quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Dez anos sem Cassia Eller

Há dez anos morria Cássia Eller.
Prato cheio para a imprensa marrom. A revista Veja com sua sanha moralista colocou uma foto de Cássia para alertar a população sobre o perigo das drogas. Depois se descobriu que ela não havia morrido por overdose como decretara a revista.
Anos antes a revista havia feito o mesmo com Cazuza que chegou a cantar “te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro. Transformam o país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro!”
Mas não era a eventual relação de Cássia Eller com as drogas que apavorava os conservadores. Era a sua irreverência.

A Cássia foi uma das poucas vozes dissonantes na babaquice geral que se tornou a década de 90.
Os anos 90 são o efeito mais bizarro da queda do Muro de Berlim.
A partir de então só existiria um modo de vida possível. Era o fim da história, como chegou a proclamar um economista yuppie.
As pessoas deveriam dar graças ao deus do capital e buscarem dentro de si ferramentas de auto-ajuda para se adequarem à nova realidade. Era necessário exorcizar os próprios fantasmas interiores, sem eleger um inimigo político como causador dos incômodos da vida cotidiana.
Foi a década dos livros de auto-ajuda.
Homens e mulheres deveriam ser eficientes, perseverantes, bem-sucedidos e adequados.
Os anos 90 são a década do “tá dominado, tá tudo dominado!”
E estava mesmo. Tudo dominado!
As meninas deveriam ser iguais à Adriane Galisteu e os rapazes iguais ao Luciano Huck.
Todos deveriam aparentar um sucesso desejável para a capa da revista “Caras”. Onde na verdade só apareciam "Bundas”.
Neste universo hostil e degradante, a atitude e irreverência de Cássia Eller era oxigênio para os nossos pulmões.
Mostrar a língua, mostrar os seios, masturbar-se no palco. Agredir aquela sociedade mentirosa e moralista era necessário.
Cantar de uma maneira que as meninas não deveriam cantar era mais do que um espanto. Era uma agressão.
Colorir os cabelos, comportar-se como uma roqueira, mas ao mesmo tempo cantar os sambas antigos com uma doçura inigualável confundia os almofadinhas que preferiam dançar a “dança da bundinha”.

Pois foi essa a obra de Cássia.
Mais do que uma das mais talentosas cantoras que já existiram neste país (se não a maior), foi a personalidade mais marcante e necessária de uma década triste e depressiva.
Cássia Eller se doou e se gastou em cada acorde e em cada gesto. Cumpriu sua missão brilhantemente.
Ficou pouco tempo na terra, mas ficará para sempre nos nossos corações.
Eu amo a Cássia Eller!



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O Legado de Andrés Sanchez




Andrés Sanchez cumpriu o seu mandato e está deixando esta semana a presidência do Corinthians.
Deveria ser uma notícia comum.

No entanto, o fato de um presidente de clube escolhido por meio de eleições diretas, ter cumprido o seu mandato e deixar seu cargo no prazo regimental, infelizmente, é uma exceção no futebol brasileiro.

A presidência de Andrés Sanchez foi a primeira gestão após uma década e meia da ditadura de Alberto Dualib.

A presidência de Dualib foi trágica para o Corinthians. Embora alguns argumentem que o time conquistou um número elevado de campeonatos durante este período, o mandato despótico de Dualib sufocou todas as instituições políticas do clube, cancelando as eleições e impedindo a participação da torcida corinthiana. O clube virou um balcão de negócios e os interesses econômicos do presidente prejudicaram a modernização e desenvolvimento do Corinthians. Neste período, o clube tinha dono. E nada é mais contrário à vocação corinthiana do que um clube privatizado.

Mas qual seria o grande legado da gestão de Andrés Sanchez como presidente do Corinthians?
Durante a presidência de Andrés, o Corinthians conquistou três títulos importantes. O Paulista e a Copa do Brasil em 2009, além do recente Campeonato Brasileiro de 2011.

A contratação de Ronaldo foi fundamental para o sucesso do projeto. As últimas equipes da “era Dualib” eram compostas por uma maioria de jogadores cafajestes totalmente desconectados das tradições corinthianas. O desrespeito à história e a representação do clube era visível. Alguns eram contratados e saudavam a “Sociedade Esportiva Corinthians” ou o “Corinthians Futebol Clube”. Terrível!

Não era pra menos. Se a própria diretoria do clube não respeitava suas instituições e se configuravam como uma confraria de malfeitores, não seriam os jogadores que valorizariam nossas tradições.

Mas o fato de um dos maiores jogadores da história do futebol mundial escolher o Corinthians para jogar, fazer sucesso e principalmente ganhar dinheiro abriu os olhos de outros jogadores mais incautos. O sucesso do projeto Ronaldo revelou a imbecilidade de outros jogadores de meia tigela que viraram as costas para o clube em nome de uns trocadinhos a mais.

A construção do Centro de Treinamentos, suporte fundamental para a infra-estrutura do futebol, também merece destaque.

A construção do estádio por si só seria motivo de glória para qualquer gestão na história do Corinthians, já que este tema atravessou mais de meio século no cotidiano do clube. Mas a viabilização de Itaquera tem um significado muito mais que especial.

O Corinthians caminha para a modernidade, mas fincado nas suas raízes históricas. Bem no meio da “corinthianada”. Sendo fertilizado pelo solo sagrado da zona leste paulistana.

Mas nenhuma conquista material ou esportiva pode se comparar com a recuperação institucional do clube.
O novo estatuto é a maior obra de Andrés.

Era muito triste ver o Parque São Jorge desabitado e entregue à obscuridade. Andar nas alamedas do clube era tarefa indigesta, já que o time do povo havia se transformado no quintal do Dualib.

O novo estatuto permite eleições transparentes. Temos chapa de situação e de oposição.

Minha posição quanto à gestão de Andrés sempre foi de um apoio crítico.

Não escondo que vou votar no candidato da situação.

Porém, não veria problema algum em ver a oposição vencer o pleito.

A eleição de uma chapa pela maioria dos associados não seria tragédia para ninguém, desde que seja garantida a alternância do cargo e o impedimento de reeleições subseqüentes. Esta é uma regra de ouro que jamais pode ser quebrada.

Havia prometido jamais votar no Andrés Sanchez caso ele modificasse o estatuto que ele mesmo ajudou a aprovar e viabilizasse um terceiro mandato.

Este seria um verdadeiro desastre para o Corinthians.

Logo, considero importante destacar a coerência do presidente em deixar o cargo e preservar as instituições do clube.

Não é difícil de supor, que depois das importantes conquistas do último período, Andrés Sanchez não teria dificuldades para se reeleger por mais um período. Mas esta prática abriria oportunidade para que qualquer outro aventureiro lançasse mão do mesmo expediente no futuro para se perpetuar no poder.

Andrés não é simpático para uma grande parcela da opinião pública. Demonstra impaciência nas entrevistas, comete erros grosseiros de português, provoca os adversários, expõe os seus vícios e não é nada polido.

Mas para o corinthiano ele entrará para a história como o presidente mais vitorioso e realizador, tudo isso sem deixar de resgatar as raízes históricas do corinthianismo.

O Corinthians agora se destaca como a maior arrecadação dos clubes da América do Sul e está pronto para grandes desafios globais, porém, sem abrir mão da sua identidade.

Andrés foi para a CBF.

Sua estratégia é se viabilizar como uma alternativa conservadora para uma eventual e talvez inevitável saída de Ricardo Teixeira.

Não duvido que ele seja bem sucedido.

Andrés tem virtude política, algo decisivo e necessário para quem deseja exercer o poder.

E nenhum diploma poderia garantir esta habilidade muito particular.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Doutor Sócrates. Ficam seus lances e suas idéias.



O jogador de futebol deve estar relegado a um lugar social de submissão. Ele está condenado, para sempre, a ser um personagem folclórico. Esta forma de preconceito manifesta o desejo de reproduzir para a sociedade uma hierarquia mais ampla que permearia todas as esferas da vida social.
Embora os grandes futebolistas tenham uma importância destacada na nossa sociedade, cada vez que um atleta se arrisca em expressar sua opinião sobre algum tema que supere as quatro linhas do gramado é prontamente desqualificado e muitas vezes punido pelos órgãos dirigentes do futebol.
Mesmo quando um jogador de futebol conclui sua carreira com sucesso, salvando raríssimas exceções, exige-se que ele volte a ocupar um lugar subalterno na sociedade. O ex-jogador é chamado apenas para entrevistas que relembram seus momentos de glória e é desejável que ele fale principalmente de seus episódios engraçados e pitorescos, reforçando sua imagem de ignorante e boçal.
Nem mesmo Pelé, maior jogador de todos os tempos, pode expressar tranquilamente seus pensamentos sem que seja prontamente desqualificado por um jornalista qualquer.
Boa parte destes atletas incorpora este papel desejável para a elite. Sequer se dá conta que é conveniente aos poderosos que ele enriqueça. O jogador mergulha num mundo de fantasias, contentando-se com a satisfação de seus projetos individuais e renunciando ao seu potencial de comunicação com a sociedade.
O jogador Sócrates, sempre rebelde, contrariou este “lugar” desejado para os ídolos da bola. O status de doutor não foi adquirido com um simples apelido nos campos de futebol. Poderia até ser, dada sua genialidade, mas Sócrates se fez doutor através de seu mérito e de sua capacidade como homem.
Ao contrário dos milionariozinhos ruins de bola de hoje em dia, absolutamente indiferentes com a vida nacional (sequer se importam com o sentimento da torcida), Sócrates foi o grande mentor da Democracia Corinthiana que não somente transformou as práticas administrativas e hierárquicas dentro do Corinthians, mas foi um movimento que difundiu seus valores, a partir do “time do povo”, para toda a sociedade brasileira que vivia sob uma ditadura decadente, mas que ainda tentava manter-se e impedir o povo brasileiro de fazer suas escolhas.
 Sócrates foi figura muito presente nas manifestações pelas eleições diretas para presidente do Brasil e nunca escondeu sua visão política de esquerda. Tampouco se fez valer de sua condição de ídolo para injuriar seus inimigos políticos, mas manteve a coerência e foi sincero consigo mesmo defendendo sempre seus pontos de vista como socialista.
Agora, o Brasil perde o Doutor Sócrates.
Mas nada pode apagar a sua reluzente biografia. Sua história e sua marca de genialidade.
Ainda que alguns queiram condená-lo a um lugar social dos bêbados insanos e ingênuos, como forma de desqualificar suas posições políticas de esquerda.
Os mais conservadores dirão que seus pontos de vista eram delírios de um bêbado.
A verdade é que para a elite, o jogador de futebol deve permanecer como um alienado, restringindo o seu campo de ação às esferas subalternas da sociedade.
Por isso, o Doutor Sócrates seguirá entre nós.
Permanecerá desestabilizando o status quo.
Assim como fez em vida, utilizará a genialidade dos seus lances para superar as quatro linhas do gramado e fazer do futebol uma representação das demais esferas da vida social.
Que os Brasileiros, como Sócrates, percebam que o futebol cumpre um propósito na sociedade brasileira muito maior do que uma diversão dominical.
Que a genialidade dos craques brasileiros sirva de recurso para desenvolvermos nossa sociedade e possamos construir um país com mais justiça e igualdade, sendo exemplos para o mundo na bola e na vida.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O Anticorinthianismo Ressentido!


Nestes últimos dias de 2011, terríveis forças mobilizam seus corpos, mentes e espíritos contra a concreta possibilidade do quinto título brasileiro do Corinthians.

Se esta mobilização estivesse limitada à urucubaca e olho gordo dos frustrados e ressentidos, bastaria invocarmos a espada de São Jorge para nos proteger do fogo do dragão.

Mas o que está em jogo é algo muito maior do que o futebol.

Desde sua fundação, na primeira década do século passado, o Corinthians provoca absoluto incômodo no establishment da sociedade paulistana.

Quando o futebol era somente um esporte da elite, o surgimento do primeiro clube assumidamente proletário desencadeou uma série de reações adversas dos mais notáveis cavalheiros da aristocracia paulista.

Para o Corinthians se estabelecer, teve de enfrentar as mais perversas forças escravocratas que tentaram de toda forma deixar o time do povo de fora da panela futebolística.

Nenhuma característica é mais marcante no time do Parque São Jorge do que a superação das adversidades. Embora nossa tarefa tenha sido árdua, nos multiplicamos e nos tornamos a maior torcida do país.

Quando o futebol virou um negócio e seu principal ativo se tornou o mercado consumidor, a fiel torcida pôde realizar o que tentou desde o início dos dias corinthianos, sustentar o seu clube e torná-lo grande.

A emancipação do Corinthians, a partir do potencial de consumo da sua torcida, possibilita dois objetivos aparentemente antagônicos: Elevar o Corinthians ao patamar dos grandes clubes de futebol do mundo, mas ao mesmo tempo não distanciá-lo da realidade dos milhões de maloqueiros. Por isso, a construção do nosso estádio justamente em Itaquera foi uma grande conquista. Teremos um dos estádios mais modernos do mundo, mas vamos permanecer no seio da Zona Leste operária. No meio da “corinthianada”.

Enquanto o Corinthians era uma espécie de “coitadinho” do futebol brasileiro (Marginal Tietê s/n), provocava apenas o escárnio dos adversários.

Mas agora, com a República Popular do Corinthians prestes a comemorar seu quinto título brasileiro e com as infinitas possibilidades futuras que se abrem para a nossa nação, o desprezo dos rivais se transformou rapidamente em ódio irracional e preconceito.

A realidade de que o Corinthians é o maior clube do Brasil é absolutamente insuportável para algumas pessoas. Como este crescimento é inaceitável, a ordem é desqualificar as vitórias corinthianas. Os rivais mais odiosos querem corromper a história e desmentir os grandes feitos alvinegros. Qualquer grande título corinthiano tornou-se objeto de difamação e boçalidade.

Os ressentidos se unem agora para evitar a insuportável nova conquista do Corinthians.

Pobres incautos!

Mal sabem vocês que a natureza do nosso poder e da nossa razão de existir está completamente desvinculada da ostentação de troféus alegóricos.

Somos uma república. Temos uma identidade social forjada no sofrimento e na superação.

O Corinthians será campeão no domingo. Vamos enfrentar esta peleja com muita honra e muita garra.

Mas ainda que não aconteça, não seria isso que desintegraria o que temos de mais valioso que é a nossa identidade.

Enquanto os falsos moralistas editam vídeos com supostos “favorecimentos” ao Corinthians, tentando fraudar a realidade e macular nossas vitórias, nossa gente sabe quantos roubos tivemos de enfrentar neste campeonato por conta da pressão que os anticorinthianos exerceram sobre árbitros.

Mas não somos do tipo que reclama da sorte chorando pelos cantos.

Nós vamos sempre à luta e vencemos nosso inimigo usando como único recurso a força dessa gente guerreira.

“Vocês” adotaram este discursinho anticorinthiano ressentido?

Invocam uma razoabilidade servil e oportunista para desqualificar o Corinthians?

Retorcem seus complexos de vira-latas que habitam em suas vísceras ao assistirem a glória do time do povo?

Pois nós não precisamos dessa frescura!

Nós vamos pra cima e enfrentamos a todos com as roupas e as armas de Jorge!

Aqui é Corinthians!




terça-feira, 22 de novembro de 2011

O que está em jogo em Belo Monte?

Estou anexando um video publicado na internet que desconheço a autoria, no entanto propõe discussões importantes sobre o debate em torno da construção da Usina de Belo Monte.

Desde o início me manifesto a favor da construção da usina. Isso não é novidade.

Mas acredito que podemos aproveitar todos os canais disponíveis para debater a questão.

Seja qual for sua posição como brasileiro, o mais importante é que o debate não passe em branco.

Até porque fora do Brasil tem um montão de gente discutindo o futuro da nossa Amazônia.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Corinthians é um destino compartilhado


Quando tudo parecia perdido Liedson apareceu livre na área para cabecear consciente e empatar a partida dificílima contra o Atlético-MG.
Minutos depois uma bola rebatida na defesa corinthiana armou o contra-ataque. Uma oportunidade única durante toda a partida. Faltavam dois minutos para o término do tempo regulamentar.
Emerson arrancou e serviu Adriano. O atacante decadente foi ungido por forças extraordinárias que emanavam das vibrações da nossa gente e colocou a bola no canto esquerdo do goleiro. Foi gol! Puta que pariu foi GOL!!!
Quando digo que o “imperador” é decadente não quero ofender. Longe disso. Qualquer decadência carrega consigo uma poesia. Uma memória boa guardada num lugar chamado história. A decadência é movimento. A decadência é uma estrada rumo à eternidade.
Um imperador sobre-humano, de sangue azul e parcimonioso, coberto de adornos e glórias estaria muito distante da realidade da gente corinthiana.
Já o imperador decadente, festejando como um plebeu, tirando a camisa e deixando suas banhas saltarem alegremente parece muito mais humano. Muito mais verdadeiro. Uma sinergia perfeita com o time do povo.
O que se viu a seguir foi uma catarse coletiva. Pela tevê passavam imagens da fiel se abraçando, chorando, se confraternizando.
Os anti-corinthianos não podiam acreditar no que havia acabado de ocorrer.
Impossível que eles entendam esta solidariedade tão particular.
Vou tentar ajudar. É mais ou menos assim: o corinthiano não torce pelo Corinthians. Ele vive o Corinthians.
E o abraço representa justamente a solidariedade. Um corinthiano sozinho não é ninguém. Ele compartilha com os seus iguais esta experiência existencial.
O Corinthians é uma experiência coletiva. Um destino compartilhado.




sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Globo viaja no avião da Chevron para defender privataria!



O Jornal Nacional da Rede Globo destacou duas principais reportagens na noite do dia 17 de novembro.
A primeira expunha o constrangimento do Ministro do Trabalho Carlos Lupi sendo obrigado a assumir que viajara no avião particular de uma ONG prestadora de serviços do ministério.
A situação seria imoral e incompatível com o interesse público, já que este tipo de “gentileza” poderia interferir em possíveis decisões do ministro que viessem a favorecer esta ONG de “propriedade” de um empresário.
Outra notícia de destaque foi o sobrevôo da Bacia de Campos pela reportagem do JN para “tranqüilizar” a população quanto às dimensões do vazamento de óleo na costa brasileira. Seria uma fatalidade acidental muito inferior ao desastre ocorrido na costa norte-americana meses atrás.
Ao final da matéria, meio envergonhada, Fátima Bernardes admite que para realização da reportagem “tranqüilizadora” a TV Globo utilizou um jatinho oferecido pela própria empresa Chevron, responsável pelo desastre na Bacia de Campos.
Empresas deste porte contratam escritórios de comunicação especializados em gerenciamento de crises. A tarefa destes profissionais é negociar com os meios de comunicação e oferecer explicações que convençam a sociedade sobre a idoneidade da corporação.
Obviamente, a relação comercial entre as partes é um segredo empresarial. Tudo muito protegido em nome da liberdade de imprensa.
Mas a Chevron pode dormir tranqüila quanto ao comportamento da imprensa neste caso do vazamento de óleo na Bacia de Campos. Para defender a privataria e garantir a entrega das riquezas brasileiras para as multinacionais a TV Globo e seus colegas da velha mídia topam qualquer coisa e prometem matérias tênues e silenciosas quanto ao desastre natural que se avizinha.
As privatizações no Brasil ocorreram principalmente na década de 90 e foram defendidas com voracidade pela velha mídia.
A promessa era que o Brasil deixaria de gastar bilhões com empresas estatais deficitárias e sobraria muito dinheiro para o Estado concentrar suas ações e resolver a situação da Saúde e da Educação no país.
Outra promessa era a eficiência. Empresas estatais seriam elefantes brancos e incapazes de gerenciar grandes negócios. Sendo assim, as empresas privadas seriam muito mais eficientes em seus empreendimentos e trariam benefícios para toda a sociedade.
Mais de uma década depois, vemos que o déficit do Brasil com a saúde e a educação permanece grande e o Brasil perdeu a capacidade de orientar os investimentos das estatais privatizadas em benefício da infra-estrutura econômica nacional. Um exemplo disso foi o comportamento da Vale do Rio Doce logo após a crise de 2008. A empresa demitiu milhares de trabalhadores e se negou a investir em produtos de maior benefício para a cadeia produtiva do setor de minérios no Brasil.
A eficiência também não foi o forte destas empresas privatizadas. As empresas de telecomunicações submetem seus clientes à panes quase que diárias nos serviços de internet e as tarifas de telefonia celular estão entre as mais caras do mundo. As empresas de eletricidade obrigam a população a conviver com freqüentes apagões. A precariedade nos investimentos é tanta que no Rio de Janeiro os bueiros explodem sobre a cabeça das pessoas.
Mais de cinqüenta anos depois da campanha do “petróleo é nosso”, os liberais continuam defendendo a entrega do Pré-Sal para os oligopólios privados.
O desastre na Bacia de Campos só vem  reforçar para a população a incompetência e a negligência destas empresas que visam apenas o lucro imediato e pouco investem em segurança e tecnologia, marcas da nossa PETROBRAS.
Ao invés disso, a empresa texana Chevron  parece preferir investir em cortejar a TV Globo para evitar  danos a sua marca já manchada de petróleo e sangue das guerras no Oriente Médio.



terça-feira, 8 de novembro de 2011

Se o Bush fosse paulista, seria eleito governador vitalício!















Sob o silêncio sorridente de São Paulo, a patrulha de choque enfim voltou a ocupar o campus da USP.

Nostálgicos fascistas e servis ressentidos riem satisfeitos ao verem aqueles estudantes vagabundos sendo colocados em seu devido lugar: a cadeia!

Sim, porque na memória desta gente estúpida, acostumada com a chibata, quem é estudante (somente estudante) é à toa e vagabundo.

As gentes de São Paulo foram forjadas no sofrimento das roças, fábricas e na desolação do pau de arara. Nada é mais valorizado nesta cidade triste e infeliz do que os projetos individuais.

Qualquer atitude de mobilização coletiva e de solidariedade ideológica é vista como uma ameaça ao “paulista way of life”.

Há anos, São Paulo é dirigida por uma “velhocracia” infeliz que odeia a vida, por isso odeia também a cultura, o conhecimento, a arte, o ócio e a democracia.

São Paulo odeia as diferenças. Mas também odeia a igualdade.

Se o Bush fosse paulista seria eleito governador vitalício!

A população de São Paulo deve estar orgulhosa de sua Polícia Militar corajosa. Seiscentos valentes policiais prenderam sessenta estudantes desarmados.

Filhinhos de papai maconheiros, dirão os Datenas e Afanasios.

Mas se o nosso glorioso governo do estado decidiu ser rigoroso contra o consumo de entorpecentes, porque  não “invade” também a cracolândia para oferecer algum tipo de alternativa para aqueles zumbis mortos vivos que agonizam em via pública.

Enquanto a polícia vive o seu “Dia D” para ocupar a Cidade Universitária, centenas de bairros vivem reféns da violência urbana, sem direito a policiamento ostensivo.

E não são somente os bairros pobres que vivem com medo da violência. O Morumbi, mais rico de todos, tem sua população seqüestrada por bandidos de verdade. Os moradores se manifestam, mas a polícia de São Paulo, no seu glorioso dia 08 de Novembro de 2011 decidiu enviar um contingente de guerra para defender a ordem pública destes moleques subversivos.

Ouvi diferentes argumentos, contra e a favor da ocupação da reitoria da USP. Confesso que a maioria dos que eu ouvi eram contra. Mas não importa. Estes garotos e garotas hoje se tornam heróis nesta cidade dos forrozeiros universitários, sertanejos universitários que se entretém fazendo “rodeios de gordas” e outros estúpidos preconceituosos que sequer conseguem olhar além de seus inundados umbigos.

Quem comemora a ocupação da USP pela polícia de certo não compreende o constrangimento que foi a presença do aparato repressivo do Estado nos anos de Ditadura Militar, perseguindo e torturando estudantes e professores que ameaçassem o regime com sua produção intelectual.

E quer saber? Eu acho que a ditadura foi bem sucedida em sua missão. Os militares conseguiram emburrecer ainda mais o Brasil. Estamos cada dia mais estúpidos e bestas.

A presença da Polícia Militar na USP não vai ajudar em nada o problema da violência. Simplesmente porque ela é incapaz de resolver a questão em parte alguma desta cidade carente e mal amada.




sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A história não mais se repete. Nem como farsa!



Em 18 Brumário de Luiz Bonaparte, Karl Marx ironiza as pretensões imperiais do sobrinho de Napoleão na França do Século XIX.
Ficou célebre a frase “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.
Ricardo Alfonsín, filho de Raul Alfonsín (presidente da Argentina 1983-1988) vestiu-se convenientemente como o representante das classes médias urbanas contra o “totalitarismo” kirchnerista. O oportunismo  de Alfonsín que tentava apanhar o rabo do cometa da grande mídia local custou caro ao candidato.
Para compor a aliança anti-kirchnerismo, Ricardo Alfonsín percebeu tardiamente que estava no colo da direita reacionária e num vácuo ideológico irreparável.
O pensamento político conservador na América Latina historicamente “importou” a agenda política internacional. A partir do século XX, a direita internacional se organizou em torno de duas plataformas. A primeira era combater o comunismo. A segunda foi a de estender o livre mercado e flexibilizar as legislações para criar um “ambiente de negócios” favoráveis para os investidores globais.
Com o fim da Guerra Fria, o comunismo deixou de ser uma ameaça para o status quo ocidental.
Todas as energias de guerra foram concentradas em exportar a democracia – entenda-se, livrar o mundo de governos que não respeitam as “regras globais” do livre mercado.
Mas não é que em 2008 uma crise global sem precedentes coloca em cheque toda a matriz do pensamento neoliberal e rapidamente as pessoas percebem a grande mentira contada de um mercado que se auto-regula?
A direita latino-americana não tem mais um inimigo pra chamar de seu. O medo do comunismo plantado nos corações e mentes das pessoas virou um mero pastiche.
E o neoliberalismo, vendido mentirosamente como promessa de superação do nosso atraso no desenvolvimento, apresenta sua face trágica.
A crise neoliberal que quase destruiu as economias da América Latina nos anos 90, agora promete  deteriorar o “primeiro mundo”.
A recuperação econômica do nosso continente se deu quando o campo político liberal foi derrotado nas urnas e os Estados puderam aumentar sua participação na economia, visando a retomada do desenvolvimento econômico, combatendo o desemprego e diminuindo as desigualdades sociais.
Não foi a toa, portanto, que Alfonsín se viu encolhido na direita, saindo da eleição com um tamanho político bem menor do que antes.
O filho de Raul Alfonsín não confundiu o eleitorado com um discurso conciliador ao gosto do patrão.
Serve de aviso para o neto do grande Tancredo Neves. Se Aécio quiser mesmo ser presidente do Brasil deverá apresentar um projeto nacional. Se aliar a setores progressistas e não ser magnetizado para a direitona.
Caso insista na demagogia moralizadora inquisitória terá o mesmo fim de Alfonsín.
A história não mais se repete. Nem como farsa.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A estratégia da oligarquia é dividir o lulismo

Meses atrás, escrevi um post dizendo que a estratégia da oligarquia é dividir o lulismo.
E a investida continua.
A saída de Orlando Silva do PCdoB demonstra claramente que os ministros mutilados pela grande mídia que perderam seus cargos tem uma característica em comum. Compõem a base de apoio lulista. São filiados a partidos integrantes da aliança política que têm o presidente Lula como grande fiador da articulação.
As investidas têm o claro objetivo de constranger o governo Dilma – que se esforça para atender as expectativas de uma abstração chamada opinião pública – em suas relações políticas com a base de apoio do governo Lula.
A oligarquia tem o objetivo momentâneo de limitar o poder de transformação do governo Dilma, ou ao menos torná-lo o mais negociável possível.
 Lula concluiu o seu segundo mandato com a maior popularidade da história, liderando um governo de retomada do desenvolvimento econômico, num processo de crise e desgaste do discurso neoliberal pós crise econômica de 2008. O interesse inicial, não era o de aniquilar o governo Dilma, mas o de diminuir sua capacidade de modificar as bases da organização econômica brasileira, dada a vocação desenvolvimentista da “mãe do PAC” e atual presidenta.
Como a oposição está esfacelada e em evidente crise de articulação, reflexo da derrota eleitoral de Serra e principalmente pela derrota do proclamado “legado FHC”, a imprensa mais uma vez assumiu a condição de partido político e agora pretende dar seus próximos passos.
Retomando:
A oligarquia oferecerá duas possibilidades para a presidenta Dilma.
O primeiro caminho é enganosamente confortável. Caso Dilma se afaste do lulismo, a imprensa oferecerá flores e afago. Fará de conta que o projeto de Dilma está em convergência com os interesses dos velhos donos do Brasil. Louvará a independência de Dilma e elogiará sua conduta. Mas tão logo o dilmismo se divorcie do lulismo, na primeira esquina, ela será impiedosamente massacrada para dar lugar a um novo projeto genuinamente alinhado com o já famoso PIG (partido da imprensa golpista).
O segundo caminho apresentado à Dilma será inicialmente mais duro e conflituoso. Dilma sustenta seu poder na população que a elegeu. Finca-se no terreno duro, porém fértil do lulismo e leva em frente o projeto de desenvolver o Brasil, combatendo as desigualdades. Serão dias difíceis, mas o povo brasileiro estará ao seu lado e as mídias alternativas estão prontas para apoiar este momento histórico do Brasil. Será a única maneira de Dilma se proteger verdadeiramente e fazer um governo vitorioso.
Cada gesto de independência e de personalidade de Dilma vem recebendo um caráter de ruptura com Lula.
Neste especial momento é recomendável calma e reflexão aos setores progressistas.
È necessário confiar na presidenta Dilma. Não devemos incorporar as intrigas plantadas por aqueles que morrem de medo de ver este Brasil mudando. Com alguns erros históricos, é verdade, mas caminhando em direção da justiça social, tentando fazer a vida da nossa gente mais feliz.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Vitória de Cristina Kirchner foi muito mais que econômica. Foi política.



A vitória acachapante de Cristina Fernandez de Kirchner para um segundo mandato como presidenta da Argentina deixou os setores conservadores da América do Sul notadamente perplexos.
A imprensa noticiou a vitória de Cristina como conseqüência direta dos resultados econômicos favoráveis dos últimos anos.
Embora seja verdade que a economia argentina apresente uma melhora sensível, sobretudo com baixos índices de desemprego, estes resultados não são meros acasos alcançados de maneira abstrata. Na verdade, são frutos de escolhas políticas bem sucedidas e de disputas vencidas pelos Kirchners.
Os liberais planilheiros têm por princípio reduzir os fatos sociais ao tamanho de sua compreensão.
Ou seja, a opção política, a mobilização social, a ideologia, o nacionalismo e a identificação partidária, para os ideólogos da cartilha liberal, são elementos não quantificáveis e irracionalizáveis. Portanto, quase que não existentes.
Para isso foi criado o conceito de populismo. Esta categoria se tornou conveniente para qualificarem fenômenos políticos eleitorais escolhidos pelas massas sem o crivo da razoabilidade elitista.
Os países ricos vivem a maior crise econômica dos últimos anos. Mas antes de qualquer resultado econômico, esta é uma crise política.
Vive-se uma lacuna histórica de grandes estadistas.
Os países ricos não podem superar suas crises porque seus líderes se mostram incapazes de contrariar os interesses dos grandes financistas para salvar seus capitalismos.
Enquanto a Europa sofre com uma crise muito parecida com a que vitimou os países latino-americanos nos anos 90 (estágio avançado de degradação do neoliberalismo) a Argentina surge como um exemplo de superação e recuperação, principalmente pelas escolhas políticas feitas pelos Kirchners.
Em 2001, a Argentina havia perdido 12% de seu PIB em apenas um ano. 25% da população considerada indigente.
O país foi à bancarrota depois de dez anos de um governo neoliberal ortodoxo. A profunda crise econômica desencadeou uma crise de representação política. A população saiu às ruas com uma palavra de ordem: que se vayan todos!
Mas o Kirchnerismo soube capturar de maneira eficaz o sentimento popular e, vencendo as eleições de 2003, mobilizou a sociedade (em especial os movimentos sociais) como sustentação de apoio político para as reformas na estrutura econômica e social.
Foi uma aposta política arriscada. A crise institucional ocasionada pela renúncia e fuga do ex-presidente De La Rúa exigia que a Argentina reforçasse a autoridade presidencial. Nestor e Cristina Kirchner mudaram os rumos da política econômica suspendendo o pagamento da dívida, desvalorizando o câmbio e reestruturando a atividade produtiva para alcançar o equilíbrio na balança comercial, fazendo com que o incremento das exportações fosse a mola de propulsão da recuperação do mercado interno. A parceria estratégica com o Brasil foi central para os resultados.
Internamente, os governos dos Kirchners enfrentaram a resistência desleal e violenta da imprensa local que articulava os setores mais conservadores da sociedade. Cristina sofreu uma violência muito maior que a de Nestor. O preconceito e a conspiração foram as armas de seus inimigos. Até mesmo a defecção de seu vice-presidente da república, no momento mais delicado de seu governo (crise com os ruralistas), a presidenta Cristina enfrentou com valentia.
Os Kirchners dobraram a aposta e aprovaram uma nova lei de mídia que buscava regular o setor.
A reversão do modelo neoliberal implantado na América do Sul como uma agenda econômica estabelecida pelos países do centro, mais o enfrentamento político aberto com a grande mídia (nem de perto comparável com o caso brasileiro) levou a uma guerra ideológica aberta em que todas as armas foram usadas.
Talvez por isso, ao chegar à campanha eleitoral, a imprensa já estivesse praticamente sem munição.
O adversário inicial de Cristina, Ricardo Alfonsín, procurando um espaço político fértil em que pudesse enfrentar o kirchnerismo – que encontrou forças extraordinárias após a morte de Nestor – caiu na armadilha eleitoreira, buscando guarida na direita decadente. Conseqüentemente, diminuiu seu tamanho político e saiu da eleição menor do que entrou.
Prova disso é que o socialista Hermes Binner superou as expectativas e conquistou quase 17% dos votos. Ao final, Binner contou inclusive com a manifestação de apoio da grande mídia que diante da inevitável derrota cinicamente apoiou o socialista para buscar guarida em parte da intelectualidade que apoiava o candidato.
Os 54% dos votos alcançados por Cristina depois de quatro anos de conspirações diárias contra seu governo nos mostram que esta vitória foi muito maior do que econômica. Foi política. A população argentina votou em peso na presidenta fazendo uma escolha decisiva para o futuro e revitalizando seu apoio à Cristina.
Encontrou em sua líder uma corajosa estadista. Figura em extinção no mundo de hoje.  

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Assassinato de Kadafi - Os terroristas "do bem"


O “mundo livre” ocidental comemora o assassinato do presidente deposto da Líbia.
Kadafi não foi julgado por nenhum tribunal de seu país, ou mesmo internacional. Foi executado por rebeldes que receberam dinheiro e armas de seus aliados na OTAN.
Embora o mundo esteja farto de ditaduras, o assassinato de Kadafi não ajuda em nada a construção de instituições democráticas na Líbia. Ao contrário.
Sendo assim, o argumento de construção de uma ordem democrática na Líbia pelos países invasores, interessados em pilhar as riquezas daquele país, demonstra-se claramente mentiroso e fraudulento.
Kadafi construiu uma ditadura que se propunha a aparar (pela força) as inúmeras arestas de múltiplas identidades sociais que dificultavam a unificação do Estado líbio.
Portanto, é muito difícil que o país consiga se organizar com um poder central capaz de unificar as diferentes correntes.
É bem provável que a Líbia novamente conviva com uma nova ditadura, mas dessa vez, aliada dos países do Atlântico Norte.
E, convenhamos, não é através da execução do ex-presidente que as instituições democráticas serão sedimentadas.
Para alcançar o objetivo de depor o presidente Kadafi, os países ricos despejaram armas e dinheiro nas mãos de grupos rebeldes, agora tratados como heróis.
Mais adiante, quando estes rebeldes deixarem de ser interessantes para os planos da OTAN, imediatamente serão convertidos em terroristas.
O mesmo erro já foi cometido no período da guerra fria. Ou Bin Laden e Saddam Hussein não se fortaleceram como crias dos interesses norte-americanos?

Se os países ricos estivessem realmente preocupados com a liberdade do povo africano não teriam escravizado este povo durante séculos no maior crime da história da humanidade.
Enquanto a Líbia recebe as “bombas da liberdade”, os países do chamado chifre africano padecem na maior onda de fome dos últimos anos e convivem com sangrentas guerras civis, as quais nenhum país rico se interessa em interromper.
Os rebeldes Líbios são festejados pelo “mundo livre”, mas  os rebeldes detidos na Espanha, Inglaterra, EUA, Grécia e Chile estão na cadeia por se manifestarem contra este modelo econômico perverso, sendo tratados como bandidos. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Torcedores x Jogadores


Em tempos passados, os torcedores de futebol mais atentos certamente sabiam de cor a escalação de sua equipe do coração.
Os jogadores passavam anos no mesmo clube e criavam uma identificação muito difícil de ser rompida.
Há pelo menos 25 anos, o mercado do futebol europeu passou a levar nossos craques. As ofertas milionárias eram impossíveis de serem cobertas pelos clubes brasileiros.
Com a Lei Pelé, os jogadores deixaram de pertencer aos clubes de futebol e o vínculo entre as partes passou a ser meramente contratual. E nem mesmo os contratos foram suficientes em muitos casos para fidelizar a relação entre jogadores e clubes.
Os times brasileiros parecem ter aprendido a negociar melhor as suas marcas. Contratos de tevê, renda de partidas e licenciamento de produtos ganharam importância relativa no orçamento dos clubes. A venda de jogadores deixou de ser principal fonte de renda dos times de futebol.
Com o advento da Copa do Mundo no Brasil, o processo de mercantilização do futebol parece ter completado seu ciclo.
O futebol foi transformado em um grande mercado de negócios em que as televisões negociam cotas de publicidade milionárias em sua programação.
O torcedor tradicional de futebol deixou de ser interessante para esse grande negócio.
Para os donos do futebol, melhor seria transformar o torcedor em consumidor.
As torcidas uniformizadas foram criminalizadas. O torcedor desejável e valorizado é aquele que compra os produtos oficiais licenciados e vai ao estádio com câmeras, celulares e principalmente dinheiro.
O povo brasileiro que sempre teve o futebol enraizado na sua cultura está sofrendo por se sentir cada vez mais afastado do seu time do coração.



Os recorrentes fenômenos de agressão e perseguição aos jogadores de futebol, embora sejam indesejáveis, nos mostram este conflito entre o negócio e a paixão, o marketing e o costume.
Os jogadores têm uma relação com os clubes privilegiada, em comparação com os torcedores.
Existe uma tensão. Em alguns casos, até um ciúme.
Enquanto os torcedores acompanham seus clubes durante anos, os jogadores possuem um vínculo muito breve. Os jogadores recebem salários altíssimos dos clubes de massa. Já os torcedores se dedicam ao time, gastam dinheiro e sofrem com as derrotas.
Os jogadores enchem a boca para falar que são profissionais. Este parece ser um valor em si mesmo.
A falta de comprometimento do jogador com o clube de futebol causa irritação no torcedor apaixonado. Aliás, a paixão parece não ter mais lugar nesta sociedade. As relações entre indivíduos e instituições são práticas e comerciais.
O estresse entre o torcedor apaixonado e o jogador profissional é um dos fenômenos que revela o incômodo com a apropriação do futebol pela indústria do entretenimento.
Os torcedores devem perceber que os inimigos não são os jogadores de futebol. A agressão e violência só podem servir como argumento para o afastamento dos torcedores dos estádios de futebol.
Uma característica particular do futebol brasileiro é o clube social. As tentativas fracassadas de clubes empresa deixam claro que é impossível fazer com que os torcedores cantem: BRADESCO, DANONE, COCA-COLA ou CHEVROLET. A motivação que orienta um indivíduo a aderir a um clube são identidades sociais muito ligadas à origem e comportamento.
A violência, além de repudiável, é um tiro no pé dos próprios torcedores. Mas jogadores, dirigentes e empresários – que estão ganhando fortunas com o futebol – devem também respeitar o torcedor, sem roubar dos brasileiros a paixão pelo futebol.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Clovis Rossi: Há almoço gratis. Para a banca

Publico no blog o brilhante artigo do jornalista Clovis Rossi do jornal Folha de São Paulo.

Vale a pena.

RC



CLÓVIS ROSSI
Há almoço grátis. Para a banca




O banco Dexia errou duas vezes, mas nem por isso os governos deixam de socorrê-lo com novo pacote



E lá vem de novo o sétimo de cavalaria para salvar não os mocinhos, mas os bandidos, digo os banqueiros. No caso, é o Dexia, o conglomerado franco-belga-luxemburguês, a ser socorrido -pela segunda vez- pelos governos dos três países.
Na prática, é o exato inverso do slogan "Ocupe Wall Street" que ganha adeptos nos EUA. O que os governos estão fazendo é financiar Wall Street ou, no caso específico do Dexia, a Place Rougier de Bruxelas, onde fica a sede central do banco.
É um claro desafio à regra básica do capitalismo, a de que "não há almoço grátis". Para a banca, não há apenas almoço grátis, mas também janta.
Afinal, o Dexia já havia sido socorrido em 2008, com imponentes € 6 bilhões. É um pouco menos do que os € 8 bilhões que a Grécia é obrigada a mendigar para poder pagar os salários de outubro de seus funcionários, entre outras contas, e que compõem a última fatia do crédito concedido por União Europeia/FMI para resgatar o país.
Diferença fundamental: o crédito à Grécia está amarrado a duríssimas condições que, entre outras tragédias, levaram a um aumento de 40% no número de suicídios nos cinco primeiros meses de 2011, na comparação com 2010. Uma linha telefônica para desesperados dispostos ao suicídio passou a receber mais de 100 chamadas por dia, quando a média normal era de 10.
Não consta que algum banqueiro tenha tentado o suicídio. Já estou até ouvindo o resmungar dos economistas de bancos e de seus amigos na mídia me acusando de demagogo por fazer esse tipo de comparação. Sacarão do coldre, como é de praxe, o argumento maroto de que banco não pode quebrar porque seria um prejuízo para todo o mundo, inclusive para suicidas em potencial.
Não se trata de pregar a estatização do sistema financeiro global, até porque banqueiros a soldo do Estado não pecam menos -nem mais- que os banqueiros privados. O problema está na recorrente estatização dos prejuízos, como ocorre agora no caso do Dexia, e na privatização do lucro. Assim até eu quero ser capitalista.
Não faz sentido o Estado ajudar a banca e não assumir o controle da gestão. Acaba sendo um convite para que os erros que levaram ao primeiro auxílio governamental se repitam e obriguem a um segundo pacote, como acontece com o Dexia.
Tampouco faz sentido permitir que bancos que só não quebraram porque entrou dinheiro público, na crise de 2008, continuem pagando salários e bônus obscenamente altos para os executivos que os arruinaram. Deveriam responder com o seu patrimônio pelos prejuízos.
Menos mal que duas figuras políticas relevantes estejam cobrando algo parecido. A presidente Dilma Rousseff, que quer que o G20 adote regulação estrita para o "descontrolado" sistema financeiro, e o presidente do Partido Social Democrata alemão, Sigmar Gabriel, para quem a palavra de ordem deve ser: "Nenhum centavo do Estado para salvar um único banco, a menos que aplique reformas profundas em seu modo de operar". Para Gabriel, a crise bancária está colocando para o mundo uma escolha entre "democracia ou o domínio das finanças". O que você escolhe?

crossi@uol.com.br

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O mercado do luxo se alimenta da desigualdade social


Hoje foi a vez da Luigi Bertolli, Emme e Cori serem apanhadas pela Superintendência Regional do Trabalho. Embora não sejam grifes de luxo, vale a reflexão proposta neste post publicado originalmente em 2011. As empresas argumentam que desconhecem como é fomentada sua cadeia produtiva, comprando seus produtos de confecções terceirizadas. Então tá.

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A Polícia Federal desarticulou um esquema de importação ilegal de carros de luxo.
A empresa  de fachada mantinha conexões íntimas com a máfia internacional.
Mas para os felizes compradores dos carrões de luxo, alguns deles jogadores de futebol, músicos famosos e celebridades de revista, pouco importa operar comercialmente com grupos de criminosos. O que vale mesmo é receber vantagens tentadoras na compra de automóveis que custam centenas de milhares de reais. Ainda que estejam conscientes da prática de crime de sonegação fiscal.
Ano passado, a empresária Tânia Bulhões, do grupo Tânia Bulhões Home, importadores de artigos de decoração de luxo, foi condenada a quatro anos de prestação de serviços comunitários, acrescidos do pagamento de 1,2 milhões de reais por crimes de formação de quadrilha, descaminho, falsidade ideológica e crime contra o sistema financeiro nacional.
Anteriormente, a empresária Eliana Tranchesi, também havia sido presa pelos mesmos crimes. O caso provocou perplexidade por se tratar do templo do luxo paulistano. A Daslu havia construído um palacete num bairro “nobre” de São Paulo reunido num mesmo lugar as grifes mais badaladas e caras do mundo da moda.
Mês passado, os consumidores da grife Zara ficaram impressionados ao saber que na cadeia produtiva da calça jeans, bolivianos escravizados em oficinas clandestinas não recebiam mais de 0,25 centavos por costurar o vestuário de grife.
No imaginário nacional a sonegação fiscal não é considerada um crime. Durante anos, as elites se  acostumaram a serem beneficiárias do Estado e confundirem as coisas públicas e privadas.
As relações privadas antecedem a construção das instituições públicas no Brasil. Durante séculos, as elites se habituaram a receber favores do Estado e organizá-lo conforme seus interesses.  Para a elite, o Estado sempre foi uma ferramenta de extensão de seus domínios e influência.
Dessa forma, a cobrança de tributos e a exigência de obrigações legais, causam incômodo e estranhamento por parte daqueles que não se vêem como cidadãos iguais aos demais no cumprimento de responsabilidades e na garantia de direitos.
O mercado de luxo se alimenta da desigualdade social. A aquisição de pertences que se caracterizam não somente pelo seu valor de uso, mas pela ostentação de uma grife, tem o intuito de distinguir o consumidor da ampla maioria. É uma espécie de crachá de diferenciação, capaz de abrir portas e deixar claro que o indivíduo que usa determinada marca pertence a uma casta superior da sociedade. Em troca, o cidadão ganharia garantias sociais extraordinárias, pois “cada um sabe seu lugar” na sociedade.

Confesso que conheço muito pouco (ou quase nada) sobre grifes e marcas.

No entanto, não me incomodo com as prioridades alheias. Pouco me importa se um indivíduo pague dez vezes mais caro por um produto que lhe parece interessante.
Mas considero uma cafajestagem dispor de pequenas fortunas para comprar futilidades e economizar na hora de pagar os impostos dos quais dependem toda a sociedade.
Obviamente, existe uma distorção na organização tributária brasileira. Muitos pequenos e médios empresários são esmagados por uma carga escorchante de impostos.
 A classe pobre, proporcionalmente, paga muito mais impostos e sequer tem a chance de sonegar.
Existe uma concepção geral de que o Estado é corrupto e o mercado é honesto. Os políticos são maus e os indivíduos são bons (todos eles).
Obviamente, a lógica do Estado não estaria desconectada das outras esferas da vida social. Ao contrário, o Estado reproduz as regras de uma ordem estabelecida em que a vantagem privada antecede o fortalecimento da organização coletiva.

Como se vê, os vilões não são somente os políticos. Aliás, estes são meros reflexos de uma ordem social que se impôs de cima para baixo, a partir das elites, permeando toda a estrutura da vida nacional.
O Brasil só poderá se desenvolver de verdade com justiça social. E essa justiça depende do cumprimento das leis e da igualdade entre os indivíduos na aplicação do direito.
Aos que esbanjam dinheiro comprando artigos de luxo, sugiro que reservem um orçamento para o pagamento de tributos.
Não dá mais pé o sujeito comprar um automóvel de trezentos mil reais e licenciar o carro no Acre pra pagar menos IPVA e não receber as multas. Ou uma madame pagar vinte mil reais em um vestido e reclamar da carga tributária..
Lembro-me daquela propaganda do cartão de crédito. Calça Zara 1,5 mil, vestido da Daslu 20 mil, vaso importado pela Tânia Bulhões 35 mil, carro contrabandeado 350 mil. Recolhimento de impostos: não tem preço.