domingo, 29 de abril de 2012

Marta: O blues valeu a pena

Fui obrigado a copiar a coluna da Marta na Folha de ontem.

Um lindo texto em que a prefeita revela suas imensas qualidades e sensibilidade, muitas vezes submersas nas atividades e disputas políticas.



Artigo

O blues valeu a pena

Postado em 28/04/2012 por Equipe Marta
Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo do dia 28/4/2012:
 
O novo CD de Chico Buarque mostra que o artista reencontrou a genialidade.

E a paixão. Ou o amor. Especialmente nas faixas "Essa Pequena" e "Se Eu Soubesse".
 
O amor que prega "peças", pois não tem idade e muito menos escolha.

Cantado lindamente para os cabelos "cor de abóbora" enquanto "o meu é cinza", o poeta se desconcerta diante do inusitado. Chega até a dizer que isso não deveria ser assim. E constata: "Meu tempo é curto, o tempo dela sobra".
 
Interessante pensar a clausura em que muitas vezes nos colocamos. Bom pensar que só ficamos impermeáveis se assim decidirmos. O que permite ter um sinal verde para aquela pessoa e naquele dito momento? O que faz uma pessoa se apaixonar por outra?
 
São muitas as tentativas de explicação. Quando clinicava, eu tinha interesse em entender isso e percebi que algo de muito profundo fazia "aquela" pessoa se apaixonar por Joana, e não por Maria, apesar das explicações dadas serem incompreensíveis -do tipo "adoro o jeito que ela mexe o cabelo, me apaixonei na hora". Ou, como me disse uma paciente numa frase também sem sentido: "Ele tem um cheiro tão limpinho!".
 
A expressão usada não era nem "um cheiro gostoso". Era "limpinho" mesmo. Tratando-se de uma mulher cheirosa e sofisticada, entende-se logo que era como ela conseguia descrever o encantamento, mas não o significado. Qual seria ele então? A que remontaria tal cheiro ou sensação? Que sentimento bom e delicioso ou seguro e carinhoso criava tal descrição do amor? Certamente alguma experiência tão primitiva e marcante quanto profunda e satisfatória.
 
Com a vida, passei a acreditar que os momentos nos quais as paixões ou o amor -isso mesmo, são diferentes, apesar de a paixão poder virar amor- ocorrem virão por inspiração diferente, sem qualquer juízo de qual seria o melhor.
 
Quem nunca viveu o sabor de uma paixão passou na terra sem caminhar nas nuvens. E foi ao inferno.
 
Viver e produzir em função do brilho do olhar do outro, contar minutos para ouvir a voz do ser amado ou esquecer-se do universo real pode ser inesquecível, mas a vida vivida torna-se também um mar de angústia e sofrimento. Porém, como diz Chico na sua música, "sinto que ainda vou penar com essa pequena, mas o blues já valeu a pena".
 
O amor é diferente porque é construído naqueles dias de discussões intermináveis e de beijos profundos. No compreender, ceder e tentar melhorar. No compartilhar o que era, até então, privado. No resguardar individualidade e espaços. No descobrir e explorar em conjunto. O amor tem a vantagem do crescimento e da sensação de plenitude e o bom ônus do investimento diário.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Bresser-Pereira : A Argentina tem razão.

Luiz Carlos Bresser-Pereira Folha de S.Paulo, 23.04.12




Não faz sentido deixar sob controle estrangeiro um setor estratégico para o desenvolvimento do país

A Argentina se colocou novamente sob a mira do Norte, do "bom senso" que emana de Washington e Nova York, e decidiu retomar o controle do Estado sobre a YPF, a grande empresa petroleira do país que estava sob o controle de uma empresa espanhola.

O governo espanhol está indignado, a empresa protesta, ambos juram que tomarão medidas jurídicas para defender seus interesses.

O "Wall Street Journal" afirma que "a decisão vai prejudicar ainda mais a reputação da Argentina junto aos investidores internacionais". Mas, pergunto, o desenvolvimento da Argentina depende dos capitais internacionais, ou são os donos desses capitais que não se conformam quando um país defende seus interesses? E, no caso da indústria petroleira, é razoável que o Estado tenha o controle da principal empresa, ou deve deixar tudo sob o controle de multinacionais?

Em relação à segunda pergunta parece que hoje os países em desenvolvimento têm pouca dúvida. Quase todos trataram de assumir esse controle; na América Latina, todos, exceto a Argentina.

Não faz sentido deixar sob controle de empresa estrangeira um setor estratégico para o desenvolvimento do país como é o petróleo, especialmente quando essa empresa, em vez de reinvestir seus lucros e aumentar a produção, os remetia para a matriz espanhola.

Além disso, já foi o tempo no qual, quando um país decidia nacionalizar a indústria do petróleo, acontecia o que aconteceu no Irã em 1957.

O Reino Unido e a França imediatamente derrubaram o governo democrático que então havia no país e puseram no governo um xá que se pôs imediatamente a serviço das potências imperiais.

Mas o que vai acontecer com a Argentina devido à diminuição dos investimentos das empresas multinacionais? Não é isso um "mal maior"? É isso o que nos dizem todos os dias essas empresas, seus governos, seus economistas e seus jornalistas.

Mas um país como a Argentina, que tem doença holandesa moderada (como a brasileira) não precisa, por definição, de capitais estrangeiros, ou seja, não precisa nem deve ter deficit em conta corrente; se tiver deficit é sinal que não neutralizou adequadamente a sobreapreciação crônica da moeda nacional que tem como uma das causas a doença holandesa.

A melhor prova do que estou afirmando é a China, que cresce com enormes superavits em conta corrente. Mas a Argentina é também um bom exemplo.

Desde que, em 2002, depreciou o câmbio e reestruturou a dívida externa, teve superavits em conta corrente. E, graças a esses superavits, ou seja, a esse câmbio competitivo, cresceu muito mais que o Brasil. Enquanto, entre 2003 e 2011 o PIB brasileiro cresceu 41%, o PIB argentino cresceu 96%.

Os grandes interessados nos investimentos diretos em países em desenvolvimento são as próprias empresas multinacionais. São elas que capturam os mercados internos desses países sem oferecer em contrapartida seus próprios mercados internos.

Para nós, investimentos de empresas multinacionais só interessam quando trazem tecnologia, e a repartem conosco.

Não precisamos de seus capitais que, em vez de aumentarem os investimentos totais, apreciam a moeda local e aumentam o consumo. Interessariam se estivessem destinados à exportação, mas, como isso é raro, eles geralmente constituem apenas uma senhoriagem permanente sobre o mercado interno nacional.

sábado, 21 de abril de 2012

PM de SP é democrática! Dá borrachada em manifestação esquerda e em manifestação de direita também.

A Policia Militar de São  Paulo deu mostras de que trata todas as correntes ideológicas de maneira equânime.

Igualmente violenta, intolerante e estúpida.

Os fascistas se regozijam gostosamente em suas poltronas ao verem o esplendor do cacetete democrático da PM paulista.

Pau que bate em Chico também bate em Francisco.

Borracha que ataca manifestação de esquerda também desmonta manifestação de direita.

Ninguém passa "batido" pela patrulha de choque do Alckmin.

Para a estupidez imperante em Sampa, pouco importa a natureza do protesto ou da mobilização popular.

Maconheiros, bichas, roqueiros, comunistas, favelados, prostitutas, mauricinhos, universitários, torcedores, etc.

Todos são presenteados com os rótulos estúpidos das OTORIDADES militares incapazes de perceber que esta é uma das maiores cidades do mundo, repleta de diferenças e particularidades. Uma cidade que tem vida e, portanto, se movimenta.

Por esses dias fui no show do Roger Waters no Morumbi.

Enquanto as pessoas esperavam o "trânsito baixar" e conversavam tranqüilamente nos corredores do estádio, a policia resolveu mandar todo mundo para casa.

Tentei conversar educadamente com um policial para sair pelo outro portão, onde meu carro estava estacionado.

O PM sacou o cacetete, apontou para mim e gritou: " ÁREA!!!"

Quando digo que conversei educadamente, falo serio, porque já tive experiências muito desagradáveis com nossa policia. Melhor mesmo é nem se comunicar, mas achei que seria possível ser ouvido com educação.

A experiência recomenda que é melhor nem discutir. Virei as costas e "dei área" obedientemente.

Não há o que fazer.

Isso num show que custava 400 reais.

Imagina como foi o lance no Pinheirinho?

Por falar em Pinheirinho, o chefe da operação foi premiado pelo governador Alckmin com o comando geral da PM.

De uma maneira geral, é difícil impedir que um soldado queira gozar de sua micro autoridade sobre os comuns, sendo que esta embutida na sua cabeça um conceito de hierarquia em que se deve aceitar as humilhações que vem de cima e humilhar quem esta em baixo.

Imagine como ficam as coisas quando ele passa a interpretar o comportamento geral das autoridades, com a lógica de repressão pura, simples e estúpida?

As manifestações de hoje são legitimas.

Somos umas das maiores democracias do mundo.

Os manifestantes tinham todo o direito de protestar contra a corrupção e isso ocorreu do pais inteiro.

A maioria dos protestos foram pequenos, mas aconteceram sem grandes problemas Brasil afora.

Mas em São Paulo é diferente.

Aqui a porrada come solta em cima dos "vagabundos".

Essa estupidez torna essa cidade cada vez mais desumana.

PS: o pessoal que estava na Paulista hoje deveria pensar direitinho em que governo eles querem mesmo para o país. Receberam uma bela amostra grátis do jeitão tucano do governar.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cristina redime a Argentina da privataria que desgraçou a nação!



A presidenta da Argentina Cristina Fernandez de Kirchner acaba de anunciar em cadeia de rádio e tevê a nacionalização da YPF (Yacimentos Petrolíferos Fiscales).

Foram nacionalizados 51% das ações da empresa. O porcentual se refere à participação da espanhola Repsol na empresa YPF.

Foram salvaguardadas as ações dos investidores que compraram suas participações nas bolsas de valores.

O Estado argentino detinha apenas 1% das ações da empresa responsável pelo refinamento de 52% do petróleo do país.

A YPF foi privatizada no governo Menem.

A companhia Argentina foi arrematada pela Repsol em 199 pela pechincha de US$ 15 bilhões.

Após a catástrofe do neoliberalismo em 2001, o país chegou a perder 11% de seu PIB no espaço de um ano.

O país que historicamente foi um dos mais ricos do hemisfério sul, iniciou o novo século com mais de 25% da população vivendo praticamente como indigentes.

A recuperação da economia Argentina na última década se deveu principalmente pelo reequilíbrio da balança comercial. O fomento das atividades produtivas possibilitou a reorganização econômica, principalmente nos setores agrícolas e industriais.

Mas o setor petrolífero não acompanhou o dinamismo dos outros setores em que o Estado pode atuar como indutor do desenvolvimento. Principalmente pelo baixo investimento da empresa privatizada.

A sobrevivência da economia Argentina depende diretamente do saldo positivo na balança comercial. No entanto, graças à redução na produção de petróleo pela YPF, a Argentina foi obrigada a dobrar a importação do combustível, chegando no ano passado a incrível marca US$ 9 bilhões.

Com a recuperação econômica Argentina, o consumo de petróleo e gás no período de 2003 a 2010 subiu 38% e 25% respectivamente. No entanto a produção neste mesmo período caiu 12%.

A imprensa Argentina e Espanhola trataram o assunto como uma violenta expropriação.

O presidente espanhol Mariano Rajov prometeu agir com todas as ferramentas possíveis e encontrar apoio na comunidade internacional contra o que para ele é uma agressão não somente contra a Repsol, mas contra a Espanha.

O governo espanhol disse que está rompida as relações de amizade e cordialidade entre os dois países.

O projeto neoliberal foi uma tragédia para os países latino americanos. Milhões de pessoas foram jogadas na miséria e os países passaram mais de uma década com baixíssimo crescimento econômico.

Sofremos durante anos um processo intervencionista. Os países foram constrangidos a abrirem mão de seus projetos de desenvolvimento e subjugarem suas leis e suas economias ao sabor dos interesses das grandes corporações. A promessa era de que ao se engajarem nas práticas da globalização, os países subdesenvolvidos se modernizariam e seriam aceitos na comunidade internacional.

Enfim, estaríamos todos no “clube” das grandes nações e chegaríamos a tão esperada modernidade.

O que se viu foi justamente o inverso.

O aprofundamento das desigualdades se tornou latente, não só internamente em cada país, mas também na geopolítica internacional.

Os “mercados comuns” se mostraram como uma simples extensão da área de comercio dos países ricos, aniquilando os mercados internos dos países em desenvolvimento.

E as fronteiras que estariam mais “flexíveis” ficaram cada dia mais guardadas e ameaçadoras, perseguindo e expulsando os subdesenvolvidos que passaram a ser os culpados pela crescente queda nos índices de emprego nos países ricos.

Na última década, os governos sul americanos começaram a abandonar o modelo neoliberal.

Com maior ou menor profundidade, dependendo das condições políticas internas, os novos presidentes e presidentas buscaram recuperar seus mercados internos, aumentando o poder de consumo das classes pobres e diminuindo as desigualdades sociais.

Mas por ironia do destino, são hoje os países ricos as maiores vítimas do monstro neoliberal que eles mesmos criaram.

A entrega das responsabilidades do Estado para o Mercado (com M maiúsculo) roubou a capacidade produtiva dos países ricos que mergulharam na maior crise das últimas décadas.

Cristina foi corajosa.

Decisão dura e difícil, mas absolutamente necessária e estratégica para o futuro da Argentina.

O discurso neoliberal ruiu.

O que agora agoniza é o resmungo de uma imprensa vendida agarrada nas pernas de seus velhos patrões.

Que especial é esse momento!

No Brasil, Dilma enfrentando os interesses dos bancos, exigindo que tenhamos taxas de juros equivalentes aos padrões internacionais.

E Cristina redimindo o povo argentino pelo grande roubo que foram as privatizações naquele país que desgraçaram a vida de toda uma nação.



terça-feira, 10 de abril de 2012

Marca Telefonica deixa de ser comercializada após década de queixas, panes e apagões.



Em 2010, a Telefonica de Espanha usou de todos os meios possíveis – dentro dos limites éticos (obviamente flexíveis) do capitalismo selvagem e predatório – para adquirir o controle da Vivo.

A Telefonica já era sócia da empresa de telefonia móvel no Brasil. A outra metade pertencia a Portugal Telecom.

Embora a Telefonica tenha persuadido os acionistas da Portugal Telecom para adquirir o controle da Vivo, o governo português dispunha da chamada Golden Share, ou ação de ouro. Isso permitia ao governo de Portugal utilizar seu poder de veto sobre determinadas transações.

A briga foi dura. A União Européia pressionou o governo português por agir contrário à “liberdade de mercado”.

Por fim, a Telefonica conseguiu arrematar a Vivo por 7,5 bilhões de Euros.

A quantia é generosa se comparada com o valor pago em 1998 na privatização da antiga TELESP.

Para garantir o monopólio da telefonia fixa em São Paulo, a Telefonica pagou apenas 5,7 bilhões de Reais.

A Telefonica de Espanha, que se recusou a adotar o acento circunflexo para adequar-se às regras gramaticais da língua portuguesa, em pouco tempo se tornou recordista de queixas, reclamações e processos nos órgãos de proteção ao consumidor em São Paulo.

Para os paulistas, virou coisa comum reclamar de tarifas, taxas e serviços cobrados com abuso, ou mesmo indevidamente, em alguns casos.

Os investimentos necessários para garantir uma infra-estrutura compatível com a importância de São Paulo se mostraram abaixo do necessário.

Ao invés disso, uma gambiarra desgraçada se espalhou pela cidade com o pretexto de aumentar o número de atendimentos.

Os usuários de Internet se habituaram com panes e apagões que levaram a empresa espanhola a ser obrigada pela justiça a suspender a venda do Speedy durante um período.

A Telefonica precisava a todo custo comprar a Vivo. Com o recuo da demanda por telefonia fixa, já que os usuários passaram a optar por pacotes de telefonia móvel, a empresa precisava se reposicionar no mercado paulista, com a venda de pacotes integrados de telefone fixo, celular, Internet e televisão.

Mas não foi difícil para a empresa escolher entre uma das marcas para ser suprimida do mercado.
Agora, somente a marca Vivo será comercializada.

Não é para menos.

Quando o paulista ouve o nome Telefonica, imediatamente recebe um pacote de coisas ruins dentro da mente.

Primeiro sente saudades da TELESP. Depois sente uma bronca danada pelo escândalo que foi a transferência do monopólio da telefonia para as mãos do grupo espanhol e os intermináveis transtornos com todo tipo de azares que recaíram sobre a vida dos paulistas.





sábado, 7 de abril de 2012

Dilma baixa os juros. Pela primeira vez em décadas o Brasil enfrenta Bancos (lá vem porrada)

Desde que assumiu o governo, em janeiro do ano passado, a presidenta Dilma tem demonstrado sua preocupação com o desempenho industrial no Brasil e o crescimento econômico brasileiro.

Ano passado, a presidenta foi obrigada a conter a pressão inflacionária. Uma enxurrada de dólares invadiu o Brasil, atraída pela confiança na economia, índices altos de juros e com o desejo de imigrar os investimentos estancados nos países do centro.

Na prática, o Brasil sofreu indiretamente pela decisão dos governos dos países ricos de salvarem os banqueiros e especuladores em detrimento da massa de trabalhadores que continuaram desempregados e endividados.

O dinheiro do socorro financeiro ficou represado nos bancos e imigrou para investimentos nos países emergentes, como o Brasil.

A tarefa de estancar a alta da inflação custou caro para o crescimento econômico brasileiro que ficou muito abaixo do desejável. O governo cortou investimentos e o país quase estagnou.

Mas de todos os setores econômicos, a indústria foi a mais afetada.

O desenvolvimento da nossa indústria é fundamental para que tenhamos um crescimento robusto e sustentável.

Na indústria são gerados os empregos (formais) com maior potencial de desenvolvimento humano e onde as cadeias produtivas possibilitam um “crescimento em cascata” em diversos setores.

É um contrassenso um país com crescimento e consumo em alta com uma indústria decadente e defasada.

Muitos se dão conta das raízes econômicas da crise na indústria. Alguns têm na ponta da língua: juros altos, legislação tributária, custos trabalhistas.

Mas por que a indústria tem sido negligenciada nas últimas décadas?

Os industriais foram incapazes de construir uma representação política equivalente ao tamanho da importância econômica que o setor representa para o país.

Não se articularam politicamente como o setor financeiro e do agronegócio, por exemplo.

Pelo contrário, durante anos os industriais, por algum motivo muito estranho à simples compreensão, se aliaram ao projeto neoliberal.

O modelo que condenou a indústria a décadas de estagnação não foi enfrentado por nossos industriais que apoiaram o projeto político neoliberal, na maioria das vezes.

É um daqueles casos somente explicáveis à luz da psicologia em que o sequestrado demonstra apego e carinho pelo próprio algoz.


Semana passada a presidenta Dilma recebeu um grupo de industriais em Brasília.

Como parece ser tradicional na história brasileira, coube ao Estado “mobilizar as forças produtivas” e abrir os olhos do país para a necessidade de fortalecimento da indústria.

Nenhuma decisão de governo depende somente da boa vontade do governante.

É necessária a construção de condições políticas para que certas transformações sejam conduzidas.

Desde o governo Lula, o Estado vem fazendo esforços para fortalecer os setores produtivos da burguesia nacional.

Claro, durante anos os Estados nacionais vêm sendo cooptados pelo setor financeiro. Não é à toa que mundo afora os países estão impossibilitados de fortalecer os seus setores produtivos e contrariar os interesses do Mercado (com M maiúsculo).

Esta crise mundial, antes de ser uma crise econômica, é uma crise política.

Pois então.

As políticas do Estado brasileiro nos últimos anos ficaram restritas aos grandes setores produtivos, como o agronegócio e as grandes indústrias. As medidas de estímulo ao emprego e ao crescimento foram “focadas” nos setores automotivos e de eletrodomésticos e eletrônicos.

Mas e a pequena e média empresa?

A redução na taxa de juros nos bancos públicos foi recebida com espanto pelo setor financeiro, e por consequência necessária na velha mídia.

A influência direta da presidenta na baixa dos juros foi tratada como uma “interferência indesejável”. O mercado financeiro recebeu mal a “intromissão” da presidenta em algo que deveria ser regulado pelo próprio mercado.

Foi sem dúvida a medida mais importante da presidenta Dilma, desde que assumiu o governo no ano passado.

E já foi mandado o recado que a taxa SELIC também será pressionada para baixo.

Agora, os bancos privados terão de baixar suas taxas para competir com os bancos públicos.

As empresas e também as pessoas físicas poderão trocar suas dívidas nos bancos privados para os bancos públicos com taxas mais baixas.

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Muita gente que apoiou a eleição da Dilma em 2010 andou irritada com o atual governo.

Considera-se que a presidenta estava muito suscetível à pauta política da imprensa. A verdade é que a imprensa ocupou o espaço que deveria ser ocupado por uma oposição que aparenta ser incapaz de se articular nesse momento.

Os descontentes estão cada vez menos silenciosos.

Dilma como grande republicana, tem sentado em todas as mesas.

Mas não dá para duvidar em que lado da mesa ela está.

A presidenta é séria, firme e concentrada em seus objetivos.

Dilma começou a enfrentar os grandes interesses dos banqueiros.

Não tenham dúvidas que a retaliação está por vir.

Por favor, não deixem Dilma só!