segunda-feira, 7 de maio de 2012
Nas urnas, França e Grécia dizem basta ao neoliberalismo
Há duas décadas os telejornais do mundo celebravam como grande acontecimento histórico a queda do muro de Berlim e a ruína do socialismo no leste europeu.
Sem a mesma pompa e pirotecnia e com incontido desgosto do estabelishment internacional, o mundo assiste agora um acontecimento de proporções gigantescas.
Diante dos olhos ainda céticos da comunidade internacional acompanhamos a queda do telhado neoliberal.
Claro que as estruturas econômicas fincadas pelo deus Mercado continuam fortes.
Não digo aqui de forma nenhuma que caiu hoje o neoliberalismo.
Mas o telhado ruiu. Esgotou.
O modelo baseado na especulação financeira, boicotando a produção e subjugando o trabalho a condição de subalterno descartável não tem mais nada para oferecer a humanidade.
A questão agora não é mais econômica.
O mundo já percebeu que o discurso neoliberal - em que o endividamento dos Estados é o maior responsável pela crise - é um engodo.
Como se os Estados tivessem se endividado para honrar as garantias sociais de seus cidadãos. Como se a economia global tivesse quebrado por proteger os indivíduos.
Em qualquer parte do mundo se sabe que os Estados quebraram por cobrir a farra especulativa dos grandes magnatas do sistema financeiro. E ao contrario do que se diz, os trabalhadores do mundo estão desamparados, endividados, desempregados e sem participação nenhuma no grande bolo com cobertura de trilhões de dolares que foi servido imediatamente após a crise de 2008.
Os países do centro jamais sairão da crise mantendo adesão modelo neoliberal. Nunca.
A questão não é mais econômica.
Agora, a questão é política.
O deus Mercado seqüestrou os Estados.
A grande imprensa internacional é controlada pelas grandes corporações financeiras e fazem seus últimos e derradeiros esforços para controlar corações e mentes, evitando que a grande massa de trabalhadores perceba quem é realmente o verdadeiro inimigo a ser batido.
O único caminho possível são decisivas transformações na hegemonia política dos Estados.
E neste domingo França e Grécia deram passos importantíssimos para virar o jogo.
O neoliberalismo foi derrotado nas urnas de maneira retumbante.
Na Grécia, a coalizão que ajoelhou perante o Mercado e condenou o povo a pagar a conta dos banqueiros com a famosa "metas de austeridade" ficou com menos de 40% dos votos.
A expressão é bonita: "metas de austeridade". Ninguém poderia ser contrario a austeridade. Parece tão serio e moralizador.
Mas na prática, a disciplina exigida ao Estado com relação aos seus gastos em investimentos e custeios das garantias sociais é a salgada conta da orgia financeira dos banqueiros e especuladores.
Hollande foi eleito na França com críticas duras, abertas e diretas aos ricos. Prometeu taxar as grandes fortunas e disse que não é justo a sociedade pagar sozinha pela crise criada pelos magnatas.
Recebeu ataques de toda natureza, mas manteve seu discurso até o fim, prometendo recuperar o mercado interno e transformar as bases da economia.
Sarckozy fez de tudo para se manter no poder e garantir o banquete grátis aos magnatas. Recebeu apoios poderosos e obscuros.
Executou Gadaffi para pilhar o petróleo Líbio.
Seu potencial concorrente, Dominique Strauss Khan se embaraçou numa arapuca surpreendente.
Mesmo assim o marido da Carla Bruni foi derrotado.
Não há mais campanha midiática que de jeito.
Não há mais teoria econômica difundida por almofadinhas servis que satisfaça a sanha de transformação e o desejo de mudança.
Assistam sentados a queda do telhado neoliberal.
Melhor, assistam de pé.
Se possível marchando.
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