- Novembro de 2015
Eu era menino.
Sete ou oito anos.
O Corinthians foi campeão.
Percebi que isso significava muito.
Foi gol do Sócrates.
Um ano antes havia me descoberto corinthiano na
apoteose da democracia, em 1982.
Lógico que eu também não sabia o que era
democracia, mas já achava lindo.
O Corinthians, de uma maneira muito especial,
explica as coisas da vida pra gente.
Ah tá (voltando). Eu era menino e o Corinthians foi
campeão em 1983.
Minha mãe havia feito um bolo. Era o "bolo do
Corinthians".
O Sócrates fez o gol. Meus pais me incentivaram a
gritar na janela do prédio. Sem saber, criaram um monstro.
O Corinthians era campeão!
Meu pai ficou com sede. Queria tomar uma.
Desceu comigo até o boteco que havia bem em baixo
do prédio onde eu morava.
Logo que saí à rua, percebi que tudo estava
diferente. A avenida estava fechada. Segundo minha mãe, a rua era um lugar
perigoso, "podia até morrer". Mas naquele dia eu podia andar no meio
da avenida onde os carros normalmente passavam apressados.
Todo mundo gritava louco na rua com a camisa do
Corinthians.
Meu pai havia me vestido com uma camisa dos
Gaviões. Quase ninguém tinha camisa dos Gaviões naquela época, mas meu pai
descolou uma pra mim com um grande amigo que havia sido um dos fundadores e
presidentes.
Entrei no boteco de mãos dadas com meu pai. A coisa
mais legal que pode existir na vida de um homem.
Todos bebiam muito e gritavam:
CORINTHIANS! CORINTHIANS!
Batiam no balcão. Tinham aquela cara de doidos. Um
olhar perdido. Não sabia se era pelo Corinthians ou pela bebedeira. Talvez os
dois.
Percebi, ainda que moleque, que havia algo
diferente. Todos estavam alterados e hipnotizados. Gostei.
Era bacana estar no meio daqueles caras. Sentia que
eu era homem também.
Um grandalhão me viu com a camisa dos Gaviões.
Gritou na minha cara. Berrou alto olhando fundo nos meus olhos. Me assustei um
pouco.
Daí, ele me segurou pelos braços. Me levantou ao
alto. Me jogou três ou quatro vezes para o céu.
Meu pai nem ligou. Aqui é Corinthians, moleque...
aprende...
Minha vida nunca mais foi a mesma.
Eu era um dos caras. Um dos Corinthianos. Podia
falar de igual para igual. Esse lance da experiência de igualdade vivendo o
Corinthians rende um livro.
Mas eu estava entre eles. Podia coçar o saco em
público. Tava liberado. Era assim mesmo. Sensacional.
Aprendi àquela maneira, que o titulo se comemora na
rua. Que a rua é do povo.
Para além da volta olímpica, existe muito mais
coisas que não saem em nenhuma reportagem.
CORINTHIANS campeão e eu gosto é da rua.
A rua é do povo. Ocupação.
O Corinthians me ensinou isso também.
O Corinthians me fez. Sou forjado em Corinthians.
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