(Corinthians, uma história de amor)
Basília desceu no Metrô Artur Alvim e caminhava sozinha rumo ao estádio. Sim, o nome da mina era Basília. O pai teve a manha de exaltar seu grande redentor. Havia feito a promessa ali mesmo, na rampa do Estádio do Morumbi naquela noite mágica de 13 de outubro de 1977. Estava em absoluto êxtase. Seu pai, Ademir, queria então cravar em seu filho o nome do herói daquela noite.
- Eu juro, vou ter um filho macho que vai ser o maior corinthiano do mundo, e já vou dizendo que o nome dele será Basílio!!! Seus amigos caíram na gargalhada e brindaram com muita cerveja àquela noite onde tudo era festa.
A euforia passou, o tempo também. Ademir chegou a repensar a seriedade por colocar o nome de Basílio em seu filho homem.
Depois do êxtase da Democracia Corinthiana, pela qual Ademir era absolutamente devoto, veio a rebaixa no Parque São Jorge.
Ademir chegou a ir nas passeatas das Diretas Já. Sim, Ademir tinha seus compromissos cívicos e democráticos, mas queria mesmo era ver o Sócrates. Digamos que Ademir ficou muito mais comprometido com a democracia e as lutas por um Brasil mais justo quando ouviu, bem debaixo do palanque o Sócrates dizer:
“Caso a emenda Dante de Oliveira passe na Câmara dos Deputados e no Senado EU NÃO VOU EMBORA DO MEU PAÍS”.
Ademir chorou e berrou. Sabia que o Corinthians não estava pronto para viver sem Sócrates. Que sem ele naufragaria o projeto da Democracia Corinthiana. Na cabeça dele, e de tantos, não há tanta distinção. As coisas devem estar bem no país, em casa, com a família e com o Corinthians. Pro corinthiano, não existe terreno afetivo separado. Tudo se confunde.
Como se sabe, as Diretas não foram aprovadas, Sócrates foi para a Fiorentina, o Corinthians tentou montar um time competitivo que não deu certo, passamos anos de decadência e perdemos competitividade.
Em 1986, um ano bem xoxo para o corinthiano, Ademir recebeu a notícia no meio do ano que seria pai. Uma felicidade danada. Que alegria. De antemão, Ademir já comprou uma caixa de charutos para deixar guardada.
Meio sem convicção, contou para Márcia, sua esposa, que havia feito uma promessa no Morumbi 77.
- Porra, mas Basílio? Não tinha um nome mais bonitinho? Sei lá, tinha o Wladimir, o Luciano, Vaguinho seria até simpático, Zé Maria eu topava, Tobias ficaria vintage.
- Eu sei, amor, mas quem fez o gol foi o Basílio. Eu prometi.
A mulher tentando argumentar:
- O Palhinha. Acabou com o campeonato. Jogou muito. Qual o nome dele?
Ficaram de pensar. O Ano virou e o Corinthians foi jogando mal, muito mal. A barriga crescendo e o Corinthians caindo na tabela.
Ademir estava desesperado. Havia terminado o primeiro turno do campeonato. O Corinthians acumulava apenas 14 pontos, de 38 disputados. Era um dos lanternas e potencialmente rebaixado.
Alguma coisa deveria ser feita. Estaria o mal acontecendo por conta de sua vacilação em cumprir a promessa que havia feito há quase dez anos?
O grande dia chegou. Não da vitória do Corinthians, mas do nascimento de sua filha.
Sim, Ademir esperava um menino. Até o padeiro da rua sabia disso. Mas quando recebeu sua filha em seus braços se desmanchou. Não que existisse a possibilidade de a menina ser rejeitada, mas acontece que nem passou na cabeça do pai ter uma filha mulher.
Ele simplesmente não esperava. Ademir chorou de emoção. Beijou sua esposa com ternura. Olhou para o quarto da maternidade todo enfeitado com as cores do Corinthians.
Antes, tinha ouvido a zoeira dos médicos, enfermeiros e outros auxiliares pela fase ruim que o Corinthians atravessava.
Mas naquele segundo, nada mais fazia sentido. Ademir explodiu de amor por sua filha. Abraçou forte novamente, beijou sua testa e conclamou:
Ela nasceu em 28 de abril de 1987. Quase dez anos depois da promessa de seu pai. No dia seguinte o Corinthians voltou a vencer depois de uma série de derrotas subsequentes. Em 1987 o Corinthians arrancou para uma campanha histórica. Os Corinthianos mais antigos certamente irão lembrar dos jogos incríveis daquele ano mágico, quando o Corinthians saiu da lanterna e foi batendo todos os adversários com incrível raça e chegou até a final do campeonato. Foi lindo!
O tempo passa! Basília amava seu nome. Converteu-se em uma corinthiana devota. Era a famosa rata de estádio. Passou boa parte da sua vida como torcedora ouvindo comentários maldosos, gracejos, ofensas, mas seguiu firme em seu propósito. Basília era uma corinthiana louca.
Ela “bem que podia” ficar no canto dela e assistir aos jogos sem provocar estranhamentos do senso comum ou, principalmente, o machismo no “seio” da torcida. Acontece que ela amava toda a atmosfera do estádio. Gostava de estar no meio da galera.
Exorcizava todos seus demônios. Gritava, pulava, entrava em absoluta catarse. O estádio também ajudava a superar a perda de seus pais que haviam morrido anos antes num acidente de automóvel.
No meio do jogo, Basília fazia suas preces. Se conectava com seus pais. Sinceramente rezava. O estádio era sua igreja.
Basília veio caminhando pela Radial Leste desde o Metrô Artur Alvim. Ah, o cheiro do pernil que perfumava o ar. Os rojões estouravam no céu e emanavam aquele cheiro gostoso de pólvora, com o qual os corinthianos já estão acostumados. Aquele vento gelado que nos faz respirar profundamente e pensar no jogo: “hoje vai dar Coringão! Vai Corinthians, meu Deus” Era o dia perfeito para o Corinthiano. Domingo a tarde, dia de clássico contra o Palmeiras.
Ela já estava acostumada a ir aos jogos sozinha. Ia sempre com seu pai. Era a melhor companhia. Depois que tudo ocorreu, ela preferia andar só. Para além da superstição, Basília tinha um motivo especial. Havia coisas em sua experiência como corinthiana que nunca foram permitidas a ela. Basília não era do tipo que aceitava proibições, ainda mais obscuras, que não lhe faziam sentido algum.
Ela seguiu caminhando até a praça do elefante comunista. Sim, no meio do caminho para o estádio, existe uma praça simpática com uma escultura de um elefante. O artista projetou a escultura de um jeito que as proeminências da tromba do elefante, com outros elementos, nos fazem enxergar uma foice e um martelo.
Bom, é o meio do caminho para o estádio. A galera para ali por perto pra tomar uma cerveja, alguns fazem um churrasquinho, outros um churrascão, os camelôs defendem um dinheirinho, tem um cantinho moqueado onde a galera que curte fuma um baseado. Se vem a larica depois tem as barracas de dog, de pernil, onde a galera toma uma maria mole, um bombeirinho ou um rabo de galo pra ficar macio.
Não foi só o estádio que mudou, a experiência do encontro urbano também mudou com as redes sociais. Se antigamente todos se encontravam no lugar geográfico da praça no entorno do estádio, hoje, em cada esquininha, cada quebrada no entorno do estádio, tem um grupo de WhatsApp que passa o domingo se confraternizando e louvando o coringão do nosso coração.
Basília entra numa padaria onde as pessoas se apertam para beber cerveja. A gritaria é imensa e estimulante. Ela fica na fila do banheiro por alguns minutos. Espera pacientemente a sua vez. Quando entra, inicia um ritual de transformação. Coloca um top bem apertado. Por cima coloca uma camiseta larga. Veste uma calça e um tênis de skatista. Coloca um jaquetão do Coringão. Veste uma touca preta e branca com linhas horizontais. Por fim, projeta sobre seu rosto uns óculos escuros bem grandões.
Os homens são distraídos. Sequer percebem que uma mulher entrou no banheiro e saiu um homem. Quando ela anda pelo bar, tromba com os transeuntes e ouve satisfeita:
- Fala moleque!
- Desculpa ae Jão!
- É nois curinthia!
Basília coloca o fone de ouvido e caminha rumo a entrada norte do estádio em Itaquera. No caminho admira os prédios grafitados da COHAB. Conclui que deveria se mudar para lá. Continua caminhando. Para num ponto estratégico. Acende um cigarro. Ela tem seus informantes, não está ali perdendo tempo. Coloca um fone de ouvido para passar o tempo. Antigamente, gostava de ouvir a cobertura esportiva. Hoje acha todas uma bosta! Então ouve um podcast sobre o Coringão, ouve um som. Mas o que ela mais gosta é da Rádio Coringão. Essa sim lhe motiva mais.
Está chegando a hora. Ela tira uma self para ver se a aparência está adequada. Se está parecendo mesmo um machinho.
Algumas dezenas de torcedores carregam o bandeirão da torcida que vai cobrir quase toda a arquibancada norte de Itaquera.
Desde menina, Basília sempre quis participar desse mutirão. Nunca foi permitido a ela. Isso seria tarefa para os homens. Queria muito carregar com suas mãos o mastro que levanta aquela linda bandeira do Corinthians. Um dia, foi encostar em uma das bandeiras e levou um esculacho terrível. Saiu da quadra chorando de tristeza.
- Caralho! Vocês não sabem a minha história, porra! Não sabem quem foi o meu pai! Eu tenho mais correria de Corinthians do que a maior parte de vocês!
Não adiantava, como resposta lhe sugeriram colaborar com as ações sociais ou da feijoada que era servida todos os sábados.
- Vai tomar no cu, caralho! Aqui é Corinthians! Esse aqui é o time da inclusão. Vocês vão ver, um dia a casa vai cair pra vocês!
Ouviu uma gargalhada geral. Saiu chorando de lá e quando chegou em casa olhou para o retrato de seu pai.
- É, seu Ademir. Se você tivesse aqui tenho certeza que iria me defender.
A verdade é que Basília vivia muito só. Além de ter perdido seus pais, não tinha conexão com o restante da família. Aí vem o drama. Por amor ao Corinthians, seu pai havia fugido de casa e perdido contato com a família. O avô de Basília era palmeirense. Nunca perdoou o filho por ser corinthiano. Dizia que seu nome, Ademir, era em homenagem ao Ademir da Guia. Era só fazer as contas, cronologicamente era impossível que o nome fosse uma homenagem. Ademir era de 1957, já o ídolo do Palmeiras começou a jogar no time rival em 1962. Não importava. Aquilo era detestável demais.
Certa vez o pai de Basília ficou vinte dias preso num quarto de castigo, até que viesse a dizer que torcia para os porcos. Em resposta, Ademir fez greve de fome e disse que iria morrer, mas jamais abandonaria o Corinthians. E assim foi, com 15 anos ele saiu de casa.
Basília ficou na espreita. Pronto! Lá estava aquela fila de homens que carregava o bandeirão. Como uma leoa observando a manada de zebras, procurou um ponto fraco no grupo. Um dos moleques apresentava mais cansaço. Ela correu rapidamente com o cigarro na boca.
“Fala truta! ”. Colocou um bom pedaço da bandeira no seu ombro direito e saiu andando, feliz da vida.
Atrás dela, havia um rapaz chamado Danilo. De começo não notou nada de estranho. Na entrada do estádio olhou com mais atenção e viu que o cara na frente dele tinha bunda de mulher.
Falou sozinho, jogando as palavras para o ar. Ela ouviu.
Passando pela revista, aquela muvuca. Haviam as duas filas distintas, para revista masculina e revista feminina. No piloto automático, Basília caminhou rumo a fila feminina. Porém, teve um estalo dentro da mente. Olhou para os lados e percebeu que Danilo lhe observava. Ficou estática. Olhou de novo e ele continuava observando.
Preferiu manter a identidade masculina. A única coisa que ocorreu na mente de Basília foi dar uma sambadinha marota e caminhar para a fila dos homens. Quando chegou sua vez na revista, o policial brutalmente lhe arrancou a touca. Olhou com estranheza para a menina. Apalpou na altura da cintura e entre suas pernas. O policial interrompeu a revista. Basilia deu um sorriso meigo e uma piscadela. Pensou: “lá vem merda”. Mas o policial estranhamente deu um sorriso cúmplice, deu um tapa no ombro e mandou a menina entrar. Ela colocou de novo a touca saiu andando. Teve tempo de ver o policial balançando a cabeça negativamente.
Basília sabia que a melhor atitude seria de fortalecer a luta das minas. Sim, seria a melhor atitude política. Talvez o melhor não fosse se fingir de homem e reforçar aquilo tudo. Mas a atitude dela era mais que política. Basília tinha duas motivações principais. A primeira era de carregar a bandeira do Corinthians, um prazer insuperável que para ela valeria todo o esforço. O segundo era enganar aquele bando de machos.
A estranheza de Danilo só aumentava. Quando a touca foi arrancada percebeu que o cabelo era muito delicado. Basília não usava cabelos longos, mas era um corte bonito. Sem contar que tinha uma nuca incrivelmente sensual.
Normalmente, quando realiza esse tipo de aventuras, Basília vai até o banheiro e desfaz a transformação. Acontece que o jogo já ia começar. No mais, ela estava gostando de estar daquele jeito. Estava absolutamente emocionada com tudo.
O jogo começa. Bandeirão que sobe. “É sangue no olho, é tapa na orelha, é o jogo da vida, o Corinthians não é de brincadeira”. A torcida gritava, a Arena vibrava. Era o coringão em campo. O mundo aparentemente havia parado. Nada mais importava.
Danilo olhou três fileiras abaixo e reconheceu aquela bunda. Coringão no contra-ataque, bola cruzada na área, {é gol} cabeçada, na trave. Basília se vira para trás e grita: “puta que pariu, não grita gol, caralho”.
Ah, maluco. Esse cara é uma mina, pensou. No intervalo ele foi trocar ideia:
- Ow, mano, você é mina? Pensei que fosse homem.
- Faz diferença? Ela remendou.
-Ué, lógico. Pra mim faz.
- Pois é, menino. Pra mim não faz.
- Por que, veio me cobrar que não posso carregar a bandeira?
- Eu mesmo não to nem aí, se quer fazer força pode fazer. Mas na hora que o chicote estrala e o bicho pega vai apanhar junto. Pior, só vai atrapalhar.
- Ah, mano dá licença. Eu não corro de treta não.
- Não corre mas apanha hahahahaha
Ficaram alguns segundos se olhando. Ele tirou suavemente os óculos dela. Pode perceber como Basília era linda. Os traços finos pareciam ter sido desenhados com delicadeza. Contrastava com aquele personagem bruto da arquibancada.
Ela toma os óculos de volta e diz:
- Mano, bora lá que vai começar o segundo tempo. Estádio não é lugar de ficar paquerando. Dá uma puta zica.
- Ah, então vou assistir aqui com você, posso?
- Não pode mudar de lugar que dá zica. Eu também tenho que assistir sozinha porque senão dá zica. Sozinha não, com meu pai.
Em um instante seus olhos enchem de lágrimas. Ela tranca a garganta e aponta para o céu.
- Beleza, vou lá então. Muito prazer, Danilo.
- Basília? Que da hora, mano. Muito louco.
- Tá, tá, vai logo senão vai dar zica.
- Falou! Puta mina supersticiosa.
Quando Danilo voltou para o lugar onde estava saiu um gol dos porcos. Foi automático. Danilo olhou para baixo e viu Basília furiosa olhando bem direto nos seus olhos, quase que jurando o moleque de morte. Danilo pensou que se o Corinthians perdesse ele estaria fodido.
Mas ainda era o Corinthians em campo. A torcida não esmoreceu. Continuou apoiando. Bola na direita, Romero carrega ela no ataque, fez a finta, entrou na grande área, vai chutar, foi derrubado, é pênalti. O juiz aponta para a marca de cal. Partiu Jô para a cobrança, é gol! Fiel vibrando. O estádio parecia tremer. Vai Corinthians! Lance seguinte, Fagner entra em profundidade, deixa a bola escapar um pouco. Quando parecia que a bola escaparia para a linha de fundo, Fagner dá um carrinho e cruza a bola para trás. Surpreendido, o zagueiro do Palmeiras erra a passada. A bola bate em seu calcanhar direito e sobra nos pés de Romarinho que executa. Puta que pariu foi gol! Ahhhh! Gritos e lágrimas! Danilo olhava para o céu e agradecia, quando de repente recebe um abraço voador. Basília, no calor da mais pura emoção o abraçou. Os dois arregalaram os olhos e olhavam bem fundo um para o outro. Era uma simbiose. Sentiram o hálito um do outro bem profundamente. Sentiram um imenso prazer. Não desejariam de forma nenhuma estar em outro lugar.
O jogo acabou e a Fiel saia do estádio em festa. Tinha pizza por dez contos, a molecada comprava, cada um arrancava um pedaço com a mão. Estava uma delícia. Tinha cerveja gelada, faixas decorativas “Caiu em Itaquera já era”. A mais vendida dizia: “O Palmeiras não tem mundial”. Rojões estouravam no céu. Os pais carregavam seus filhos nos ombros. Tudo era mágico. O dólar iria baixar, a inflação cair, os empregos aumentarem. Sim, o otimismo voltava a existir como antigamente. Como é bom ser corinthiano!
Danilo alcançou Basília no caminho, já com duas cervejas nas mãos.
- Ow Corinthians, toma uma comigo?
- Valeu, Corinthians, bora comer um pernil?
- Ce é louco, com certeza.
Ficaram um bom tempo em silêncio. Devoraram o pernil, o vinagrete caia na roupa, as mãos sujas de maionese. Um ajudava o outro a se limpar num gesto já carregado de ternura.
Basília se antecipou:
- Tia, me dá um sanduiche de calabresa com bastante cebola?
- Que dá hora, você come.
- Vai tomar no seu cu hahahahah
- Ah, mano. É da hora. Tinha uma mina que não comia direito. Eu tinha vergonha de pedir mais um lanche e vivia com fome.
- Não me enche o saco que eu peço o terceiro.
- Por mim.... Tia dá mais um pra mim também, mas sem cebola.
- Ihhhh, que história é essa de sem cebola. Puta frescura. Tia, põe cebola no dele, porque se for pra beijar, os dois tem que estar com bafo. Aqui é democracia corinthiana.
Saíram os dois satisfeitos no caminho de volta pra casa. Chegando no Metrô ele perguntou:
- Qual estação você desce?
- Ah, mano. Você não vai me fazer essa pergunta hoje.
- Que medo de sequestro. Ia até te convidar pra tomar uma na minha casa. Faz assim, qual estação você desce.
- Eu deixei meu carro na Penha, mas moro em Jaçanã.
- Com certeza, Adoniran era coringão. Mas dizem que nunca pisou no Jaça aahhahah.
- Então, eu moro na Pompeia.
- Ah, agora eu entendi porque não quer falar o nome da estação. É Palmeiras-Barra Funda hahahah.
- Cala boca, moleque do caralho. Precisa falar o nome dos caras.
- Pior você que mora ao lado do chiqueiro. Não tinha um lugar melhor pra morar?
- O apartamento era herança do meu pai, quer dizer, era herança do meu avô também. Se quiser comprar eu te vendo, garoto. Quer ir lá tomar a última comigo ou tá com medinho?
- Faz assim, descemos aqui na Penha e vamos de carro até aquele bairro porco.
Antes de entrar no apartamento de Basília, Danilo tirou os sapatos. Entrou pisando em ovos. Achou tudo muito bonito, exceto pela vista do estádio rival da sacada do apartamento.
Ela voltou com duas latinhas de cerveja.
Já não vestia mais a roupa de skatista. Voltou para a sala com um short mínimo que revelava suas belíssimas pernas. Manteve ainda a camisa do jogo.
Danilo deu um gole farto na cerveja. Olhou nos olhos dela e mandou para dentro outro gole generoso. Segurou o rosto de Basília e deu um beijo largo, molhado, gélido ainda pela cerveja. Os dois se excitaram instantaneamente.
Basília se afastou por um segundo. Mostrou um baseado para ele e cantou:
- É um raro prazer, sabor de emoção, fumar maconha e torcer pro coringão.
- Mas não abuse que faz mal pro coração (e pro pulmão), respondeu Danilo.
- Mano, se te incomoda eu não acendo, ok?
- Relaxa, eu sou mais ou menos careta. Não sou totalmente.
- Menino? Acho que sou mais velho que você.
Danilo deu um trago breve e atrapalhado no baseado. Tossiu muito. Logo parou.
Basília preferiu parar também.
Voltaram a se beijar. A pele dos dois parecia ferver. Basília durante muito tempo foi mais inibida. O tempo estava lhe ensinando a aproveitar mais e melhor seu próprio corpo e se distanciar da moral para poder aproveitar o sexo da melhor forma. A morte de seus pais foi um divisor de águas. Tudo nessa vida parece ser muito breve. Vivemos num permanente agora ou nunca. A urgência é a tônica da vida. Por fim, não estava mais disposta a prestar conta de suas atitudes para homem nenhum. A vida de Basília era ela com ela mesma.
Foram para o sofá. Seus órgãos sexuais e zonas erógenas estavam interditados por pedaços de pano. Ela se levantou rapidamente:
- Corinthians, não tá dando certo nós dois aqui. Já que vamos continuar eu vou tomar um banho.
Danilo segurou ela pelo braço. Arrancou a camisa do Corinthians que ela vestia. Olhou para seus seios firmes. Eram incrivelmente lindos. Olhou mais uma vez. Por instinto, iria lamber seus mamilos. Olhou novamente para a camisa. Beijou primeiro o distintivo do coringão olhando bem no fundo dos olhos de Basília, sussurrando:
Abriu a boca o tanto quanto podia e se deliciou por alguns instantes.
- É sério, eu estava no estádio. Eu estou fedida. Suei o dia inteiro.
Danilo pegou novamente a camisa em suas mãos. Procurou a manga perto das axilas. Cheirou profundamente. Pegou novamente Basília pelos braços e cheirou com gosto suas axilas. Deu uma leve mordida.
Basília se entregou. Abriu mão da vaidade. Se deixou levar.