Quando alguém prolonga a vida adulta sem filhos, diz-se que a pessoa ficou para titio ou para titia.
Este conceito carrega a intenção de reduzir a satisfação alheia.
Presume-se que os tios e tias não alcançaram a realização completa, somente experimentada quando se tem os próprios filhos.
Talvez as mães e os pais queiram se convencer a cada noite sem dormir, seja pela dor de barriga ou pela balada do filho, que estão vivenciado a plenitude do amor, reservada somente aos "eleitos".
Como se a alegria de ser tio ou tia fosse algo menor.
Permitam-me discordar dessa afirmação.
Ser tia não é padecer no paraíso. É ter o paraíso como casa de veraneio. É desfrutar o paraíso sempre que se tenha vontade. Passar um delicioso feriado e depois de tanta alegria, poder retornar para a deliciosa monotonia e o tão querido silêncio cotidiano.
Nenhum tio é possessivo. O amor de tio é o amor livre. Sem cobranças desnecessárias. Tanto o tio como o sobrinho dão aquilo que tem para oferecer.
Pode-se amar muitos sobrinhos ao mesmo tempo e de maneiras diferentes. Aquilo que é proibido em outros amores é absolutamente liberado na relação de tios e sobrinhos.
Além dos sobrinhos regulares que são os filhos da irmã ou do irmão, também somos tios dos filhos dos primos, dos filhos dos cunhados, dos filhos dos amigos e até dos moleques que jogam bola na rua.
E os sobrinhos também utilizam este expediente, nos primeiros anos de escola as professoras são todas tias. Desde muito pequenas as crianças aprendem a se aproveitar deste amor vagabundo pelos sobrinhos e quando querem alguma coisa acrescentam uma melodia à voz e clamam: "o tiiiiiio...".
Ao contrário do que ocorre muitas vezes durante paternidade e a maternidade, não se espera que o sobrinho seja como você. Nem melhor que você. Nem que alcance um patamar maior do que o seu. Ama-se um sobrinho pelo o que ele é. Tio não da conselho, troca uma idéia. E muitas vezes o sobrinho escuta mais o tio do que o pai.
Porque o sobrinho também não vê o tio como extensão de si mesmo. Não vê o tio como herói, portanto quase nunca se frustra com ele. Não precisa se afastar do tio para afirmar sua identidade. O sobrinho não espera nada do tio a não ser as palhaçadas, os apertos de bochecha, os passeios inesperados e os presentes que nunca são aquilo que se queria.
O sobrinho vê o tio como humano. Percebe seus vícios e seus defeitos. Se humaniza junto com o tio e aprende a conviver com os outros. O tio também entende as merdas que o sobrinho faz. Algo impossível na relação de pai para filho. Ambos aprendem juntos o valor da tolerância.
O pai é despótico, o tio é um democrata.
Tios e tias. Sobrinhos e sobrinhas. Este amor é tão lindo. Se você não tem nenhum sobrinho ou não tem nenhuma tia, basta adotar. Olhe ao seu redor e escolha. Se você já tem, acumule. Faça o bem, multiplique o amor sem esperar nada em troca. Sem cobranças ou compensações. Igual ao amor entre tios e sobrinhos.
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