sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Corinthians desde muleque

- Novembro de 2015

Eu era menino.
Sete ou oito anos.
O Corinthians foi campeão.
Percebi que isso significava muito.
Foi gol do Sócrates.
Um ano antes havia me descoberto corinthiano na apoteose da democracia, em 1982.
Lógico que eu também não sabia o que era democracia, mas já achava lindo.
O Corinthians, de uma maneira muito especial, explica as coisas da vida pra gente.
Ah tá (voltando). Eu era menino e o Corinthians foi campeão em 1983.
Minha mãe havia feito um bolo. Era o "bolo do Corinthians".
O Sócrates fez o gol. Meus pais me incentivaram a gritar na janela do prédio. Sem saber, criaram um monstro.
O Corinthians era campeão! 
Meu pai ficou com sede. Queria tomar uma. 
Desceu comigo até o boteco que havia bem em baixo do prédio onde eu morava.
Logo que saí à rua, percebi que tudo estava diferente. A avenida estava fechada. Segundo minha mãe, a rua era um lugar perigoso, "podia até morrer". Mas naquele dia eu podia andar no meio da avenida onde os carros normalmente passavam apressados.
Todo mundo gritava louco na rua com a camisa do Corinthians.
Meu pai havia me vestido com uma camisa dos Gaviões. Quase ninguém tinha camisa dos Gaviões naquela época, mas meu pai descolou uma pra mim com um grande amigo que havia sido um dos fundadores e presidentes.
Entrei no boteco de mãos dadas com meu pai. A coisa mais legal que pode existir na vida de um homem.
Todos bebiam muito e gritavam:
CORINTHIANS! CORINTHIANS!
Batiam no balcão. Tinham aquela cara de doidos. Um olhar perdido. Não sabia se era pelo Corinthians ou pela bebedeira. Talvez os dois.
Percebi, ainda que moleque, que havia algo diferente. Todos estavam alterados e hipnotizados. Gostei.
Era bacana estar no meio daqueles caras. Sentia que eu era homem também.
Um grandalhão me viu com a camisa dos Gaviões. Gritou na minha cara. Berrou alto olhando fundo nos meus olhos. Me assustei um pouco.
Daí, ele me segurou pelos braços. Me levantou ao alto. Me jogou três ou quatro vezes para o céu.
Meu pai nem ligou. Aqui é Corinthians, moleque... aprende...
Minha vida nunca mais foi a mesma.
Eu era um dos caras. Um dos Corinthianos. Podia falar de igual para igual. Esse lance da experiência de igualdade vivendo o Corinthians rende um livro.
Mas eu estava entre eles. Podia coçar o saco em público. Tava liberado. Era assim mesmo. Sensacional.
Aprendi àquela maneira, que o titulo se comemora na rua. Que a rua é do povo.
Para além da volta olímpica, existe muito mais coisas que não saem em nenhuma reportagem.
CORINTHIANS campeão e eu gosto é da rua.
A rua é do povo. Ocupação.
O Corinthians me ensinou isso também.
O Corinthians me fez. Sou forjado em Corinthians.

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