quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A morte de Steve Jobs e a crise mundial



Certa vez vi o comentário de um analista sobre a crise americana e a ascensão da economia chinesa.
Ele dizia que os Estados Unidos permaneceriam sendo a grande potência econômica por sua capacidade de criação, enquanto a China estaria sempre satisfeita em copiar. O mundo é de quem cria, dizia ele.
Como se as maiores invenções da humanidade  não tivessem sido criadas na china.
E como se a transformação de uma economia agrária na maior potência industrial do planeta a partir da incorporação da capacidade produtiva dos países ricos que desejavam se livrar dos “transtornos” dos trabalhadores operários não fosse uma criação ou recriação em si mesma.
Mas os EUA acabam de perder o maior empresário dos últimos anos, Steve Jobs.
A morte prematura deste talentoso executivo causa perplexidade, principalmente porque ela ocorre justamente nos piores dias da economia norte-americana desde a crise de 1929.
Se muitos comentam a possível queda da hegemonia estadunidense, a perda do maior nome da criação industrial deste século certamente deixa um vazio ainda maior na maior economia global.
Enquanto muito se discute sobre a crise econômica mundial, fica claro que esta moléstia somente poderá ser superada caso haja uma solução para a crise política nos países ricos.
Steve Jobs foi mais que um empresário, foi um líder que inspirou toda uma geração em um mundo escasso de estadistas.
O governo Bush foi uma tragédia, principalmente para os próprios Estados Unidos. Barack Obama, até então, tem sido uma imensa decepção. Ele e os principais líderes europeus estão perplexos tentando se safar de uma quebradeira geral, mas sem coragem para transformarem as bases da economia neoliberal que deteriora o capitalismo global.
O cenário é horroroso porque a oposição aos atuais governos, em sua grande maioria, é composta por políticos ainda mais conservadores e míopes.
Enquanto Jobs criava, a economia do atlântico norte se organizava (ou se desorganizava) com executivos planilheiros capazes apenas de cambiar papeis, títulos e ações. Levantar mais e mais capitais sem que houvesse uma equivalência deste montante em produção e trabalho. Valia de tudo na farra especulativa. Balanços falsos e muito dinheiro dos governos para cobrir o rombo dos yuppies canalhas e incompetentes.
As criações de Steve Jobs garantiram o crescimento econômico asiático onde as mercadorias eram produzidas. Para Estados Unidos e Europa, os trabalhadores industriais tornaram-se um gasto desnecessário. Trabalhadores reclamam, fazem greve, se aposentam e pedem garantias demais.
Não é difícil entender porque durante a era Jobs foi cavada uma profunda cova pelos financistas neoliberais que torna tão difícil a recuperação nestes países onde  a renda do trabalhador está achatada e o mercado financeiro represa as riquezas.
Num mundo tão opaco de estadistas não é de se surpreender que a perda de um empresário cause tanta comoção mundial.
O criador se foi. Agora restam os pragmáticos especuladores.

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