Nas últimas eleições presidenciais a aliança PSDB-DEM sofreu sua terceira derrota seguida.
Em 2010, a presidenta Dilma era quase desconhecida do eleitorado brasileiro. Mesmo assim, o governador de São Paulo e político já consagrado Jose Serra foi derrotado de maneira retumbante.
Não apenas o candidato Serra foi derrotado, mas principalmente o legado tucano, dos oito anos de FHC.
A população rejeitou as políticas neoliberais, tais como privatizações, desregulação dos direitos trabalhistas e sociais e ausência do Estado na economia, com conseqüente desemprego avassalador.
E não é exagero dizer que o eleitorado, além de ter votado majoritariamente em Dilma (e em Lula), também votou contra este “legado FHC”.
A campanha de Dilma, a todo o momento, lembrou a população sobre os índices econômicos e sociais da época tucana e fez uma comparação com o desempenho de Lula.
Já o PSDB, ao invés de defender o seu projeto político, optou por fazer um esforço gigantesco para incorporar o discurso de desenvolvimento.
Na propaganda, o Serra virou Zé e até a imagem do Lula foi utilizada.
O mesmo já havia ocorrido em 2006, quando Geraldo Alckmin disputou a presidência contra Lula.
O PSDB tentou negar as privatizações, negar o desemprego e negar a submissão ao mercado externo.
O efeito mais imediato da derrota eleitoral foi uma defecção na base política da oposição. Gilberto Kassab, afilhado político de Serra, organizou uma debandada, construindo um partido que pudesse articular uma aliança com o lulismo e garantir a sobrevivência de uma manada de políticos fisiologistas.
Agora, o PSDB procura:
1) Entender devidamente as últimas derrotas eleitorais
2) Alavancar uma candidatura presidencial, sendo necessário para isso, competir com o lulismo, disputando espaço nas camadas mais pobres da sociedade para ao menos sonhar com um sucesso em 2014.
No entanto, o PSDB tem sido infeliz nas suas duas missões primordiais.
Primeiro por não conseguir entender a derrota.
O PSDB, verdadeiramente, acredita que o apoio político de Lula nas classes pobres se deve ao programa Bolsa Família. Narcisistas notórios, os tucanos só conseguem enxergar a realidade segundo sua semelhança, e entendem que o vínculo clientelista da Bolsa Família seria suficiente para fidelizar um eleitorado que teria sido comprado por alguns reais mensais.
Não leva em conta a impressionante identidade política de Lula com o eleitorado mais pobre e o entendimento de que a sensibilidade social do ex-presidente ofereceria uma segurança maior do que os “velhos” políticos que historicamente viraram as costas para suas necessidades.
Subestimar o voto das pessoas mais simples é um erro, porque os eleitores de todos os extratos sociais votam segundo seus interesses diretos.
Ora, a classe média não vota por conta de uma estrada ou um viaduto? Ou mesmo quando pode viajar para o exterior? Já a elite, vota pela garantia da manutenção das regras e preservação do status quo. Não é isso? Então, porque a demanda nos mais pobres são menos legítimas do que a dos ricos?
Já a segunda missão do PSDB, de alavancar uma candidatura capaz de rivalizar com o petismo, sobretudo neste eleitorado mais pobre (e mais populoso), também vai “de vento em proa”.
Aparentemente, a outorga por parte do PSDB para a velha mídia defender o seu projeto político, não tem garantido sucesso eleitoral.
Tampouco, os chefes locais – antigos coronéis – têm conseguido cooptar o seu antigo rebanho, que aprendeu a votar segundo seus interesses.
Como, então, o PSDB poderia demonstrar ser agora um partido adequado para defender os interesses da população mais pobre e a nova classe média, novos protagonistas do “mercado eleitoral”?
Será que os tucanos conseguirão vender a imagem de que são sensíveis às causas dos mais fracos economicamente?
O PSDB governa os dois maiores estados da nação.
Deveria, portanto, implementar modelos de gestão que pudesse atender ao eleitorado de baixa renda e mais dependente da intervenção do Estado.
Mas ao contrário disso, a marca de “partido dos ricos” tende a ficar mais impregnada ainda nas asas tucanas.
A desocupação do Bairro Pinheirinho em São José dos Campos, em favor da massa falida do mega-fraudador Naji Nahas, despejando milhares de famílias de trabalhadores das suas casas, foi uma demonstração clara de desprezo do governo do estado e violência truculenta, justamente contra aqueles que precisariam de assistência e remediação do Estado.
Na capital paulista, cada incêndio inesperado nas favelas é comemorado com um novo lançamento imobiliário. O transporte público retrocedeu e encareceu. A gestão de Kassab é muito boa em proibir e deixou a cidade de São Paulo, cada vez mais cara, fria e distante de seus cidadãos.
Além de tudo, falta para a aliança liderada pelo PSDB vocação e disposição política para governar com a participação popular. Os quadros políticos do partido estão à milhas distantes das comunidades. Ouvir o que a população tem a dizer sobre gestão pública é tarefa impossível para os tucanos tão afeitos à erudição.
Imaginar que a população de baixa renda não entenda nada de política e não vá cobrar a fatura eleitoral desta violência imperdoável no Pinheirinho é um engano lastimável.
O PSDB rotula cada vez mais sua imagem como o “partido dos ricos”.
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