segunda-feira, 7 de maio de 2012
O culto a euforia
Quando eu era criança, o "XU XU XU XA XA XA" era o jeito novo de se dançar.
Agora é o tal de "quero tchu e quero tcha tchu tcha tchu tcha..."
Sem contar o "tche tcherere tche tche".
Pelo visto não evoluímos muito, não é?
Não sou adepto da corrente moralista e higienizadora que reivindica uma suposta pureza da música brasileira.
Até porque nossa maior marca é justamente a mistura. E falar em pureza e origem é algo que não da pé.
Também não tenho nada contra a música feita unicamente para diversão. Nem sempre a arte deve atender a um propósito maior.
Mas vocês tem reparado como estamos superficiais?
A aparente euforia das canções e coreografias esconde uma misteriosa tristeza no coração das pessoas.
O negocio é "zuar e beber" e "quem esta feliz dá um grito". Tira o pé do chão.
A felicidade deve ser berrada, bebida e saltada.
As canções não devem necessariamente tratar das grandes questões nacionais, como em outros tempos. Mas hoje, sequer podem esbarrar em dilemas existenciais.
Outro dia eu ouvia uma linda canção que falava das coisas da vida mas fui interrompido com um: "credo, que música triste".
A música não era triste. Ao contrario, era até contemplativa. Mas hoje em dia estamos absolutamente impedidos de sermos introspectivos ou reflexivos.
A questão é a seguinte: tudo o que caminha em direção ao interior do ser humano leva necessariamente à tristeza ou a melancolia.
E o estado de tristeza e melancolia tornou-se o maior dos sacrilégios.
Devemos estar em permanente euforia. Não podemos de forma nenhuma sofrer e devemos contemplar a felicidade a cada segundo, num permanente estado de êxtase.
Seja na academia, com o professor berrando mais alto que o som estridente. Ou seja na igreja, com o padre (ou o pastor) obrigando os fieis a levantarem seus braços e sacudirem seus corpos.
Quando a melancolia insiste em emergir, o negócio é curar a dor trocando de namorado ou mesmo na liquidação da out let mais próxima.
Está difícil encontrar alguns minutos de reflexão nesta sociedade compulsiva e endonista.
Mas sem moralismos.
Cada um vive do jeito que gosta. E ainda bem que os fones de ouvido estão cada vez mais modernos e baratos.
Os psiquiatras e a industria farmacêutica agradecem este verdadeiro culto à euforia.
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Fantástico, amigo, como sempre! BJ
ResponderExcluirTudo que caminha ao interior da alma realmente está triste ou melancólico porque as pessoas se sentem assim! Infelizmente a maioria das pessoas do mundo de hoje é triste, depressiva, violenta. Não há mais amor, carinho nem paz no coração...
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