- Fevereiro de 2017
Não triunfou a
tentativa de golpe no Corinthians. Ainda bem.
Digo golpe porque sou coerente com minha posição política em âmbito nacional.
Impeachment não pode ser saída para gestão que anda mal. Se assim for, viveremos em permanente e inevitável insegurança institucional. Mergulhamos num ciclo de golpes e contra golpes. Lamento inclusive ao ver muitos corinthianos que tiveram coerência em preservar o clube desse processo traumático, mesmo guardando imensas discordâncias com a gestão do Presidente Roberto de Andrade, não consigam raciocinar da mesma forma na vida republicana. Mas, falemos de Corinthians.
Em torno do projeto do impeachment, se articularam algumas forças tão conservadoras e tão atrasadas que na prática assustou o corinthiano que logo percebeu o que estaria por vir. Vejam que o movimento ficou praticamente restrito ao lado de dentro do Parque São Jorge. Foi incapaz de mobilizar a torcida corintiana que, mesmo descontente, infeliz e extremamente preocupada com o futuro do Corinthians, percebeu que ali se articulavam interesses sazonais pelo poder e que o impeachment não significaria um avanço para o clube.
Mas, de nenhuma forma, o não acolhimento do impeachment pode ser encarado como uma manifestação de apoio à atual gestão. Encarar dessa forma seria o maior dos erros.
O cargo de presidente do Corinthians é necessariamente político, não somente um cargo administrativo. O presidente tem por obrigação ser um articulador e perseguir ser um elemento de unidade não só do associado, mas da comunidade corinthiana. Um presidente tem que falar, comparecer, conversar, estar presente e conectado com tudo que envolve a vida do Corinthians, para além de suas funções burocráticas.
Sempre se falou que a torcida carrega o time nas costas e que o corinthiano não vive de títulos, vive de Corinthians. Isso não deixou de existir. Agora, mais do que nunca, o clube se ressente da ausência do torcedor nos jogos e precisa do apoio da massa para inflamar o time nesse momento de carência e dificuldades.
Mas sejam honestos, com qual torcedor o clube têm se comunicado nos últimos anos? Esse "público-alvo" que persegue experiências de entretenimento, agora tem mais o que fazer.
O corinthiano apaixonado pode sim ir com o time até debaixo d'água, mas precisa acreditar no projeto, precisa ser respeitado, não apenas ser chamado à dar um apoio cego quando isso parece ser conveniente, pois o negócio em que tanta gente cresceu os olhos anda mal.
Resumindo, se o time precisa de apoio, se o estádio agora precisa de público, se a Arena tem que ser paga, antes de mais nada deve-se resolver a questão do acesso e ocupação do estádio. Não é só o tal "naming right" ou camarote e loja.
Se o que se espera agora é o apoio do torcedor, até para a Arena ser sustentável, que não se enxergue a torcida do Corinthians, esse movimento social, expressão cultural da nossa sociedade, como mero consumidor, porque não é.
Tratar o Corinthians como produto e o torcedor como consumidor, além de burro é um desperdício, inclusive se o objetivo é aumentar a arrecadação.
Desconhecer o perfil e o caráter da torcida do Corinthians, é ser incapaz de fazer do Corinthians o "grande negócio" que é o projeto de tanta gente que só enxerga o mundo dessa forma.
Vou dar um exemplo: se o ingresso do jogo para ver o Ronaldo jogar custa quatrocentos reais, então, como consumidor, quanto pagaria para ver o Jô? Se na Libertadores custa os mesmos quatrocentos, quanto eu pagaria, como um "caçador de entretenimento" para ver o jogo contra o Novorizontino?
Se o que orienta a relação do clube com o torcedor é apenas a maximização dos lucros, por que o torcedor faria o inverso?
Quando o ingresso encareceu demais, o público que vai ao estádio já tinha diminuído, mesmo com a Arena lotada. Ninguém percebeu, mas ao jogo iam sempre os mesmos torcedores cadastrados.
Quando o ingresso ficou mais caro, o Corinthiano aprendeu a escolher jogos para ir. Não dava mais para ir em todos. Foi uma década escolhendo jogo. Isso mudou muito a cultura do torcedor.
Uma geração inteira de crianças e jovens não tinha a menor condição de frequentar um estádio. Deixou de ser barato para um adulto levar um menor consigo. O público envelheceu. Fica difícil para um jovem, começando a sua vida, ter grana para ir ao jogo.
Tem a questão da arquitetura do estádio que também não é inclusiva. Nem me refiro às instalações, mas à arquitetura mesmo que separa e afasta o torcedor. Esse é outro assunto. Mas são coisas que teremos s saber lidar daqui por diante.
Mas por que eu dei tanta importância para a questão do torcedor e do acesso ao estádio, entre os principais desafios dessa gestão que quase caiu?
Se a votação no Conselho foi suficiente para evitar o impeachment, para sair da crise que nos encontramos precisaremos de muito mais. Já que tem gente que não gosta de falar de torcida, então digamos que a relação com o consumidor anda muito ruim. É preciso melhorar muito.
Quem vive falando há anos sobre a questão da elitização do futebol, tem sido tratado como fundamentalista, radical, contra-mão da história. Quem valoriza às tradições do clube é tratado como romântico e ingênuo.
Os marketeiros e planilheiros consideram ter o monopólio do conhecimento sobre economia de mercado. Mas quando as coisas vão mal e não saem conforme o planejado, eles tendem a culpar à realidade que não cabe na planilha deles. A planilha está certa, errada é a realidade.
Esse ano se comemora quarenta anos do gol mais importante da história do futebol.
Certamente a patrocinadora vai lançar mais uma camisa colorida. A torcida esperando para vestir a camisa do Basílio, mas certamente nossos gênios do marketing tem outro planejamento. Não veremos nosso time jogar com a camisa dois tradicional. São uns gênios. Sorte das empresas que estão produzindo réplicas e ganhando um bom dinheiro.
Tudo isso pra dizer que nossos capitalistas são uma bosta. Não entendem nada de capitalismo.
Aparentemente, essa segunda parte do meu texto não tem nada a ver com a questão do impeachment.
Porém, espero sinceramente que o Presidente Roberto perceba que é preciso começar de novo em muitas coisas. Se envolver naquilo que é importante na vida do torcedor.
São tantos problemas no Corinthians que daria para escrever um livro.
Inaugurar um novo momento é preciso. Melhorar a comunicação com a torcida e criar um grande pacto para sairmos da atual situação é mais do que necessário.
É preciso mobilizar as energias que existem e resistem no Corinthians para superar esse momento que parece ser ameaçador.
Em suma, a força está dentro de nós. Juntos podemos superar. É preciso mudar essa agenda derrotista, até para que novos negócios e receitas apareçam. Mas o presidente tem que tomar um banho de povo pra poder entender.
Digo golpe porque sou coerente com minha posição política em âmbito nacional.
Impeachment não pode ser saída para gestão que anda mal. Se assim for, viveremos em permanente e inevitável insegurança institucional. Mergulhamos num ciclo de golpes e contra golpes. Lamento inclusive ao ver muitos corinthianos que tiveram coerência em preservar o clube desse processo traumático, mesmo guardando imensas discordâncias com a gestão do Presidente Roberto de Andrade, não consigam raciocinar da mesma forma na vida republicana. Mas, falemos de Corinthians.
Em torno do projeto do impeachment, se articularam algumas forças tão conservadoras e tão atrasadas que na prática assustou o corinthiano que logo percebeu o que estaria por vir. Vejam que o movimento ficou praticamente restrito ao lado de dentro do Parque São Jorge. Foi incapaz de mobilizar a torcida corintiana que, mesmo descontente, infeliz e extremamente preocupada com o futuro do Corinthians, percebeu que ali se articulavam interesses sazonais pelo poder e que o impeachment não significaria um avanço para o clube.
Mas, de nenhuma forma, o não acolhimento do impeachment pode ser encarado como uma manifestação de apoio à atual gestão. Encarar dessa forma seria o maior dos erros.
O cargo de presidente do Corinthians é necessariamente político, não somente um cargo administrativo. O presidente tem por obrigação ser um articulador e perseguir ser um elemento de unidade não só do associado, mas da comunidade corinthiana. Um presidente tem que falar, comparecer, conversar, estar presente e conectado com tudo que envolve a vida do Corinthians, para além de suas funções burocráticas.
Sempre se falou que a torcida carrega o time nas costas e que o corinthiano não vive de títulos, vive de Corinthians. Isso não deixou de existir. Agora, mais do que nunca, o clube se ressente da ausência do torcedor nos jogos e precisa do apoio da massa para inflamar o time nesse momento de carência e dificuldades.
Mas sejam honestos, com qual torcedor o clube têm se comunicado nos últimos anos? Esse "público-alvo" que persegue experiências de entretenimento, agora tem mais o que fazer.
O corinthiano apaixonado pode sim ir com o time até debaixo d'água, mas precisa acreditar no projeto, precisa ser respeitado, não apenas ser chamado à dar um apoio cego quando isso parece ser conveniente, pois o negócio em que tanta gente cresceu os olhos anda mal.
Resumindo, se o time precisa de apoio, se o estádio agora precisa de público, se a Arena tem que ser paga, antes de mais nada deve-se resolver a questão do acesso e ocupação do estádio. Não é só o tal "naming right" ou camarote e loja.
Se o que se espera agora é o apoio do torcedor, até para a Arena ser sustentável, que não se enxergue a torcida do Corinthians, esse movimento social, expressão cultural da nossa sociedade, como mero consumidor, porque não é.
Tratar o Corinthians como produto e o torcedor como consumidor, além de burro é um desperdício, inclusive se o objetivo é aumentar a arrecadação.
Desconhecer o perfil e o caráter da torcida do Corinthians, é ser incapaz de fazer do Corinthians o "grande negócio" que é o projeto de tanta gente que só enxerga o mundo dessa forma.
Vou dar um exemplo: se o ingresso do jogo para ver o Ronaldo jogar custa quatrocentos reais, então, como consumidor, quanto pagaria para ver o Jô? Se na Libertadores custa os mesmos quatrocentos, quanto eu pagaria, como um "caçador de entretenimento" para ver o jogo contra o Novorizontino?
Se o que orienta a relação do clube com o torcedor é apenas a maximização dos lucros, por que o torcedor faria o inverso?
Quando o ingresso encareceu demais, o público que vai ao estádio já tinha diminuído, mesmo com a Arena lotada. Ninguém percebeu, mas ao jogo iam sempre os mesmos torcedores cadastrados.
Quando o ingresso ficou mais caro, o Corinthiano aprendeu a escolher jogos para ir. Não dava mais para ir em todos. Foi uma década escolhendo jogo. Isso mudou muito a cultura do torcedor.
Uma geração inteira de crianças e jovens não tinha a menor condição de frequentar um estádio. Deixou de ser barato para um adulto levar um menor consigo. O público envelheceu. Fica difícil para um jovem, começando a sua vida, ter grana para ir ao jogo.
Tem a questão da arquitetura do estádio que também não é inclusiva. Nem me refiro às instalações, mas à arquitetura mesmo que separa e afasta o torcedor. Esse é outro assunto. Mas são coisas que teremos s saber lidar daqui por diante.
Mas por que eu dei tanta importância para a questão do torcedor e do acesso ao estádio, entre os principais desafios dessa gestão que quase caiu?
Se a votação no Conselho foi suficiente para evitar o impeachment, para sair da crise que nos encontramos precisaremos de muito mais. Já que tem gente que não gosta de falar de torcida, então digamos que a relação com o consumidor anda muito ruim. É preciso melhorar muito.
Quem vive falando há anos sobre a questão da elitização do futebol, tem sido tratado como fundamentalista, radical, contra-mão da história. Quem valoriza às tradições do clube é tratado como romântico e ingênuo.
Os marketeiros e planilheiros consideram ter o monopólio do conhecimento sobre economia de mercado. Mas quando as coisas vão mal e não saem conforme o planejado, eles tendem a culpar à realidade que não cabe na planilha deles. A planilha está certa, errada é a realidade.
Esse ano se comemora quarenta anos do gol mais importante da história do futebol.
Certamente a patrocinadora vai lançar mais uma camisa colorida. A torcida esperando para vestir a camisa do Basílio, mas certamente nossos gênios do marketing tem outro planejamento. Não veremos nosso time jogar com a camisa dois tradicional. São uns gênios. Sorte das empresas que estão produzindo réplicas e ganhando um bom dinheiro.
Tudo isso pra dizer que nossos capitalistas são uma bosta. Não entendem nada de capitalismo.
Aparentemente, essa segunda parte do meu texto não tem nada a ver com a questão do impeachment.
Porém, espero sinceramente que o Presidente Roberto perceba que é preciso começar de novo em muitas coisas. Se envolver naquilo que é importante na vida do torcedor.
São tantos problemas no Corinthians que daria para escrever um livro.
Inaugurar um novo momento é preciso. Melhorar a comunicação com a torcida e criar um grande pacto para sairmos da atual situação é mais do que necessário.
É preciso mobilizar as energias que existem e resistem no Corinthians para superar esse momento que parece ser ameaçador.
Em suma, a força está dentro de nós. Juntos podemos superar. É preciso mudar essa agenda derrotista, até para que novos negócios e receitas apareçam. Mas o presidente tem que tomar um banho de povo pra poder entender.
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