O Estado de São Paulo acordou mais seguro neste domingo.
Sua classe média despertou tranqüila e bem humorada aos saber que seu governador conclamou a Polícia Militar a desocupar o bairro do Pinheirinho em São José dos Campos.
Enquanto tomava seu café da manhã dominical, o establishment paulista ficou satisfeito ao ver os “favelados” saindo de suas casas com a roupa do corpo e o documento de identidade em mãos.
Devidamente humilhados, como devem ficar os criminosos invasores.
Por falar em criminosos, as terras ocupadas são da massa falida do mega fraudador da Bolsa de Valores Naji Nahas. Um emérito cavalheiro da sociedade paulista.
Naji Nahas, Daniel Dantas, e Sociedade Anônima são os heróis do neoliberalismo brasileiro. Estes visionários têm relações fluidas e carnais com a elite política paulista. Não poderiam deixar de ser redimidos pelo cavaleiro templário da Opus Dei de Pindamonhangaba.
E pobre não é gente. São simplesmente pobres. São preguiçosos, vagabundos, passam o tempo todo fazendo filhos indiscriminadamente e o pior: recebem assistência do governo.
A tradicional família paulista se revolta ao saber que o dinheiro de seus impostos é transferido para o pagamento da Bolsa Família. Mas eles parecem não se incomodar ao ver o Estado socorrer os bancos e pagar oceanos de dinheiros aos especuladores.
O grosso dos impostos arrancados da classe média vai para o custeio da farra especulativa por meio do pagamento dos juros da dívida brasileira.
O dinheiro que sobra dos impostos é tragado pelos bancos brasileiros que cobram os maiores juros e taxas do planeta. Nossa classe média não sai do cheque especial.
Mas estranhamente (na verdade é passível de explicação), a classe média incorpora a ideologia política das elites que se alimentam de sua energia vital. Na prática, a classe média paulista defende e protege os seus próprios carrascos.
Mas voltemos aos pobres, porque estes sim são os culpados pelas mazelas nacionais.
Os movimentos por terra e moradia são criminalizados. Desde os primórdios, até hoje em dia, é pecado falar em reforma agrária e distribuição de renda.
Fazem-se campanhas pela paz, pela preservação do meio ambiente, pelo direito dos animais, pela pena de morte, pela honestidade, mas é proibido falar em distribuição de renda.
Como se todas as outras questões não estivessem relacionadas à maneira como o indivíduo se insere na sociedade.
Desocupem o Pinheirinho!
Os pobres que carreguem suas tranqueiras comparadas com o sacrifício de suas vidas para outro canto.
As crianças que levem seus presentinhos da natal para debaixo da ponte.
Deixem que os pobres se equilibrem nas encostas dos morros, nas áreas de manancial, nas áreas de risco.
Logo mais morrerão em algum deslizamento.
Aí a nossa sociedade satisfeita e hipócrita fará campanhas para arrecadar donativos.
O Fantástico fará matérias especiais colocando no ar alguma criança chorando a morte de seus pais soterrados.
O repórter aparentará desterro e deixará escapar algumas lágrimas durante a transmissão.
Apresentadores de auditório demonstrarão interesse e colocarão a culpa nas autoridades.
Pois no final das contas, a culpa será somente da classe política, uma espécie de “boi de piranha” de toda a vagabundagem, crueldade, covardia e cretinice da nossa sociedade.
Neste sentido, os políticos são muito úteis. Eles são o retrato da nossa sociedade. Enquanto eles são os culpados, nossas famílias podem dormir tranqüilas, fingindo que não tem nada com a história.
Estamos às vésperas do aniversário da capital do estado de São Paulo.
Amo esta cidade porque ela é uma extensão de mim mesmo, ou talvez eu seja também uma microscópica extensão de São Paulo.
Por isso mesmo, me causa repulsa saber que faço parte desta degradação generalizada.
Todo mundo preocupado e satisfeito com seus projetos individuais e olhando para o futuro.
Mas atormentados com a memória de pobreza.
As pessoas pensam assim: “Eu era pobre, fiz a lição de casa direitinho e olha como estou agora”.
Sentem ódio do passado.
Por isso sentem tanto desprezo pelos que ainda são pobres.
É preciso eliminá-los urgentemente.
Pobre São Paulo!
"O horror, o horror!", como diria o enlouquecido coronel Kurtz (Marlon Brandon) em Apocalypse Now. E o Cavaleiro Templário da Opus Dei de Pinda já achou a solução para os problemas sociais da terra bandeirante: polícia neles! Meu Deus, como é possível regredir tanto?!
ResponderExcluirSe quer exigir que a lei seja cumprida e os políticos não roubem, e todo esse bla bla bla, faça por onde a sua parte, cumpra a lei. Aquele que rouba um banco, ou aquele que rouba um mercado cometem os mesmos crimes, os motivos podem ser diferentes, mas devem ser tratados da mesma forma. Afinal a constituição esta ae, antes de reclamar da mesma leia e se atualize totalmente para não desrespeitar a mesma.
ResponderExcluirLamentável o ocorrido hoje. Fascistas malditos!
ResponderExcluirTristeza e indignação que me faz lembrar Eldorado dos Carajás, mas havia a desculpa do poder dos coroneis. E aqui?