sexta-feira, 1 de junho de 2012

O Chato-Google





Esta semana conversei com um chato.

Não há quem não tenha se deparado com alguma espécie de chato.

Talvez nós todos sejamos um pouco chatos. Eu mesmo estou seguro que sou uma verdadeira mala para um monte de gente.

Algumas pessoas sequer conseguem ocultar a antipatia com minha existência.

Mas não faz muito sentido falar das próprias chatices. Até porque o incômodo invariavelmente se manifesta a partir do contato com as particularidades alheias.

Mas enquanto conversava com este chato especifico, percebi que se tratava de um tipo que talvez não tenha sido até o momento catalogado pelos estudiosos do assunto.

Trata-se do Chato-Google.

O Chato-Google é aquela pessoa que conversa com você com duas preocupações permanentes.

A primeira é testar seus conhecimentos no assunto que ele propõe a discutir. Assunto este que o chato acredita possuir absoluto domínio sobre a questão.

A segunda preocupação é saber se você está realmente prestando a devida atenção em seu discurso.

Este tipo de chato já começa a conversa fazendo uma pergunta meio pegadinha.



Um exemplo qualquer

- Você sabe qual a origem do nome forró?

O Chato-Google é um sujeito sagaz e experiente. Ele não permite que o ouvinte se livre rapidamente da conversa, como inicialmente esperava. Quando ele faz uma pergunta, espera sempre uma resposta. Afinal, seria uma grande indelicadeza com o chato, o ouvinte virar as costas e sair andando.

Vez por outra, o ouvinte inutilmente tenta dar uma resposta curta para que o “Chato-Google” comece logo o seu “talk show de curiosidades”.

O Chato-Google repete a pergunta:

- Você sabe?

- O que?

- Qual a origem do nome forró?

- Sei.

Ferrou tudo. Ele não irá terminar a conversa com um “então...”. Ele vai testar seus conhecimentos:

- Por quê?

- Por causa do forrobodó.

Quanta ingenuidade. Você realmente achava que o Chato-Google não se prepararia antes da conversa?

- Errou. Nada disso. Responde o Chato em seu esperado momento de glória.

Nestes momentos, o ouvinte geralmente decide pela opção de dizer: “tá bom, então explica”.

Mas alguns desavisados (porém bem informados) embarcam na viagem do Chato-Google e tentam argumentar:

- Como não, o forrobodó vem da expressão farbodão, muito utilizada na península ibérica. Por sua vez, ela tem origem no francês faux-bourdon. Uma batida rítmica monótona.

Pois bem, pode-se imaginar que o Chato-Google deu azar porque encontrou um especialista no assunto. Mas esta espécie de chato sempre tem um Plano B.

- Errou de novo – diz o Chato.

- Hã – responde o ouvinte.

Daí o cara lança mão de um argumento escondido na cartola.

- É porque na época da guerra, os ingleses ocupavam a costa do nordeste e eles eram convidados vez por outra para os bailes. Estas festas eram chamadas de For All, ou seja, para todos. Entendeu?

- Entendi.

- Entendeu o que? – continua o chato.

- Entendi que o for all é parecido com a expressão forró.

- Não, é porque forró vem do for all, entendeu?

- Ah sim!

- Então.

O Chato-Google sempre irá vencer os debates, porque ele vence o ouvinte pelo tédio.

Mas se o ouvinte quiser aproveitar a deixa para fugir, deve fazê-lo com astúcia e agilidade. Porque logo o Chato irá segurá-lo pelo antebraço.

Deus do céu. Como é chato este tipo de Chato que segura a gente pelo braço.

E aquele que fica cutucando para impedir que você olhe para os lados e se distraia. Putaquipariu como irrita.

Como eu disse, a segunda preocupação do Chato-Google é ter certeza que você está devidamente concentrado na palestra que ele, seguramente, considera muito interessante.

Durante o restante da conversa, o Chato irá alternar considerações e perguntas surpresas. Este é um recurso extraordinário para garantir sua atenção absoluta.

Ele fala durante alguns minutos seguidos. De repente ele interrompe:

- Você concorda?

- Lógico. Concordo sim! – responde o ouvinte de bate pronto.

- Com o que? Você entendeu o que eu quero dizer? – Grande filho da puta esse chato.


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