Pressa pra que?
Faz um tempo, comprei uma camiseta com uma tartaruga estampada. Adoro esta camiseta. Ela já está velha e gasta. Mesmo assim continuo a usá-la.
Para mim foi uma grande conquista quando me descobri como uma tartaruga.
Pode levar um tempo, mas se a gente não fechar os olhos e não mentir tanto para si mesmo, descobre quem realmente é. E eu sou uma tartaruga.
Não adianta me acelerar.
Demoro para levantar, despertar, me despir, escovar os dentes, cuspir, cagar, banhar, me vestir novamente.
Demoro para tudo. Demorei até para perceber que eu sou uma tartaruga.
Talvez por isso eu goste tanto dos charutos. Os cigarros seriam muito rápidos para mim. Não sou do tipo compulsivo. Nem para fumar, nem para fazer. Nem para consumir, tampouco para realizar.
Sou um cara lento. Lento igual uma tartaruga.
Não tenho metas de curto, de médio nem de longo prazo. Só tenho mesmo os prazos. A minha linha do tempo não é uma linha, é uma esfera. O meu tempo é circular.
E não há nada que me convença que se caso eu fosse mais rápido eu seria melhor do que sou.
Porém, existem alguns inconvenientes em ser assim. Esqueço datas importantes. As vezes deixo de dizer coisas que seriam desejáveis que fossem ditas. Muitas vezes não sei qual o presente certo que eu deveria dar.
Houve quem quisesse me acelerar, mesmo assim eu perdi aquele trem. Ainda bem. Quando se é uma tartaruga, passamos boa parte da nossa vida arrastando o nosso casco e dizendo adeus.
Eu sou como um tanque de guerra. Lento, porém destrutivo e inabalável. A não ser que a bomba seja muito explosiva.
Talvez eu seja mesmo uma mula, um jumento, uma besta, um burro.
Nada disso! Eu sou mesmo uma tartaruga. Sem pressa para morrer e me decompor. Sou uma tartaruga pronta para viver duzentos anos.
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