O ataque contra o jornal Charlie Hebdo com o assassinato de seus principais colaboradores oprime a todos aqueles que valorizam a liberdade intelectual, o conhecimento e o humanismo como ferramentas para vencer o obscurantismo, o preconceito e a violência dos conservadores radicais que desde sempre violentam a humanidade, tentando impedir os avanços que podem transformar o planeta num lugar melhor para se viver.
A liberdade é ameaçadora, pois coloca em cheque os poderes estabelecidos em interesses invariavelmente perniciosos. Durante séculos as religiões têm sido utilizadas para os piores propósitos de dominação e escravidão. A liberdade e a igualdade são subversivas, pois ofendem as hierarquias estabelecidas, os sistemas de servidão e iluminam a escuridão tão conveniente aos poderosos que se servem de deuses para manter mecanismos de poder.
Porém, a defesa da liberdade e o conhecimento contra o obscurantismo, está longe de ser uma prerrogativa do ocidente sobre o oriente.
A liberdade não é uma via de mão única.
A interferência dos países do Atlântico Norte, sob liderança dos Estados Unidos, no Oriente Médio é desastrosa!
Os tsunamis ocorrem não por mera revolta das ondas do mar, mas pelos abalos sísmicos que ocorrem no fundo do oceano.
O terrorismo não é uma força da natureza, mas uma ferramenta política cada vez mais conveniente para algumas forças, diante de um cenário de dominação hegemônica. A violência torna-se um método para responder de maneira colateral às ofensas impossíveis de serem enfrentadas de maneira frontal. É também uma forma de manifestação que procura romper o silêncio imposto pela versão oficial dos vencedores.
Da mesma forma, os Estados religiosos surgem como alternativas possíveis de mobilização das energias nacionais para enfrentar a fragmentação e a deterioração desencadeadas pelos inimigos externos.
De nada adianta os chefes de Estado dos "países livres" do ocidente expressarem suas condolências e seus pesares, manifestando a preocupação com o atentado às liberdades tão caras à democracia burguesa se por outro lado continuam fomentando o ódio, o genocídio e o desrespeito em outros continentes.
A paz de alguns não pode ser conquistada e mantida às custas da desgraça de outros povos. As "bombas da paz" despejadas contra o povo árabe não vai produzir nada diferente do que gente acostumada a conviver com a violência e a barbárie. O apreço pela liberdade não será disseminado com mais imperialismo. A paz não será alcançada com o comércio e contrabando de armas tão convenientes aos senhores da guerra vestidos elegantemente com seus ternos caros em cargos de decisão nos países ricos. Ninguém aprenderá a amar a liberdade sendo escravo de outros povos.
Lamentável que esta tragédia tenha ocorrido num jornal controverso e irreverente.
Este episódio nos dá conta de que a paz, a liberdade e a democracia que se imagina ter sido conquistada no "mundo livre", na verdade é privilégio de muitos poucos que tem a sorte de viver em algumas ilhas de prosperidade espalhadas em alguns cantos do planeta. Para a imensa maioria da humanidade permanecemos em guerra, sofrendo violência, miséria e injustiças cotidianas. Violência essa, que vez por outra respinga nos bolsões de tranquilidade riqueza.
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