quinta-feira, 19 de junho de 2014

A alegria de não ser VIP e a satisfação de ser esquisito



Desde criança me acompanha a sensação de impertinência. Sempre me senti muito diferente dos outros. Talvez, diferente não seja a palavra. Me sentia esquisito mesmo. Estava distante dos interesses comuns daqueles que me cercavam. Acho que passei a gostar tanto de futebol porque entre outras coisas, esta foi a maneira na qual encontrei uma possibilidade de interação coletiva, que aproximava e diminuía qualquer diferença.


Ao longo da vida, a gente vai se acostumando com a própria esquisitice, e o melhor de tudo, vai colecionando amigos tão impertinentes quanto você. 


Fiquei feliz por conhecer gente tão atormentada como eu. Enfim deixei de me sentir tão solitário.


Gosto de me misturar aos esquisitos. O exercício de convivência com as próprias diferenças, muitas vezes torna as pessoas mais tolerantes.

Sou absolutamente incapaz de gostar das pessoas que se levam muito à sério. 


Sinto pena daqueles que se esforçam demais tentando encontrar o comportamento adequado para pertencer a determinados extratos da sociedade. E pior, que incorpora certos valores esperando ser aceito e fugir dos próprios fantasmas.


Digo isso tudo após assistir a reportagem da TV FOLHA sobre os Vips da Copa. Não sei se vocês assistiram, então vou copiar o link.


Claro que dá uma certa bronca da personalidade violenta e preconceituosa da nossa elite escravocrata.


Porém, mais do que isso, eu sinto pena de algumas pessoas que realmente levam isso à sério.


Nota-se que muitos dos que lá estão não pertencem aos extratos mais ricos da sociedade, mas fazem um esforço danado para serem aceitos. Estão cegamente imbuídos deste propósito. Dão Muita Importância Pessoal neste conceito de Verry Important Person. Sofrem com isso.


Voltando à minha infância e à sensação de impertinência.


Cada vez que eu me deparo com essa demência cega e generalizada, que não se enganem, não está concentrada apenas na "Elite Branca", mas que permeia toda a sociedade, surgindo como um valor a ser incorporado pela classe média e aos pobres que à ela ascendem, eu me sinto incrivelmente bem com minhas próprias esquisitices. Por não me arrastar e sofrer com este desejo estúpido de pertencimento.


E o melhor de tudo! Não compartilhar os mesmos valores sociais e políticos desta gente violenta e estúpida.


Estou muito bem porque lá em casa todos os meus camaradinhas esquisitinhos me respeitam, pois é...

3 comentários:

  1. o que me conforta depois de ver um vídeo como esse é que ainda existem pessoas como a D. Maria Sueli de BH. http://www.otempo.com.br/tv/catadora-de-bh-e-a-copa-no-brasil-1.864712

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  2. Que bom que eu também sempre fui exquisita e deslocada entre boa parte daqueles com quem convivi. Sentia-me diferente e um peixe fora d'água, até encontrar os que eram esquisitos como eu.

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  3. Quando assisti ao vídeo, indicado por uma amiga, que disse ser para "estômagos fortes", achei tudo tão alienígena...
    Outro disse "tem coxinhas de vários sotaques" e eu respondi, "tem até coxinhas que não são da 'elite'", como pessoas que conheço e que têm o mesmo discurso - o que há em comum é a ignorância, por ignorar a realidade ao seu redor, orbitando em volta do próprio umbigo com discursos vazios repletos de senso comum, não a simples falta de educação.
    Tadinha da coxinha, que virou símbolo dessa gente sem valor.
    Eles sim, são os esquisitos.

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