Esta semana conversei com um chato.
Não há quem não tenha se deparado com alguma espécie de
chato.
Talvez nós todos sejamos um pouco chatos. Eu mesmo estou
seguro que sou uma verdadeira mala para um monte de gente.
Algumas pessoas sequer conseguem ocultar a antipatia com
minha existência.
Mas não faz muito sentido falar das próprias chatices. Até
porque o incômodo invariavelmente se manifesta a partir do contato com as
particularidades alheias.
Mas enquanto conversava com este chato especifico, percebi que se tratava de um tipo que talvez não tenha sido até o momento
catalogado pelos estudiosos do assunto.
Trata-se do Chato-Google.
O Chato-Google é aquela pessoa que conversa com você com duas
preocupações permanentes.
A primeira é testar seus conhecimentos no assunto que ele
propõe a discutir. Assunto este que o chato acredita possuir absoluto domínio
sobre a questão.
A segunda preocupação é saber se você está realmente
prestando a devida atenção em seu discurso.
Este tipo de chato já começa a conversa fazendo uma pergunta
meio pegadinha.
Um exemplo qualquer
- Você sabe qual a
origem do nome forró?
O Chato-Google é um sujeito sagaz e experiente. Ele não
permite que o ouvinte se livre rapidamente da conversa, como inicialmente esperava.
Quando ele faz uma pergunta, espera sempre uma resposta. Afinal, seria uma
grande indelicadeza com o chato, o ouvinte virar as costas e sair andando.
Vez por outra, o ouvinte inutilmente tenta dar uma resposta
curta para que o “Chato-Google” comece logo o seu “talk show de curiosidades”.
O Chato-Google repete a pergunta:
- Você sabe?
- O que?
- Qual a origem do
nome forró?
- Sei.
Ferrou tudo. Ele não irá terminar a conversa com um “então...”. Ele vai testar seus
conhecimentos:
- Por quê?
- Por causa do forrobodó.
Quanta ingenuidade. Você realmente achava que o Chato-Google
não se prepararia antes da conversa?
- Errou. Nada disso.
Responde o Chato em seu esperado momento de glória.
Nestes momentos, o ouvinte geralmente decide pela opção de
dizer: “tá bom, então explica”.
Mas alguns desavisados (porém bem informados) embarcam na
viagem do Chato-Google e tentam argumentar:
- Como não, o forrobodó vem da expressão farbodão, muito utilizada na península ibérica.
Por sua vez, ela tem origem no francês faux-bourdon.
Uma batida rítmica monótona.
Pois bem, pode-se imaginar que o Chato-Google deu azar
porque encontrou um especialista no assunto. Mas esta espécie de chato sempre
tem um Plano B.
- Errou de novo –
diz o Chato.
- Hã – responde o ouvinte.
Daí o cara lança mão de um argumento escondido na cartola.
- É porque na época da
guerra, os ingleses ocupavam a costa do nordeste e eles eram convidados vez por
outra para os bailes. Estas festas eram chamadas de For All, ou seja, para
todos. Entendeu?
- Entendi.
- Entendeu o que? –
continua o chato.
- Entendi que o for
all é parecido com a expressão forró.
- Não, é porque forró
vem do for all, entendeu?
- Ah sim!
- Então.
O Chato-Google sempre irá vencer os debates, porque ele
vence o ouvinte pelo tédio.
Mas se o ouvinte quiser aproveitar a deixa para fugir, deve
fazê-lo com astúcia e agilidade. Porque logo o Chato irá segurá-lo pelo
antebraço.
Deus do céu. Como é chato este tipo de Chato que segura a
gente pelo braço.
E aquele que fica cutucando para impedir que você olhe para
os lados e se distraia. Putaquipariu como irrita.
Como eu disse, a segunda preocupação do Chato-Google é ter
certeza que você está devidamente concentrado na palestra que ele, seguramente,
considera muito interessante.
Durante o restante da conversa, o Chato irá alternar considerações
e perguntas surpresas. Este é um recurso extraordinário para garantir sua
atenção absoluta.
Ele fala durante alguns minutos seguidos. De repente ele interrompe:
- Você concorda?
- Lógico. Concordo sim! – responde o ouvinte de bate pronto.
- Com o que? Você
entendeu o que eu quero dizer? – Grande filho da puta esse chato.
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