sábado, 16 de agosto de 2014

Quem mais perdeu com a morte de Campos? E quem pode ganhar...


O imaginário político está repleto de situações controversas que dão margem para livres interpretações.

Pudera, historicamente o Brasil e a América Latina sofreram com golpes na calada da noite e negociatas escusas e misteriosas.
 
Na periferia do capitalismo global, nosso desenvolvimento esteve inevitavelmente à margem dos grandes interesses hegemônicos.

No caso do desastre com o Governador de Pernambuco o que se vê até o momento são tentativas inescrupulosas de tirar proveito político da tragédia, ou mesmo de destilar ódio e ressentimento de maneira irresponsável e sem medir as consequências de tais atos.

A queda do avião deve ser investigada com rigor para que a sociedade seja devidamente esclarecida.

Torna-se importante neste momento perceber que nenhum dos candidatos concorrentes de Eduardo Campos saem privilegiados com seu desaparecimento.

Campos era um quadro importante para a reorganização do centro da política brasileira.

A direita demonstra extrema dificuldade para compor sua agenda política e encontrar mecanismos de comunicação com a grande massa do eleitorado. Emerge um discurso ressentido e muitas vezes próximo de manifestações preconceituosas. As linhas mais conservadoras chegam muitas vezes a questionar as estruturas democráticas. Consideram-se mais qualificados para decidir sobre o futuro da nação e questionam o poder de voto das classes mais pobres da sociedade por supostamente serem beneficiárias de programas sociais.

Eduardo que era herdeiro do patrimônio político de seu avô, um dos quadros históricos da esquerda brasileira, era um dos maiores expoentes do "lulismo", compondo uma coalizão política que tornou possível a reeleição de Lula em 2006 e a eleição de Dilma em 2010.

Seria muito difícil uma vitória de Campos neste pleito de 2014, porém ele poderia despontar como uma alternativa futura para romper a bipolaridade de PT e PSDB no quadro político de sucessão nacional.

O Governador de Pernambuco tinha dificuldade para ser reconhecido pela grande massa do centro-sul do Brasil. A propaganda na TV poderia ajudá-lo nesta tarefa, porém a sua vice Marina Silva dispõe de um acúmulo eleitoral que pode mudar totalmente o cenário das eleições de outubro.

Dilma sofre um grande prejuízo com a morte de Campos. Segundo as ultimas pesquisas, Dilma caminhava para uma vitória no primeiro turno. 

A candidatura de Aécio tem imensa dificuldade para decolar. O tucano não demonstra energia para ameaçar a primeira colocação de Dilma. 

Durante os últimos anos em que esteve no Senado, Aécio teve dificuldade para ser o maior expoente da oposição, provocando debates e traçando novas possibilidades para o Brasil que pudessem encorajar o eleitorado a optar por uma mudança.

Com a entrada de Marina na disputa, as possibilidades de segundo-turno aumentam consideravelmente. A candidata parte de um patamar muito bom. A memória do eleitorado está fresca da ultima eleição quando Marina saiu consagrada com uma grande votação.
É verdade que no Nordeste, região onde Campos tinha melhor desempenho, Dilma deve herdar boa parte da votação que seria do candidato do PSB (somado ao grande apoio que já tem). O prestígio de Campos se deve em grande parte a sua aliança com o Presidente Lula.

Mas Marina chega com força no Sudeste e no Sul do Brasil. Para se ter uma idéia, na ultima eleição Marina foi a segunda colocada no Rio de Janeiro. Dilma ficou em primeiro. Tinha uma aliança estratégica com o Governador Cabral que em seu segundo mandato derreteu sua popularidade, sendo talvez o político mais atingido com as manifestações de junho do ano passado. Não se sabe se o eleitorado carioca irá apoiar a candidatura de Dilma como fez em 2010. A rejeição ao candidato paulista José Serra também facilitou a aderência à sua candidatura.

É importante perceber que a base estrutural do lulismo que permitiu a eleição de Dilma em 2010 não se mantém para 2014. Cabral que no ultimo pleito teve 70% dos votos derreteu sua popularidade. Eduardo Campos saiu candidato e alavancou Marina Silva na sua região antes de morrer. Os irmãos Gomes sofrem desgaste e os governistas estão divididos na sucessão estadual no Ceará. Jaques Wagner termina seu governo com sérios problemas. 

Marina terá o cartão de visitas de Eduardo Campos no nordeste e somado a isso, já tem seu passaporte carimbado na região sudeste que concentra a maior parte do eleitorado brasileiro.

Dilma encontrará dificuldade num eventual segundo turno com Marina. Aécio tem uma rejeição muito maior e sua eventual eleição representaria uma ameaça de ruptura das garantias conquistadas a partir do Governo Lula.

Marina teria a tarefa de tranqüilizar o eleitorado que deseja mudança, mas não que não vê a gestão de Lula e Dilma com maus olhos. A oposição drástica e cega ao PT já está abrigada na candidatura de Aécio.

Certamente, Dilma prefere enfrentar Aécio no segundo-turno, não Marina. Por isso a presidenta perdeu muito com a morde de Campos.

Aécio também perdeu e neste momento deve estar desesperado. Sua estratégia era polarizar com Dilma. 

Nas próximas pesquisas, Aécio deve ter a companhia incômoda de Marina no segundo lugar. A candidata ganha um espaço que não tinha no nordeste, somado ao contingente que já dispunha em outras regiões.

Aécio estará encurralado. Atacar Dilma ou conter o avanço de Marina?

O mineiro será prensado e corre sério risco de ficar de fora de um cada vez mais provável segundo turno.

Quase ninguém ganhou com a entrada de Marina na disputa. A não ser ela mesma. Ou quem aposta tudo numa ruptura do tabuleiro político e num cenário em que a a candidata eventualmente eleita tenha imensa dificuldade para governar. 

Este sim é um dado muito importante para os que adoram as teorias de conspiração.

Para fazer uma análise eleitoral, antes de mais nada deve-se saber se o momento é de conservação ou de mudança.

Está eleição carrega consigo um desejo de mudar.

Aécio não significa necessariamente mudança, pois a fórmula tucana de governar já é conhecida. Nada de novo. Do mesmo modo (e ao mesmo tempo) representa uma ruptura do pacto político do PT com a inclusão social.

Marina - ainda que não seja - surge como uma candidata fora do jogo político e descolada das velhas fórmulas.

Talvez a tarefa para as campanhas de Dilma e Aécio seja comprovar o contrário. Ou seja, que Marina não está descolada da velha política. Buscar contradições. E que precisaria de experiência para governar o Brasil.
 
A teoria política e as experiências históricas nos ensinam que estes "elementos externos" que surgem para além das forças regulares podem sim ser decisivos. Não significam necessariamente a mudança. As velhas forças tem muita facilidade e competência para se reorganizar. Mas em termos de eleição surgem com apelo e a promessa cínica do "novo". Tudo pode acontecer.



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