Que tempos são esses. A livre provocação do professor de
filosofia, qualificando a funkeira Valesca Popozuda como pensadora de seu
tempo, desencadeia uma onda de protestos nas redes sociais brasileiras, com
manifestações de indignação.
Alguns demonstram uma súbita percepção de que estaríamos reféns
da mediocridade e da falta de cultura, numa sociedade com “valores” invertidos.
Grande coisa!
Tudo bem que a mediocridade boia e salta aos olhos de
maneira imediata. É muito mais fácil perceber as estupidezes cotidianas do que
a profundidade do pensamento transformador.
Porém, não somos mais nem menos medíocres por conta da
existência da Valesca ou qualquer outro funkeiro.
As pessoas que apontam o dedo contra a Valesca sentem-se automaticamente
mais inteligentes e eruditos por supostamente estarem “do lado de cá”. Certas
personalidades públicas cumprem um papel social interessante. Elas servem para
que alguns deixem de se sentir tão ignorantes.
Ao reparar nos erros de português de alguma celebridade
televisiva ou até mesmo do ex-presidente da República, alguns ficam satisfeitos
e passam a acreditar mais em si mesmos. Supõem que os estúpidos sejam os outros
e que suas vidas ordinárias são reflexos de uma sociedade que não soube
reconhecer seus verdadeiros valores.
O treinador de futebol Joel Santana ficou mais famoso ainda
depois de dar uma corajosa entrevista em inglês, quando era técnico da África
do Sul. A imensa maioria – na qual eu me incluo - dos que acharam graça do
inglês “cariocado” do Joel, sequer domina duas dúzias de palavras na língua
inglesa e jamais conseguiria elaborar uma frase, muito menos transmitir uma
linha de raciocínio.
Particularmente, eu invejo muito a coragem do Joel. Talvez
se eu tivesse a mesma manha conseguiria superar as minhas dificuldades crônicas
com este idioma.
Voltando à Valesca. Por que ela não seria uma pensadora de
seu tempo? O que vem a ser um pensador? Quem decide o que é e quem poderia ser
chamado de pensador?
O que mais se vê pelos quatro cantos deste país é supostos
intelectuais que só falam besteira. Com o peito estufado de pedantismo destilam
as piores atrocidades repletas de rancor e preconceito.
Como disse Darcy Ribeiro, alguns destes utilizam o
conhecimento como uma forma de adorno. Um elemento de distinção social. Alguns
escrevem de maneira incompreensível, se escondendo na areia movediça dos relativismos
sobre tudo aquilo que é socialmente irrelevante.
Claro que possuímos muitos intelectuais brilhantes no
Brasil, mas estes não são tão satisfeitos e crentes em si mesmos.
Quem tem legitimidade para apontar a Valesca? Os bonecos de ventríloquodo Estadão? Aqueles que ficam papagaiando as verdades absolutas enlatadas emalguma redação de jornal?
Será que a Valesca Pensadora causou furor por ser funkeira?
O que então seria melhor?
E se a alcunha de pensador fosse destinada a algum
ex-roqueiro, carcomido pelo tempo. Apavorado por envelhecer e vivendo de aparições
esporádicas na mídia. Soltando ao vento conceitos rasos e argumentos torpes em
busca de um pouco de atenção?
O pensador do nosso tempo estaria em algum festival de rock
gritando jargões batidos como: “Fora Sarney!”, “Fora Renan!” ou “É a porra do
Brasil!”. Que inovador, heim? Resolvemos a questão. Grande merda.
Os verdadeiros pensadores seriam comediantes apresentandoalgum talk show de horror? Fazendo piada contra “os políticos corruptos do
Brasil”? Escrachando alguma empregada doméstica, alguma mulher estuprada ou um
pobre desfrutando sua piscina de plástico na laje de sua casa?
Onde estão nossos verdadeiros pensadores? Estariam
espalhados na “classe artística” da televisão brasileira? Nesse apanhado de
gente obediente que protesta de preto a serviço do patrão, demonstrando sua indignação
seletiva? Seriam os artistas que simplesmente ficaram em silêncio no aniversário
de 50 anos do golpe militar? No país inteiro houve um monte de manifestações
contra a ditadura, e nossos “pensadores” artistas simplesmente fingiram que não
viram nada acontecer. Ficaram na deles. Escondidos.
A Valesca pode não ser uma compositora sofisticada. Mas não
deixa de ser genial! Ué? Por que não? Quem é genial então?
Ela faz parte de uma porção viva da sociedade. Que sente
vontade de dançar, falar palavrão, chocar, viver, comprar, transar, conhecer e
experimentar.
Não esta outra sociedade morta e carcomida que sente
vergonha de si mesma. Este monte de gente hipócrita e ressentida que não cria
nada e tem raiva de quem cria. Que não vive nada e tem raiva de quem vive. Que não come ninguém e tem raiva de quem come.
Nada pode ser mais atormentador do que passar a vida inteira
obedecendo ao patrão e “fazendo tudo direitinho” , para depois ser ultrapassado
na escala social por quem veio “de baixo”.
O Brasil é muito mais do que essa gente triste que se
envergonha da própria mestiçagem e se enxerga como ianque. Que morre de medo de
“pagar mico” e ser confundida com os pobres. Que sente vergonha das favelas,
mas não quer acabar com a pobreza para ver preservados seus espaços de
privilégio.
O “beijinho no ombro” da Valesca é, sobretudo, pra essa
gente recalcada que se sente apavorada ao não saber conviver numa sociedade em transformação.
Que exige que as mulheres, os “bichas”, os “baianos” e os “favelados” ocupem o
mesmo espaço de subordinação de outrora.
Rala mandada. Rala mandado!
Rafael , com tanta baboseira que encontramos na internet , fico feliz de ter te encontrado. Adoro ler o que você escreve , parabéns.
ResponderExcluirroqueiros náo são pensadores, os cara do talkshow idem, os cara da grande imprensa idem. Os academicos intelectualoides tem essas idiossincrasias que voce descreveu. Valesca representa uma forma de viver e pensar popular ligada aos excluidos da opulencia burguesa mas esses funk são vazios rasteiros grosseiros. Excelente seu texto
ResponderExcluirroqueiros náo são pensadores, os cara do talkshow idem, os cara da grande imprensa idem. Os academicos intelectualoides tem essas idiossincrasias que voce descreveu. Valesca representa uma forma de viver e pensar popular ligada aos excluidos da opulencia burguesa mas esses funk são vazios rasteiros grosseiros. Excelente seu texto
ResponderExcluirroqueiros náo são pensadores, os cara do talkshow idem, os cara da grande imprensa idem. Os academicos intelectualoides tem essas idiossincrasias que voce descreveu. Valesca representa uma forma de viver e pensar popular ligada aos excluidos da opulencia burguesa mas esses funk são vazios rasteiros grosseiros. Excelente seu texto
ResponderExcluirroqueiros náo são pensadores, os cara do talkshow idem, os cara da grande imprensa idem. Os academicos intelectualoides tem essas idiossincrasias que voce descreveu. Valesca representa uma forma de viver e pensar popular ligada aos excluidos da opulencia burguesa mas esses funk são vazios rasteiros grosseiros. Excelente seu texto
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