais excepcionais, ou mesmo programas de apoio
ao empreendedor, que possam atender o volume e necessidade desse momento, não
deveria servir como uma autorização tácita para a guerra pela vida e a morte
entre os seres humanos. Deveríamos perseguir a civilização. O Estado existe
como figura construída pela humanidade justamente para tenhamos um instrumento
coletivo, que atenda aos seus integrantes e evite a guerra de todos contra
todos. Para que não estejam todos jogados à própria sorte, pois os indivíduos e
suas vidas também são parte integrante de uma nação.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O Corinthians pode não ser um Estado. Mas é sim uma nação. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Em que pese a nossa situação financeira desastrosa, e tal
qual as UTI do país, pré colapsada, o Corinthians deveria dar o exemplo e não
jogar o campeonato nessas condições. Isso é um prejuízo histórico e uma mancha
na nossa trajetória. Mais do que a questão sanitária, trata-se se um exemplo,
de uma sinalização para nossa sociedade.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Ano passado fui eleito como conselheiro trienal do Sport
Club Corinthians Paulista. Certamente uma grande honra que espero ser merecedor
e estar à altura da responsabilidade. Justamente por isso, não creio que devo
me omitir numa situação como essa.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">No exercício do cargo, encaminho, respeitosamente, ao Sr.
Presidente do Conselho Deliberativo e o Sr. Presidente do Sport Club
Corinthians Paulista este sincero manifesto.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Embora tenha sido eleito por uma chapa de oposição, não
considero que isso seja o mais relevante nesse momento. O presidente vem de uma
família com importância histórica no Corinthians e tem em sua formação a chama
da Democracia Corinthiana. Desejo sorte ao presidente e, sinceramente, deixo de
lado qualquer tipo de disputa política e clamo ao Presidente Duílio que se
sinta apoiado para tomar uma decisão que tem um peso gigantesco, algo do
tamanho do peso que é ser Presidente do Corinthians. Fazer do presente do
Corinthians uma lição!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Certamente não estou só nesse momento e terei outros amigos conselheiros
que se juntarão a mim nesse manifesto.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Caso os jogos continuem, sugiro aos organizadores do evento
que suspendam aquele minuto de silêncio “em respeito às vítimas do COVID”.
Trata-se de um momento que não pode ser entendido de outra forma, senão pela
marca da hipocrisia que, infelizmente, tem marcado nossa sociedade.<o:p></o:p></p>Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-44874203014103768272021-03-21T08:04:00.003-03:002021-03-21T08:04:22.876-03:00Basília, a Corinthiana<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBM2Ta7XNcI8O9lIg42zECadUJ5tkolNw43wtwyoTDbvC8bYpl838-aD0MtoaIPIOjgSzZ_iZ3JvqWliIu4Ds2XWjN9rf1LiGMEFy_YRkiBu2SuqWiIjg3ROLK_MdsUYDWBrMeVCvFOzY/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="704" data-original-width="941" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBM2Ta7XNcI8O9lIg42zECadUJ5tkolNw43wtwyoTDbvC8bYpl838-aD0MtoaIPIOjgSzZ_iZ3JvqWliIu4Ds2XWjN9rf1LiGMEFy_YRkiBu2SuqWiIjg3ROLK_MdsUYDWBrMeVCvFOzY/" width="320" /></a></div><br /><br /><p></p><div class="kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">(Corinthians, uma história de amor)</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Basília desceu no Metrô Artur Alvim e caminhava sozinha rumo ao estádio. Sim, o nome da mina era Basília. O pai teve a manha de exaltar seu grande redentor. Havia feito a promessa ali mesmo, na rampa do Estádio do Morumbi naquela noite mágica de 13 de outubro de 1977. Estava em absoluto êxtase. Seu pai, Ademir, queria então cravar em seu filho o nome do herói daquela noite.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Eu juro, vou ter um filho macho que vai ser o maior corinthiano do mundo, e já vou dizendo que o nome dele será Basílio!!! Seus amigos caíram na gargalhada e brindaram com muita cerveja àquela noite onde tudo era festa.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A euforia passou, o tempo também. Ademir chegou a repensar a seriedade por colocar o nome de Basílio em seu filho homem. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Depois do êxtase da Democracia Corinthiana, pela qual Ademir era absolutamente devoto, veio a rebaixa no Parque São Jorge. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ademir chegou a ir nas passeatas das Diretas Já. Sim, Ademir tinha seus compromissos cívicos e democráticos, mas queria mesmo era ver o Sócrates. Digamos que Ademir ficou muito mais comprometido com a democracia e as lutas por um Brasil mais justo quando ouviu, bem debaixo do palanque o Sócrates dizer: </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">“Caso a emenda Dante de Oliveira passe na Câmara dos Deputados e no Senado EU NÃO VOU EMBORA DO MEU PAÍS”.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ademir chorou e berrou. Sabia que o Corinthians não estava pronto para viver sem Sócrates. Que sem ele naufragaria o projeto da Democracia Corinthiana. Na cabeça dele, e de tantos, não há tanta distinção. As coisas devem estar bem no país, em casa, com a família e com o Corinthians. Pro corinthiano, não existe terreno afetivo separado. Tudo se confunde.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Como se sabe, as Diretas não foram aprovadas, Sócrates foi para a Fiorentina, o Corinthians tentou montar um time competitivo que não deu certo, passamos anos de decadência e perdemos competitividade.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Em 1986, um ano bem xoxo para o corinthiano, Ademir recebeu a notícia no meio do ano que seria pai. Uma felicidade danada. Que alegria. De antemão, Ademir já comprou uma caixa de charutos para deixar guardada. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Meio sem convicção, contou para Márcia, sua esposa, que havia feito uma promessa no Morumbi 77.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Porra, mas Basílio? Não tinha um nome mais bonitinho? Sei lá, tinha o Wladimir, o Luciano, Vaguinho seria até simpático, Zé Maria eu topava, Tobias ficaria vintage. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Eu sei, amor, mas quem fez o gol foi o Basílio. Eu prometi.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A mulher tentando argumentar:</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- O Palhinha. Acabou com o campeonato. Jogou muito. Qual o nome dele?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Vanderlei.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Porra!</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ficaram de pensar. O Ano virou e o Corinthians foi jogando mal, muito mal. A barriga crescendo e o Corinthians caindo na tabela.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ademir estava desesperado. Havia terminado o primeiro turno do campeonato. O Corinthians acumulava apenas 14 pontos, de 38 disputados. Era um dos lanternas e potencialmente rebaixado. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Alguma coisa deveria ser feita. Estaria o mal acontecendo por conta de sua vacilação em cumprir a promessa que havia feito há quase dez anos?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O grande dia chegou. Não da vitória do Corinthians, mas do nascimento de sua filha. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- É uma menina linda!</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Sim, Ademir esperava um menino. Até o padeiro da rua sabia disso. Mas quando recebeu sua filha em seus braços se desmanchou. Não que existisse a possibilidade de a menina ser rejeitada, mas acontece que nem passou na cabeça do pai ter uma filha mulher. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ele simplesmente não esperava. Ademir chorou de emoção. Beijou sua esposa com ternura. Olhou para o quarto da maternidade todo enfeitado com as cores do Corinthians. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Antes, tinha ouvido a zoeira dos médicos, enfermeiros e outros auxiliares pela fase ruim que o Corinthians atravessava. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Mas naquele segundo, nada mais fazia sentido. Ademir explodiu de amor por sua filha. Abraçou forte novamente, beijou sua testa e conclamou:</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Seu nome é Basília!</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ela nasceu em 28 de abril de 1987. Quase dez anos depois da promessa de seu pai. No dia seguinte o Corinthians voltou a vencer depois de uma série de derrotas subsequentes. Em 1987 o Corinthians arrancou para uma campanha histórica. Os Corinthianos mais antigos certamente irão lembrar dos jogos incríveis daquele ano mágico, quando o Corinthians saiu da lanterna e foi batendo todos os adversários com incrível raça e chegou até a final do campeonato. Foi lindo!</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O tempo passa! Basília amava seu nome. Converteu-se em uma corinthiana devota. Era a famosa rata de estádio. Passou boa parte da sua vida como torcedora ouvindo comentários maldosos, gracejos, ofensas, mas seguiu firme em seu propósito. Basília era uma corinthiana louca. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ela “bem que podia” ficar no canto dela e assistir aos jogos sem provocar estranhamentos do senso comum ou, principalmente, o machismo no “seio” da torcida. Acontece que ela amava toda a atmosfera do estádio. Gostava de estar no meio da galera. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Exorcizava todos seus demônios. Gritava, pulava, entrava em absoluta catarse. O estádio também ajudava a superar a perda de seus pais que haviam morrido anos antes num acidente de automóvel.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">No meio do jogo, Basília fazia suas preces. Se conectava com seus pais. Sinceramente rezava. O estádio era sua igreja.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Basília veio caminhando pela Radial Leste desde o Metrô Artur Alvim. Ah, o cheiro do pernil que perfumava o ar. Os rojões estouravam no céu e emanavam aquele cheiro gostoso de pólvora, com o qual os corinthianos já estão acostumados. Aquele vento gelado que nos faz respirar profundamente e pensar no jogo: “hoje vai dar Coringão! Vai Corinthians, meu Deus” Era o dia perfeito para o Corinthiano. Domingo a tarde, dia de clássico contra o Palmeiras.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ela já estava acostumada a ir aos jogos sozinha. Ia sempre com seu pai. Era a melhor companhia. Depois que tudo ocorreu, ela preferia andar só. Para além da superstição, Basília tinha um motivo especial. Havia coisas em sua experiência como corinthiana que nunca foram permitidas a ela. Basília não era do tipo que aceitava proibições, ainda mais obscuras, que não lhe faziam sentido algum.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ela seguiu caminhando até a praça do elefante comunista. Sim, no meio do caminho para o estádio, existe uma praça simpática com uma escultura de um elefante. O artista projetou a escultura de um jeito que as proeminências da tromba do elefante, com outros elementos, nos fazem enxergar uma foice e um martelo.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Bom, é o meio do caminho para o estádio. A galera para ali por perto pra tomar uma cerveja, alguns fazem um churrasquinho, outros um churrascão, os camelôs defendem um dinheirinho, tem um cantinho moqueado onde a galera que curte fuma um baseado. Se vem a larica depois tem as barracas de dog, de pernil, onde a galera toma uma maria mole, um bombeirinho ou um rabo de galo pra ficar macio.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Não foi só o estádio que mudou, a experiência do encontro urbano também mudou com as redes sociais. Se antigamente todos se encontravam no lugar geográfico da praça no entorno do estádio, hoje, em cada esquininha, cada quebrada no entorno do estádio, tem um grupo de WhatsApp que passa o domingo se confraternizando e louvando o coringão do nosso coração.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Basília entra numa padaria onde as pessoas se apertam para beber cerveja. A gritaria é imensa e estimulante. Ela fica na fila do banheiro por alguns minutos. Espera pacientemente a sua vez. Quando entra, inicia um ritual de transformação. Coloca um top bem apertado. Por cima coloca uma camiseta larga. Veste uma calça e um tênis de skatista. Coloca um jaquetão do Coringão. Veste uma touca preta e branca com linhas horizontais. Por fim, projeta sobre seu rosto uns óculos escuros bem grandões.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Os homens são distraídos. Sequer percebem que uma mulher entrou no banheiro e saiu um homem. Quando ela anda pelo bar, tromba com os transeuntes e ouve satisfeita:</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Fala moleque!</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Desculpa ae Jão!</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- É nois curinthia!</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Basília coloca o fone de ouvido e caminha rumo a entrada norte do estádio em Itaquera. No caminho admira os prédios grafitados da COHAB. Conclui que deveria se mudar para lá. Continua caminhando. Para num ponto estratégico. Acende um cigarro. Ela tem seus informantes, não está ali perdendo tempo. Coloca um fone de ouvido para passar o tempo. Antigamente, gostava de ouvir a cobertura esportiva. Hoje acha todas uma bosta! Então ouve um podcast sobre o Coringão, ouve um som. Mas o que ela mais gosta é da Rádio Coringão. Essa sim lhe motiva mais.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Está chegando a hora. Ela tira uma self para ver se a aparência está adequada. Se está parecendo mesmo um machinho. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Algumas dezenas de torcedores carregam o bandeirão da torcida que vai cobrir quase toda a arquibancada norte de Itaquera. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Desde menina, Basília sempre quis participar desse mutirão. Nunca foi permitido a ela. Isso seria tarefa para os homens. Queria muito carregar com suas mãos o mastro que levanta aquela linda bandeira do Corinthians. Um dia, foi encostar em uma das bandeiras e levou um esculacho terrível. Saiu da quadra chorando de tristeza. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Caralho! Vocês não sabem a minha história, porra! Não sabem quem foi o meu pai! Eu tenho mais correria de Corinthians do que a maior parte de vocês!</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Não adiantava, como resposta lhe sugeriram colaborar com as ações sociais ou da feijoada que era servida todos os sábados.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Vai tomar no cu, caralho! Aqui é Corinthians! Esse aqui é o time da inclusão. Vocês vão ver, um dia a casa vai cair pra vocês!</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ouviu uma gargalhada geral. Saiu chorando de lá e quando chegou em casa olhou para o retrato de seu pai.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- É, seu Ademir. Se você tivesse aqui tenho certeza que iria me defender. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A verdade é que Basília vivia muito só. Além de ter perdido seus pais, não tinha conexão com o restante da família. Aí vem o drama. Por amor ao Corinthians, seu pai havia fugido de casa e perdido contato com a família. O avô de Basília era palmeirense. Nunca perdoou o filho por ser corinthiano. Dizia que seu nome, Ademir, era em homenagem ao Ademir da Guia. Era só fazer as contas, cronologicamente era impossível que o nome fosse uma homenagem. Ademir era de 1957, já o ídolo do Palmeiras começou a jogar no time rival em 1962. Não importava. Aquilo era detestável demais. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Certa vez o pai de Basília ficou vinte dias preso num quarto de castigo, até que viesse a dizer que torcia para os porcos. Em resposta, Ademir fez greve de fome e disse que iria morrer, mas jamais abandonaria o Corinthians. E assim foi, com 15 anos ele saiu de casa. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Basília ficou na espreita. Pronto! Lá estava aquela fila de homens que carregava o bandeirão. Como uma leoa observando a manada de zebras, procurou um ponto fraco no grupo. Um dos moleques apresentava mais cansaço. Ela correu rapidamente com o cigarro na boca. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">“Fala truta! ”. Colocou um bom pedaço da bandeira no seu ombro direito e saiu andando, feliz da vida. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Atrás dela, havia um rapaz chamado Danilo. De começo não notou nada de estranho. Na entrada do estádio olhou com mais atenção e viu que o cara na frente dele tinha bunda de mulher.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ce é loco!</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Falou sozinho, jogando as palavras para o ar. Ela ouviu. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Passando pela revista, aquela muvuca. Haviam as duas filas distintas, para revista masculina e revista feminina. No piloto automático, Basília caminhou rumo a fila feminina. Porém, teve um estalo dentro da mente. Olhou para os lados e percebeu que Danilo lhe observava. Ficou estática. Olhou de novo e ele continuava observando. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Preferiu manter a identidade masculina. A única coisa que ocorreu na mente de Basília foi dar uma sambadinha marota e caminhar para a fila dos homens. Quando chegou sua vez na revista, o policial brutalmente lhe arrancou a touca. Olhou com estranheza para a menina. Apalpou na altura da cintura e entre suas pernas. O policial interrompeu a revista. Basilia deu um sorriso meigo e uma piscadela. Pensou: “lá vem merda”. Mas o policial estranhamente deu um sorriso cúmplice, deu um tapa no ombro e mandou a menina entrar. Ela colocou de novo a touca saiu andando. Teve tempo de ver o policial balançando a cabeça negativamente.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Basília sabia que a melhor atitude seria de fortalecer a luta das minas. Sim, seria a melhor atitude política. Talvez o melhor não fosse se fingir de homem e reforçar aquilo tudo. Mas a atitude dela era mais que política. Basília tinha duas motivações principais. A primeira era de carregar a bandeira do Corinthians, um prazer insuperável que para ela valeria todo o esforço. O segundo era enganar aquele bando de machos.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A estranheza de Danilo só aumentava. Quando a touca foi arrancada percebeu que o cabelo era muito delicado. Basília não usava cabelos longos, mas era um corte bonito. Sem contar que tinha uma nuca incrivelmente sensual.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Normalmente, quando realiza esse tipo de aventuras, Basília vai até o banheiro e desfaz a transformação. Acontece que o jogo já ia começar. No mais, ela estava gostando de estar daquele jeito. Estava absolutamente emocionada com tudo.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O jogo começa. Bandeirão que sobe. “É sangue no olho, é tapa na orelha, é o jogo da vida, o Corinthians não é de brincadeira”. A torcida gritava, a Arena vibrava. Era o coringão em campo. O mundo aparentemente havia parado. Nada mais importava.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Danilo olhou três fileiras abaixo e reconheceu aquela bunda. Coringão no contra-ataque, bola cruzada na área, {é gol} cabeçada, na trave. Basília se vira para trás e grita: “puta que pariu, não grita gol, caralho”. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ah, maluco. Esse cara é uma mina, pensou. No intervalo ele foi trocar ideia:</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ow, mano, você é mina? Pensei que fosse homem.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Faz diferença? Ela remendou.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">-Ué, lógico. Pra mim faz.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Pois é, menino. Pra mim não faz.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ih, caralho.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Por que, veio me cobrar que não posso carregar a bandeira? </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Por mim...</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Você não liga?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Eu mesmo não to nem aí, se quer fazer força pode fazer. Mas na hora que o chicote estrala e o bicho pega vai apanhar junto. Pior, só vai atrapalhar.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ah, mano dá licença. Eu não corro de treta não.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Não corre mas apanha hahahahaha</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Pior que é ahahhaha</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ficaram alguns segundos se olhando. Ele tirou suavemente os óculos dela. Pode perceber como Basília era linda. Os traços finos pareciam ter sido desenhados com delicadeza. Contrastava com aquele personagem bruto da arquibancada.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ela toma os óculos de volta e diz:</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Mano, bora lá que vai começar o segundo tempo. Estádio não é lugar de ficar paquerando. Dá uma puta zica. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ah, então vou assistir aqui com você, posso?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Não, porque dá azar. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Como assim?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Não pode mudar de lugar que dá zica. Eu também tenho que assistir sozinha porque senão dá zica. Sozinha não, com meu pai.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- E cadê seu pai.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Em um instante seus olhos enchem de lágrimas. Ela tranca a garganta e aponta para o céu.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Beleza, vou lá então. Muito prazer, Danilo.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Basília!</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Basília? Que da hora, mano. Muito louco. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Tá, tá, vai logo senão vai dar zica. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Falou! Puta mina supersticiosa. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Quando Danilo voltou para o lugar onde estava saiu um gol dos porcos. Foi automático. Danilo olhou para baixo e viu Basília furiosa olhando bem direto nos seus olhos, quase que jurando o moleque de morte. Danilo pensou que se o Corinthians perdesse ele estaria fodido.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Mas ainda era o Corinthians em campo. A torcida não esmoreceu. Continuou apoiando. Bola na direita, Romero carrega ela no ataque, fez a finta, entrou na grande área, vai chutar, foi derrubado, é pênalti. O juiz aponta para a marca de cal. Partiu Jô para a cobrança, é gol! Fiel vibrando. O estádio parecia tremer. Vai Corinthians! Lance seguinte, Fagner entra em profundidade, deixa a bola escapar um pouco. Quando parecia que a bola escaparia para a linha de fundo, Fagner dá um carrinho e cruza a bola para trás. Surpreendido, o zagueiro do Palmeiras erra a passada. A bola bate em seu calcanhar direito e sobra nos pés de Romarinho que executa. Puta que pariu foi gol! Ahhhh! Gritos e lágrimas! Danilo olhava para o céu e agradecia, quando de repente recebe um abraço voador. Basília, no calor da mais pura emoção o abraçou. Os dois arregalaram os olhos e olhavam bem fundo um para o outro. Era uma simbiose. Sentiram o hálito um do outro bem profundamente. Sentiram um imenso prazer. Não desejariam de forma nenhuma estar em outro lugar.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O jogo acabou e a Fiel saia do estádio em festa. Tinha pizza por dez contos, a molecada comprava, cada um arrancava um pedaço com a mão. Estava uma delícia. Tinha cerveja gelada, faixas decorativas “Caiu em Itaquera já era”. A mais vendida dizia: “O Palmeiras não tem mundial”. Rojões estouravam no céu. Os pais carregavam seus filhos nos ombros. Tudo era mágico. O dólar iria baixar, a inflação cair, os empregos aumentarem. Sim, o otimismo voltava a existir como antigamente. Como é bom ser corinthiano!</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Danilo alcançou Basília no caminho, já com duas cervejas nas mãos.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ow Corinthians, toma uma comigo?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Valeu, Corinthians, bora comer um pernil?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ce é louco, com certeza.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ficaram um bom tempo em silêncio. Devoraram o pernil, o vinagrete caia na roupa, as mãos sujas de maionese. Um ajudava o outro a se limpar num gesto já carregado de ternura. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Basília se antecipou:</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Tia, me dá um sanduiche de calabresa com bastante cebola?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Que dá hora, você come.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Vai tomar no seu cu hahahahah</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ah, mano. É da hora. Tinha uma mina que não comia direito. Eu tinha vergonha de pedir mais um lanche e vivia com fome.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Não me enche o saco que eu peço o terceiro.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Por mim.... Tia dá mais um pra mim também, mas sem cebola.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ihhhh, que história é essa de sem cebola. Puta frescura. Tia, põe cebola no dele, porque se for pra beijar, os dois tem que estar com bafo. Aqui é democracia corinthiana.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Saíram os dois satisfeitos no caminho de volta pra casa. Chegando no Metrô ele perguntou:</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Qual estação você desce?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ah, mano. Você não vai me fazer essa pergunta hoje.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ué, e o que tem a ver?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Não vou falar!</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Tem medo de sequestro.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Que medo de sequestro. Ia até te convidar pra tomar uma na minha casa. Faz assim, qual estação você desce.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Eu deixei meu carro na Penha, mas moro em Jaçanã.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ah, tipo o Adoniran.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Com certeza, Adoniran era coringão. Mas dizem que nunca pisou no Jaça aahhahah.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Então, eu moro na Pompeia.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Ah, agora eu entendi porque não quer falar o nome da estação. É Palmeiras-Barra Funda hahahah.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Cala boca, moleque do caralho. Precisa falar o nome dos caras.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Pior você que mora ao lado do chiqueiro. Não tinha um lugar melhor pra morar?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- O apartamento era herança do meu pai, quer dizer, era herança do meu avô também. Se quiser comprar eu te vendo, garoto. Quer ir lá tomar a última comigo ou tá com medinho?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Faz assim, descemos aqui na Penha e vamos de carro até aquele bairro porco.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Fechou.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Fechou.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Antes de entrar no apartamento de Basília, Danilo tirou os sapatos. Entrou pisando em ovos. Achou tudo muito bonito, exceto pela vista do estádio rival da sacada do apartamento.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ela voltou com duas latinhas de cerveja.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Já não vestia mais a roupa de skatista. Voltou para a sala com um short mínimo que revelava suas belíssimas pernas. Manteve ainda a camisa do jogo. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Danilo deu um gole farto na cerveja. Olhou nos olhos dela e mandou para dentro outro gole generoso. Segurou o rosto de Basília e deu um beijo largo, molhado, gélido ainda pela cerveja. Os dois se excitaram instantaneamente.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Basília se afastou por um segundo. Mostrou um baseado para ele e cantou:</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- É um raro prazer, sabor de emoção, fumar maconha e torcer pro coringão.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Mas não abuse que faz mal pro coração (e pro pulmão), respondeu Danilo.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Mano, se te incomoda eu não acendo, ok?</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Relaxa, eu sou mais ou menos careta. Não sou totalmente.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Que menino bonitinho.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Menino? Acho que sou mais velho que você.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Quantos anos você tem? </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- 32, respondeu Danilo.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Sou mais velha, 34.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Que se foda.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- É, que se foda.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Danilo deu um trago breve e atrapalhado no baseado. Tossiu muito. Logo parou.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Basília preferiu parar também. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Voltaram a se beijar. A pele dos dois parecia ferver. Basília durante muito tempo foi mais inibida. O tempo estava lhe ensinando a aproveitar mais e melhor seu próprio corpo e se distanciar da moral para poder aproveitar o sexo da melhor forma. A morte de seus pais foi um divisor de águas. Tudo nessa vida parece ser muito breve. Vivemos num permanente agora ou nunca. A urgência é a tônica da vida. Por fim, não estava mais disposta a prestar conta de suas atitudes para homem nenhum. A vida de Basília era ela com ela mesma.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Foram para o sofá. Seus órgãos sexuais e zonas erógenas estavam interditados por pedaços de pano. Ela se levantou rapidamente:</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Corinthians, não tá dando certo nós dois aqui. Já que vamos continuar eu vou tomar um banho.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Danilo segurou ela pelo braço. Arrancou a camisa do Corinthians que ela vestia. Olhou para seus seios firmes. Eram incrivelmente lindos. Olhou mais uma vez. Por instinto, iria lamber seus mamilos. Olhou novamente para a camisa. Beijou primeiro o distintivo do coringão olhando bem no fundo dos olhos de Basília, sussurrando:</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- Vai Corinthians!</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Abriu a boca o tanto quanto podia e se deliciou por alguns instantes. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">- É sério, eu estava no estádio. Eu estou fedida. Suei o dia inteiro.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Danilo pegou novamente a camisa em suas mãos. Procurou a manga perto das axilas. Cheirou profundamente. Pegou novamente Basília pelos braços e cheirou com gosto suas axilas. Deu uma leve mordida. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Basília se entregou. Abriu mão da vaidade. Se deixou levar.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">{continua}</div></div>Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-74564994869649582602019-03-13T15:47:00.002-03:002019-03-13T15:47:20.077-03:00Holocausto Bricolagem<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUegESpRPm8HhLnVvHINXIXuOVngA51WrgeLETOKRjw2vTYr2J6vzHeHQ7zRQwFsSB5vM49D9ell7Ty6EgxCqsuC06bsol2f2qPbbDkzhW11aEhO0lsoSHCRnoPk-1FxvoT5SWEGHwkVQ/s1600/tiros-em-columbine.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="1440" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUegESpRPm8HhLnVvHINXIXuOVngA51WrgeLETOKRjw2vTYr2J6vzHeHQ7zRQwFsSB5vM49D9ell7Ty6EgxCqsuC06bsol2f2qPbbDkzhW11aEhO0lsoSHCRnoPk-1FxvoT5SWEGHwkVQ/s320/tiros-em-columbine.jpg" width="320" /></a></div>
<br /><br />Caminhava pelas ruas de Helsinki, capital da Finlândia. Dizem que esse país é campeão mundial em casos de suicídio. Talvez nem seja um bom exemplo sobre as coisas que quero falar, ainda chocado por mais um caso absurdo ocorrido na cidade de Suzano, em São Paulo. Mas, no verão em Helsinki, eu via centenas de jovens sentados num lindo gramado. Carregavam livros. Liam os livros serenamente numa tranquilidade absoluta. <br /><br />Não parecia que aquele era um lugar onde se reuniam tantos jovens. O silêncio imperava. Alguns outros conversavam, mas em voz baixa, com fala lenta e suave. Aquilo me chamou muita atenção. Havia um contraste grandioso se compararmos com um lugar onde se reúnem jovens brasileiros. <br /><br />Não sei se aquele lugar era necessariamente melhor ou pior, mas sei sim que era diferente. Não sei também se o furdunço dos pontos de encontro dos jovens brasileiros tem correspondência com uma suposta felicidade desses jovens, ou se é só desespero mesmo. Da mesma forma, não posso dizer se as aparentes tranquilidade e segurança dos jovens finlandeses seriam sinônimos de harmonia e felicidade, ou se igualmente seriam tão somente desespero. <br /><br />Essas coisas terríveis, como os homicídios em massa, seguidos de suicídio têm ocorrido no mundo todo. É difícil explicar. Ocorreu no bairro do Realengo e em Suzano, mas também ocorreu na Noruega e em tantos episódios nos Estados Unidos, que vão se tornando corriqueiros e em breve deixarão de nos chamar a atenção. <br /><br />Mas, tratando do nosso mundinho, uma observação que eu posso fazer é que aparentemente, pelo menos pelo que se vê por fora, ou quando paramos para conversar um pouco, os nossos jovens sofrem, e muito! <br /><br />Isso deveria provocar reflexão nas pessoas e se tornar uma discussão central em nossa sociedade. <br /><br />Estive em outras cidades do mundo e fico sempre a reparar. Vejo jovens reunidos e não percebo o mesmo desespero que vejo aqui. Tudo parece mais tranquilo. As pessoas não parecem sofrer tanto. Estava em Split, na Croácia, uma cidade linda e muito visitada no verão. Fica tomada por jovens igual a qualquer balneário brasileiro. Não via brigas, gritos, gemidos, motos estourando seus escapamentos. <br /><br />Estive também em países tão subdesenvolvidos como o nosso. Muitos deles bem mais pobres. Nada se parece com o nosso desespero. Lembro-me em Cuba, conversando com a molecada. Sim, eles também querem uma calça nova, um tênis e um Playstation. Mas nada se compara com o que vemos aqui. <br /><br />Nossos jovens choram. Nossos jovens sofrem. Quando a gente olha para um adolescente, os cabelos confundidos, as maquiagens fortes, a atitude hostil, o jeito de se comunicar, tudo isso poderia ser considerado apenas e tão somente irreverência própria da idade, se não fosse o olhar de desespero e tristeza, além dos números da nossa tragédia cotidiana que vitima majoritariamente a população jovem brasileira. <br /><br />Esse tipo de holocausto bricolagem (massacre, faça você mesmo) tem ocorrido aqui e em outros lugares do mundo. <br /><br />Mas, para além desses casos que nos chamam atenção, por serem ainda fora da normalidade, temos como pano de fundo esse dia-a-dia repleto de mortes, sejam elas ligadas a criminalidade, a violência policial e como pai de todos esses males, a necessidade de um ser melhor que o outro, o machismo, o prestígio, o orgulho, a treta, a violência cotidiana estúpida, a disputa de personalidades. <br /><br />Sim, essa disputa de personalidades impera numa sociedade esvaziada de cultura, de referências, de acesso ao conhecimento, de possibilidades de realização e das transformações no mundo do trabalho, ou seja, as pessoas não têm canais por onde se projetar no mundo. Não há carreira, não há cargos, não há sequer emprego. Enquanto isso, a sociedade exige muito. Cobra status. Cobra destaque. <br /><br />Esse é o ponto onde gostaria de chegar. Embora seja impossível resolver em poucas linhas tudo isso que vem acontecendo no mundo, dá pra dizer desde já que esse conjunto de características da modernidade, marcada pelo individualismo, pelo consumismo, pelo minimalismo, pela banalização da violência, pelo imediatismo, pelo materialismo, que são dados da realidade global, aqui no Brasil, essas características da modernidade trazem contornos muito mais perversos por vivermos nessa sociedade altamente verticalizada, hierarquizada, baseada no prestígio pessoal e com marcas terríveis da nossa formação escravocrata, onde alguns “escolhidos” pertencem e são reconhecidos e outros são invisibilizados e “bestializados”, pra me fazer valer do brilhante José Murilo de Carvalho. <br /><br /> <br /><br />… <br /><br />Olhemos para a história. Não há precedentes ao longo dos séculos e milênios de indivíduos tão voltados para si e para suas vidas domésticas. <br /><br />A humanidade se dedicou durante anos para entender o mundo (ou para conquistar) o mundo. Viveu para grandes projetos coletivos. Ainda que em guerra, os homens se desenvolveram vivendo em solidariedade (no sentido de cooperação e dependência) com outros homens. <br /><br />Não se trata de dizer que o mundo era melhor. Não se trata aqui de mensurar se as tragédias do passado eram maiores ou menores do que as atuais. Muito provavelmente eram tragédias muito maiores, inclusive. Não se trata também de dizer que os homens nasceram para a guerra e que essa paz mentirosa os entristece. <br /><br />Mas, é possível sim dizer que não há lugar para a glória. <br /><br />Não há espaço para os grandes feitos. <br /><br />Hoje, se compra a glória em shoppings. Os grandes feitos estão dissolvidos em migalhas do mundo corporativo, onde poucos conseguem entrar e, quando entram, recebem uma ou outra estrelinha no currículo para logo mais esses homens e mulheres serem abandonados num canto qualquer. Sem medalhas de honra, sem seus nomes sendo lembrados, sem grandes acontecimentos, sem direito a uma morte digna. Sem que suas vidas faça algum sentido. <br /><br />Vivemos a era do triunfo do individualismo. Cada qual compartimentado em sua bolha, em seu submundo, em seu cercadinho. <br /><br />O inferno são os outros que não são você. Aqueles que não te representam. O mundo cabe na palma da sua mão e isso é muito pouco. A solidariedade vem sendo exterminada e isso não chegará ao fim até que homens e mulheres, todos os indivíduos do mundo não tenham mais instrumento nenhum de cooperação. Até que não possamos mais encontrar nenhum projeto coletivo. Até que percamos o nosso sentido de associação, nacionalidade e classe social. E, não se iludam com os novos sentidos de pertencimento, iremos nos compartimentar até que ao final sejamos apenas nós com nós mesmos. <br /><br />Só restará o ódio pelo outro. A necessidade de destruir quem não é uma continuação de você mesmo e, depois de tudo, também se autodestruir. <br /><br />Não precisamos viver em guerra para que estejamos em paz com nós mesmos. Porém, precisamos muito mais do que uma vida doméstica, com feitos relativizados e buscando uma glória que se restringe a ser superior ao outro, a estar acima do próximo. <br /><br />É preciso recuperar o sentido da glória coletiva. O amor pela humanidade. As realizações que trazem o bem comum. <br /><br />Escapar do destino trágico da irrelevância. <br /><br />Sem essas grandes lutas que fazem a vida valer à pena, estaremos condenados a estar em guerra com o próximo e superar a nossa invisibilidade e a mediocridade da nossa vida no único lugar possível que se chama absurdo. Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-22966983420614863892018-06-14T07:37:00.002-03:002018-06-14T07:37:33.890-03:00É pra torcer pelo Brasil!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglkp5b0a00BfTUHxEtAm2-nPSGjpLeMM0fdRQjE_mibgWoCmiaMdl8mRhBKzxtGsd-rc4i51m92UA3ttBYZvxxvj4qt1yNVOmkpRl00SLNIE1v-Pt8n_ACigiqkCWfOnypV_VRWqrHyPA/s1600/br.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1120" data-original-width="1600" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglkp5b0a00BfTUHxEtAm2-nPSGjpLeMM0fdRQjE_mibgWoCmiaMdl8mRhBKzxtGsd-rc4i51m92UA3ttBYZvxxvj4qt1yNVOmkpRl00SLNIE1v-Pt8n_ACigiqkCWfOnypV_VRWqrHyPA/s320/br.png" width="320" /></a></div>
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Se a gente dependesse de bom governo ou de bom momento na política para torcer pelo Brasil, talvez não seria possível ter comemorado nenhuma Copa do Mundo.<br />
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Se fosse para depender de governo bom para sambar ou pular o carnaval, estaríamos com os pés atrofiados.<br />
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Se tristeza e ressentimentos levassem à revolução, já teríamos resolvido todos os nossos problemas de uns anos pra cá.<br />
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A verdade é que a alegria do povo brasileiro sempre foi muito mais sinal de resistência do que de submissão.<br />
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A nossa irreverência sempre foi um ato, ainda que inconsciente, de rebeldia e destituição de reconhecimento do poder estabelecido. Uma arma sutil - e portanto possível de ser usada - para enfrentamento e desconstrução da opressão.<br />
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O futebol foi, ao longo dos anos, um instrumento de projeção da criatividade, da imaginação e da inteligência do povo brasileiro, para além do gosto pela cópia e da subordinação cultural das nossas elites.<br />
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Foi o nosso povo que inventou um novo jeito de se jogar esse jogo que é uma metáfora da vida. Foi o povo pobre que ganhou cinco Copas do Mundo. A Copa é mais do que um evento esportivo, mas um acontecimento da humanidade, que traz para um espaço lúdico a disputa inexorável do sistema interestatal, que ganha no jogo, um novo sentido e transforma, de alguma forma, a rivalidade em confraternização.<br />
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Foi o futebol que derrubou as teorias biológicas e racistas sobre o subdesenvolvimento do Brasil, revelando atletas negros vencedores, capazes e inteligentes, entre eles o maior da história, admirado pelo mundo todo.<br />
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Claro que o futebol não acabou com o racismo. Claro que o futebol também acaba abrigando o racismo e todo tipo de estupidez que está na sociedade. Mas certamente foi um instrumento poderoso, pois no jogo jogado, com regras comuns e iguais, além de condições naturais equivalentes de disputa, toda a potencialidade física, mental, cultural e espiritual do povo negro pode ser apresentada em sua magnitude, como felizmente já se apresenta em diferentes áreas, superando na raça o racismo institucional.<br />
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O futebol também sempre foi um elemento poderoso que ajudou muito o Brasil no âmbito das relações internacionais. E continua ajudando.<br />
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Quando a gente viaja pelo mundo percebe o fascínio que despertamos em outros povos. Mesmo com tanta gente insistindo em fazer com que nos vejamos de maneira degenerativa, somos sim um lugar especial no mundo. Despertamos sorrisos e simpatia. Quando as pessoas ouvem que somos do Brasil, parece ser diferente de dizer que somos de qualquer outro lugar no planeta. A reação imediata é um sorriso, um espanto, um sinal de admiração. Uma musiquinha e uma dancinha pra te cumprimentar. É maravilhoso isso.<br />
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Com todas as dificuldades que vivemos, ainda somos um povo que tem uma missão espiritual a ser cumprida com nossos irmãos pelo mundo .<br />
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Difícil acreditar nisso diante da forma tão ruim em que estamos vibrando. Com tanta energia negativa rolando.<br />
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Pois então que o futebol cumpra mais esse papel pelo Brasil.<br />
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Exorcisemos todos os nossos fantasmas a cada gol. Deixemos os deuses do futebol fazerem sua parte.<br />
Deixemos de odiar uns aos outros.<br />
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Há quem se preocupe se uma vitória do Brasil venha a ajudar politicamente determinada força política .<br />
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Há quem não queira usar a camisa amarelinha, que desperta tanto fascínio, por conta das náuseas políticas dos últimos tempos.<br />
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Ora, não é por acaso que nos jogos de guerra, o símbolo da vitória de um adversário sobre o outro seja exatamente a bandeira. Quem leva a bandeira ganha o jogo.<br />
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Entregar de bandeja nossa bandeira e nossas cores porque estamos de mal do resto da sociedade é uma atitude no mínimo infantil e tola.<br />
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A bandeira é nossa. Não devemos abrir mão dela.<br />
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As cores lindas do Brasil são também as cores da nossa gente.<br />
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Os símbolos tem poder. Quem não entende isso tem que voltar cinco casas no tabuleiro.<br />
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Não faz sentido insistirmos em ser uma parte fragmentada quando somos nós o povo brasileiro.<br />
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Tem coisas que a puberdade política não permite entender. Ou pela imaturidade, precocidade e descontrole de reações orgânicas, ou porque as posições estéticas acabam sendo mais apreciadas do que os compromissos de transformação.<br />
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O nacionalismo pode até ser coisa da direita na Europa ou nos EUA. Mas no Brasil e na América Latina sempre foi pauta dos progressistas. Até porque a direita, por esses lados de cá, nunca foi nacionalista, foi na verdade sempre entreguista.<br />
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É só olhar para a história. Vocês não gostam do Eduardo Galeano em seu livro tão importante "As veias abertas da América Latina"? Quem são os personagens do livro senão líderes nacionais e progressistas?<br />
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Na linda copa de 1970 muita gente perdeu a festa porque era contra o governo.<br />
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Ficaram distantes do povo e no final não resolveu nada. É só olhar para a história.<br />
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O que derrotou a ditadura foi a transformação na correlação de forças na sociedade. Foi a luta institucionalizada em todos os espaços possíveis. A ditadura caiu com o povo na rua vestindo verde e amarelo, levantando a bandeira do Brasil.<br />
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Quem odeia o Brasil, de verdade, são aqueles que querem entregar nossas riquezas de bandeja e a alma do nosso povo, deixando ele triste e subordinado ao ponto de ser escravizado.<br />
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Estamos cansados de tanto ódio. O Brasil nunca foi assim. O povo brasileiro nunca foi amargo desse jeito que ficou. E, estejam certos, essa amargura não vai transformar porra nenhuma. Só vai levar a mais desgraça e escolhas estúpidas.<br />
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Temos que voltar a acreditar em nós mesmos. Se o futebol é só uma ilusão, então que seja!<br />
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Que tenhamos um pouco de alegria e alento. Que as vitórias do Brasil sejam elementos de congraçamento. Estamos fartos da depressão nacional.<br />
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Os momentos em que o Brasil foi mais forte, certamente foram aqueles em que estivemos em maior harmonia com nossos elementos de brasilidade. Os piores foram aqueles em que sentimos vergonha de nós mesmos. Talvez por isso que forças terríveis trabalhem duro para nos desestabilizar e nos deixar de joelhos.<br />
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Será lindo ver o Brasil ser campeão. Se reencontrar. Se amar. Ganhar da Alemanha dando um vareio de bola. Dando olé no final do jogo. Será um sonho lindo.<br />
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Vamos torcer com gosto. Torcer pela amarelinha e diversificá-la com todas as cores e amores do nosso Brasil. E vamos cair no samba!Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-47068297852047245112018-05-02T12:09:00.002-03:002018-05-02T12:09:43.230-03:00A Cidade que ferve. A cidade que desaba<img alt="Resultado de imagem para incendio no centro" height="240" src="https://abrilveja.files.wordpress.com/2018/05/image1-1.jpeg" width="320" /><br />
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<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Fui algumas vezes ao prédio que desabou na madrugada de hoje no centro de São Paulo. Isso foi na época do meu primeiro emprego como office-boy, quando ali funcionava a sede da Polícia Federal.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Depois, a PF se mudou para a Lapa, em instalações mais modernas e o prédio ficou ali, fantasmagórico e horroroso, como tantos outros na região central da cidade.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Os movimentos por moradia ainda fizeram um uso social daquele edifício que certamente ficaria desabitado por décadas, talvez para sempre. </span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">É muito duro não ter um lugar no mundo para viver dignamente com sua família, vendo tantos arranha céus carrancudos, tristes, inadequados, simplesmente deixados pra trás. A cara de São Paulo.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Não deixa de ser simbólico. A casa que foi usada e consumida pela Polícia Federal, até que ela vestisse uma nova roupa, justamente para representar o "novo", se degenerando a céu aberto e a olhos vistos, até desabar os seus dejetos na calada da noite no centro da cidade.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">A queda desse edifício é a cara da degeneração da cidade de São Paulo e símbolo da canibalização da especulação imobiliária.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">O centro da cidade foi deixado pra trás, mesmo com sua bela infraestrutura urbana, e a especulação foi atrás de novos espaços de higienização, onde tudo parece novo, moderno, branco, bem vestido, espelhado. Na verdade, esse "novo" é o que há de mais velho no nosso capitalismo predatório que precariza a exploração, esgota recursos, infertiliza os solos, mata a terra. Depois, parte para outra, deixando o que está "velho" para trás e sai em busca de um outro "novo", sempre construindo camarotes vipes na cidade, espaços de exclusividade, onde São Paulo aparenta ser só de pessoas incluídas, com empresas que tem suas atividades econômicas voltadas para o "futuro" que vai sempre ao encontro do passado.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">E deixamos para trás nossos prédios e nossos zumbis, caminhando errantes pelas ruas, sem saber direito para onde ir. Tentando arrumar um bico, um troco, uma boia, uma pedra. Até serem completamente tragados e triturados pelo sistema. Até ficarem andando no meio do asfalto por entre os carros, talvez para serem notados, talvez para que tenham a certeza de que ainda estão vivos, talvez para roubar à força algum nível de atenção. </span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">E assim é. Ficam de pé, tentando existir até o momento que pegam fogo e desmoronam de uma vez por todas. Para sempre.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">O Centro se tornou o lugar de quem ficou para trás. Pessoas, prédios, empresas que vendem sei lá o quê.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Quem tem salvo o centro são as pessoas que insistem em existir por entre os escombros. São os skatistas que fazem seus malabarismos e tiram suas fotos em cenários apocalípticos. São os "alternativos", nome que o cidadão médio paulistano deu para quem justamente se recusa a incorporar os códigos do cidadão médio. São aqueles que conseguem enxergar a beleza nesse monumental que ficou para trás. Que aprendeu a ser feliz por entre o concreto. No que ficou para trás. No que já foi um dia. É como viver num cenário de filme de ficção que se passa pós guerra nuclear. Quem salva o centro são os gays que deixam os subúrbios, com seus estigmas e preconceitos e constróem uma nova vida onde ninguém liga muito pra quem você é ou o que você faz. </span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">São também artistas. É gente que gosta de cultura. Quem gosta de andar a pé. São espíritos rebeldes que ocuparam o espaço público que foi deixado pra trás, mas que, tal qual fazem com "os sem-teto", a ocupação se torna um problema. É como se a cidade viesse a dizer: "não é nosso, e não será de mais ninguém".</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">O centro está lá, fantasmagórico. Terra de zumbis. Até que as pessoas abracem e tomem para si, ocupando com seus sambas,skates, encontros, máquinas fotográficas, suas músicas, flores, protestos, intervenções artísticas e, pronto! Vem logo a patrulha de choque para atacar bombas e gás de pimenta, para deixar tudo como sempre esteve. Sob controle. Sem ameaças. Apenas com as almas atormentadas e já inofensivas. </span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">O que será, que será? que andam combinando no breu das tocas?</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">O desabamento do edifício, infelizmente, não é nada de novo nessa cidade.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Mais uma saudosa maloca que ruiu. Mais um despejo na favela. Mais um barracão que se foi com a sua cama.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">A única diferença é que de Adoniram para Mano Brown muita coisa mudou.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">A doçura se foi.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Se o protesto presente nas canções do Adoniram escolhiam a irreverência e as verdades eram ditas de maneira poética, disfarçadas de conformismos e da esperança de que "Deus dê o frio, conforme o cobertor", na obra do Mano Brown, "Deus é uma nota de cem" e não há mais tempo nem espaço para as sentenças colaterais. Talvez estejamos caminhando para o confronto que o Brasil sempre tardou e empurrou com a barriga.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Não há mais doçura. Tudo está incendiando e prestes a desabar!</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Vivemos sobre um paiol.</span>Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-36953983759231919912018-05-02T12:07:00.001-03:002018-05-02T12:07:07.197-03:00Seu Herói<img alt="Resultado de imagem para bengala de jacarandá" height="320" src="https://ae01.alicdn.com/kf/HTB1UEuYNXXXXXbkaXXXq6xXFXXXR/Piedade-filial-idosos-A-velha-madeira-bano-jacarand-bengala-esculpida-antigo-presente-de-anivers-rio-de.jpg" width="320" /><br />
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<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
Quase cem anos pesam sobre seu corpo. Ainda consegue levantar e caminhar, mas as jornadas são lentas e custosas. Da cama para o banheiro, de lá para sua poltrona preferida na sala, de lá para o banho de sol. Este é o melhor momento do seu dia. Pelo menos o melhor que ele dispõe na atual circunstância. Detesta a ideia de usar uma cadeira de rodas para facilitar os passeios, ainda que esta seja mais funcional para os percursos mais longos. Então caminha lentamente com a ajuda de uma bengala de madeira de jacarandá bem reluzente, objeto do qual ele se orgulha. Acha que a bengala até que lhe cai bem. De uns anos pra cá, Seu Herói só anda com a companhia de seu cuidador.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Tudo parece muito difícil com quase um século de vida pesando sobre seu corpo e sua alma. Ainda mais quando a consciência persiste. Quando se entende quase tudo o que está acontecendo ao seu redor. Seu Herói sempre esforçou e exercitou sua mente para que ela não se degenerasse, coisa que ele não conseguiu evitar com o resto do corpo.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Acontece que não é fácil manter plena consciência e raciocínio quando todos seus outros órgãos te sabotam. Não é fácil também manter a consciência e a inteligência quando se perde pouco a pouco conexão com o mundo que te cerca. Difícil continuar acreditando nas próprias conclusões quando as pessoas se deparam com sua aparência física e por algum motivo, consciente ou inconscientemente te ignoram, ou partem apressadas e impacientes com seu ritmo próprio. Seu Herói, em sua solidão conclui, sem nenhum acréscimo de autopiedade, que as pessoas jovens não têm tempo para desperdiçar com conversas que correm lentas e quase sempre conectadas com o passado. Seu Herói aprecia a juventude. Sempre gostou de estar ao lado de gente jovem. Em sua carreira, sempre provocou esses encontros. Mas sabe que isso não é mais possível. Numa eventual conversa, certamente haveria de contar seus feitos do passado, pois hoje existe pouquíssimo para contar sobre o cotidiano de um velho de 98 anos.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Não há quase nada para contar sobre o seu presente. Vez por outra, quando está sentado à calçada, recebe alguns instantes de atenção de pessoas que se presumem generosas e decidem gastar um minuto (não mais que isso) de conversa. Interrompem seus passos rápidos e deselegantes e se dirigem ao Seu Herói como se fosse ele uma criança. Ele detesta isso. Conclui que a suposta generosidade em gastar um tostão de prosa não esconde uma porção de arrogância, ou mesmo de estupidez. Percebe que talvez essas pessoas queiram se sentir melhor com elas mesmas.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
De alguma maneira, respeita mais as pessoas que o ignoram do que essas que o infantilizam. O pior momento do dia é quando a vizinha de baixo se dirige a ele enquanto toma seu banho de sol. Ela chega cheia de tatibitates:</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
- Oi, cheu Helói. Vai ficar aqui chentado na calchada? Por que não fica dentlo do plédio? Lá é mais xegulo. Aqui tem axalto!”.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Puta que pariu! Como ele fica puto com aquela mulher. Nunca dá tempo para responder o que ele gostaria. Quando ele toma ar para conseguir dizer que prefere morrer instantaneamente do que tomar sol dentro do condomínio, ela já foi. Ou mesmo, em seus dias de fúria, quando ele tenta mandar ela tomar no cu com aquela voz de neném, ela já alcançou o elevador.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Seu Herói conclui que ficar irritado é inútil. Ficar deprimido com sua situação é uma armadilha mais do que perigosa. Seria fatal. Um caminho sem volta à essa altura do campeonato. Com o tempo, ele aprendeu a escapar da melancolia e dos acessos de depressão. Precisou aprender. Olha pra trás e se lembra da tristeza que lhe doía à garganta e a ansiedade que lhe acelerava o coração com os amores perdidos. Foram muitos amores intensos em que sinceramente se apaixonou. Teve um mais do que especial. Um que ele achou que seria pra sempre. Que lhe fazia bem. Que lhe desapegou de sua rotina e tirou as suas coisas do lugar onde sempre estiveram. Um amor que lhe desarrumou as gavetas. Mas um dia ela foi embora como que em uma canção do Adoniran Barbosa. Vivia com saudade. Com uma angústia que lhe acompanhava ao pensar nos amores que ele deixou para trás, quase sempre para não abrir mão de seu espaço e sua rotina. Era pragmático, individualista e ao mesmo tempo romântico e capaz de se entregar loucamente aos seus amores. Quando essas paixões acabavam, sabia que era necessário conviver com um período de tristeza. Aguentar as pontas com a angústia, a melancolia e até mesmo com a depressão. Mas logo a vida lhe presenteava com uma nova história de amor. Uma nova musa. Ou mesmo com um novo trabalho também excitante. Até o momento em que não apareceram mais novos amores. Os trabalhos ainda duraram um pouco mais, no entanto os amores se esvaíram. Depois, Seu Herói assumiu para si mesmo que eles não mais chegariam. Teve de aprender a viver com a solidão, a qual ele dizia nunca temer. A velhice trata de dar um soco no estômago da nossa arrogância. Hoje, exercita sua mente como se fosse um ninja. Nada de se ressentir da própria vida. Sem essa de sentir pena de si mesmo.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Percebe que agora precisa mesmo é de humildade. Seu Herói chegou num momento da vida em que a humildade se tornou questão de sobrevivência. Sempre detestou depender dos outros, agora depende de ajuda até mesmo para tomar banho.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Ele sempre foi um homem interessante, as pessoas pagavam para ouvi-lo. Hoje, ninguém mais tem tempo para lhe escutar. Isso não é Adoniram. Tá mais pra Bob Dylan. Não consegue sequer proferir um desaforo à vizinha besta.</div>
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Veja só quão curiosa é a vida. No momento em que ele teria mais coisas a dizer, tem mesmo é que escutar. Escutar e escutar. Observar e guardar suas conclusões, talvez para outra vida. Considera isso uma grande ironia, porém ele entendeu que já falou demais. Demorou uma vida para aprender a ouvir. Descobriu também como isso pode ser valioso. Igualmente, também não tinha muito tempo para ouvir. As certezas escapavam-lhe à boca. Agora exercita a audição e comemora por ela ser uma das poucas coisas que ainda funciona bem em seu corpo. Se ele pudesse voltar no tempo, ouviria mais. São boas essas reflexões, mas não há para quem dizer isso agora, além do Marcondes que é seu cuidador.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Votando à lição de humildade. O Seu Herói era independente financeiramente. Nunca foi rico, longe disso. Mas era bem situado. Sempre tinha bons trabalhos. Pôde viver as coisas boas da vida. Agora tem a conta certa para não passar necessidades. Paga o condomínio, o mercado, os remédios, o IPTU, o Marcondes e pronto. Se algo sair do previsto ele não tem mais como pagar. Não era um homem de luxos, mas adorava bons restaurantes, bons vinhos e bons charutos. Felizmente, os charutos ele ganha de presente mensalmente de uma fábrica na Bahia. Ele ainda escreve artigos e envia para a fábrica que coloca em alguns sites e revistas especializadas. É uma boa permuta. Seu herói gostou muito dessa coisa de internet. Pena não conseguir ficar muito tempo no computador por causa da visão. Tem uma coleção de perfis falsos que na época dele se chamavam pseudônimos. Ele já usava esse recurso dos pseudônimos para escrever em jornais e revistas. Eram por vezes colunas mais arriscadas e confrontativas ao sistema, passíveis de retaliação, por isso usava nomes falsos. Ou mesmo quando escrevia seus contos eróticos em livros e também em revistas de mulher pelada. Nesses casos jamais usaria o seu nome verdadeiro.<br />Vez por outra ele ainda recebe algum troco dos sites em que escreve como colaborador. É bem pouco, mas ele fica muito feliz quando entra esse dinheirinho. Nesses dias, ele chama um taxi, convida o Marcondes e vai jantar num de seus restaurantes preferidos. Certamente, Seu Herói preferiria uma companhia feminina. Mas não há o que reclamar. O negócio é levar o Marcondes.</div>
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Seu Herói já foi um homem atraente. Não era belo, mas mesmo assim, havia mil garotas afim. Tinha jeito com as mulheres. Gostava muito de sexo. Agora olha para seu corpo e percebe que acabou. Do mesmo jeito que aprendeu a ouvir, aprendeu também a gozar com a cabeça. A ter sensações mentais orgásticas. Às vezes, quando está deitado, quando sua cabeça vai longe, sente como se estivesse com uma ereção imensa. Está verdadeiramente excitado. Quando se toca, percebe que não há ereção alguma. É tudo cabeça. Então deixa a cabeça viajar para os lugares em que esteve e aos lugares onde gostaria de estar. Ah, se a gente pudesse voltar no tempo. Na vida, na maioria das vezes em que aprendemos alguma coisa, já é tarde demais. Esse tesão mental deveria vir antes de tudo. Conclui que essa foi a porção que lhe faltou para entender pelo menos uma parcela da alma feminina. Que o orgasmo físico depende algumas vezes de um orgasmo mental. Que esse orgasmo mental não é a ausência do físico, nem uma renúncia da matéria. Que é muito diferente da imaginação que acompanha a masturbação masculina. Que esse tesão mental efetivamente existe de maneira muito forte e presente.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Tem uma moça no prédio do Seu Herói que chega quase sempre com um vestido branco ou com um vestido florido. Só usa vestido. Ela é tão linda. Ele a considera tão atraente que quando ela passa, toma cuidado para não encarar demais e parecer um velho babão. Não quer ser desrespeitoso. Então muitas vezes comprime as pálpebras, segura firme o charuto, dá uma boa baforada, finge não estar vendo nada, mas efetivamente esse é o melhor momento do dia.</div>
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Houve um dia de glória recente na vida de Seu Herói. Certo dia, havia uma porção de moradores do condomínio ao seu redor. Falavam de alguma questão banal como a dedetização do prédio. Ela apontou pela calçada. Vinha de não sei aonde. Tinha uma flor no cabelo e sua pele estava reluzente. Seu Herói corrigiu a postura. Na verdade, melhorou a postura o quanto foi possível. Ela cumprimentou um a um com um beijo no rosto. Quando chegou a sua vez ela olhou em seus olhos e pediu desculpas:</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
- Ai, eu voltei caminhando, estou toda suada.<br />Segurou o braço esquerdo do Seu Herói e lhe deu um beijo na bochecha. Trocou mais três ou quatro palavras com os vizinhos. Ele aproveitou para farejar o seu cheiro.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
- Boa tarde, gente – Disse ela.</div>
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Seu herói procurou conter os olhares e a empolgação e devolveu o “boa tarde” serenamente.</div>
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Ela foi caminhando para o elevador e de lá para seu apartamento.</div>
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Foi o dia mais erótico da vida recente do Seu Herói. Aquele momento foi o suficiente para que ele passasse a tomar banhos mais longos e tirasse do armário suas melhores camisas e até mesmo seus ternos e sapatos.</div>
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Seu Herói, sempre preferiu ser elegante e educado. Sempre valorizou o respeito entre as pessoas. Mas também tinha dentro de si uma dose considerável de vulgaridade que ele guardava como um elixir da vida longa. Quando a gente perde o desejo está pronto para morrer. Então, Seu Herói passou os próximos meses pensando como seria aquela mulher nua à sua frente. Fechava os olhos e pensava na textura da sua pele. No perfume do suor que escapava pelos seus poros naquele dia em frente ao prédio. Fantasiava que um dia ela bateria a sua porta disposta a assassiná-lo para subtrair seus parcos bens, mas não sem antes lhe seduzir, ficando absolutamente nua e permitindo que ele a provasse inteira. Ele passaria a boca e o nariz por todo seu corpo e provaria gostosamente o seu sabor, de maneira demorada, porém voraz. Depois permitiria que ela o matasse da maneira que lhe fosse mais conveniente. Passaria a senha de suas contas, a escritura do apartamento e morreria serenamente, sem nenhum ressentimento por seu destino.</div>
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Começou até mesmo a se sentir mais bonito por aqueles dias. Mas depois foi passando. Ah, como uma paixão faz bem na vida da gente.</div>
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O negócio é chamar o Marcondes para lhe ajudar com o banho. Se escorregar e cair no banheiro, será equivalente a um desastre de carro em outros tempos. Marcondes lhe ajuda a se vestir. Pergunta o que seu Herói quer ouvir de música essa noite. Seu Herói pede para ouvir Nat King Cole.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Marcondes prepara a playlist. Regula o som ao gosto do Seu Herói. Marcondes vai se recolher aos seus aposentos. Já são oito da noite, hora do último charuto. Sabe que essa hora o seu chefe gosta de ficar sozinho. Quando se despede e dá boa noite, Seu Herói pede um último favor.</div>
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- Marcondes, posso lhe pedir uma gentileza? Poderia abrir um vinho pra mim? Eu não tenho forças. Hoje vou enfiar o pé na jaca.</div>
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Ele lhe abre o vinho, corta também alguns pedaços de queijo. Dá boa noite e vai para seu quarto.</div>
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- Marcondes! – disse o velho – Sirva-se com uma taça de vinho. Coma um queijo. Não passe vontade de nada nessa vida. Se tiver a chance, experimente!</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
- Obrigado, Seu Herói. Vou provar sim. Boa noite!</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
- Boa noite, Marcondes. Obrigado mais uma vez.</div>
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Seu Herói coloca o nariz na taça. Aspira o odor frutado que sobe desde o vinho e por alguns segundos desfruta aquele buquê. Suspira e depois dá um gole generoso. Abre o notebook e começa a olhar o Facebook. Quem sabe encontra a sua vizinha preferida e pode olhar as suas fotografias. Quem sabe ela também o encontra (ou algum de seus pseudônimos) e gosta de alguma de suas crônicas. A modernidade não é tão ruim assim.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Nat King Cole começa a cantar em espanhol com sotaque carregado:</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-top: 6px;">
Que se quede el infinito sin estrellas<br />O que pierda el ancho mar su inmensidad<br />Pero el negro de tus ojos que no muera<br />Y el canela de tu piel se quede igual.<br />Aunque pierda el arcoiris su belleza<br />y las flores su perfume y su color<br />No seria tan inmensa mis tristeza<br />como aquella de quedarme sin tu amor...<br />Me importas tu y tu y tu y solamente tu y tu y tu<br />Me importas tu y tu y solamente tu y tu y nadie mas que tu<br />Ojos negros piel canela que me llegan a desesperar<br />Ojos negros piel canela que me llegan a desesperar<br />Me importas tu y tu y tu y solamente tu y tu<br />y tu me importas tu y tu y solamente tu y tu<br />y nadie mas que tu<br />Ojos negros piel canela que em llegan a desesperar<br />Me importas tu y tu y solamente tu y tu ....</div>
<br /><a href="https://ae01.alicdn.com/kf/HTB1UEuYNXXXXXbkaXXXq6xXFXXXR/Piedade-filial-idosos-A-velha-madeira-bano-jacarand-bengala-esculpida-antigo-presente-de-anivers-rio-de.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><a href="https://ae01.alicdn.com/kf/HTB1UEuYNXXXXXbkaXXXq6xXFXXXR/Piedade-filial-idosos-A-velha-madeira-bano-jacarand-bengala-esculpida-antigo-presente-de-anivers-rio-de.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a>Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-79516902715803911002018-04-17T18:23:00.001-03:002018-04-17T18:23:08.231-03:00As chances de Bolsonaro<img alt="Resultado de imagem para bolsonaro" height="225" src="https://diariodegoias.com.br/images/stories/imagens/2017/maius/bolsonaro.jpg" width="400" /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /><br />O Brasil até que está prontinho para eleger o Bolsonaro, o problema é o próprio Bolsonaro. <br /><br />Nenhuma análise de cenários que considere a vitória do candidato à presidência, neste momento, seria absurda. <br /><br />O problema para que isso ocorra (ou o grande alento) é a absoluta miséria humana e pessoal de Bolsonaro. <br /><br />O candidato é um dos únicos que consegue angariar apoio espontâneo por parte do eleitorado. Em tempos de crise de representação dos partidos políticos e de absoluta descrença de boa parte da população na eficiência do Estado e da capacidade instituições que regulam as relações entre os indivíduos e a sociedade de darem conta da pulsão de frustrações pessoais que se somam, aglomeram-se e se fundem numa maçaroca de desgraça coletiva pós-moderna, quem ganha apoio é justamente a anti-política e a anti-negociação. <br /><br />Bolsonaro leva chumbo da grande imprensa. Não por se configurar como o mais raivoso “anti-Lula”, obviamente. Mas porque dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no mesmo espaço de tempo. Será muito difícil empurrar goela abaixo das camadas populares do eleitorado um candidato do conservadorismo paulista enquanto o Bolso Mito estiver ocupando a moita. <br /><br />Bolsonaro deve ser desconstruído nos próximos meses. Mas esse não será o único motivo de seu flagelo. Falta a Bolsonaro conhecimento (não por acaso) sobre tudo aquilo que ele despreza. Se conhecesse um pouquinho mais (não precisaria ser muito) sobre a formação social e política do Brasil, entenderia antes de tudo, por que ele recebe esse numeroso apoio, para depois entender também o que deveria fazer para não ser canibalizado pelo establishment econômico, político e midiático e virar bagaço até o final do período eleitoral. <br /><br />Bolsonaro é o novo personagem da cultura de autoritarismo enraizada na nossa formação política. Do culto à personalidade. Revela a desesperança na democracia e a descrença de que as instituições sejam capazes de darem conta das demandas tão urgentes e transformações estruturais necessárias em nossa sociedade. <br /><br />A verdade é que, por mais difícil que seja dizer isso, no fundo, no fundo, nem direita nem esquerda acreditam pra valer na democracia burguesa como capaz de realizar os seus respectivos projetos. Podem até gostar dela, mas acreditar pra valer é outra coisa. Seja por que há quem acredite que apenas uma via revolucionária seria capaz de transformar estruturalmente a sociedade e produzir um utópico homem novo, além de um utópico “novo Estado”, ou mesmo porque existe quem tenha absoluto desprezo pelas liberdades e prefira um Estado violento e repressor que construa à força uma trégua em busca de uma igualmente utópica acomodação de classes. Para estes, a democracia pode ser até uma trilha a ser percorrida, mas não uma realização. <br /><br />Bolsonaro atende à necessidade e o desejo de ordem institucional, a qual boa parte da sociedade se apega, inclusive e mais sensivelmente as camadas mais pobres e desprotegidas. <br /><br />Nos dias de hoje se ouvem muitas anedotas políticas, todas elas jocosas e preconceituosas sobre o “pobre de direita”. Mas percebam, quando a ordem se esvai e predomina o descontrole, quem tem mais a perder? Obviamente os mais pobres. <br /><br />Quem pode se dar ao luxo de viver a vida despretensiosamente e de maneira quase que inconsequente? quem tem maior ou menor nível econômico e social? Nesse caso, quem tem mais poder econômico se vê mais protegido diante de diferentes eventualidades. <br /><br />Quem vive pra valer o seu cotidiano em meio à criminalidade e lida cotidianamente com a violência, quem vive nos bairros pobres ou nos bairros ricos? Ora, quem vive nos bairros mais carentes experimenta a violência quase que cotidianamente. <br /><br />Quem tem toque de recolher e hora para chegar em casa? Quem já está acostumado a conviver com esquadrão da morte, tende a ter tanto medo assim de uma ditadura? Quem tem de disputar os filhos com o tráfico de drogas e tem a igreja como um dos únicos refúgios, tende a dar maior ou menor valor às liberdades? Ter maior ou menor apego pela democracia? Onde tudo é tão perigoso. Onde tudo é tão frágil. Onde não se pode dar ao luxo de ser inconsequente, a ordem, a disciplina, a força, parecem ser promessas de um equilíbrio desejado, onde tudo é incerteza. <br /><br />Curioso perceber que numa cada vez mais provável ausência de Lula nas eleições desse ano, as intenções de voto do ex-presidente não migram em sua totalidade para Ciro Gomes, Haddad, PSOL, ou qualquer outro candidato de esquerda. Bolsonaro também surge como uma personalidade capaz de se inserir como promessa de resolução dos problemas em que parte da população não acredita que podem ser sanados somente pelas instituições regulares, sem o papel de um interventor ou de um líder carismático. <br /><br />Obviamente, não é o caso de comparar o simbolismo da figura mítica de Lula nas camadas populares da sociedade com esse fenômeno de reação e brutalidade que é Bolsonaro. Porém, sabe-se que o personalismo está muito vivo na cultura política brasileira e as personalidades extravagantes, como as de Bolsonaro, despertam interesse. Ainda mais em tempos de Fake News, opiniões absolutas, valorização do exagero e mistura entre a realização e as aparências nas redes sociais. <br /><br />No mais, a população não se mostra afeita às soluções complexas. Difícil fazer com que o eleitorado entenda que dependemos de transformações estruturais na nossa sociedade que não seriam realizadas do dia para noite, sem transtornos e amadurecimento político, quando na outra ponta a proposição de supostas soluções simplificadas emergem com maior facilidade. Ainda que uma mudança de prioridades e uma revolução na educação do país seja uma necessidade que em linhas gerais é aceita e entendida por quase todos, a promessa de matar os bandidos e eliminar certos problemas de maneira supostamente instantânea, incrivelmente se mostra mais exequível e realizável em curto prazo. <br /><br />No mais, o discurso de que “bandido bom é bandido morto” é uma espécie de resposta e consequência das promessas não realizadas do capitalismo e da meritocracia. Ou seja, o sistema promete (e não cumpre) que o trabalho duro, a disciplina, a crença e respeito à propriedade e devoção aos mecanismos de mobilidade social do capitalismo premiará os indivíduos com melhor posição na hierarquia social e maior bem-estar material. É possível concluir que um indivíduo que seja cumpridor dos seus deveres e absolutamente devoto ao sistema, sinta-se revoltado com quem vive fora da lei e despreza tudo aquilo que ele acredita e a que se dedica. Ele precisa continuar acreditando nas promessas as quais se engajou desde o início. Ainda mais quando o fora da lei avança contra sua propriedade e utiliza da violência contra quem obedeceu a ordem e aceitou o monopólio estatal da violência. Quando o indivíduo se desarma e aceita, ainda que à força, esse pacto em que o Estado tem o monopólio da violência; Quando aceita ser cumpridor dos seus deveres; Quando acredita caninamente na meritocracia; Tudo isso é como se o indivíduo tivesse assinado um pacto com o Estado. A quebra desse contrato, ou a incapacidade do Estado em honrar esse acordo, de alguma forma permite ao indivíduo que ele procure outras formas de reparação em detrimento da esperança que as instituições sejam redentoras façam a justiça que se espera delas. <br /><br />Nas franjas das classes médias, existe uma nação de “desinstitucionalizados”. Uma grande massa de pessoas com pouquíssimos vínculos institucionais com o Estado. Trabalhadores informais, precarizados, sem representação política, Sem sindicato, sem acesso à justiça, sem prestação de serviços públicos adequados em Educação, Saúde, Previdência. Também sem apego às liberdades – liberdade, aliás, ameaçadora – e, como uma das consequências, sem apreço pela democracia e pelos direitos humanos. <br /><br />Esse lúmpen da classe média que até tempos recentes acreditava ou ao menos reclamava um maior papel do Estado como indutor e promotor de desenvolvimento, emprego e bem-estar social, agora nutre perceptível desprezo pelo Estado e pelas instituições. O neoliberalismo produziu não apenas uma nova ordem econômica, mas em suas quase quatro décadas de existência, produziu também uma nova sociedade e um novo tipo de indivíduo. <br /><br />É com esse novo indivíduo que as campanhas políticas estão tentando falar. <br /><br />Não é raro surgir analistas que se arriscam a comparar precipitadamente o fenômeno da eleição de Trump, com a possibilidade de eleição de Bolsonaro. Não que os dois acontecimentos estejam absolutamente desconectados. Mas a tentativa local de se instalar uma espécie de “Fascismo Periférico” pode estar mais próximo da experiência das Filipinas com Rodrigo Duterte. A verdade é que, felizmente, Bolsonaro se apresenta, pelo menos até o momento, como uma figura muito menor e com capacidade muito mais limitada do que esses dois expoentes da miséria política dos nossos dias. <br /><br />Provavelmente, nesse momento, Bolsonaro deve receber a companhia de quem se anima com a possibilidade de ver o candidato brasileiro repetir a façanha de Donald Trump. Essa turma deve vender ao Bolsomito pesquisas do “mercado eleitoral” que supostamente irão extrair o sumo do que pensam os Bolsosminions nos fóruns de internet. “Ah, porque o Trump usou a internet do início ao fim para vencer a eleição”. Sim, mas a ferramenta foi utilizada de uma maneira muito diferente. O tempo provou inclusive a participação de uma empresa que conseguiu dados sigilosos fornecidos pelo Facebook. Papagaiar os fóruns de internet é uma grande “cabeçada” de Bolsonaro. Seria preciso, antes de mais nada, perceber quem é esse eleitor suscetível a votar em Bolsonaro. A falta desse entendimento poderá custar a chance (que sim existe) do candidato ter uma vitória eleitoral. <br /><br />Para entender o que une o caso de Trump com o caso de Bolsonaro: Isso nos obriga a prolongar um pouco a análise, mas creio que isso seja importante. O neoliberalismo, acompanhado do processo de Globalização traz consigo uma missão “recivilizadora”. Impõe mudanças na relação entre os homens e suas relações de trabalho. Retira direitos e garantias. O neoliberalismo é antes de tudo uma agenda. <br /><br />Nessa onda globalizadora a chamada modernidade torna-se uma espécie de cruzada. Ela não respeita tradições, fronteiras e soberanias. Do mesmo modo que os Estados devem desregular seus instrumentos de proteção, que os trabalhadores devam aceitar com satisfação verem desregulados seus direitos, os indivíduos devem também desregular as suas “soberanias pessoais”. Para que prospere a agenda neoliberal, é necessário provocar os indivíduos a viverem nesse novo mundo onde o privado se sobrepõe ao público, o indivíduo à coletividade, os projetos pessoais às ideologias. <br /><br />O rolo compressor da modernidade desrespeita tradições, não dá a mínima para os costumes. Exige um indivíduo apto a viver nos “novos tempos”. Faz com que as pessoas se sintam permanentemente inadequadas, buscando “instalar” dentro de si a “próxima atualização” para não se tornarem obsoletas ao mercado de trabalho e ao mundo. <br /><br />Esse antigo trabalhador industrial que viu seu emprego desaparecer, seu status sucumbir, seus valores serem relativizados, suas experiências tornarem-se desnecessárias, seu modo de vida modificado, o mundo que lhe foi apresentado desaparecer a cada dia, seus costumes sem espaço, seu poder patriarcal questionado, a mulher que lhe “deveria” obediência não aceita mais lhe servir. Isso sem falar nos direitos que foram tirados, nas mudanças na divisão social do trabalho, nas transformações estéticas, na diversidade sexual. Esse personagem vem sucumbindo. Vem sofrendo derrotas. Perdeu poder. Tem profundos ressentimentos com a modernidade. <br /><br />Ainda que o homem branco heteronormativo ainda esteja no “topo da cadeia alimentar”, no que se refere aos seus privilégios sociais, cargos, salários, renda, etc, esse ator social nunca antes esteve tão desprestigiado. Nunca antes teve seus privilégios tão questionados. Nunca antes outros atores gozaram de tanto prestígio e protagonismo social. Nunca antes a estética comportamental coletiva esteve tão descolada desse ser que em alguns seguimentos da sociedade parece ser hoje até mesmo antiquado e desinteressante. <br /><br />Não é de surpreender, portanto, que haja uma reação, seja ela racionalizada ou mesmo intuitiva, por parte de alguns seguimentos mais conservadores da sociedade, interessados em restaurar as tradicionais hierarquias sociais. Não é absurdo concluir que para além das questões políticas já mencionadas, haja também uma reação fervorosa que coloca em voga as questões relativas ao comportamento. <br /><br />O tema da violência urbana aparece ao lado da corrupção, que aparece ao lado do desemprego, que aparece ao lado da questão da autoridade, que aparece ao lado do machismo, da homofobia, dos direitos humanos, de eliminar as esquerdas. Tudo isso aparece junto, pois compõem o “drama” de quem vem perdendo poderes, prestígio, protagonismo, espaços, renda, autoridade. <br /><br />Compõem também o drama de quem vivencia a dissolução das tradições, soberanias, códigos de conduta, comportamentos. Quando a modernidade se sobrepõe com valores, códigos, necessidades, e informações diferentes daquelas aprendidas e cultivadas pelas famílias e religiões, isso provoca um choque na vida mental dos indivíduos e necessariamente provocará também reações sociais e o desejo de conservação. <br /><br />Isso não tem ocorrido apenas no Brasil. Vê-se isso nos quatro cantos do mundo e, não por acaso, o conservadorismo vem ganhando força. Essa combinação de desgaste da política tradicional, a incapacidade das instituições regulares de darem conta das demandas sociais, combinados com as derrotas impostas pela modernidade em parte significativa das populações, os desprezos pelas tradições e soberanias que a sociedade de mercado carrega, além do choque entre valores tradicionais e os valores da modernidade, vêm inflamando uma reação cada vez mais numerosa que não encontra lugar na política tradicional, no establishment político, nas convenções sociais, nem se reconhece e se vê nas grandes mídias. Vai cavando seu espaço à força justamente no que se passou a entender por “politicamente incorreto”. Ganha trincheiras nas redes sociais, fóruns, chats e se conforta quando se encontra no boca à boca do dia à dia. Isso sem contar o papel significativo das igrejas mais conservadoras. <br /><br />Curioso perceber que a resistência mais “bem-sucedida” ao neoliberalismo veio de onde menos se esperava. Não foram as forças trabalhistas e progressistas que organizaram as populações e construíram os discursos triunfantes de resistência à globalização. Foram as forças mais conservadoras e atrasadas que ganharam espaço. Talvez porque seja mais fácil comover as massas com um discurso que depende menos de coerência do que construir uma crítica que dê conta de todas as vulnerabilidades políticas e sociais. As sociedades acostumaram-se com o instantâneo. Não querem fórmulas complexas. Na Europa e nos EUA é mais fácil culpar os imigrantes pelos problemas sociais e econômicos do que realizar uma crítica estrutural sobre a desregulação dos direitos dos trabalhadores, o baixo investimento em infraestrutura e o desmonte do Estado de Bem-estar Social, por exemplo. No Brasil, as transformações sociais oriundas da modernidade causam um impacto gigantesco, pois vivemos numa sociedade absolutamente hierarquizada e baseada no prestígio pessoal. Vivemos hoje numa grande maçaroca de ressentimentos coletivos vindos de todos os lados. O conflito e a intolerância viraram regra. O absurdo nunca deu tanto voto. <br /><br />Isto posto, é possível dizer que existe algo que Trump entendeu e Bolsonaro talvez nunca entenda e, muito provavelmente, essa será a causa de sua derrocada. <br /><br />Para além da verborragia torpe de Donald Trump, com suas manifestações estúpidas e odiosas, que infelizmente também tiveram seu apelo no eleitorado, sua campanha soube tocar os derrotados da globalização. Trump soube cavucar nas obscuridades da psicologia social, mas somado a isso, soube fazer um discurso político e econômico de enfrentamento ao establishment do mercado e da mídia. <br /><br />Trump defendeu a renacionalização da economia americana. O fortalecimento da soberania de seu país, pouco se importando se isso também gerasse uma onda de refortalecimento das soberanias ao redor do mundo, inclusive se isso fosse de encontro com os interesses instantâneos (em uma primeira análise) do imperialismo estadunidense. <br /><br /> Trump defendeu (e sua gestão vai nesse sentido) a reindustrialização dos Estados Unidos. O resultado foi eficiente. Os estados que foram “desindustrializados” e as cidades que eram fortíssimas, mas que quase viraram fantasmas econômicos depois da desindustrialização ocorrida nas últimas décadas, garantiram a vitória de Trump. O candidato durante toda a sua campanha defendeu a recuperação da infraestrutura dos Estados Unidos, que incrivelmente dá sinais de sucateamento em algumas áreas. Tanto a desindustrialização como a precarização das infraestruturas são reflexos diretos da agenda neoliberal que triunfa desde o final dos anos 70. Trump teve de ser engolido e ainda causa mal-estar, não se sabendo ainda se será digerido ou expelido pelo Mercado e sua mídia. <br /><br />Já Bolsonaro, aparentemente não tem recursos e atributos pessoais para ir além da verborragia torpe. Não sabe nada de nada. Não que não saiba responder questões mais sofisticadas como “spread bancário”. Não sabe sequer falar sobre balança comercial. Então se agarra em seus ideólogos que fazem medição de fóruns de internet e concluem que seu potencial eleitorado, por se opor ao discurso dos “esquerdistas” é apaixonado pelo ideário neoliberal e defende questões como a independência do banco central ou a intervenção estrangeira na Amazônia. Aí Bolsonaro vai e repete fazendo um discurso sazonal em cada lugar que visita, simplesmente por não fazer ideia do que está falando. <br /><br />Já que Bolsonaro vive defendendo a Ditadura Militar brasileira, seria mais eficiente se defendesse os legados dos governos militares. Que defendesse a recuperação da infraestrutura nacional, a reindustrialização do país, a geração massiva de empregos, a segurança nacional, entre outros temas. O antigo candidato à presidência Enéas Carneiro, com poucos segundos na televisão, defendia essa pauta e ficou em terceiro lugar nas eleições de 1994 com mais de 4,6 milhões de votos. <br /><br />Mas aparentemente Bolsonaro não dispõe dos mesmos recursos pessoais do saudoso Dr. Enéas. Felizmente, aliás. <br /><br />Bolsonaro tem forte apoio em diferentes camadas da sociedade. Tem o momento político ao seu favor. Existe forte tendência do eleitorado para a escolha de candidatos que sejam “fora do establishment político”, ainda que Bolsonaro seja Deputado há décadas. Mas, por outro lado, falta apoio partidário e consequentemente pouco tempo na televisão. Bolsonaro vai se agarrar ainda mais na pauta que lhe trouxe até aqui e, ainda que seu discurso tenha forte apelo em alguns setores do eleitorado, a pauta estreita poderá evidenciar ainda mais os limites de qualificação do candidato. <br /><br />Bolsonaro tem chance sim. O Brasil está no ponto para fazer uma besteira desse nível. Porém, felizmente, como alento, a miséria pessoal de Bolsonaro pode tirá-lo da disputa. Além da disputa política feroz, a precariedade de sua aliança partidária, o tempo de televisão e, principalmente, o fuzilamento que deve receber nos próximos meses para desocupar o espaço para outros candidatos da direita, mais interessantes ao mercado. <br /><br />Aliás, caso resista até o segundo turno, incrivelmente, Bolsonaro poderá até mesmo decidir a eleição para um candidato do campo progressista.</span>Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-42058976850544343492018-01-26T07:14:00.001-02:002018-01-26T07:14:23.231-02:00O simbolismo da condenação de Lula<img alt="Resultado de imagem para lula faixa presidencial" src="https://static.glamurama.uol.com.br/2016/10/Lula-273x300.jpg" /><br />
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Muito além do golpe. Além também dos grandes interesses embutidos no esforço político de sacar o PT do governo. Para além das grandes negociatas que se deram e se darão na calada das noites. Além da tragédia social que se avizinha.<br />Para além de tudo isso, a condenação do Lula é carregada de um imenso simbolismo que pode ser comparado com outros tantos episódios da história.<br />Até pensei em chamar de medieval a condenação de Lula, mas me dei conta que a História Antiga está repleta de episódios como este e, em verdade, eles jamais deixaram de ocorrer, até os dias de hoje.</div>
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Para homens como Lula foram construídos castelos e suas masmorras, calabouços, prisões, forcas, guilhotinas e paredões.<br />Cabeças como as de Lula foram degoladas e expostas em cidades do mundo, sob aplausos das multidões e fanfarras tocando marchinhas.<br />Lula jogou um jogo arriscado. Sua incrível inteligência, alinhada astronomicamente a um conjunto de circunstâncias permitiram a ele alcançar um posto desejado por muitos. Quase todos.</div>
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Esse cargo “não era pra ele”. Não para um retirante chegado na cidade grande no pau de arara. A existência política de Lula, durante certo período, poderia até ter suas funcionalidades para as elites econômicas e dirigentes. Sua eleição, que não era prevista, foi se tornando exequível e em dado momento inevitável, mas haveria de ser um enredo perfeito de fracasso e vexame a ser contado para as próximas gerações. A história do analfabeto que chegou ao poder. Que grande piada. Mas não foi assim que tudo ocorreu, como felizmente se sabe.</div>
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A subversão das velhas hierarquias sociais, por si só, já seria uma grande afronta que não haveria de passar em branco. Mas, o sucesso do Governo Lula foi imperdoável. Aquela fila de homens brancos, endinheirados e empoderados esperando para apertar mão do metalúrgico sindicalista... ah... nananina não. A lavadeira de São Bernardo nos salões nobres das dondocas. Isso não ocorreria sem uma grande revanche.</div>
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O Brasil nunca precisou de apartheid. Nunca foi usual cartazes e placas proibindo os negros de adentrarem em certos espaços. Nosso racismo é um sistema muito mais eficiente e sofisticado do que em qualquer outro lugar do mundo. Sabem por quê? Aqui todo mundo sabe se colocar no seu lugar! Não é isso que se diz? “Coloque-se no seu lugar”. E o Lula não se colocou em seu lugar. O sindicalista, que no Brasil, antes de mais nada é considerado um ingrato e mal-agradecido, por afrontar o patrão que lhe dá o que comer, não se pôs no seu lugar.</div>
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Lula não foi um mero serviçal das elites. Não que se tivesse sido um serviçal no poder seria absolvido. Mas Lula teve luz própria. Uma luz com grande brilho. Por outro lado, é bom que se diga, Lula esteve longe de ser um revolucionário. Foi um reformista. Um conciliador. Soube, como se dizia de Getúlio Vargas, ser pai dos pobres e mãe dos ricos. Mas, seu governo foi marcado por uma espécie de subversão coletiva de classes. Não somente o Planalto foi ocupado, mas outros tantos espaços, outrora exclusivos de uma casta privilegiada. Não que a mobilidade social e a ascensão de uma nova classe média tenha sido uma novidade histórica do Governo Lula. Porém, essa aliança política com o que alguns chamam de sub proletariado alavancado como um novo e decisivo ator político, mexeu com as bases da república. Desmontou sistemas de dominação que perduravam por décadas. Tremeu as bases do coronelismo.</div>
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Lula e o PT engendraram um sistema de alianças que resolveu uma questão eleitoral, mas esteve longe de resolver a questão do poder de fato.<br />Esse erro foi e continua sendo fatal.</div>
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É desse erro inicial de entendimento que se desencadeia essa tragédia composta por um conjunto de acontecimentos e que dá trabalho para analistas, sejam eles dos grandes salões, ou para os analistas vulgares de botequim, como se sabe, é o meu caso.</div>
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Desse erro inicial, a que me refiro, parte a suposição de que ser a mãe dos ricos garantiria alguma aceitação ao poder do PT. Besteira!<br />Provou-se equivocada a ideia de que os banqueiros e a classe empresarial, ganhando muito dinheiro, tornaria possível a construção de um pacto para o desenvolvimento social.</div>
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Provou-se equivocado o mecanismo de empoderar e endinheirar certa parcela da classe política, que supostamente estaria interessada apenas em enriquecer, construindo canais de irrigação de bilhões de dinheiros para financiamento do sistema político. Deu no que deu. Quando os rios de dinheiro que financiavam a governabilidade (que supostamente garantiria um bem maior) secou, essa frágil aliança sucumbiu e a governabilidade acabou. Nesse ponto, a Lava Jato foi cirúrgica em seu propósito. Soma-se a isso os erros desastrosos na condução política nos últimos anos do Governo Dilma. Mas, digamos que quando acabou a cerveja, acabou a amizade.</div>
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Provou-se também equivocada a suposição de que as classes médias urbanas seriam gratas ao governo pelo bem-estar material e pela bonança durante boa parte do período dos governos Lula e Dilma.</div>
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Seja com as elites, a classe política e a classe média, as coisas não deram certo simplesmente porque “não era só dinheiro”. Tratava-se também de poder e de prestígio. A classe pobre esteve e continua em sua maior parte com Lula - basta ver as pesquisas - porque esta sim se viu empoderada nos últimos anos. Não é apenas gratidão pela inclusão social e acesso aos bens de consumo. As classes pobres ganharam um protagonismo político jamais visto.<br />Em resumo, a condenação de Lula é também a história do fracasso da tentativa da concertação de classes.</div>
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Não que essa tentativa seja ausente de nobreza. É preciso ainda reconhecer, que se não fossem as qualidades conciliadoras do Presidente Lula, ele jamais teria alcançado o sucesso que alcançou e seu governo não teria tanta popularidade. A concertação foi também uma história de sucesso, até pela manutenção da ordem institucional. Não seria perdoado, caso o Governo Lula fissurasse essa ordem.</div>
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O erro mais grave [que termina na masmorra] foi certas personalidades políticas acreditarem que tinham construído uma "aliança" com as elites. Os mais tolos, inclusive, chegaram até a acreditar que poderiam controlá-la. Os deslumbrados imaginaram que faziam parte desta elite. Os vacilões se lambuzaram, apaixonaram-se pelo dinheiro, esqueceram quem eram e se tornaram bons vivans.</div>
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Não perceberam, que por parte das elites, essa aliança era meramente funcional. Tinha um propósito bem definido e, principalmente, prazo de validade.<br />Tão logo foi possível, colocaram todo mundo na cadeia. É simbólico. A história está aí para ser contada. Podem ter sido modificados os argumentos, os ritos jurídicos, os discursos, as formas. Mas quem retomou o poder mandou todo mundo para a jaula. Em outros tempos talvez seriam executados em praça pública ou seriam obrigados a usar máscaras de ferro.</div>
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Imaginem vocês o Palocci. Este se entregou gostosamente aos interesses dos grandes rentistas. Fez de tudo para vender o governo. Mesmo assim foi para a masmorra para que aprenda qual é o seu lugar.</div>
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"Ora, mas todos eles do outro lado são grandes corruptos travestidos de negociantes". Sim, mas "eles podem". Agora, quem ousou ocupar o castelo e se acreditar empoderado, foi parar na cadeia.</div>
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Não se trata de responsabilizar o Lula por todos os acontecimentos que desencadearam na sua condenação. Repito que a opção pela tentativa de concertação foi também uma história de sucesso e o Governo Lula deixa um legado histórico para o Brasil que será certamente reconhecido pelas próximas gerações e pela história.</div>
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Mas, serve também para que a esquerda aprenda muito com o ocorrido.<br />A condenação de Lula deixa nítido o modo de operação das elites. É, inclusive, uma condição necessária para sua existência e manutenção do status quo. Ou seja, não tem acordo. Eles querem tudo.</div>
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É inevitável pensar. Será que é possível transformar de fato as estruturas sem transtornos e decisões difíceis e ruidosas?</div>
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Na véspera da eleição de Lula, Regina Duarte foi à televisão dizer que "sentia medo" de Lula ser igual ao Hugo Chavez. Desde o início, o Governo Lula dedicou boa parte de sua energia para confirmar que o Brasil não seria uma filial do chavismo. Fez isso por uma questão política, mas também para combater os frequentes e danosos ataques especulativos contra a economia brasileira.<br />O medo era que o Brasil virasse uma Venezuela. Que o Brasil virasse uma Cuba. Será que o Brasil está tão melhor assim que essas nações do mesmo continente?</div>
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Será que não teria sido melhor ter tomado decisões difíceis e barulhentas como a Lei de Mídia, por exemplo?</div>
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A história está mostrando que sim.</div>
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Mas, aparentemente, o núcleo de governo efetivamente acreditou que teria algum reconhecimento das elites. Até o último dia. Efetivamente acreditou nessa aliança e não entendeu a natureza funcional dela. Será que não teria sido melhor Lula ter aprovado no congresso, quando tinha 80% de popularidade uma reforma política mais estrutural?</div>
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Mesmo a possibilidade de ter aprovado o direito de concorrer a um terceiro mandato, como fizeram e fazem tantos governantes pelo mundo. Valeu à pena abrir mão para evitar a gritaria? Se tivessem sido compradas essas brigas, Lula certamente teria sido chamado de ditador, censor, que havia tolhido a liberdade de imprensa. O governo seria chamado de totalitário.</div>
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Depois que tudo aconteceu, é fácil falar. Mas devemos aprender com os acontecimentos. Adiantou esperar reconhecimento pelo caráter democrático do governo Lula? Adiantou esperar alguma consideração de quem sentava à mesma mesa? Aparentemente não. Acabaram de condenar Lula a doze anos de prisão. A praticamente morrer na cadeia.</div>
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Não se trata de defender ou acreditar que o melhor teria sido um golpe de Lula para se perpetuar no poder. Longe disso.</div>
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Mas é no mínimo burrice acreditar que "do lado de lá" tenha alguém que valorize de fato a democracia. Se valorizassem não teriam dado o golpe em Dilma, respeitariam a vontade das urnas, não tirariam Lula da disputa.<br />A história é contada pelos vencedores. Lula seria considerado totalitário pelo “terceiro mandato” e Angela Merkel democrática.</div>
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Não há personagens na história que tenham enfrentado grandes interesses imperiais que não sejam tratados pelo discurso hegemônico como “mocinhos”. Fidel é ditador, Che Guevara assassino, Mandela era terrorista. Depois o transformaram num senhorzinho pacifista inofensivo. Por outro lado, há galerias de presidentes e líderes políticos escravocratas, torturadores, sabotadores e genocidas com suas estátuas repletas de flores, recebendo tratamento de heróis históricos. Assim funcionam as elites. Eles não se envergonham de nada que fizeram. Exterminaram civilizações, mas escreveram seus livros para contar histórias de bravura.</div>
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E nós, ao que parece, acreditamos nesse discurso construído pela burguesia. Não desagradamos tanto, na esperança de recebermos um tratamento digno como presente de reconhecimento. Isso não é possível. Quem tiver interesse, vista a carapuça de idealista ingênuo, escolha cinco ou seis frases que não desagrade tanto os grandes barões e quem sabe seja selecionado como um dos tantos esquerdistas de estimação das elites. Certamente haverá um ou outro convite para coquetéis onde existem cotas para “comunistas domesticados” que sabem se comportar. Ou, se preferir, fique no seu lugar de fala em alguma sala fechada de universidade falando sobre os micros aspectos que interferem na formação de sua micro realidade. Quem não se interessa por exercer esses papeis, saiba que não tem massagem. É porrada! Se vacilar eles te colocam na cadeia e te eliminam!</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
A condenação de Lula deixa grandes ensinamentos. A história continua sendo escrita. As elites, burras ou não burras, não vacilaram em jogar fora talvez a única personalidade com capacidade e condições de construir uma trégua social entre classes. Trégua essa que previa inclusive a manutenção dos privilégios e dos grandes lucros de quem manda nesse país a tantos anos. O recado foi claro: não tem acordo. Não tem concertação. O Mercado não quer no Planalto nada menos que um funcionário obediente que seja despachante de seus interesses.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; margin-top: 6px;">
Hoje predomina o desânimo. Mas é importante entender que estão condenando um grande negociador político. As lutas sociais não são apenas de Lula. O presidente é um catalizador de demandas históricas da nossa sociedade. É alguém com capacidade de aglutinar essas demandas e institucionalizá-las dentro das regras do jogo político. Mas essas lutas não deixarão de existir pela ausência de um negociador (que foi descartado). Na verdade, essas demandas tendem a explodir. O que agora parece marasmo, logo irá transbordar, talvez de maneira incontrolável. E as lições históricas que ficaram deixam uma delicada mensagem ao povo que no futuro talvez não seja tão interessante assim negociar. Estamos construindo a cada dia um país mais intransigente. E, certamente, o cultivo da intransigência trará consequências. Estão semeando tempestades.</div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-80102850533699610522017-09-01T16:49:00.001-03:002017-09-01T16:49:20.305-03:00O nosso nome é Corinthians <div style="text-align: right;">
-<b> Julho de 2017 </b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Por
onde quer que eu ande, meu nome é Corinthians. Pelas ruas, tanto faz o meu nome
próprio. Mas saibam que isso é um grande motivo de orgulho. Mais legal ainda é
perceber que não sou o único. Em todos os lugares onde vou, encontro homônimos.
Somos milhões de “Corinthians” espalhados pelo mundo. Basta estender o braço
para um aperto de mãos sonoro, estalante, firme e sincero:<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
E aí Corinthians, como é que você está?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Eu tô bem Corinthians, e você?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Ah Corinthians, sabe como é… na correria! E o Corinthians?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Aí
sim, na terceira pessoa, intuitivamente percebemos que quando ouvimos “o
Corinthians”, refere-se enfim ao Sport Club Corinthians Paulista, do qual
fazemos parte de maneira visceral, orgânica e espiritual.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Ah, Corinthians… o coringão tá foda. É só alegria. Corinthians, eu vou nessa
porque o bagulho está descabelado no trampo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Firmeza, Corinthians, eu tenho que ir embora também.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Valeu, Corinthians. É nois.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
É nois!<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">E
partem cada um numa direção diferente, lutando pelo pão de cada dia, porém
felizes por aquele breve e instantâneo encontro. Sem perceberem, disseram “eu
te amo” um ao outro.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">É
uma satisfação incrível. A gente chega à padaria e o rapaz atrás do balcão já
fala bem alto pra todo mundo ouvir: “Fala aí, Corinthians”. Você percebe que
estão todos te olhando. Alguns sorriem de maneira afetiva, outros apenas baixam
lentamente seus olhares:<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Melhor impossível! – você responde.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Coringão tá foda, né?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
O bagulho ficou louco!<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
É nois! Pão na chapa e uma média?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Acho que hoje eu vou de misto quente. Manda também um suco de laranja. Ah, um
café expresso.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">E
o lanche vem bonito. Deliciosamente recheado. O suco de laranja vem até com
aquele chorinho num copo separado. Café bem tirado. Os sorrisos afetivos que se
espalhavam pelo local se aproximam de você pra trocar uma ideia sobre as
novidades do Mosqueteiro do Parque São Jorge, ou mesmo para contar as histórias
dos jogos antigos. Os olhares resignados assim permanecem, apenas nos suportam.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">E
assim você segue seu dia. Chega na portaria do prédio e logo escuta: “Fala
Corinthians, bom dia”. Entra no escritório e o ambiente se divide. Uma parte
tem liberdade com você, independente da função que exerça. Pode ser diretor ou
faxineiro. Ele sabe que basta chegar à sua mesa e dizer “Corinthians, tudo
bem?”, tocar no seu ramal e sem desnecessárias introduções ou apresentações,
iniciar a conversa dizendo “Oi Corinthians, deixa eu te falar…”. Com outros
não. Faz-se necessário um nível de formalidade maior e atenção aos trâmites,
normas e minúcias dos procedimentos. Fazer o quê? A vida é assim…<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">E
quando você descobre que a garota dos seus sonhos tem tudo a ver com você? Que
vocês têm mais em comum do que imaginavam?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Oi Corinthians, tudo bem? – fala ela numa melodia doce e te abre um sorriso
lindo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Oi Corinthians, meu amor. Você tá cada dia mais linda.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Ah, Corinthians, para com isso, você diz isso pra mim e pra torcida inteira.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Que nada, meu amor. Você bem sabe que eu sou Fiel desde que nasci.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
É da Fiel eu sei que você é mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">E
os dois riem satisfeitos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Mas
quando o amor é pra valer, a coisa fica muito mais séria:<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Ah, Corinthians. É foda porque eu te amo demais.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Também te amo, Corinthians. E vai ser pra sempre. Por toda minha vida.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Passam
uma linda noite juntos e colados, sem se importar com o calor. Se abraçam
afetuosamente. Transpiram mais um pouco. Gostam sinceramente um do outro. “Não
te troco nessa vida por ninguém porque eu te amo, eu te adoro, meu amor”.
Quando enfim estão extasiados e completos, olham um para o outro com um sorriso
safado e dizem juntos “Vai Corinthians!”<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Amanhã é aniversário da minha mãe.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
É verdade! Mas tem jogo do Corinthians bem no horário.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Ah, então tá bom. A gente passa mais cedo pra dar um beijo e deixa um presente
pra ela.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Boa! Fim de semana a gente leva ela pra jantar. Vai ter jogo de novo? É no
sábado ou no domingo?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
No domingo. Mas a gente a leva pra comer uma feijoada no sábado, certo?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Certo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Mas
não é sempre com carinho que nos chamam por “Corinthians”. Tem os “antis” que
quando a gente aponta na mesma calçada já dá pra ler o pensamento: “puta que
pariu, lá vem o Corinthians, justo hoje. Tá insuportável”. Inevitavelmente você
chega perto dele e ouve em tom nervoso:<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">-
Fala o Curinthia (sem conseguir disfarçar a fúria que transborda no canto dos
lábios e na testa franzida). Tá feliz, né?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Você
responde sem querer pisar muito no calo do rapaz: “Opa, sempre. Só alegria”.
Vai embora sem prolongar muito a conversa, mas consegue ouvi-lo resmungando em
sussurro: “O cara é legal, mas sai pra lá, Corinthians. Deus que me perdoe! Dá
vontade de sumir!”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">É
como se fizéssemos parte de uma sociedade secreta, mas acontece que somos muito
escancarados. Então não dá pra ser sociedade secreta. Estamos mais para uma
grande irmandade.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Somos
“Os Corinthians”. Dá pra entender porque o apóstrofe do “Corinthian’s team” foi
abolido e numa aportuguesação maravilhosa nos fizemos Corinthians, ao mesmo
tempo plural, singular e com uma possessividade coletiva.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Temos
uma incrível sensação de pertencimento. Temos instrumentos de solidariedade
indestrutíveis. Temos um destino compartilhado. Padecemos das mesmas dores e
também nos emocionamos nas mesmas alegrias.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Compartilhamos
dos mesmos sonhos para o futuro. Sinceramente nos amamos. Gostamos de estar próximos
uns dos outros. É uma grande alegria quando nos reunimos nos dias de jogos,
seja no estádio ou em casa, fazendo churrasco ou dividindo o mesmo sanduíche.
Nosso lanche sempre vai ser dividido em dois, três, quatro ou cinquenta pedaços
se necessário. E num milagre divino o lanche vai alcançar a todos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">A
gente abre a porta da nossa casa para os outros Corinthians. Recebe a todos com
muito amor. E gente também vai na casa dos outros Corinthians e nos sentimos à
vontade. Abrimos a geladeira. Afinal, em todos os cantos da casa está estampado
o nosso nome.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Nunca
quisemos nada do Corinthians, ficamos suficientemente felizes somente por
carregar o seu nome. Mas pare pra pensar, mesmo sem pedir nada, quanta coisa o
Corinthians nos deu? Quantos amigos, irmãos e amores? Quanta felicidade
carregamos em nossas vidas? O Corinthians nos dá a certeza que somos filhos de
Deus.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">O
Corinthians nos fez irmãos e por isso carregamos todos o seu nome.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Somos
milhões de xarás.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Muito prazer, nosso nome é Corinthians!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-66597750574797068242017-09-01T16:48:00.001-03:002017-09-01T16:48:15.118-03:00O sinalizador é só um símbolo, mas os símbolos tem poder <div style="text-align: right;">
- <b>Junho 2017</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: right;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbm9p6WiA26G3SeCmhqax9XkkfVx2Ug3yFXH5gPxO-fEDyTzxaR58v4BGlDFQtqHtQD_F_Cy63HBet1wVpNCQ-bmWQjTgLfnR73DMaaNTlSMMiS-EroDZfx8wqYhWj4XWF2-Jihy8d47Q/s1600/Torcida-Corinthians.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="447" data-original-width="693" height="206" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbm9p6WiA26G3SeCmhqax9XkkfVx2Ug3yFXH5gPxO-fEDyTzxaR58v4BGlDFQtqHtQD_F_Cy63HBet1wVpNCQ-bmWQjTgLfnR73DMaaNTlSMMiS-EroDZfx8wqYhWj4XWF2-Jihy8d47Q/s320/Torcida-Corinthians.jpg" width="320" /></a></div>
<b><br /></b>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Entra
em campo o Corinthians. A Fiel de pé recebe o time que aponta no gramado. As
bandeiras tremulam na arquibancada. Um mar de bandeiras. No rosto do povo se vê
o orgulho de quem levanta com a força dos braços a bandeira do timão. O barulho
é ensurdecedor. Misturam-se na atmosfera o grito da torcida, os tambores
rufando, os fogos de artifício. Eram muitos fogos! Explodiam em cima de nós. A
gente gritava: Corinthians! Corinthians!<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Gritávamos
todos usando todo ar que dispúnhamos nos nossos pulmões. Toda força que emanava
da garganta. Mesmo assim não conseguíamos ouvir as nossas vozes porque o
barulho era muito alto. Eu era um menino. Mas se essa festa fosse hoje eu
continuaria sendo menino. Desde a arquibancada não se via mais o campo. Apenas
as bandeiras a nossa frente e muita fumaça. Na falta de outro material, eu
trazia comigo um rolo de papel higiênico. Olhei para meu pai. Atirei com força
o rolo para o alto segurando o papel. Vi o rolo descendo pela arquibancada. Era
apenas mais um risco naquele mar de papeis e panos alvinegros.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Olhava
para os lados. Via o povão. Gente verdadeiramente simples. Gente desdentada.
Com cara de pobre. Quem não era pobre ficava junto e se abraçava. Ali era uma
favela só. Um senhor que eu não conhecia, do nada me segurou pelos braços e me
levantou. “Corinthians! Corinthians! Corinthians” gritava com os olhos
arregalados em minha direção. Era muito especial participar de tudo aquilo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Acidentes
poderiam acontecer? Não sei. Segurava a mão do meu pai. Certamente nada me
aconteceria. Correr aquele risco do imponderável em meio à multidão me fazia um
soldado. Sentia-me já um homem. Estava feliz naquela atmosfera. Eu era cúmplice
de toda aquela gente que nunca havia visto na vida. Naquele momento eu tinha
certeza que fazia parte de um povo. Que não estava só. Havia um sentido de
coletividade que eu não conseguia entender direito àquela altura da vida, mas
se construiria e se edificaria dia após dia na minha vida. Eu era Corinthiano!
Mais um Corinthiano no meio daquela massa.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Meu
sovaco suava. Sentia o cheiro da minha camiseta na altura das axilas e sentia
um cheiro forte de suor que saía de mim. Olhava de novo para o meu pai e ele
sorria. Sentia-me livre. Eu podia gritar o palavrão que quisesse. E assim eu
fazia. Não deixava por menos. Porra, caralho, torcida de cuzão. Quem manda
nessa porra é a torcida do timão! Por-cú Vai tomar no cú! Segunda-feira é
terça-feira, filho da puta é quem torce pro Palmeiras! Ouvia o xingamento de resposta,
vindo do outro lado da arquibancada. Era legal. Era o sentimento de liberdade.
Era a diversão que meu pai podia pagar. Porém, mesmo que ele pudesse pagar
outra coisa mais sofisticada, eu não queria. Bastava me levar ao jogo do
Corinthians.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Havia
chegado às 13h. Esperava três horas olhando para o gramado. O melhor momento
era a festa da torcida quando o Corinthians subia para o campo. Dali a pouco
estourava o último rojão, sempre o mais grave de todos: BUM! Subia a fumaça
para o céu. Todos gritavam Vai Corinthians! O jogo iria começar. Passada aquela
bagunça toda ninguém havia morrido. Ninguém havia se machucado. Era só uma
festa. Havia um sentido muito especial. Não era a festa que haviam feito para
nós. Era a festa que a Fiel tinha feito para o Corinthians. Tratava-se de ser
ativo e participativo. De interferir na história. De ter protagonismo. De
existir. Tal qual aquele último morteiro da bateria de fogos: BUM!<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Eu
acordo em 2017 e vejo a arquibancada vazia. A festa acabou. Estamos na
ilegalidade. Fomos proibidos de ser quem somos. De ter cultura própria. De
fazer aquilo que se gosta e que faz sentido na nossa vida. De existir. Devemos
nos adequar aos novos tempos. Precisamos ser recivilizados pelo neoliberalismo.
Estar adaptados às leis de mercado, já que o futebol é mercado. As leis do
mercado, exteriores ao que é humano e sua natureza, funcionam como a lei de um
império distante, que esmaga quem somos e nos obriga a seguir leis estranhas
que não nos fazem sentido.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">É
evidente que o tal sinalizador não é um problema. Mas se tornou um símbolo. E
os símbolos tem poder.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Acender
um sinalizador não é um gesto em si mesmo. Quem acende quer dizer algo. É um
grito de liberdade. De autodefesa. De rebeldia. O gesto legítimo de
desobediência que brota quando não acreditamos em uma lei estúpida. Quando a
lei imperdoavelmente entra em atrito com os costumes e a cultura. Quando uma
lei vai de encontro com outras leis fundamentais que nos garantem a liberdade e
a livre expressão.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Porque
a livre expressão não pode por em risco blá blá blá. Da mesma forma de que para
quem acende o sinalizador é apenas um símbolo, para quem quer proibir também o
é. O proibicionismo e a policialização do Estado se servem de diferentes medos
e angústias que estão na sociedade para controlar, eliminar convergências,
encontros, rebeldias, insubordinações, confabulações, formulações e sentido de
liberdade.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">A
borrachada no povo que acende sinalizador provoca aplausos dos espíritos
servis. As multas aplicadas pela justiça desportiva deixa nítido que ela está a
serviço de outros interesses grandiosos, pois nos divide. Joga-nos uns contra
os outros. Cria desentendimentos. Deixamos de refletir sobre o mérito das
coisas. Se a luta é justa ou se a justiça é repressiva. Passamos a culpar uns
aos outros pela multa que o clube levou ou pela interdição de parte do estádio.
Nos dividimos e perdemos a capacidade de questionar o absurdo que está
ocorrendo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Logo,
a polícia recebe elogios da cobertura jornalística da imprensa velha por descer
a porrada nos marginais que tomaram conta do futebol e tiraram as famílias de
bem dos estádios. Sim, a tradicional família branca. Aquela que detém o poder.
Que é dona de tudo e de todos. Das universidades, dos aeroportos, dos bairros
bons e dos camarotes. As famílias que habitavam os estádios antes deles serem
ocupados pela gentalha. Tal qual quando esse era o esporte da oligarquia.
Quando filho de mãe solteira não podia entrar. Quando preto tinha que passar pó
de arroz na cara pra poder jogar. Essa é a nostalgia dessa gente.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Amigo
corinthiano, basta olhar um pouquinho para nossa história. O Corinthians nasceu
justamente para derrotar esses preconceitos. Para se intrometer e estragar a
festa da oligarquia paulistana. Somos necessariamente incômodos. Depois do
primeiro título da nossa história em 1914, a liga aristocrática se dissolveu e
formou outra liga sem o Corinthians, quase provocando o encerramento das nossas
atividades. Por pouco não desaparecemos, depois de incomodar a tradicional
família paulista. Não só resistimos como voltamos mais fortes e nos fizemos
Corinthians justamente com a força do operariado e de quem não tinha lugar na
sociedade.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Por
favor, perdoem minha sinceridade. Respeito as diferentes formas de pensar. Mas
não existe contrassenso maior do que corinthiano coxinha. Corinthiano
aplaudindo a polícia batendo em corinthiano. Dá vontade de chorar, na verdade.
Claro que o aplauso dura pouco. Logo em seguida existe a pausa para mais uma
self, fazendo biquinho com a torcida organizada ao fundo, como paisagem.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">O
problema não é o sinalizador. Ele é só um bastião. O que está em jogo é
justamente esse sentido de liberdade que descrevi no primeiro parágrafo. O
protagonismo. É a gente existir como povo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">O
que está em jogo é nos transformar em espectadores enquanto insistimos em ser
agentes. É transformar em espetáculo o que é um acontecimento histórico. E
destruir os instrumentos de solidariedade que nos une. Que sejamos apenas seres
individuais e individualistas sem nenhum sentido de coletividade e
pertencimento. É o direito de protestar, gritar, xingar, nos expressar em
faixas, camisetas ou berros. Nossas vozes precisam ser caladas. Temos
preservado o direito de aplaudir. Isso sim. Seja no Estádio, seja no Estado.
Aplaudir é o que nos cabe. As vozes que podem permanecer são tão somente
aquelas que são mediadas pelas elites. Que escolhem por nós o que cantar, o que
dançar, o que vestir, o que comer e que horas devemos dormir.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">O
Corinthians deveria ser sabedor de seu tamanho. Ao invés de ficar pagando
multas que irrigam os cofres da CBF, deveria assumir sua responsabilidade
histórica e não apenas ser reativo. Não existe problema da torcida. Primeiro
porque a torcida não é um problema, como alguns querem acreditar. Segundo
porque não existe torcida e Corinthians como coisa separada. Corinthians e
torcida são a mesma coisa. Somos Corinthians, no plural. Somos os Corinthians.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Se
isso serve na hora de negociar as cotas de tevê, deve ser também no momento em
que é necessário que a instituição represente seu povo frente aos órgãos
competentes. Até porque o clube é o maior lesado pelo proibicionismo que toma
conta desse estado. O Corinthians tem frustrada grande quantidade de receitas
que poderiam ajudar a pagar a Arena porque não pode realizar eventos no entorno
do estádio. Aquela tal Fan Fest. Não pode porque onde há povo, onde há
aglomeração, onde há encontro e convergências, há também intervenção policial.
É assim que funciona esse estado. E o Corinthians aceita passivamente. Não
assume o seu papel e desconhece o tamanho que tem. Não é favor nenhum ter o
Metrô meia hora a mais depois do jogo. Quem está ali no estádio é o povo
brasileiro. É quem sustenta esse estado e merece respeito.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">A
luz que se levanta não é a de um material descartável inofensivo comprado em
qualquer loja de festa. A luz que ilumina a Fiel Torcida Corinthiana é a chama
da liberdade. Esse mesmo artefato, quando aceso em outras torcidas do Brasil e
do mundo, não causa incômodo algum. O que se quer apagar, na verdade, é a força
e o espírito rebelde da torcida do Corinthians. Querem nos calar.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 4.5pt 0cm 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Podem apagar os sinalizadores, aplicar multas, interditar
espaços. Nunca poderão apagar aquilo que está no nosso coração e na nossa
mente. O que ilumina nossa arquibancada são as ideias da nossa gente. É o amor
que a gente tem no coração. Jamais vão poder apagar aquilo que guardamos na
memória. Aquilo que vivemos com o Corinthians. A nossa história. A nossa
cultura. O que faz sentido para cada um de nós. Essa é nossa vida. O
Corinthians é o que nós somos. O que está na cabeça da nossa gente, para sempre
estará aceso! Essa chama jamais se apagará!<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-67331332682542188782017-09-01T16:44:00.000-03:002017-09-01T16:44:07.659-03:00Campo Dr. Socrates <div style="background: white; margin: 0cm 0cm 4.5pt; text-align: right;">
<span style="color: #1d2129; font-size: 10.5pt;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- <b>Maio 2017</b></span></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="color: #1d2129; font-size: 10.5pt;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="color: #1d2129; font-size: 10.5pt;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">CAMPO GUERREIRO DR. SOCRATES <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="color: #1d2129; font-size: 10.5pt;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: #1d2129; font-size: 10.5pt;">Dois amigos queridos. Dois militantes e ativistas apaixonados,
um pelo outro e também por seus ideais, conquistaram aquele sonho que muito de
nós temos. Um recanto no meio do mato pra respirar ar puro e gozar a vida.
Estão literalmente construindo à próprio punho. Lutando juntos a cada dia.<br />
Eles me fizeram um pedido.<br />
O campinho de futebol deles foi batizado com o nome do Doutor Sócrates. Sim,
além de todas as qualidades eles são grandes corinthianos.<br />
O pedido foi que eu esc</span><span class="textexposedshow"><span style="color: #1d2129; font-size: 10.5pt;">revesse um texto falando do Sócrates para eles
colocarem numa placa ao lado do campinho, onde vão compartilhar momentos
felizes com seus amigos, companheiros e camaradas.</span></span><span style="color: #1d2129; font-size: 10.5pt;"><br />
<span class="textexposedshow">E eles realmente fizeram tudo muito
bonitinho. </span><br />
<span class="textexposedshow">Fiquei muito emocionado e honrado por fazer parte
de alguma forma desse momento. Ainda colocaram uma fotinho minha na placa.
Fiquei todo besta. </span><br />
<span class="textexposedshow">Muito obrigado ao casal </span></span><a href="https://www.facebook.com/PrisPriPriscilaPrix?fref=mentions"><span style="color: #365899; font-family: inherit, serif; font-size: 10.5pt; text-decoration-line: none;">Pris Pri
Priscila Prix</span></a><span class="textexposedshow"><span style="color: #1d2129; font-size: 10.5pt;"> e </span></span><a href="https://www.facebook.com/alexcapuano13?fref=mentions"><span style="color: #365899; font-family: inherit, serif; font-size: 10.5pt; text-decoration-line: none;">Alex Capuano</span></a><span class="textexposedshow"><span style="color: #1d2129; font-size: 10.5pt;">. Vocês são muito queridos.</span></span><span style="color: #1d2129; font-size: 10.5pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="color: #1d2129; font-size: 10.5pt;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Esses são os versos que
rabisquei.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #1d2129; font-size: 10.5pt;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sócrates Brasileiro era Sócrates,
mas acima de tudo brasileiro.<br />
Era filósofo, mas o lance de ser brasileiro lhe trazia outras
responsabilidades.<br />
Aprendeu com o Carlos Marx que não basta entender as coisas do mundo, mas que é
preciso transformá-lo.<br />
Jogou no Coringão do nosso Coração.<br />
Quando ali se viu, não demorou a perceber que tinha tomado o poder. Que tinha
feito a revolução. Que havia se consagrado como um grande líder.<br />
No Corinthians, esse movimento revolucionário, entendeu que estava falando com
as massas. Que era parte fundamental da história de um povo. Que tinha um
imenso potencial de comunicação e de transformação da realidade.<br />
Foi líder da Democracia Corinthiana.<br />
Se insurgiu aos poderosos do futebol. Enfrentou a ditadura.<br />
Jogou muito. Melhor que todos. Inovador, inteligente, criativo. Era prova viva
da capacidade da nossa gente.<br />
No Corinthians a gente vive o jogo como joga a vida da gente.<br />
A vida, essa grande aventura. Cheia de coisas que também acontecem no jogo de
futebol. O futebol, coisa de vida ou morte, onde vivenciamos as grandes
representações da nossa existência humana.<br />
Sócrates jogou bola. Ali foi um grande gênio. Viveu a vida. Aventurou-se. Lutou
por seus ideais. Combateu injustiças. Acreditou na humanidade.<br />
Essa campinho é o espaço pra viver um pouco da vida que Doutor viveu aos
montes. Lugar de jogar bola. Lugar de confabulações políticas. De boemia
literária. É pra jogar futebol e tomar cerveja, não necessariamente nessa
ordem.<br />
Esse campinho é lugar pra respirar ar puro. Encher o peito, elevar os
pensamentos, cumprir nosso propósito na terra que é gozar a vida e ser feliz.
Lugar para se encher de energia e partir pra luta. Pois bem, sabemos que tem
tanta gente sem chão. Sem espaço pra ser feliz. Buscando um pouco de dignidade.<br />
Aqui todos nós somos um pouco o Doutor Sócrates Brasileiro. Sejamos craques,
sejamos geniais, sejamos revolucionários!</span><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p><br /></o:p></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-59294659221954915202017-09-01T16:41:00.004-03:002018-04-17T18:20:46.471-03:00O impeachment no Corinthians<div style="text-align: right;">
- <b>Fevereiro de 2017</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Não triunfou a
tentativa de golpe no Corinthians. Ainda bem. </span><span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
<span style="background: white;">Digo golpe porque sou coerente com minha posição
política em âmbito nacional.</span><br />
<span style="background: white;">Impeachment não pode ser saída para gestão que
anda mal. Se assim for, viveremos em permanente e inevitável insegurança
institucional. Mergulhamos num ciclo de golpes e contra golpes. Lamento
inclusive ao ver muitos corinthianos que tiveram coerência em preservar o clube
desse processo traumático, mesmo guardando imensas discordâncias com a gestão
do Presidente Roberto de Andrade, não consigam raciocinar da mesma forma na
vida republicana. Mas, falemos de Corinthians.</span><br />
<span style="background: white;">Em torno do projeto do impeachment, se
articularam algumas forças tão conservadoras e tão atrasadas que na prática
assustou o corinthiano que logo percebeu o que estaria por vir. Vejam que o
movimento ficou praticamente restrito ao lado de dentro do Parque São Jorge.
Foi incapaz de mobilizar a torcida corintiana que, mesmo descontente, infeliz e
extremamente preocupada com o futuro do Corinthians, percebeu que ali se
articulavam interesses sazonais pelo poder e que o impeachment não significaria
um avanço para o clube.</span><br />
<span style="background: white;">Mas, de nenhuma forma, o não acolhimento do
impeachment pode ser encarado como uma manifestação de apoio à atual gestão.
Encarar dessa forma seria o maior dos erros.</span><br />
<span style="background: white;">O cargo de presidente do Corinthians é
necessariamente político, não somente um cargo administrativo. O presidente tem
por obrigação ser um articulador e perseguir ser um elemento de unidade não só
do associado, mas da comunidade corinthiana. Um presidente tem que falar,
comparecer, conversar, estar presente e conectado com tudo que envolve a vida
do Corinthians, para além de suas funções burocráticas.</span><br />
<span style="background: white;">Sempre se falou que a torcida carrega o time nas
costas e que o corinthiano não vive de títulos, vive de Corinthians. Isso não
deixou de existir. Agora, mais do que nunca, o clube se ressente da ausência do
torcedor nos jogos e precisa do apoio da massa para inflamar o time nesse
momento de carência e dificuldades.</span><br />
<span style="background: white;">Mas sejam honestos, com qual torcedor o clube
têm se comunicado nos últimos anos? Esse "público-alvo" que persegue
experiências de entretenimento, agora tem mais o que fazer. </span><br />
<span style="background: white;">O corinthiano apaixonado pode sim ir com o time
até debaixo d'água, mas precisa acreditar no projeto, precisa ser respeitado,
não apenas ser chamado à dar um apoio cego quando isso parece ser conveniente,
pois o negócio em que tanta gente cresceu os olhos anda mal.</span><br />
<span style="background: white;">Resumindo, se o time precisa de apoio, se o
estádio agora precisa de público, se a Arena tem que ser paga, antes de mais
nada deve-se resolver a questão do acesso e ocupação do estádio. Não é só o tal
"naming right" ou camarote e loja.</span><br />
<span style="background: white;">Se o que se espera agora é o apoio do torcedor,
até para a Arena ser sustentável, que não se enxergue a torcida do Corinthians,
esse movimento social, expressão cultural da nossa sociedade, como mero
consumidor, porque não é. </span><br />
<span style="background: white;">Tratar o Corinthians como produto e o torcedor
como consumidor, além de burro é um desperdício, inclusive se o objetivo é
aumentar a arrecadação. </span><br />
<span style="background: white;">Desconhecer o perfil e o caráter da torcida do
Corinthians, é ser incapaz de fazer do Corinthians o "grande negócio"
que é o projeto de tanta gente que só enxerga o mundo dessa forma.</span><br />
<span style="background: white;">Vou dar um exemplo: se o ingresso do jogo para
ver o Ronaldo jogar custa quatrocentos reais, então, como consumidor, quanto
pagaria para ver o Jô? Se na Libertadores custa os mesmos quatrocentos, quanto
eu pagaria, como um "caçador de entretenimento" para ver o jogo
contra o Novorizontino?</span><br />
<span style="background: white;">Se o que orienta a relação do clube com o
torcedor é apenas a maximização dos lucros, por que o torcedor faria o inverso?</span><br />
<span style="background: white;">Quando o ingresso encareceu demais, o público
que vai ao estádio já tinha diminuído, mesmo com a Arena lotada. Ninguém
percebeu, mas ao jogo iam sempre os mesmos torcedores cadastrados. </span><br />
<span style="background: white;">Quando o ingresso ficou mais caro, o Corinthiano
aprendeu a escolher jogos para ir. Não dava mais para ir em todos. Foi uma
década escolhendo jogo. Isso mudou muito a cultura do torcedor. </span><br />
<span style="background: white;">Uma geração inteira de crianças e jovens não
tinha a menor condição de frequentar um estádio. Deixou de ser barato para um
adulto levar um menor consigo. O público envelheceu. Fica difícil para um
jovem, começando a sua vida, ter grana para ir ao jogo.</span><br />
<span style="background: white;">Tem a questão da arquitetura do estádio que
também não é inclusiva. Nem me refiro às instalações, mas à arquitetura mesmo
que separa e afasta o torcedor. Esse é outro assunto. Mas são coisas que
teremos s saber lidar daqui por diante.</span><br />
<span style="background: white;">Mas por que eu dei tanta importância para a
questão do torcedor e do acesso ao estádio, entre os principais desafios dessa
gestão que quase caiu?</span><br />
<span style="background: white;">Se a votação no Conselho foi suficiente para
evitar o impeachment, para sair da crise que nos encontramos precisaremos de
muito mais. Já que tem gente que não gosta de falar de torcida, então digamos
que a relação com o consumidor anda muito ruim. É preciso melhorar muito.</span><br />
<span style="background: white;">Quem vive falando há anos sobre a questão da
elitização do futebol, tem sido tratado como fundamentalista, radical,
contra-mão da história. Quem valoriza às tradições do clube é tratado como
romântico e ingênuo.</span><br />
<span style="background: white;">Os marketeiros e planilheiros consideram ter o
monopólio do conhecimento sobre economia de mercado. Mas quando as coisas vão
mal e não saem conforme o planejado, eles tendem a culpar à realidade que não
cabe na planilha deles. A planilha está certa, errada é a realidade.</span><br />
<span style="background: white;">Esse ano se comemora quarenta anos do gol mais
importante da história do futebol.</span><br />
<span style="background: white;">Certamente a patrocinadora vai lançar mais uma
camisa colorida. A torcida esperando para vestir a camisa do Basílio, mas
certamente nossos gênios do marketing tem outro planejamento. Não veremos nosso
time jogar com a camisa dois tradicional. São uns gênios. Sorte das empresas
que estão produzindo réplicas e ganhando um bom dinheiro.</span><br />
<span style="background: white;">Tudo isso pra dizer que nossos capitalistas são
uma bosta. Não entendem nada de capitalismo.</span><br />
<span style="background: white;">Aparentemente, essa segunda parte do meu texto
não tem nada a ver com a questão do impeachment.</span><br />
<span style="background: white;">Porém, espero sinceramente que o Presidente
Roberto perceba que é preciso começar de novo em muitas coisas. Se envolver
naquilo que é importante na vida do torcedor.</span><br />
<span style="background: white;">São tantos problemas no Corinthians que daria
para escrever um livro.</span><br />
<span style="background: white;">Inaugurar um novo momento é preciso. Melhorar a
comunicação com a torcida e criar um grande pacto para sairmos da atual
situação é mais do que necessário. </span><br />
<span style="background: white;">É preciso mobilizar as energias que existem e
resistem no Corinthians para superar esse momento que parece ser ameaçador.</span><br />
<span style="background: white;">Em suma, a força está dentro de nós. Juntos
podemos superar. É preciso mudar essa agenda derrotista, até para que novos
negócios e receitas apareçam. Mas o presidente tem que tomar um banho de povo
pra poder entender.</span></span><o:p></o:p></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-5095826346113841862017-09-01T16:39:00.003-03:002017-09-01T16:39:55.394-03:00Foi uma vitória Espartana <div style="text-align: right;">
- <b>Fevereiro de 2017</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Foi uma vitoria
espartana do Corinthians.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
<span style="background: white;">Como a dos trezentos soldados de Esparta,
enfrentando o Império persa, entregando-se corajosamente ao encontro de seu
glorioso destino. Em menor número. Com menos recursos. E se o destino
inevitável fosse que tombássemos em Itaquera, seria com muita honra, pois
morrer como grandes homens seria o maior dos prêmios da guerra.</span><br />
<span style="background: white;">Foi também uma vitória de Samurai. Com espadas
em riste. Com a decência dos grandes guerreiros. </span><br />
<span style="background: white;">Se o Corinthians tivesse dasafortunadamente
perdido por quatro gols em suas redes, ainda sim seria uma derrota com grande
decência, pois, me permitam dizer, o Corinthians, jogou para caralho!</span><br />
<span style="background: white;">Há tempos não se via o Corinthians assim.</span><br />
<span style="background: white;">Por escolha do técnico ou pela sucessão de
acontecimentos, o Corinthians se livrou de uma vez só de um monte de jogadores
tico tico. Moleques peladeiros. Fracos. Sem alma. Arrivistas.</span><br />
<span style="background: white;">Dizem que toda crise carrega consigo grandes
oportunidades. E assim foi. Talvez porque não tivéssemos mais jogadores de
grife, preenchemos, na marra, o gramado de Itaquera com moleques do terrão. Com
outros tantos que pareciam ter a sola do pé vermelha por terem corrido entre os
nossos desde sempre. </span><br />
<span style="background: white;">Jogamos contra o Palmeiras com jogadores
modestos, como tantas vezes em nossa história. Os coringões e coringonas mais
antigos sabem muito bem.</span><br />
<span style="background: white;">Vimos o Cássio novamente em sinergia com os
astros. O Valter é sim um grande goleiro. Talvez tecnicamente até melhor. Mas,
o Cassião nasceu com o cu virado pra lua. Tem sorte e tem estrela, foi escolhido
por Deus, o que se há de fazer?</span><br />
<span style="background: white;">Vimos uma dupla de zaga firme. Tão íntegra,
competente e inesgotável que irritou o time palmeirense que numa verdadeira
porcada, quase no fim do jogo, conferiu uma cotovelada desleal no Pablo.</span><br />
<span style="background: white;">Gabriel, que tem o pai corinthiano, o que
significa rigorosamente ser também corinthiano, não precisou que explicassem o
que significa ser o "5" do Corinthians. O volante é o FIEL torcedor
Corinthiano em campo. Muitos ídolos temos que jogaram naquela parte do campo.
Nem precisa ser tão bom de bola, necessário mesmo é ter entrega. Jogou muito
bem até ser expulso no roubo mais esdrúxulo já visto no futebol.</span><br />
<span style="background: white;">Romero novamente um leão.</span><br />
<span style="background: white;">De resto, todos ali vieram do terrão. Foi lindo
de ver. Molecada que já conhece o Corinthians. Tem a nossa cara. Se parecem com
quem está na arquibancada. Que fantástico ver o Leo Jabá lutando e vencendo os
jogadores de grife do outro Parque. O Maycon. Como podia ter ficado de fora
tanto tempo? Uma coisa que eu não entendo, se é pra gastar milhões para trazer um
jogador meia boca, por que não apostar na nossa base? Se vier alguém pra
resolver, tudo bem. Mas pra compor elenco, melhor apostar nas pratas da casa.</span><br />
<span style="background: white;">Disse que todos os outros eram do terrão. Isso
mesmo, o Kazin também veio do terrão. Uma unidade avançada que temos do terrão
em Londres em parceria com o Corinthian-Casuals.</span><br />
<span style="background: white;">Na ausência do Casão, temos o Kazin. Que legal
ver esse cara. Nasceu para o Corinthians.</span><br />
<span style="background: white;">Aí o Guerra que custou os tubos para os porcos
ia dominar a bola. O Maycon veio como um raio. Correu como nunca. Tão veloz que
o palmeirense não se deu conta. Num golpe ágil, ele roubou a bola do Guerra. O
Jô, que dizem ser corinthiano fanático, mas nunca havia conseguido fazer uma
grande atuação com a camisa do coração. Estava chegando o momento de sua
rendição. O moleque humilde saiu correndo de trás do meio campo. Com suas
pernas compridas correu para sua consagração. Maycon viu seu companheiro que
também veio da base. Olhou pra ele. Por duas vezes tentou tocar. Na primeira
não deu. No segundo toque a bola passa entre as pernas do Zé Roberto. Enfim a
bola chega ao Jô. Seria agora o seu grande momento? Não perde essa, Jô. Passou
um filme na cabeça de todo corinthiano. Fomos roubados desde o início do jogo.
Jogando com um a menos. Com um time inferior tecnicamente. Contra milhões e
milhões de dólares. Contra o juiz. Contra a mídia que deseja ver o Corinthians
de joelhos, contra o mal agouro dos anticorinthianos que querem nossa caveira.
Contra tudo e contra todos.</span><br />
<span style="background: white;">A bola chegou aos pés do Jô. Suas pernas pesavam
100 anos de derby. Ele parou a bola. Encontrou um espaço entre as pernas do
Fernando Prass. Chutou a bola. Ela passou. Vai pro gol. Bateu na rede. É gol!
Puta que pariu foi gol! </span><br />
<span style="background: white;">O grito de todo corinthiano veio foi do
estômago, não foi da garganta. Gooooool!</span><br />
<span style="background: white;">Gritos, pulos, abraços e choro.</span><br />
<span style="background: white;">O Corinthians ainda é o Corinthians minha gente!</span><br />
<span style="background: white;">É o nosso Coringão que a gente aprendeu a
amar. </span><br />
<span style="background: white;">Ele ainda existe. Joga o jogo como a gente joga
a vida da gente. Com raça, com amor, superando os obstáculos e também as
grandes injustiças.</span><br />
<span style="background: white;">A gente ainda se vê no Corinthians. E a gente
ainda pode levar a vida da gente com o Corinthians dentro de nós.</span><br />
<span style="background: white;">Não dá pra ser de outro jeito.</span><br />
<span style="background: white;">Não nascemos para ser esnobes. Não nascemos para
grife. Não nascemos para ter jogador gourmet. </span><br />
<span style="background: white;">Não podemos nunca nos dar ao luxo de sermos
arrogantes.</span><br />
<span style="background: white;">Aqui tem que ser na humildade. Senão Deus
castiga.</span><br />
<span style="background: white;">Que esse seja um novo momento de comunhão e
fraternidade entre os corinthianos.</span><br />
<span style="background: white;">Que encontremos nossa paz interior.</span><br />
<span style="background: white;">O corinthianismo resiste!</span><br />
<span style="background: white;">Com as graças do santo guerreiro, levantemos
todos a espada de São Jorge e, com muita humildade, sejamos mais Corinthians do
que nunca.</span><br />
<span style="background: white;">Esse é o CORINTHIANS que aprendemos a amar.
Agora de mãos dadas, em congraçamento gritemos: VAI CORINTHIANS!</span></span><o:p></o:p></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-13388823228414844552017-09-01T16:38:00.001-03:002017-09-01T16:38:11.019-03:00Nós somos <div style="text-align: right;">
-<b> Outubro de 2016</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">NÓS SOMOS<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Nós somos tudo aquilo
que vocês mais detestam.</span><span style="color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
<span style="background: white;">Somos aquilo que deixa vocês com medo.</span><br />
<span style="background: white;">Porque vocês não entendem, não sabem ao certo
como enxergamos o mundo.</span><br />
<span style="background: white;">Não conseguem prever como pensamos. </span><br />
<span style="background: white;">Isso os apavora. </span><br />
<span style="background: white;">Não conseguem nos controlar, porque sequer
imaginam o nosso próximo passo. </span><br />
<span style="background: white;">Somos imprevisíveis porque não fazemos parte do
mundo de vocês.</span><br />
<span style="background: white;">Somos mais ameaçadores para os poderosos do que
qualquer organização política.</span><br />
<span style="background: white;">Nós somos a ideia que não tem dono. Somos o
pileque que extravasa. Somos o que se fala pelas esquinas. Somos o que anda na
cabeça do povão. </span><br />
<span style="background: white;">Somos o risco que vale à pena. Somos a
consciência de classe possível nesse mundo de alienação. Somos o inconsciente
coletivo. Somos o empoderamento.</span><br />
<span style="background: white;">Nós somos a voz de quem não tem voz. Somos um
movimento social com trinta milhões de líderes.</span><br />
<span style="background: white;">Nós somos a anticolonização. Nós somos o clube
dos refugiados. Nós somos quem sofreu na seca, nas guerras, no tronco. </span><br />
<span style="background: white;">Nós somos uma Mesquita que foi bombardeada.</span><br />
<span style="background: white;">Nós somos o judeu esmagado no campo de
concentração.</span><br />
<span style="background: white;">Nós somos o negro escravizado. Amontoados num
navio negreiro ou numa cela de cadeia.</span><br />
<span style="background: white;">Nós somos a mulher que foi espancada pelo
marido.</span><br />
<span style="background: white;">Somos o pobre espremido no transporte público.</span><br />
<span style="background: white;">Nós somos a reputação destruída pela mídia
bandida.</span><br />
<span style="background: white;">Nós somos o pai de família que ficou
desempregado.</span><br />
<span style="background: white;">E vocês nos querem com medo. Nos querem
humilhados.</span><br />
<span style="background: white;">Vocês nos querem sem condições de acreditar em
nós mesmos.</span><br />
<span style="background: white;">Por isso nossa vitória ofende tanto vocês! Por
isso as nossas glórias acabam por ser desmerecidas. </span><br />
<span style="background: white;">Por isso a nossa casa "foi dada de
presente", num suposto conluio qualquer.</span><br />
<span style="background: white;">Caras de pau! Justo vocês que roubaram um país
inteiro! Que tomaram todas as nossas riquezas e viraram donos de quase tudo
aquilo que seria propriedade de todos. Que geraram milhões de miseráveis. Que
num país tão grande, com tanta terra, deixaram milhões pessoas vivendo nas ruas
ou nos barrancos.</span><br />
<span style="background: white;">Hipócritas!</span><br />
<span style="background: white;">Vocês querem, mas não conseguem, dobrar nossa
coluna.</span><br />
<span style="background: white;">Por isso nossos irmãos são torturados por
genocidas com credencial para exterminar o povo. Fazem isso todos os dias. No
estádio ou na favela. Rastejam vergonhosamente para os poderosos e pisam do
pescoço de quem é pobre. Capitães do Mato!</span><br />
<span style="background: white;">Tudo isso, sob o sorriso cúmplice de quem se faz
de santo, mas vive com ódio no coração. De quem diz ser "de família",
mas despreza a mãe pobre que chora a perda de um filho. Que ajoelha em nome de
Deus, mas é incapaz de sentir amor pelo próximo. Que reza apenas pela própria
conta bancária.</span><br />
<span style="background: white;">Sim, nós somos aqueles que "mereceram
apanhar". Somos da turma onde "não tem santo". Somos aquela
parte da sociedade que ninguém se importa quando o morro desliza. Somos a
senhora negra que não é recolhida pela ambulância. Somos quem não merece
advogado. Somos a tragédia que vira estatística. Somos quem "tem mais é
que morrer". </span><br />
<span style="background: white;">Quem conhece nossa história sabe que já nascemos
estigmatizados. Foi assim desde sempre.</span><br />
<span style="background: white;">O desprezo de vocês, apenas nos torna mais
fortes.</span><br />
<span style="background: white;">O ódio de vocês nos faz cada dia mais unidos
como irmãos. Como filhos de Deus.</span><br />
<span style="background: white;">Nossos instrumentos de solidariedade são
indestrutíveis.</span><br />
<span style="background: white;">Sim, nós somos a Fiel Torcida.</span><br />
<span style="background: white;">Ninguém vai render o nosso amor pelo
Corinthians, simplesmente porque nós somos tudo isso que já foi dito, até mesmo
quando não sabemos ao certo que somos.</span><br />
<span style="background: white;">Porque nós não somos matéria. Não somos um corpo
físico torturado no Maracanã, nem o concreto do estádio de Itaquera.</span><br />
<span style="background: white;">Nós pairamos no ar. Nós somos a presença de
espírito. Vocês nunca vão nos destruir porque habitamos nas mentes rebeldes e
nos sonhos encantados de muitos outros que irão se levantar em seu nome, Sport
Club Corinthians Paulista. A nossa casa, a nossa pátria, a nossa família, o
nosso mundo. </span><br />
<span style="background: white;">A nossa vida!</span><br />
<span style="background: white;">Vai Corinthians!</span></span><o:p></o:p></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-60058416771293949602017-09-01T16:37:00.000-03:002017-09-01T16:37:04.579-03:00Porque o Corinthiano amou o Tite<div style="text-align: right;">
<b>- Junho de 2016</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Por que o Corinthiano
amou tanto o Tite?</span><span style="color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
<span style="background: white;">Os coringões e coringonas espalhados por aí,
nunca ficaram gritando que o Tite é o maior técnico do Brasil.</span><br />
<span style="background: white;">Talvez, os corinthianos sequer tivessem certeza
se o Tite era ou não muito melhor que os outros treinadores de futebol.</span><br />
<span style="background: white;">Na verdade, isso nem era importante.</span><br />
<span style="background: white;">Tanto faz se o Tite tem ou não mais recursos que
os outros.<br />
<span class="textexposedshow">Como numa relação amorosa duradoura, o fundamental
é que o Tite era o melhor para nós CORINTHIANOS. Dane-se o que os outros vão
pensar.</span><br />
<span class="textexposedshow">Mas como todo amor que prospera, passa a
"crescer os olhos" dos outros.</span><br />
<span class="textexposedshow">Antes de assumir novamente o Corinthians em 2011,
verdade seja dita, o Tite já tinha virado refugo de outros tantos clubes do
Brasil.</span><br />
<span class="textexposedshow">Ninguém nem olhava mais para ele com tanta atenção.
Coisas fantásticas aconteceram e nosso amor foi tão bonito, que num passe de
mágica, todo mundo começou a querer nos separar. A Seleção, essa grande falsa e
mentirosa conseguiu.</span><br />
<span class="textexposedshow">O corinthiano não tinha um amor cego pelo Tite. A
gente via muito bem os seus defeitos. Tite nunca foi um Deus alvinegro. A
relação do torcedor com ele foi diferente de todos os outros ídolos históricos
do Corinthians. Tite nunca foi Deus porque seu forte sempre foi a
humanidade. </span><br />
<span class="textexposedshow">Compartilhamos suas aflições, decepções, erros, falhas,
conquistas e glórias.</span><br />
<span class="textexposedshow">Mas a torcida do Corinthians tinha com o Tite o
fundamental em qualquer relação: Confiança!</span><br />
<span class="textexposedshow">Nós podíamos até discordar, mas em nenhum momento a
torcida duvidou das decisões do Tite, por mais difícil que elas tenham sido.
Quando ele errava a gente sabia que não era de sacanagem. A gente sabia que ele
estava sempre tomando suas decisões de maneira justa. Sem interesses
colaterais, tão comuns no futebol. </span><br />
<span class="textexposedshow">Tite no Corinthians foi um sacerdote.</span><br />
<span class="textexposedshow">O Corinthians é o nosso amor vagabundo.</span><br />
<span class="textexposedshow">Mas com o Tite era esse amor fraternal e
equilibrado.</span><br />
<span class="textexposedshow">Tite se foi. Agora é passado.</span><br />
<span class="textexposedshow">Necessário se faz olhar para o futuro. </span><br />
<span class="textexposedshow">Espero sinceramente que tenhamos um técnico para o
futuro, com olhar para o futuro e superemos esse lodo da geração de técnicos
que ajudaram a afundar o futebol brasileiro. Gente que vem pra ganhar uma
fortuna e não consegue se estabelecer nem no futebol chinês. Pensamentos
arcaicos, covardes, malandros, colonizados e atrasados.</span><br />
<span class="textexposedshow">Tomara tenhamos a sorte de encontrar um bom nome
para nosso futuro.</span><br />
<span class="textexposedshow">Obrigado por tudo, Tite. </span><br />
<span class="textexposedshow">Mas a vida continua. É preciso seguir à diante</span></span></span><o:p></o:p></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-67449000242382768602017-09-01T16:36:00.000-03:002017-09-01T16:36:01.287-03:00Gaviões contra o golpe <div style="text-align: right;">
-<b>Abril de 2016</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Os Gaviões da Fiel
inauguram o modo de operação da repressão pós Golpe de 16.</span><span style="color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
<span style="background: white;">Dão uma amostra grátis do que ocorrerá com as
organizações coletivas que se tornarem um incômodo aos quartéis juridicistas
institucioneiros corporativos burocráticos e políticos.</span><br />
<span style="background: white;">E não me venham com a apelação midiática com o
discurso desbotado da questão das violências entre as torcidas. Na verdade, o
futebol absorve uma violência que já está na sociedade. Melhor, dá um sentido
lúdico e domestica muitos conflitos que outrora se resolviam em batalhas muito
mais sangrentas e em conflitos entre diferentes grupos sociais, nações, etc.</span><br />
<span style="background: white;">O futebol diminui a violência e é também vítima
dela.</span><br />
<span style="background: white;">Se em São Paulo, os poderosos estivessem
realmente preocupados com a questão da violência urbana entre os jovens das
periferias, combateriam os grupos de extermínio que atuam nos bairros pobres,
provocando holocaustos cotidianos, como nas chacinas pra lá de suspeitas, que
dão até medo de continuar esse texto. Enfrentariam o extermínio da população
negra que ocorre sob o silêncio sorridente de São Paulo.</span><br />
<span style="background: white;">Não é preciso ser um gênio das interpretações
para perceber que os Gaviões tornaram-se mais insuportáveis ao establishment do
Tucanistão quando colocaram os dedos na ferida. Quando denunciaram a máfia da
merenda que agora condena as crianças pobres do estado a passarem fome nas
escolas (isso sim é violência), quando enfrentaram firmemente o Presidente da
Assembléia Legislativa de São Paulo e por consequência o Sr. Governador e pior,
ofenderam a toda poderosa Matrix Rede Globo que é dona do Futebol, do Carnaval,
dos Jornais, dos políticos, bem como de todas outras coisas do Brasil.</span><br />
<span style="background: white;">Os Gaviões certamente pagam o preço pelos
corinthianos que marcharam juntos nas manifestações contra o Golpe de Estado
que está agora em fase de conclusão. Embora nenhuma instituição - nem
Corinthians nem Gaviões - tenham assumido posição sobre o atual momento, muitos
torcedores que reconhecem o viés popular e inclusivo do Corinthians, foram às
manifestações com a camisa alvinegra, que funcionava como uma espécie de
resposta intuitiva e antídoto contra aquela camisa amarela insossa da seleção
do sete à um.</span><br />
<span style="background: white;">Antes de a campanha pela anistia despontar com
força pelo Brasil, no inicio de 1979, os Gaviões ergueram uma faixa, em plena
ditadura militar, pedindo Anistia Ampla Geral e Irrestrita. Foram o estopim
daquela campanha.</span><br />
<span style="background: white;">Antes mesmo das campanhas pelas Diretas Já, um
grupo de jogadores do Corinthians, liderado por um gênio chamado Sócrates Brasileiro,
fundaram a Democracia Corinthiana, o que foi pedagógico para que a sociedade
percebesse o valor da liberdade e da democracia. Melhor, o Corinthians foi um
time campeão com a democracia. Assim como o nosso país melhorou muito depois da
abertura democrática.</span><br />
<span style="background: white;">Dessa vez, somos de maneira triste, novamente
pioneiros. A Gaviões é o primeiro movimento social a ser colocado na
ilegalidade, algo que, estejam certos, ocorrerá à rodo, caso o Golpe de 16 se
concretize.</span><br />
<span style="background: white;">Os poderosos se apavoram com o potencial que o
futebol dispõe de comunicação com a sociedade. </span><br />
<span style="background: white;">A repressão contra os Gaviões será pedagógica
para cada jovem torcedor passe a perceber como se comporta a mídia manipuladora
e quais são as armas de repressão política travestidas de atuação jurídica e de
combate ao crime.</span><br />
<span style="background: white;">Tanto tempo se passou e eles não sabem o que é
ser Gavião. Que bobos!</span><br />
<span style="background: white;">A Gaviões não acabou nem jamais acabará.</span><br />
<span style="background: white;">A Gaviões já nasceu perseguida. Muitos Gaviões
já nasceram sabendo o que é ser perseguido.</span><br />
<span style="background: white;">Não têm medo de serem clandestinos porque
conhecem muito bem o que é a exclusão social e a informalidade.</span><br />
<span style="background: white;">Não estranham a repressão do Estado porque quem
vive nos bairros pobres de São Paulo conhece muito bem o que é o esculacho
cotidiano. </span><br />
<span style="background: white;">Não vão calar os Gaviões porque a torcida do Corinthians
não vive em uma sede. Nosso espaço não é físico. O Corinthians antes de tudo é
uma idéia. A maneira como o povo se projeta no mundo em que ele vive. É a
interpretação da realidade. É o instrumento para vencer a opressão e a
exclusão. É o canal por onde se pode ter voz. Este clube foi fundado para que
possamos dar um sentido ao desejo do povo trabalhador em vencer os poderosos.
Foi assim desde sempre. Desde que o Corinthians nasceu, estão tentando fechar o
Corinthians. </span><br />
<span style="background: white;">O Corinthians é metafísico.</span><br />
<span style="background: white;">Vocês não entenderam nada.</span><br />
<span style="background: white;">Sairemos mais fortes. Agora é que o povo sente
mais gosto pela luta.</span><br />
<span style="background: white;">Aqui é Corinthians!</span><br />
<span style="background: white;">Salve Gaviões da Fiel.</span></span><o:p></o:p></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-15119899433063238792017-09-01T16:33:00.002-03:002017-09-01T16:33:53.990-03:00Corinthians é Corinthians <div style="text-align: right;">
- <b>Novembro de 2015</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Por que o Corinthians
não é o São Paulo?</span><span style="color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
<span style="background: white;">A tarefa aqui não é narrar uma história de
supremacia nem desenrolar um enredo de grandes vitórias sobre o rival.</span><br />
<span style="background: white;">Muitos, inclusive, se recusam a entender o SPFC
como um verdadeiro rival.</span><br />
<span style="background: white;">Talvez porque os Corinthianos simplesmente não
se reconheçam no Tricolor do Morumbi. Não encontrem elementos para algum
esforço comparativo. Não consigam se projetar como torcedores do São Paulo e
nem entender qual o barato que eles sentem.</span><br />
<span style="background: white;">Particularmente, considero correto que o time do
Morumbi carregue consigo o nome da cidade e do estado de São Paulo.</span><br />
<span style="background: white;">Não somente por eles estarem a alguns metros do
Palácio do Governo e terem entre os seus quadros figuras proeminentes da nossa
oligarquia.</span><br />
<span style="background: white;">Hoje o São Paulo é sim um clube de massa. Uma
das maiores torcidas do Brasil.</span><br />
<span style="background: white;">Acontece que o Corinthians não está situado em
São Paulo. O Corinthians está em Corinthians!</span><br />
<span style="background: white;">O lado B da cidade. Um espaço metafísico para
além da realidade pronta que todos querem ver.</span><br />
<span style="background: white;">O Corinthians está cravado na Zona Leste. </span><br />
<span style="background: white;">Estamos nas quebradas, nas favelas, nas vilas e
vielas. Nas filas de hospitais.</span><br />
<span style="background: white;">O Corinthians também está no resto do Brasil.
Está no mundo todo. Não somente pelo tamanho de sua torcida, não se trata
disso. Acontece que o Corinthians está numa dimensão quase que oculta. Só
consegue enxergar quem vive de alguma maneira "fora da casinha".</span><br />
<span style="background: white;">O Corinthians está geograficamente em São Paulo
e no Brasil. Mas também está em todo lugar e poderia estar em lugar nenhum.</span><br />
<span style="background: white;">Vivemos num plano chamado Corinthians.</span><br />
<span style="background: white;">Quando fomos ao Japão, lembro muito bem que ao
sair do Metrô, existiam barraquinhas da FIFA vendendo camisetas do Corinthians
e do Chelsea.</span><br />
<span style="background: white;">Quem tem amigo japonês, sabe que das duas uma.
Ou o Japonês é todo certinho, ou é totalmente xarope. Não tem meio termo.</span><br />
<span style="background: white;">Os japoneses Plano A, de cara compravam a camisa
do Chelsea. Poderia muito bem ser a do São Paulo FC.</span><br />
<span style="background: white;">Mas os japoneses doidões. Tudo Curinthia. Teve
ate um que se mudou para o Brasil só pelo Corinthians. Amigo nosso.</span><br />
<span style="background: white;">O Corinthiano sabe que é diferente. Não por
aquela coisa repetitiva de medir o tamanho da paixão. Isso também. Mas
experimenta-se, a cada momento, a percepção de que se é impertinente e até
mesmo esquisito.</span><br />
<span style="background: white;">Um São-paulino você conhece pelo jeito de andar.
Pelo corte de cabelo. Pela camiseta que está vestindo.</span><br />
<span style="background: white;">E nem estou entrando nessa sacanagem de
chamá-los de Bambi. Juro que não é essa a minha provocação. Não é.</span><br />
<span style="background: white;">A gente simplesmente não tem esse apego pela
estética. Não fazemos esforço para estarmos adequados. Não escolhemos muito a
roupa como também não escolhemos ser corinthianos. Nos reconhecemos
corinthianos. É diferente.</span><br />
<span style="background: white;">De verdade: eu não odeio o São Paulo.</span><br />
<span style="background: white;">Só não entendo muito a graça de ser São-paulino.
Mas tudo bem.</span><br />
<span style="background: white;">Ser Corinthiano é ser outsider. Não se
satisfazer com as fórmulas simples. É ser Corinthiano desde a hora que acorda
até quando vai ao trabalho, vai jantar, faz amor, etc.</span><br />
<span style="background: white;">É saber que existe algo que nos distingue dos
demais. A experiência definitiva e derradeira que está muito longe do senso
comum. É alguém te chamar na rua assim:</span><br />
<span style="background: white;">"O Curinthia, chega aí".</span></span><o:p></o:p></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-48817078324873466122017-09-01T16:32:00.001-03:002017-09-01T16:32:18.415-03:00Corinthians desde muleque <div style="text-align: right;">
<b>- Novembro de 2015</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: left;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Eu era menino.</span></div>
<span style="color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><div style="text-align: left;">
<span style="background-color: white; font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Sete ou oito anos.</span></div>
<span style="background: white;"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">O Corinthians foi campeão.</span></div>
</span>
<span style="background: white;"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Percebi que isso significava muito.</span></div>
</span>
<span style="background: white;"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Foi gol do Sócrates.</span></div>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Um ano antes havia me descoberto corinthiano na
apoteose da democracia, em 1982.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Lógico que eu também não sabia o que era
democracia, mas já achava lindo.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">O Corinthians, de uma maneira muito especial,
explica as coisas da vida pra gente.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Ah tá (voltando). Eu era menino e o Corinthians foi
campeão em 1983.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Minha mãe havia feito um bolo. Era o "bolo do
Corinthians".</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">O Sócrates fez o gol. Meus pais me incentivaram a
gritar na janela do prédio. Sem saber, criaram um monstro.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">O Corinthians era campeão! </span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Meu pai ficou com sede. Queria tomar uma. </span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Desceu comigo até o boteco que havia bem em baixo
do prédio onde eu morava.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Logo que saí à rua, percebi que tudo estava
diferente. A avenida estava fechada. Segundo minha mãe, a rua era um lugar
perigoso, "podia até morrer". Mas naquele dia eu podia andar no meio
da avenida onde os carros normalmente passavam apressados.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Todo mundo gritava louco na rua com a camisa do
Corinthians.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Meu pai havia me vestido com uma camisa dos
Gaviões. Quase ninguém tinha camisa dos Gaviões naquela época, mas meu pai
descolou uma pra mim com um grande amigo que havia sido um dos fundadores e
presidentes.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Entrei no boteco de mãos dadas com meu pai. A coisa
mais legal que pode existir na vida de um homem.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Todos bebiam muito e gritavam:</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">CORINTHIANS! CORINTHIANS!</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Batiam no balcão. Tinham aquela cara de doidos. Um
olhar perdido. Não sabia se era pelo Corinthians ou pela bebedeira. Talvez os
dois.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Percebi, ainda que moleque, que havia algo
diferente. Todos estavam alterados e hipnotizados. Gostei.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Era bacana estar no meio daqueles caras. Sentia que
eu era homem também.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Um grandalhão me viu com a camisa dos Gaviões.
Gritou na minha cara. Berrou alto olhando fundo nos meus olhos. Me assustei um
pouco.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Daí, ele me segurou pelos braços. Me levantou ao
alto. Me jogou três ou quatro vezes para o céu.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Meu pai nem ligou. Aqui é Corinthians, moleque...
aprende...</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Minha vida nunca mais foi a mesma.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Eu era um dos caras. Um dos Corinthianos. Podia
falar de igual para igual. Esse lance da experiência de igualdade vivendo o
Corinthians rende um livro.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Mas eu estava entre eles. Podia coçar o saco em
público. Tava liberado. Era assim mesmo. Sensacional.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Aprendi àquela maneira, que o titulo se comemora na
rua. Que a rua é do povo.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Para além da volta olímpica, existe muito mais
coisas que não saem em nenhuma reportagem.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">CORINTHIANS campeão e eu gosto é da rua.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">A rua é do povo. Ocupação.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">O Corinthians me ensinou isso também.</span></div>
</span>
<span class="textexposedshow"><div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">O Corinthians me fez. Sou forjado em Corinthians.</span></div>
</span>
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--></span></span>Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-58760174247021709462017-09-01T16:27:00.003-03:002017-09-01T16:27:59.084-03:00Não existe Domingo sem Corinthians <div style="text-align: right;">
- <b>Outubro 2015</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Domingo sem o
Corinthians é um vazio sem fim.</span><span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
<span style="background: white;">Uma semana. Dez dias. É para morrer de saudade.</span><br />
<span style="background: white;">É você ter tempo para fazer um monte de coisas
que nunca consegue. Mas de nada vale esse tempo livre.</span><br />
<span style="background: white;">De nada presta esse ócio improdutivo, inútil e
desmotivado.</span><br />
<span style="background: white;">Melhor mesmo é almoçar correndo, dar um beijo
displicente na mãe, no pai, em quem se ama e sair correndo para o estádio.<br />
<span class="textexposedshow">Gostoso é abrir o jornal de domingo, pulando os
cadernos cheios de futilidades, com notícias sobre a política, o dólar que
sobe, o mundo, as guerras, a água em Marte, a dica de shows, musicais, coisas
chatas, o que dá ou não dá colesterol. Superar todas essas informações menores
e avançar até os esportes, para ver as notícias do Timão. Notícias repetidas,
que no fundo já estávamos inteirados, mas mesmo assim dá um gosto danado de ler
outra vez.</span><br />
<span class="textexposedshow">Melhor almoço do mundo é aquele macarrão com frango
que a gente come no sofá da sala de olho na televisão, esperando o jogo
começar.</span><br />
<span class="textexposedshow">Domingo sem o Corinthians, é ter o dia todo para
cuidar da própria qualidade de vida.</span><br />
<span class="textexposedshow">Mas que papo estranho é esse? Melhor mesmo é quase
morrer de infarte! Passar mal com nosso coração corinthiano saindo pela boca.</span><br />
<span class="textexposedshow">Ver a seleção jogar, ao invés do Corinthians, é
como aquela cagada que todo mundo fez uma vez na vida. Sair com uma pessoa que
não vale à pena, pra logo perceber que a gente queria mesmo estar ali, vivendo
o que a gente sempre gostou de viver, com o amor da nossa vida. É perceber como
é boa essa rotina, nem que seja com pão murcho e café com leite. Que não há
glamour que substitua a deliciosa simplicidade cotidiana. Que o Corinthians
sim, é um amor que nos merece. Estar com o Corinthians é estar com a pessoa
certa, não importa onde. É reconhecer o hálito um do outro. É viver tranquilo,
sem precisar fazer pose ou escolher as frases certas, no maior estilo Vai
Corinthians.</span><br />
<span class="textexposedshow">O Corinthians é nossa alma gêmea.</span><br />
<span class="textexposedshow">Não sobraria muito da nossa vida sem o Corinthians</span></span></span><o:p></o:p></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-46618487207241231742017-09-01T16:26:00.003-03:002017-09-01T16:26:44.291-03:00Gritar gol é só depois que a bola entrar <div style="text-align: right;">
- <b>Outubro de 2015</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A gente no Corinthians
está tão acostumado a conseguir as coisas do jeito mais difícil e sofrido que
tá até estranho esse lance de campeão em potencial. São sete jogos de
antecedência.</span><span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
<span style="background: white;">Não que tenha sido fácil, tivemos uma curva
dramática com a perda do nosso artilheiro. O que ao final acabou sendo boa,
pois mais uma vez o Corinthians se mostra "mais grande" do que os
brilhos individuais. Somos fortes quando encontramos a energia dentro de nós
mesmos.</span><br />
<span style="background: white;">Mas, acontece que nesse <span class="textexposedshow">campeonato, o mais difícil mesmo tem sido aguentar o
choro histérico de alguns adversários. Pior! o que se traveste de clamor por
"justiça" revela um grande preconceito desse Anticorinthianismo
Ressentido e uma falta de reconhecimento por nossos méritos.</span><br />
<span class="textexposedshow">Bom, estamos bem à frente, mas ainda não ganhamos.</span><br />
<span class="textexposedshow">Pra quem não sabe, no estádio é proibido gritar gol
antes da bola entrar de fato na meta adversária. O "gol antes"
liberaria um raio de zica capaz de desviar a trajetória da bola e nos punir
pela arrogância que não combina com nossa historia sofrida. Quem grita gol
antes pode até apanhar. Nunca faça isso.</span><br />
<span class="textexposedshow">Sendo assim, também não vale gritar
"campeão" antes.</span><br />
<span class="textexposedshow">Muito menos gritar "chupa" antes.</span><br />
<span class="textexposedshow">Nem depois. Esse lance de "chupa" é muito
chato. Embora eles mereçam pelas maledicências proferidas.</span><br />
<span class="textexposedshow">Mas vamos encontrar felicidade dentro de nós
mesmos. Sem ressentimento.</span><br />
<span class="textexposedshow">Porque o Corinthians tem luz própria.</span></span></span><o:p></o:p></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-18861452309369655232017-09-01T16:23:00.001-03:002017-09-01T16:26:50.414-03:00O que existe de lindo em mim <div style="text-align: right;">
<b>-Setembro de 2015</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">O Corinthians é tudo
de mais lindo que eu tenho na vida. </span><span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
<span style="background: white;">É a pureza que insiste em permanecer na minha
alma. </span><br />
<span style="background: white;">É a infância que resiste dentro de mim. </span><br />
<span style="background: white;">São as minhas memórias mais doces e felizes.</span><br />
<span style="background: white;">São também as tristezas e amarguras que me
fizeram mais forte e mais firme.<br />
<span class="textexposedshow">Indo ao estádio aprendi a me virar. A ser homem. A
ficar esperto. A admirar os coringão loco mais velhos. Descobri uma ética
comportamental que não se aprende em faculdade nenhuma do mundo. </span><br />
<span class="textexposedshow">Falando do Corinthians aprendi a falar com todo
tipo de gente. A sentar na calçada e trocar ideia com o cara que recolhe
latinhas numa boa e aprender muito com ele. </span><br />
<span class="textexposedshow">Aprendi também a falar com meus chefes ao longo da
vida, a perder o medo, me tornar mais seguro. </span><br />
<span class="textexposedshow">A verdade é que o Corinthians me deu as maiores
noções de igualdade. </span><br />
<span class="textexposedshow">Eu amo muito o meu Corinthians. </span><br />
<span class="textexposedshow">Digo "meu" porque mesmo ele sendo gigante
há um Corinthians íntimo e afetivo para cada um de nós. </span><br />
<span class="textexposedshow">Mesmo sendo uma nação, o Corinthians não perde
aquele jeitão de time de bairro, de comunidade. Todo mundo se conhece. </span><br />
<span class="textexposedshow">Com o Corinthians aprendi a amar melhor. Um amor em
que a gente se entrega, se vive, se joga. A amar sem ter medo de sofrer, porque
ser Corinthiano é assim mesmo. Amar sem temer, sem dissimular, olhar no fundo
dos olhos, falar do jeito que vier aquilo que vem do coração, beijar cheio de
saliva, não medir as conseqüências. O Corinthians é um amor vagabundo. </span><br />
<span class="textexposedshow">Adoro ser Corinthians até no ódio dos adversários.
Adoro ser do clube da gentalha, dos excluídos, dos marginalizados, dos maloqueiros,
daqueles que nunca tiveram vez e nem voz, mas se fazem mais fortes em seu nome,
meu coringão querido que eu tanto amo. </span><br />
<span class="textexposedshow">Muito obrigado por você existir. </span><br />
<span class="textexposedshow">Feliz Aniversário Corinthians, parabéns pelos seus
105 anos de superação.</span><br />
<span class="textexposedshow">Você é parte integrante de quem somos. </span><br />
<span class="textexposedshow">Aqui é Corinthians!</span></span></span><o:p></o:p></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-15090437517010635622017-09-01T16:20:00.001-03:002017-09-01T16:20:56.697-03:00Por isso que eu amo o Corinthians<div style="text-align: right;">
-<b>Agosto de 2015</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Por
isso que eu amo tanto o Corintihans.<br />
Pra redimir. Pra dar voz. Pra falar por mim. Pra me projetar no mundo num lugar
onde eu não alcanço. Pode ser até ilusão. Mesmo assim eu adoro.<br />
Corinthians líder. Campeão do primeiro turno de um campeonato que aparentemente
já tinha dono.<br />
As manchetes sensacionalistas conspiratórias já davam conta da nossa inevitável
falência. Do nosso flagelo.<br />
Primeiro disseram que ganhamos um estádio "de grátis".<br />
<span class="textexposedshow">Depois que não teríamos como pagar.</span><br />
<span class="textexposedshow">Decidam-se!</span><br />
<span class="textexposedshow">Derrotados, agora culpam a arbitragem, a Odebrecht,
o Lula, a FIFA, a NASA, a CIA, a KGB, o Golpe Comunista, o Foro de São Paulo, o
Napoleão Bonaparte, o Fidel e a Mãe Dinah.</span><br />
<span class="textexposedshow">Sempre foi assim.</span><br />
<span class="textexposedshow">Ninguém atura o Corinthians.</span><br />
<span class="textexposedshow">O anticorinthianismo ressentido está babando de
ódio. Chorando. Morrendo.</span><br />
<span class="textexposedshow">Claro, é muito difícil ver nossa alegria. A festa
do povo!</span><br />
<span class="textexposedshow">Quer saber, muito obrigado a todos!</span><br />
<span class="textexposedshow">É preciso confessar. A gente estava mesmo de bode.
Um quebra pau danado. Um culpando o outro. Esse elenco nem era tudo isso.
Estávamos meio desunidos e até desorientados. Mudamos de casa e não entendíamos
completamente onde morávamos.</span><br />
<span class="textexposedshow">Mas vocês nos fizeram lembrar!</span><br />
<span class="textexposedshow">Vivemos ao lado oposto de vocês.</span><br />
<span class="textexposedshow">Vivemos no lado B da cidade, num Brasil que não sai
no cartão postal.</span><br />
<span class="textexposedshow">Não somos a torcida mais ainimadinha, colorida,
coreografada e simpática.</span><br />
<span class="textexposedshow">O bagulho aqui é loco.</span><br />
<span class="textexposedshow">Aqui é Corinthians, porra!</span><br />
<span class="textexposedshow">Algo que vocês nunca vão entender.</span><br />
<span class="textexposedshow">Temos presença de espírito! Por isso ganhamos
justamente quando vocês esperavam que iríamos perder.</span><br />
<span class="textexposedshow">O ódio de vocês nos torna mais fortes.</span><br />
<span class="textexposedshow">Somos algo imaterial e metafísico.</span><br />
<span class="textexposedshow">Somos uma força que vai além da natureza. Uma
existência cósmica.</span><br />
<span class="textexposedshow">Aceita que dói menos!</span><br />
<span class="textexposedshow">Se dependêssemos do afago de vocês pra sermos
felizes já teríamos sumido do mapa há mais de um século.</span><br />
<span class="textexposedshow">Já nascemos perseguidos e penetras nessa festa
pobre, que os homens armaram.</span><br />
<span class="textexposedshow">Nós somos a mosca que perturba o seu sono. A mosca
no seu quarto a zum zum zumbizar!</span><br />
<span class="textexposedshow">Vai Corinthians!</span><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Arial","sans-serif";">Ps:
O choro é livre.<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-68610104363749175342017-09-01T16:17:00.000-03:002017-09-01T16:17:13.427-03:00A simplicidade do timão <div style="text-align: right;">
<b>Maio de 2015</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">O Corinthians precisa
voltar a ser simples. Urgente! O que é muito diferente de não se dar ao
respeito. </span><span style="color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
<span style="background: white;">Pra quem acha que estou individualizando
responsabilidades, pode esquecer. Ela é coletiva. Geral. De todos, inclusive de
nós torcedores. </span><br />
<span style="background: white;">Também não é só no Corinthians. </span><br />
<span style="background: white;">Esse culto ao consumo, dinheiro, superioridade e
status permeia toda a sociedade. Ninguém fica mais doente com esse vírus do que
o Corinthians. Atinge nossa alma. </span><br />
<span style="background: white;">Quem quiser discordar de mim fique à von<span class="textexposedshow">tade. Mas nem venha com argumentos razoáveis, porque não
é disso que se trata. </span><br />
<span class="textexposedshow">Falar de time, técnico, jogadores, diretoria, CBF,
COMEMBOL, empresários, Rede Globo. Tudo isso junto pode dar respostas. Mas
estaríamos sempre enxugando gelo. </span><br />
<span class="textexposedshow">Nada me tira da cabeça que a doença do Corinthians
é espiritual. </span><br />
<span class="textexposedshow">Não se trata de nenhum encosto ou
assombração. </span><br />
<span class="textexposedshow">Nós nos contaminamos. E agora precisamos nos
restaurar. </span><br />
<span class="textexposedshow">Resgatar a nossa alma. O nosso espírito. </span><br />
<span class="textexposedshow">Deixar de olhar tanto para o ouro dos troféus e
encontrar a verdadeira vitória dentro da gente. </span><br />
<span class="textexposedshow">É hora do reencontro. </span><br />
<span class="textexposedshow">A mãe de todos nossos erros é a soberba. Nós
embarcamos nessa. No fundo, incentivamos os maiores erros práticos que hoje
estão nos levando para um lugar muito perigoso. </span><br />
<span class="textexposedshow">Vamos parar de apontar o dedo uns aos outros.
Acusar, culpar. </span><br />
<span class="textexposedshow">O Corinthians precisa cuidar do próprio espírito.</span></span></span><o:p></o:p></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-4557817098757206672017-09-01T16:16:00.000-03:002017-09-01T16:16:12.440-03:00A grande conquista <div style="text-align: right;">
<b>- Maio de 2015</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Meu primeiro emprego
foi de office boy. Juntei uma grana durante meses. Por fim, consegui comprar um
título do Sport Club Corinthians Paulista.</span><span style="color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
<span style="background: white;">À época, um senhorzinho trabalhava como
vendedor. Comercializava os títulos para novos associados. Era um dos revendedores
autorizados do Corinthians, além de vender também os títulos de antigos sócios
que se desfaziam de suas propriedades. </span><br />
<span style="background: white;">Sim, os títulos de clubes eram como verdadeiros
patrimônios dos associados. Tempos bem diferentes aqueles em que acessar um clube
significava não somente pertencimento social, mas desfrutar de confortos hoje
facilmente disponíveis em condôminos, academias, pousadas ou casas de
praia. </span><br />
<span style="background: white;">Havia aborrecido aquele pobre velho uma dezena
de vezes, perguntando o preço e verificando se surgira alguma promoção ou
desconto especial. Fiz isso durante semanas.</span><br />
<span style="background: white;">Quando por fim juntei a grana suficiente, peguei
o ônibus "Penha" que passava atrás do antigo "Teatro Silvio
Santos", na Parada Inglesa.</span><br />
<span style="background: white;">Escondi o dinheiro na cueca. Considerando valores
de hoje, creio que não era tanto dinheiro assim, mas para mim representava a
economia de um ano. Havia decidido que seria tudo do Corinthians. Seria eu,
parte integrante daquele clube. Era como se tivesse comprando um terreno no
céu.</span><br />
<span style="background: white;">Quando desci no ponto de ônibus que ficava bem
em frente ao Parque São Jorge minhas pernas tremiam. Sentia meu couro cabeludo
ferver. Estava realmente ansioso e a ponto de explodir.</span><br />
<span style="background: white;">Ajeitei o meu saco. Quem me observava a
distância provavelmente pensou que eu fosse um moleque tarado, ou então que eu
tinha uma enfermidade terrível nos testículos.</span><br />
<span style="background: white;">Carregava dinheiro grande. Cédulas de cruzeiro.
Precisava de muitas delas para pagar o valor negociado.</span><br />
<span style="background: white;">Cheguei triunfante à frente do senhorzinho.
Tinha um sorriso muito largo no rosto. Algo que eu não podia controlar, nem se
eu quisesse. </span><br />
<span style="background: white;">Acho que ele percebeu minha felicidade. Foi
cúmplice dela. Ainda que, certamente, aquela fosse uma das vendas mais sofridas
e choradas que ele já havia realizado em sua importante carreira.</span><br />
<span style="background: white;">Me acompanhou solenemente até um guichê bem
rústico e simples.</span><br />
<span style="background: white;">Dentro de uma janelinha escura, um senhor, ainda
mais velho e arruinado, conferia meus documentos. Depois passou a contar as
cédulas sem supor por onde elas tinham passado.</span><br />
<span style="background: white;">Depois de se certificar que estava tudo dentro
dos conformes, buscou uma máquina de escrever bem pesada que deve ter sido
usada para firmar o contrato do Cláudio, do Luizinho ou do Baltazar.</span><br />
<span style="background: white;">Tudo bem que eu estou ficando velho, mas não
vamos exagerar. No começo dos anos 90, os computadores e impressoras já faziam
parte do cotidiano das grandes empresas. Mas não do Corinthians. Nem sempre
este clube teve essa obsessão louca pela modernidade. As coisas no Corinthians
eram do arco da velha. Pensando bem, creio que essa sanha modernizadora do
Corinthians atual e esse desespero pelas novidades e por se inserir no mercado
global do futebol contenha algum nível de complexo pelos anos de atraso que de
alguma maneira se refletia nos resultados dentro de campo.</span><br />
<span style="background: white;">Essa falta de gosto pelo novo que o Corinthians
tinha, a falta de compostura, a ausência do esteticamente aceitável, a breguice
que se projetava em times de futebol meio grossos e uma torcida mais simples e
menos "pop". Nada disso tirava o encanto do nosso clube do coração.
Ao contrário, significava mais um elemento de identidade com a vida da gente. A
gente era esse Corinthians meio desengonçado no cotidiano. Que ganhava uma
grande conquista depois de suar como condenado e logo tomava tantas outras na
cabeça. Inevitáveis desilusões e decepções. Mas era assim mesmo. Segue o
jogo. </span><br />
<span style="background: white;">Igualmente, com essa vida sofrida que vivíamos,
dávamos sem saber a cara daquele Corinthians de outros tempos.</span><br />
<span style="background: white;">Muitos amigos, entre os quais eu me incluo,
sentem alguma nostalgia desse Corinthians que de algum modo parece que se foi
para nunca mais voltar. Um Corinthians que vive agora em algum lugar dentro da
gente. Na melhor das memórias afetivas.</span><br />
<span style="background: white;">Mas não é só o Corinthians que mudou. A
sociedade mudou, e este clube, como a mais bela de suas expressões, mudou junto
com ela.</span><br />
<span style="background: white;">A molecada não esconde mais dinheiro pra ser
sócia de nenhum clube, ela quer celulares, video-games, tênis e roupas de
marca.</span><br />
<span style="background: white;">Não usa a camiseta dada de presente pela tia.
Agora, experimentam uma vaidade exarcebada que a gente não tinha. Não querem
brincar no clube, querem visitar lugares mais espetaculares. Também não aceitam
"viver sofrendo" como os corinthianos de antigamente. Querem se dar
bem. Precisam ser os melhores na vida e na bola. Vivemos em uma sociedade que
nunca foi tão baseada no prestígio pessoal. Sendo assim, todo mundo tem uma
obsessão louca por ser o maioral. A galerinha quer ver o Corinthians campeão
todo ano. Mal sabem eles o que a gente já passou...</span><br />
<span style="background: white;">Quando eu vi o meu nome completo estampado no
título patrimonial do Corinthians fiquei muito feliz. Na viagem de volta,
ocasionalmente tirava a certidão do envelope e olhava para ela satisfeito e sem
me importar que os outros passageiros vissem aquilo que eu havia adquirido.</span><br />
<span style="background: white;">Foram tempos felizes. Jogava bola no terrão aos
sábados com os veteranos. Uns senhores bem mais velhos que eram
espetacularmente bons de bola. E adorava jogar basquete, o esporte em que me
dava melhor na escola.</span><br />
<span style="background: white;">Certo dia convidei um amigo que era filho de um
cliente do meu pai para conhecer o clube. Ele também jogava basquete e gostou
da ideia. Decidiu-se por comprar um título do Corinthians para me acompanhar
nos jogos. Algo que ele faria sem o mesmo esforço que eu tive, pois a família
dele tinha dinheiro e esbanjava status.</span><br />
<span style="background: white;">No dia seguinte fui ao encontro dele para irmos
juntos ao clube. Ele falou meio sem jeito que não mais iria frequentar o
Corinthians.</span><br />
<span style="background: white;">Seu pai gritou bem alto para que eu escutasse.
Que o Corinthians era clube de pobre. De gentalha. Mal frequentado. Que de
presente lhe daria um título do Espéria ou do Sírio que esses sim eram clubes
de verdade com gente decente.</span><br />
<span style="background: white;">Tinha me matado tanto para comprar o título do
Corinthians e descobrira de uma maneira cruel que minha nova aquisição era para
alguns algo desprezível. Pior, nem era por rivalidade futebolística, mas
efetivamente por preconceito social.</span><br />
<span style="background: white;">Adorei aquela sensação de ser "má
influência". Não a conhecia até então. Gostei de saber que o Corinthians
era um lugar potencialmente perigoso. Me senti muito mais atraído por aquela
atmosfera.</span><br />
<span style="background: white;">Como a vida dá muitas voltas, fiquei sabendo que
a família do rapaz foi à falência e que eles vivem hoje arruinados com muita
dificuldade financeira. Eu continuo me virando, dando um passo de cada vez e
feliz por estar conquistando o meu espaço. Mantendo sempre a humildade porque
esse lance de arrogância dá um azar desgraçado, tanto na vida da gente como
também no futebol.</span><br />
<span style="background: white;">Como eu amo o Corinthians!</span><br />
<span style="background: white;">Vinte e tantos anos depois vou poder fazer um
trabalho por esse clube. Um projeto que acredito. É como se tivesse novamente
entrando pela primeira vez naquela terra santa.</span></span><o:p></o:p></div>
Blog do Rafael Castilhohttp://www.blogger.com/profile/13830196588060738853noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2388231254261909842.post-66876320290203040752017-09-01T16:14:00.000-03:002017-09-01T16:14:29.137-03:00O sinalizador dos nossos tempos<div style="text-align: right;">
<b>Novembro de 2014</b></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Acenderam os
sinalizadores.</span><span style="color: #1d2129; font-family: "Helvetica","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
<span style="background: white;">A imagem era linda. A fumaça cobrindo a Fiel
Torcida e o povão na arquibancada gritando alto o nome do Corinthians.</span><br />
<span style="background: white;">Mas o sonho acabou antes de queimar o pavio.</span><br />
<span style="background: white;">O juiz paralisou a partida. Nos demos conta
subitamente que agora estamos em 2014, quase 2015. </span><br />
<span style="background: white;">Quando eu era criança a gente falava do ano
2.000 com expectativas incríveis. Seria a realização de sonhos fantásticos. O
futuro nos guardaria novidades incríveis e gigantescas facilidades.</span><br />
<span style="background: white;">Faz quase catorze anos que começou o século XXI.
Olhando de perto esta modernidade não parece ser tão interessante assim.</span><br />
<span style="background: white;">O triunfo do neoliberalismo criou uma nova ordem
econômica, política e social. Por consequência criou também um novo tipo de
homem.</span><br />
<span style="background: white;">Uma das tarefas originais desta “nova ordem” foi
a de recivilizar o homem. Não deveríamos mais questionar as grandes estruturas.
O “fim da história” já foi decretado e outro mundo não é possível. A partir de
então, devemos cuidar apenas dos nossos “quarteirões”. A parte que nos cabe na
nossa vidinha. E não responsabilizar nenhum inimigo político ou modelo
estrutural. Na sociedade da autoajuda o grande inimigo estaria “dentro de nós”.
Somos nós que temos que nos mudar. Estar adequados. Pertencer. Não nos
reconhecemos mais no próximo. Ele é nosso inimigo em potencial. Qualquer um
pode ser seu inimigo, desde que cruze o caminho dos nossos interesses
imediatos.</span><br />
<span style="background: white;">Tantas digressões para falar dos sinalizadores
na arquibancada do estádio do Corinthians? Para quê?</span><br />
<span style="background: white;">O Corinthians ficou apavorado com a indisciplina
de alguns de seus torcedores. Tem compromissos financeiros. Quer evitar
punições. Tem sido perseguido nos tribunais desportivos e precisa de resultados
econômicos para se manter de pé e competir num mercado que não é diferente de
outros tantos, ou seja, cada vez mais concentrado. É preciso destruir para não
ser destruído. Até que em algum momento o próprio mercado se autodestrua. Mas o
importante parece ser garantir o almoço de amanhã. Ainda que não haja futuro
possível para o mercado, para os países ou para o planeta.</span><br />
<span style="background: white;">Para evitar as tais punições econômicas e
desportivas o clube denunciou os torcedores culpados pelos sinalizadores. É
preciso perseguir para não ser perseguido.</span><br />
<span style="background: white;">Os torcedores “civilizados” também apontam e
acusam o “inimigo” que mora ao lado. Alguns ameaçam e agridem. Outros os
entregam à polícia. Acreditam firmemente em si mesmos e em suas virtudes. Estão
protegendo o clube e seu patrimônio. Comportaram-se adequadamente (entendam bem
o que é adequação). Foram corretos e decentes. Sempre entregaram em dia a lição
de casa. Em suas cabeças, não passa alguma outra reflexão, a não ser o desejo
de preservar o Corinthians, evitar que ele seja punido, que o estádio seja
interditado. Agem com a responsabilidade possível dos nossos tempos.</span><br />
<span style="background: white;">Não há nada que exista no Corinthians que não
tenha correspondência com a sociedade. O Corinthians ressalta virtudes e
vícios, paixões e pragmatismos, emoção e raciocínio, amor e desengano. Está
tudo ali, como uma representação da vida da gente. Até na devastadora percepção
do desespero dos nossos dias.</span><br />
<span style="background: white;">Fomos jogados uns contra os outros. O esforço de
recivilização do homem nos massacra e nos oprime. É preciso estar adequado.
Passar por cima de sentimentos e aspirações para permanecer existindo.</span><br />
<span style="background: white;">Para que o Mercado (com m maiúsculo) permaneça
como o grande regulador da vida entre os indivíduos é preciso quebrar os
instrumentos de solidariedade entre os homens. O mundo corporativo, o mundo dos
negócios, o mundo das grandes empresas, o mundo das escolhas reduzidas e
renúncias impossíveis é um mundo diferente do chão que a gente pisa.</span><br />
<span style="background: white;">As coisas só nos atingem verdadeiramente quando
afetam o nosso cotidiano. Meus amigos, não aconteceu nada demais a não ser a
inserção do Corinthians na velha nova ordem mundial. Isso a gente sente no
fígado. Mas é assim que as coisas são, não é não? Dá para ser diferente? Digam
vocês mesmos? Caso a resposta seja “sim”, vamos todos nos encorajar.</span><br />
<span style="background: white;">Vivemos todos sob o mesmo flagelo. Não
deveríamos culpar uns aos outros.</span><br />
<span style="background: white;">PS: Este não é um enredo de conformismo e
pessimismo. Os agentes não são apenas miseravelmente determinados pela
estrutura. Alguns agentes podem contribuir para mudanças estruturais. O
Corinthians não é apenas um clube de futebol. É uma força viva da sociedade
brasileira. Há muito que pode ser feito.</span></span><o:p></o:p></div>
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