Ouvi muitas manifestações nas redes sociais de gente dizendo que deixará de fazer caridade e dar esmola. Com raiva dos pobres por terem sido supostamente traídos em sua benevolência e generosidade. Segundo o que eu ouvi, quem "tem necessidade" deveria buscar auxílio do governo, não mais pedir ajuda para as pessoas que já pagam seus impostos.
Particularmente, nunca achei que o conflito de ideias e a transparência de posições, ainda que no limite do absurdo, fossem ruins para o Brasil, como alguns temem. Estamos colocando as cartas na mesa que estavam escondidas em mitos de democracia racial e "brasileiro povo mais generoso e acolhedor do mundo".
Voltando à questão da esmola e da caridade. Creio que esta chamada "divisão da sociedade" (que não considero que seja verdadeira) deixa seus primeiros legados. Não acho ruim que o Estado seja o regulador da reparação social e faça a intermediação desta relação entre indivíduos em condições sociais tão diferentes.
A caridade é um dos gestos mais sublimes do ser humano. Algo que nos torna mais fortes. Aos cristãos, é a atitude que mais nos aproxima dos ensinamentos de Jesus.
Mas a caridade tem que ser algo que sai do coração, não um instrumento de dominação e superioridade de um indivíduo sobre outro.
Existe a esmola que estabelece uma relação oculta entre o senhor e o escravo. O vivo e o zumbi.
Talvez seja este um dos motivos do ódio contra o Bolsa Família. A quebra da relação de dependência e servidão. Dominador é dominado. Quem manda é quem obedece.
Não é de todo ruim quando alguém manda procurar o Estado para dar assistência. É dele o papel de reparar, corrigir distorções, redistribuir riquezas e promover justiça.
Ora, irão dizer, que apenas mudou o "Senhor", mas que as pessoas continuam servindo.
Ainda assim, entendo que seja melhor que haja uma relação com as instituições públicas do que de um indivíduo sobre outro.
Particularmente, continuarei a fazer caridade. E não porque minha candidata ganhou, mas porque isso me faz bem. Mas a verdadeira caridade é você entender a humanidade do outro. Compreender suas motivações e sua história de vida. E para além de tudo isso, lutar por um país mais justo, igual e sem pessoas miseráveis que precisem se submeter umas às outras.
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