Há dez anos morria Cássia Eller.
Prato cheio para a imprensa marrom. A revista Veja com sua sanha moralista colocou uma foto de Cássia para alertar a população sobre o perigo das drogas. Depois se descobriu que ela não havia morrido por overdose como decretara a revista.
Anos antes a revista havia feito o mesmo com Cazuza que chegou a cantar “te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro. Transformam o país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro!”
Mas não era a eventual relação de Cássia Eller com as drogas que apavorava os conservadores. Era a sua irreverência.
A Cássia foi uma das poucas vozes dissonantes na babaquice geral que se tornou a década de 90.
Os anos 90 são o efeito mais bizarro da queda do Muro de Berlim.
A partir de então só existiria um modo de vida possível. Era o fim da história, como chegou a proclamar um economista yuppie.
As pessoas deveriam dar graças ao deus do capital e buscarem dentro de si ferramentas de auto-ajuda para se adequarem à nova realidade. Era necessário exorcizar os próprios fantasmas interiores, sem eleger um inimigo político como causador dos incômodos da vida cotidiana.
Foi a década dos livros de auto-ajuda.
Homens e mulheres deveriam ser eficientes, perseverantes, bem-sucedidos e adequados.
Os anos 90 são a década do “tá dominado, tá tudo dominado!”
E estava mesmo. Tudo dominado!
As meninas deveriam ser iguais à Adriane Galisteu e os rapazes iguais ao Luciano Huck.
Todos deveriam aparentar um sucesso desejável para a capa da revista “Caras”. Onde na verdade só apareciam "Bundas”.
Neste universo hostil e degradante, a atitude e irreverência de Cássia Eller era oxigênio para os nossos pulmões.
Mostrar a língua, mostrar os seios, masturbar-se no palco. Agredir aquela sociedade mentirosa e moralista era necessário.
Cantar de uma maneira que as meninas não deveriam cantar era mais do que um espanto. Era uma agressão.
Colorir os cabelos, comportar-se como uma roqueira, mas ao mesmo tempo cantar os sambas antigos com uma doçura inigualável confundia os almofadinhas que preferiam dançar a “dança da bundinha”.
Pois foi essa a obra de Cássia.
Mais do que uma das mais talentosas cantoras que já existiram neste país (se não a maior), foi a personalidade mais marcante e necessária de uma década triste e depressiva.
Cássia Eller se doou e se gastou em cada acorde e em cada gesto. Cumpriu sua missão brilhantemente.
Ficou pouco tempo na terra, mas ficará para sempre nos nossos corações.
Eu amo a Cássia Eller!
Eu também amo a Cássia Eller! Saudades da voz, do jeito de ser Cássia, simplesmente Cássia.
ResponderExcluirPArabéns pelo texto, coerente e delicado. Acho que devido a esse lifestyle vendido nos anos 90 é que as pessoas criticam tanto o que hoje alguns dizem ser natural e bonito (a diversidade, em todas as sua formas, não só a sexual) e outros pregam (essa é a palavra mais adequada, acho) como sendo aberração.
ResponderExcluirvivi e sobrevivi anos 90, excelente! muitas saudades de Cássia
ResponderExcluirMais um texto sensacional!
ResponderExcluirTambém amo Cássia Eller!
Cássia foi voz e atitude, maravilhosa, desafiadora, a Globo jamais entenderia. Novamente, um belo texto, mais que acertado.
ResponderExcluirclaro a veja publica e o povo acredita,depois e so fingir que nao aconteceu nada ,hipocrita essa revista e viva cassia eller
ResponderExcluiramei muito lindo bom eu so tenho 19 anos mais curto muito cassia ellen sou loca por ela e se deus quiser o filho dela vai sergir o caminho dela .......
ResponderExcluirsaudades cassia ellen
estrelas n morren so muda de lugar .........