quarta-feira, 2 de maio de 2018

A Cidade que ferve. A cidade que desaba

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Fui algumas vezes ao prédio que desabou na madrugada de hoje no centro de São Paulo. Isso foi na época do meu primeiro emprego como office-boy, quando ali funcionava a sede da Polícia Federal.
Depois, a PF se mudou para a Lapa, em instalações mais modernas e o prédio ficou ali, fantasmagórico e horroroso, como tantos outros na região central da cidade.
Os movimentos por moradia ainda fizeram um uso social daquele edifício que certamente ficaria desabitado por décadas, talvez para sempre. 
É muito duro não ter um lugar no mundo para viver dignamente com sua família, vendo tantos arranha céus carrancudos, tristes, inadequados, simplesmente deixados pra trás. A cara de São Paulo.
Não deixa de ser simbólico. A casa que foi usada e consumida pela Polícia Federal, até que ela vestisse uma nova roupa, justamente para representar o "novo", se degenerando a céu aberto e a olhos vistos, até desabar os seus dejetos na calada da noite no centro da cidade.
A queda desse edifício é a cara da degeneração da cidade de São Paulo e símbolo da canibalização da especulação imobiliária.
O centro da cidade foi deixado pra trás, mesmo com sua bela infraestrutura urbana, e a especulação foi atrás de novos espaços de higienização, onde tudo parece novo, moderno, branco, bem vestido, espelhado. Na verdade, esse "novo" é o que há de mais velho no nosso capitalismo predatório que precariza a exploração, esgota recursos, infertiliza os solos, mata a terra. Depois, parte para outra, deixando o que está "velho" para trás e sai em busca de um outro "novo", sempre construindo camarotes vipes na cidade, espaços de exclusividade, onde São Paulo aparenta ser só de pessoas incluídas, com empresas que tem suas atividades econômicas voltadas para o "futuro" que vai sempre ao encontro do passado.
E deixamos para trás nossos prédios e nossos zumbis, caminhando errantes pelas ruas, sem saber direito para onde ir. Tentando arrumar um bico, um troco, uma boia, uma pedra. Até serem completamente tragados e triturados pelo sistema. Até ficarem andando no meio do asfalto por entre os carros, talvez para serem notados, talvez para que tenham a certeza de que ainda estão vivos, talvez para roubar à força algum nível de atenção. 
E assim é. Ficam de pé, tentando existir até o momento que pegam fogo e desmoronam de uma vez por todas. Para sempre.
O Centro se tornou o lugar de quem ficou para trás. Pessoas, prédios, empresas que vendem sei lá o quê.
Quem tem salvo o centro são as pessoas que insistem em existir por entre os escombros. São os skatistas que fazem seus malabarismos e tiram suas fotos em cenários apocalípticos. São os "alternativos", nome que o cidadão médio paulistano deu para quem justamente se recusa a incorporar os códigos do cidadão médio. São aqueles que conseguem enxergar a beleza nesse monumental que ficou para trás. Que aprendeu a ser feliz por entre o concreto. No que ficou para trás. No que já foi um dia. É como viver num cenário de filme de ficção que se passa pós guerra nuclear. Quem salva o centro são os gays que deixam os subúrbios, com seus estigmas e preconceitos e constróem uma nova vida onde ninguém liga muito pra quem você é ou o que você faz. 
São também artistas. É gente que gosta de cultura. Quem gosta de andar a pé. São espíritos rebeldes que ocuparam o espaço público que foi deixado pra trás, mas que, tal qual fazem com "os sem-teto", a ocupação se torna um problema. É como se a cidade viesse a dizer: "não é nosso, e não será de mais ninguém".
O centro está lá, fantasmagórico. Terra de zumbis. Até que as pessoas abracem e tomem para si, ocupando com seus sambas,skates, encontros, máquinas fotográficas, suas músicas, flores, protestos, intervenções artísticas e, pronto! Vem logo a patrulha de choque para atacar bombas e gás de pimenta, para deixar tudo como sempre esteve. Sob controle. Sem ameaças. Apenas com as almas atormentadas e já inofensivas. 
O que será, que será? que andam combinando no breu das tocas?
O desabamento do edifício, infelizmente, não é nada de novo nessa cidade.
Mais uma saudosa maloca que ruiu. Mais um despejo na favela. Mais um barracão que se foi com a sua cama.
A única diferença é que de Adoniram para Mano Brown muita coisa mudou.
A doçura se foi.
Se o protesto presente nas canções do Adoniram escolhiam a irreverência e as verdades eram ditas de maneira poética, disfarçadas de conformismos e da esperança de que "Deus dê o frio, conforme o cobertor", na obra do Mano Brown, "Deus é uma nota de cem" e não há mais tempo nem espaço para as sentenças colaterais. Talvez estejamos caminhando para o confronto que o Brasil sempre tardou e empurrou com a barriga.
Não há mais doçura. Tudo está incendiando e prestes a desabar!
Vivemos sobre um paiol.

Seu Herói

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Quase cem anos pesam sobre seu corpo. Ainda consegue levantar e caminhar, mas as jornadas são lentas e custosas. Da cama para o banheiro, de lá para sua poltrona preferida na sala, de lá para o banho de sol. Este é o melhor momento do seu dia. Pelo menos o melhor que ele dispõe na atual circunstância. Detesta a ideia de usar uma cadeira de rodas para facilitar os passeios, ainda que esta seja mais funcional para os percursos mais longos. Então caminha lentamente com a ajuda de uma bengala de madeira de jacarandá bem reluzente, objeto do qual ele se orgulha. Acha que a bengala até que lhe cai bem. De uns anos pra cá, Seu Herói só anda com a companhia de seu cuidador.
Tudo parece muito difícil com quase um século de vida pesando sobre seu corpo e sua alma. Ainda mais quando a consciência persiste. Quando se entende quase tudo o que está acontecendo ao seu redor. Seu Herói sempre esforçou e exercitou sua mente para que ela não se degenerasse, coisa que ele não conseguiu evitar com o resto do corpo.
Acontece que não é fácil manter plena consciência e raciocínio quando todos seus outros órgãos te sabotam. Não é fácil também manter a consciência e a inteligência quando se perde pouco a pouco conexão com o mundo que te cerca. Difícil continuar acreditando nas próprias conclusões quando as pessoas se deparam com sua aparência física e por algum motivo, consciente ou inconscientemente te ignoram, ou partem apressadas e impacientes com seu ritmo próprio. Seu Herói, em sua solidão conclui, sem nenhum acréscimo de autopiedade, que as pessoas jovens não têm tempo para desperdiçar com conversas que correm lentas e quase sempre conectadas com o passado. Seu Herói aprecia a juventude. Sempre gostou de estar ao lado de gente jovem. Em sua carreira, sempre provocou esses encontros. Mas sabe que isso não é mais possível. Numa eventual conversa, certamente haveria de contar seus feitos do passado, pois hoje existe pouquíssimo para contar sobre o cotidiano de um velho de 98 anos.
Não há quase nada para contar sobre o seu presente. Vez por outra, quando está sentado à calçada, recebe alguns instantes de atenção de pessoas que se presumem generosas e decidem gastar um minuto (não mais que isso) de conversa. Interrompem seus passos rápidos e deselegantes e se dirigem ao Seu Herói como se fosse ele uma criança. Ele detesta isso. Conclui que a suposta generosidade em gastar um tostão de prosa não esconde uma porção de arrogância, ou mesmo de estupidez. Percebe que talvez essas pessoas queiram se sentir melhor com elas mesmas.
De alguma maneira, respeita mais as pessoas que o ignoram do que essas que o infantilizam. O pior momento do dia é quando a vizinha de baixo se dirige a ele enquanto toma seu banho de sol. Ela chega cheia de tatibitates:
- Oi, cheu Helói. Vai ficar aqui chentado na calchada? Por que não fica dentlo do plédio? Lá é mais xegulo. Aqui tem axalto!”.
Puta que pariu! Como ele fica puto com aquela mulher. Nunca dá tempo para responder o que ele gostaria. Quando ele toma ar para conseguir dizer que prefere morrer instantaneamente do que tomar sol dentro do condomínio, ela já foi. Ou mesmo, em seus dias de fúria, quando ele tenta mandar ela tomar no cu com aquela voz de neném, ela já alcançou o elevador.
Seu Herói conclui que ficar irritado é inútil. Ficar deprimido com sua situação é uma armadilha mais do que perigosa. Seria fatal. Um caminho sem volta à essa altura do campeonato. Com o tempo, ele aprendeu a escapar da melancolia e dos acessos de depressão. Precisou aprender. Olha pra trás e se lembra da tristeza que lhe doía à garganta e a ansiedade que lhe acelerava o coração com os amores perdidos. Foram muitos amores intensos em que sinceramente se apaixonou. Teve um mais do que especial. Um que ele achou que seria pra sempre. Que lhe fazia bem. Que lhe desapegou de sua rotina e tirou as suas coisas do lugar onde sempre estiveram. Um amor que lhe desarrumou as gavetas. Mas um dia ela foi embora como que em uma canção do Adoniran Barbosa. Vivia com saudade. Com uma angústia que lhe acompanhava ao pensar nos amores que ele deixou para trás, quase sempre para não abrir mão de seu espaço e sua rotina. Era pragmático, individualista e ao mesmo tempo romântico e capaz de se entregar loucamente aos seus amores. Quando essas paixões acabavam, sabia que era necessário conviver com um período de tristeza. Aguentar as pontas com a angústia, a melancolia e até mesmo com a depressão. Mas logo a vida lhe presenteava com uma nova história de amor. Uma nova musa. Ou mesmo com um novo trabalho também excitante. Até o momento em que não apareceram mais novos amores. Os trabalhos ainda duraram um pouco mais, no entanto os amores se esvaíram. Depois, Seu Herói assumiu para si mesmo que eles não mais chegariam. Teve de aprender a viver com a solidão, a qual ele dizia nunca temer. A velhice trata de dar um soco no estômago da nossa arrogância. Hoje, exercita sua mente como se fosse um ninja. Nada de se ressentir da própria vida. Sem essa de sentir pena de si mesmo.
Percebe que agora precisa mesmo é de humildade. Seu Herói chegou num momento da vida em que a humildade se tornou questão de sobrevivência. Sempre detestou depender dos outros, agora depende de ajuda até mesmo para tomar banho.
Ele sempre foi um homem interessante, as pessoas pagavam para ouvi-lo. Hoje, ninguém mais tem tempo para lhe escutar. Isso não é Adoniram. Tá mais pra Bob Dylan. Não consegue sequer proferir um desaforo à vizinha besta.
Veja só quão curiosa é a vida. No momento em que ele teria mais coisas a dizer, tem mesmo é que escutar. Escutar e escutar. Observar e guardar suas conclusões, talvez para outra vida. Considera isso uma grande ironia, porém ele entendeu que já falou demais. Demorou uma vida para aprender a ouvir. Descobriu também como isso pode ser valioso. Igualmente, também não tinha muito tempo para ouvir. As certezas escapavam-lhe à boca. Agora exercita a audição e comemora por ela ser uma das poucas coisas que ainda funciona bem em seu corpo. Se ele pudesse voltar no tempo, ouviria mais. São boas essas reflexões, mas não há para quem dizer isso agora, além do Marcondes que é seu cuidador.
Votando à lição de humildade. O Seu Herói era independente financeiramente. Nunca foi rico, longe disso. Mas era bem situado. Sempre tinha bons trabalhos. Pôde viver as coisas boas da vida. Agora tem a conta certa para não passar necessidades. Paga o condomínio, o mercado, os remédios, o IPTU, o Marcondes e pronto. Se algo sair do previsto ele não tem mais como pagar. Não era um homem de luxos, mas adorava bons restaurantes, bons vinhos e bons charutos. Felizmente, os charutos ele ganha de presente mensalmente de uma fábrica na Bahia. Ele ainda escreve artigos e envia para a fábrica que coloca em alguns sites e revistas especializadas. É uma boa permuta. Seu herói gostou muito dessa coisa de internet. Pena não conseguir ficar muito tempo no computador por causa da visão. Tem uma coleção de perfis falsos que na época dele se chamavam pseudônimos. Ele já usava esse recurso dos pseudônimos para escrever em jornais e revistas. Eram por vezes colunas mais arriscadas e confrontativas ao sistema, passíveis de retaliação, por isso usava nomes falsos. Ou mesmo quando escrevia seus contos eróticos em livros e também em revistas de mulher pelada. Nesses casos jamais usaria o seu nome verdadeiro.
Vez por outra ele ainda recebe algum troco dos sites em que escreve como colaborador. É bem pouco, mas ele fica muito feliz quando entra esse dinheirinho. Nesses dias, ele chama um taxi, convida o Marcondes e vai jantar num de seus restaurantes preferidos. Certamente, Seu Herói preferiria uma companhia feminina. Mas não há o que reclamar. O negócio é levar o Marcondes.
Seu Herói já foi um homem atraente. Não era belo, mas mesmo assim, havia mil garotas afim. Tinha jeito com as mulheres. Gostava muito de sexo. Agora olha para seu corpo e percebe que acabou. Do mesmo jeito que aprendeu a ouvir, aprendeu também a gozar com a cabeça. A ter sensações mentais orgásticas. Às vezes, quando está deitado, quando sua cabeça vai longe, sente como se estivesse com uma ereção imensa. Está verdadeiramente excitado. Quando se toca, percebe que não há ereção alguma. É tudo cabeça. Então deixa a cabeça viajar para os lugares em que esteve e aos lugares onde gostaria de estar. Ah, se a gente pudesse voltar no tempo. Na vida, na maioria das vezes em que aprendemos alguma coisa, já é tarde demais. Esse tesão mental deveria vir antes de tudo. Conclui que essa foi a porção que lhe faltou para entender pelo menos uma parcela da alma feminina. Que o orgasmo físico depende algumas vezes de um orgasmo mental. Que esse orgasmo mental não é a ausência do físico, nem uma renúncia da matéria. Que é muito diferente da imaginação que acompanha a masturbação masculina. Que esse tesão mental efetivamente existe de maneira muito forte e presente.
Tem uma moça no prédio do Seu Herói que chega quase sempre com um vestido branco ou com um vestido florido. Só usa vestido. Ela é tão linda. Ele a considera tão atraente que quando ela passa, toma cuidado para não encarar demais e parecer um velho babão. Não quer ser desrespeitoso. Então muitas vezes comprime as pálpebras, segura firme o charuto, dá uma boa baforada, finge não estar vendo nada, mas efetivamente esse é o melhor momento do dia.
Houve um dia de glória recente na vida de Seu Herói. Certo dia, havia uma porção de moradores do condomínio ao seu redor. Falavam de alguma questão banal como a dedetização do prédio. Ela apontou pela calçada. Vinha de não sei aonde. Tinha uma flor no cabelo e sua pele estava reluzente. Seu Herói corrigiu a postura. Na verdade, melhorou a postura o quanto foi possível. Ela cumprimentou um a um com um beijo no rosto. Quando chegou a sua vez ela olhou em seus olhos e pediu desculpas:
- Ai, eu voltei caminhando, estou toda suada.
Segurou o braço esquerdo do Seu Herói e lhe deu um beijo na bochecha. Trocou mais três ou quatro palavras com os vizinhos. Ele aproveitou para farejar o seu cheiro.
- Boa tarde, gente – Disse ela.
Seu herói procurou conter os olhares e a empolgação e devolveu o “boa tarde” serenamente.
Ela foi caminhando para o elevador e de lá para seu apartamento.
Foi o dia mais erótico da vida recente do Seu Herói. Aquele momento foi o suficiente para que ele passasse a tomar banhos mais longos e tirasse do armário suas melhores camisas e até mesmo seus ternos e sapatos.
Seu Herói, sempre preferiu ser elegante e educado. Sempre valorizou o respeito entre as pessoas. Mas também tinha dentro de si uma dose considerável de vulgaridade que ele guardava como um elixir da vida longa. Quando a gente perde o desejo está pronto para morrer. Então, Seu Herói passou os próximos meses pensando como seria aquela mulher nua à sua frente. Fechava os olhos e pensava na textura da sua pele. No perfume do suor que escapava pelos seus poros naquele dia em frente ao prédio. Fantasiava que um dia ela bateria a sua porta disposta a assassiná-lo para subtrair seus parcos bens, mas não sem antes lhe seduzir, ficando absolutamente nua e permitindo que ele a provasse inteira. Ele passaria a boca e o nariz por todo seu corpo e provaria gostosamente o seu sabor, de maneira demorada, porém voraz. Depois permitiria que ela o matasse da maneira que lhe fosse mais conveniente. Passaria a senha de suas contas, a escritura do apartamento e morreria serenamente, sem nenhum ressentimento por seu destino.
Começou até mesmo a se sentir mais bonito por aqueles dias. Mas depois foi passando. Ah, como uma paixão faz bem na vida da gente.
O negócio é chamar o Marcondes para lhe ajudar com o banho. Se escorregar e cair no banheiro, será equivalente a um desastre de carro em outros tempos. Marcondes lhe ajuda a se vestir. Pergunta o que seu Herói quer ouvir de música essa noite. Seu Herói pede para ouvir Nat King Cole.
Marcondes prepara a playlist. Regula o som ao gosto do Seu Herói. Marcondes vai se recolher aos seus aposentos. Já são oito da noite, hora do último charuto. Sabe que essa hora o seu chefe gosta de ficar sozinho. Quando se despede e dá boa noite, Seu Herói pede um último favor.
- Marcondes, posso lhe pedir uma gentileza? Poderia abrir um vinho pra mim? Eu não tenho forças. Hoje vou enfiar o pé na jaca.
Ele lhe abre o vinho, corta também alguns pedaços de queijo. Dá boa noite e vai para seu quarto.
- Marcondes! – disse o velho – Sirva-se com uma taça de vinho. Coma um queijo. Não passe vontade de nada nessa vida. Se tiver a chance, experimente!
- Obrigado, Seu Herói. Vou provar sim. Boa noite!
- Boa noite, Marcondes. Obrigado mais uma vez.
Seu Herói coloca o nariz na taça. Aspira o odor frutado que sobe desde o vinho e por alguns segundos desfruta aquele buquê. Suspira e depois dá um gole generoso. Abre o notebook e começa a olhar o Facebook. Quem sabe encontra a sua vizinha preferida e pode olhar as suas fotografias. Quem sabe ela também o encontra (ou algum de seus pseudônimos) e gosta de alguma de suas crônicas. A modernidade não é tão ruim assim.
Nat King Cole começa a cantar em espanhol com sotaque carregado:
Que se quede el infinito sin estrellas
O que pierda el ancho mar su inmensidad
Pero el negro de tus ojos que no muera
Y el canela de tu piel se quede igual.
Aunque pierda el arcoiris su belleza
y las flores su perfume y su color
No seria tan inmensa mis tristeza
como aquella de quedarme sin tu amor...
Me importas tu y tu y tu y solamente tu y tu y tu
Me importas tu y tu y solamente tu y tu y nadie mas que tu
Ojos negros piel canela que me llegan a desesperar
Ojos negros piel canela que me llegan a desesperar
Me importas tu y tu y tu y solamente tu y tu
y tu me importas tu y tu y solamente tu y tu
y nadie mas que tu
Ojos negros piel canela que em llegan a desesperar
Me importas tu y tu y solamente tu y tu ....