Nossas faixas de Gaza são as periferias das grandes cidades brasileiras.
Nossos genocidas não estão apenas nos cargos de poder. Não são somente políticos e militares. Embora estes tenham imensa responsabilidade por nosso holocausto cotidiano.
Temos nossos "sionistas" dirigindo táxis, apresentando telejornais sesacionalistas, berrando com a bíblia debaixo do braço ou vestindo batina. Falando sobre um deus que seria mais ódio do que amor.
Nossos fanáticos estão por aí, pedindo que os pobres sejam esterilizados e as favelas queimadas.
Sentindo-se cheios de certezas absolutas e clamando pela vinda de um Benjamin Netanyahu tupiniquim que nos livre deste inconveniente chamado "direitos humanos".
Estamos repletos de contribuintes praticantes que não desejam que o rico dinheiro de nossos impostos se converta em pratos de arroz, feijão e um pouquinho de carne na mesa de um irmão.
Nossos carrascos de crianças estão por aí plantando droga nas favelas. Fazendo discurso moralista enquanto vendem arma pra policia e pro bandido. Vestidos de Papai Noel, roubando a infância e colocando fuzil no pescoço da molecada.
Nossos tradicionalistas estão nostálgicos dos velhos tempos em que podiam proferir livremente seus insultos racistas e quando um preto sabia o seu lugar na sociedade.
Nossos soldadinhos andam por aí de cabeça raspada, ofendendo os nordestinos e jogando as "bichas" dos viadutos.
Nosso Muro da Lamentação está todo pixado por cidadãos apolíticos, apartidários, nem de direita, nem de esquerda, muito pelo contrário. Todos escrevendo frases fáceis contra a classe política e sonhando com um Capitão Lacerda vestindo toga, que por meio da força seja nosso vingador e coloque todas as coisas no lugar onde "deveriam estar".
Nossos emissários da justiça divina estão nas redes sociais. Nos fóruns de internet destilando ódio e preconceito.
Vidas humanas continuam sendo moídas.
E estamos repletos de "gente de bem" cheios de ressentimento por não termos as condições excepcionais que permitiram um massacre tão contundente e tão apoiado pela opinião pública como o realizado por Israel contra o povo palestino.
Sim, porque não existe injustiça se não há quem se beneficie disso.
Não existe massacre se não houver muita gente satisfeita com uma empreitada tão sangrenta.
Tanto os palestinos de Gaza como os nossos palestinos daqui, não tem terra, não tem propriedade, não tem pátria, não tem justiça, não tem nada.
E para muita gente que se considera santa, é assim que as coisas devem ser. Por todos os séculos e séculos.
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