- Julho de 2017
Por
onde quer que eu ande, meu nome é Corinthians. Pelas ruas, tanto faz o meu nome
próprio. Mas saibam que isso é um grande motivo de orgulho. Mais legal ainda é
perceber que não sou o único. Em todos os lugares onde vou, encontro homônimos.
Somos milhões de “Corinthians” espalhados pelo mundo. Basta estender o braço
para um aperto de mãos sonoro, estalante, firme e sincero:
-
E aí Corinthians, como é que você está?
-
Eu tô bem Corinthians, e você?
-
Ah Corinthians, sabe como é… na correria! E o Corinthians?
Aí
sim, na terceira pessoa, intuitivamente percebemos que quando ouvimos “o
Corinthians”, refere-se enfim ao Sport Club Corinthians Paulista, do qual
fazemos parte de maneira visceral, orgânica e espiritual.
-
Ah, Corinthians… o coringão tá foda. É só alegria. Corinthians, eu vou nessa
porque o bagulho está descabelado no trampo.
-
Firmeza, Corinthians, eu tenho que ir embora também.
-
Valeu, Corinthians. É nois.
-
É nois!
E
partem cada um numa direção diferente, lutando pelo pão de cada dia, porém
felizes por aquele breve e instantâneo encontro. Sem perceberem, disseram “eu
te amo” um ao outro.
É
uma satisfação incrível. A gente chega à padaria e o rapaz atrás do balcão já
fala bem alto pra todo mundo ouvir: “Fala aí, Corinthians”. Você percebe que
estão todos te olhando. Alguns sorriem de maneira afetiva, outros apenas baixam
lentamente seus olhares:
-
Melhor impossível! – você responde.
-
Coringão tá foda, né?
-
O bagulho ficou louco!
-
É nois! Pão na chapa e uma média?
-
Acho que hoje eu vou de misto quente. Manda também um suco de laranja. Ah, um
café expresso.
E
o lanche vem bonito. Deliciosamente recheado. O suco de laranja vem até com
aquele chorinho num copo separado. Café bem tirado. Os sorrisos afetivos que se
espalhavam pelo local se aproximam de você pra trocar uma ideia sobre as
novidades do Mosqueteiro do Parque São Jorge, ou mesmo para contar as histórias
dos jogos antigos. Os olhares resignados assim permanecem, apenas nos suportam.
E
assim você segue seu dia. Chega na portaria do prédio e logo escuta: “Fala
Corinthians, bom dia”. Entra no escritório e o ambiente se divide. Uma parte
tem liberdade com você, independente da função que exerça. Pode ser diretor ou
faxineiro. Ele sabe que basta chegar à sua mesa e dizer “Corinthians, tudo
bem?”, tocar no seu ramal e sem desnecessárias introduções ou apresentações,
iniciar a conversa dizendo “Oi Corinthians, deixa eu te falar…”. Com outros
não. Faz-se necessário um nível de formalidade maior e atenção aos trâmites,
normas e minúcias dos procedimentos. Fazer o quê? A vida é assim…
E
quando você descobre que a garota dos seus sonhos tem tudo a ver com você? Que
vocês têm mais em comum do que imaginavam?
-
Oi Corinthians, tudo bem? – fala ela numa melodia doce e te abre um sorriso
lindo.
-
Oi Corinthians, meu amor. Você tá cada dia mais linda.
-
Ah, Corinthians, para com isso, você diz isso pra mim e pra torcida inteira.
-
Que nada, meu amor. Você bem sabe que eu sou Fiel desde que nasci.
-
É da Fiel eu sei que você é mesmo.
E
os dois riem satisfeitos.
Mas
quando o amor é pra valer, a coisa fica muito mais séria:
-
Ah, Corinthians. É foda porque eu te amo demais.
-
Também te amo, Corinthians. E vai ser pra sempre. Por toda minha vida.
Passam
uma linda noite juntos e colados, sem se importar com o calor. Se abraçam
afetuosamente. Transpiram mais um pouco. Gostam sinceramente um do outro. “Não
te troco nessa vida por ninguém porque eu te amo, eu te adoro, meu amor”.
Quando enfim estão extasiados e completos, olham um para o outro com um sorriso
safado e dizem juntos “Vai Corinthians!”
-
Amanhã é aniversário da minha mãe.
-
É verdade! Mas tem jogo do Corinthians bem no horário.
-
Ah, então tá bom. A gente passa mais cedo pra dar um beijo e deixa um presente
pra ela.
-
Boa! Fim de semana a gente leva ela pra jantar. Vai ter jogo de novo? É no
sábado ou no domingo?
-
No domingo. Mas a gente a leva pra comer uma feijoada no sábado, certo?
-
Certo.
Mas
não é sempre com carinho que nos chamam por “Corinthians”. Tem os “antis” que
quando a gente aponta na mesma calçada já dá pra ler o pensamento: “puta que
pariu, lá vem o Corinthians, justo hoje. Tá insuportável”. Inevitavelmente você
chega perto dele e ouve em tom nervoso:
-
Fala o Curinthia (sem conseguir disfarçar a fúria que transborda no canto dos
lábios e na testa franzida). Tá feliz, né?
Você
responde sem querer pisar muito no calo do rapaz: “Opa, sempre. Só alegria”.
Vai embora sem prolongar muito a conversa, mas consegue ouvi-lo resmungando em
sussurro: “O cara é legal, mas sai pra lá, Corinthians. Deus que me perdoe! Dá
vontade de sumir!”.
É
como se fizéssemos parte de uma sociedade secreta, mas acontece que somos muito
escancarados. Então não dá pra ser sociedade secreta. Estamos mais para uma
grande irmandade.
Somos
“Os Corinthians”. Dá pra entender porque o apóstrofe do “Corinthian’s team” foi
abolido e numa aportuguesação maravilhosa nos fizemos Corinthians, ao mesmo
tempo plural, singular e com uma possessividade coletiva.
Temos
uma incrível sensação de pertencimento. Temos instrumentos de solidariedade
indestrutíveis. Temos um destino compartilhado. Padecemos das mesmas dores e
também nos emocionamos nas mesmas alegrias.
Compartilhamos
dos mesmos sonhos para o futuro. Sinceramente nos amamos. Gostamos de estar próximos
uns dos outros. É uma grande alegria quando nos reunimos nos dias de jogos,
seja no estádio ou em casa, fazendo churrasco ou dividindo o mesmo sanduíche.
Nosso lanche sempre vai ser dividido em dois, três, quatro ou cinquenta pedaços
se necessário. E num milagre divino o lanche vai alcançar a todos.
A
gente abre a porta da nossa casa para os outros Corinthians. Recebe a todos com
muito amor. E gente também vai na casa dos outros Corinthians e nos sentimos à
vontade. Abrimos a geladeira. Afinal, em todos os cantos da casa está estampado
o nosso nome.
Nunca
quisemos nada do Corinthians, ficamos suficientemente felizes somente por
carregar o seu nome. Mas pare pra pensar, mesmo sem pedir nada, quanta coisa o
Corinthians nos deu? Quantos amigos, irmãos e amores? Quanta felicidade
carregamos em nossas vidas? O Corinthians nos dá a certeza que somos filhos de
Deus.
O
Corinthians nos fez irmãos e por isso carregamos todos o seu nome.
Somos
milhões de xarás.
Muito prazer, nosso nome é Corinthians!
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