Curioso ver meus conterrâneos paulistas abismados com a
situação no Maranhão, onde ônibus são incendiados pelo crime organizado e as
instituições estão fragilizadas por conta da “coronelização” implementada pela
família Sarney durante décadas.
Ora, se não me falha a memória, São Paulo que sempre foi
considerada a “Locomotiva do Brasil” está a mais de três décadas sob jugo do
mesmo grupo político que controla as nossas instituições desde 1982.
É bem verdade que Orestes Quércia se elegeu em 1986 para o
Palácio dos Bandeirantes em dissidência com boa parte do campo majoritário do
PMDB, feito que contribuiu decisivamente para a criação do PSDB em 1988.
Porém, tanto no Governo Quércia, como no governo de seu
sucessor Fleury, a atual “tropa de choque” do PSDB de São Paulo estava
devidamente acomodada nas principais funções da burocracia estatal paulista.
O fato é que apesar da perplexidade paulista com o poder de
Sarney no Maranhão, nosso estado está imerso em uma espécie de “coronelismo
yuppie”, desde os anos 80. Ainda que tenham ocorrido breves dissidências no
comando do Palácio dos Bandeirantes, as principais estruturas de governo e de
comando em São Paulo estão blindadas por décadas.
Seja nas Polícias, no Detran, na Dersa, na Sabesp, no Metrô
ou nas empresas privatizadas nas grandes confrarias dos quatrocentões que
borbulharam pedágios neste estado insuportavelmente caro.
Lembra muito aquele Funk dos anos 90 que cantava assim: “Ta dominado,
ta tudo dominado”.
É justo dizer que os governos tucanos foram eleitos
democraticamente, na maioria das vezes com ampla maioria dos votos. Muitas
eleições foram ganhas em primeiro turno, com a força do voto dos paulistas e
também pela incapacidade das oposições apresentarem um projeto alternativo viável,
com um candidato que tivesse reais condições de vitória.
Porém, é descabido enxergar o Maranhão como uma realidade tão
distante dos paulistas. Seja na política e na administração pública, seja nas
distorções sociais.
A elite paulista continua colocando o estado a serviço de
seus interesses corporativos.
O parlamento permanece subserviente ao executivo e entregue gostosamente
à agenda do Palácio dos Bandeirantes.
As oposições, na incapacidade de se articularem como forças
políticas alternativa, compõem acordos sazonais em troca de cargos e alguns
benefícios que deem alguma sobrevida política, já que o debate está cada vez
mais diluído na população cada vez mais despolitizada.
A imprensa dispensa cobertura jornalística desequilibrada.
Os inimigos do PSDB paulista são fuzilados e os grandes escândalos na gestão
estadual recebem tratamento generoso e complacente. Em alguns municípios, os órgãos
de imprensa regionais recebem anúncios generosos das empresas públicas
paulistas. Perseguem as gestões municipais dos adversários políticos dos
tucanos e alavancam as candidaturas dos aliados.
Prefeitos “inimigos” são esmagados pelas empresas públicas
estaduais como a Sabesp que intimida as gestões “não simpáticas”, esburacando
as cidades com obras mal acabadas em período eleitoral e estrangulando financeiramente as prefeituras.
Desde a morte do ex-governador Mário Covas, o partido do
governo estadual disponibilizou apenas dois candidatos para o cardápio do
eleitorado paulista, sejam em eleições para Presidente, Governador ou Prefeito.
São eles: José Serra e Geraldo Alckmin.
Infelizmente, o cenário de São Paulo não é tão diferente do
que ocorre Brasil afora.
No entanto, é importante que a opinião pública paulista
saiba que não estamos tão distantes do Maranhão como imaginam.
Muito embora nós paulistas certas vezes prefiramos nos
enxergar como nova-iorquinos, se olharmos com atenção a absurda má distribuição
das riquezas, veremos que “o Haiti é aqui”, que a Somália é aqui e que o Maranhão
é aqui.
Quanto à queima dos ônibus e a morte de inocentes nos
ataques terroristas do Crime Organizado, é desnecessário dizer que isso virou
rotina em São Paulo de um tempo pra cá.
Lamento frustrar a auto-imagem forjada por nós paulistas. Mas
é só viajar um pouco e enxergar um Brasil que cresce. Mesmo com os problemas
históricos sociais e estruturais. Enquanto isso estamos estagnados e submersos à
paralisia.
Estamos mais para Maranhão do que para Nova Iorque.
Muito bom!
ResponderExcluirExcelente análise!
ResponderExcluirVocê é brilhante.
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