Andrés Sanchez cumpriu o seu mandato e está deixando esta semana a presidência do Corinthians.
Deveria ser uma notícia comum.
No entanto, o fato de um presidente de clube escolhido por meio de eleições diretas, ter cumprido o seu mandato e deixar seu cargo no prazo regimental, infelizmente, é uma exceção no futebol brasileiro.
A presidência de Andrés Sanchez foi a primeira gestão após uma década e meia da ditadura de Alberto Dualib.
A presidência de Dualib foi trágica para o Corinthians. Embora alguns argumentem que o time conquistou um número elevado de campeonatos durante este período, o mandato despótico de Dualib sufocou todas as instituições políticas do clube, cancelando as eleições e impedindo a participação da torcida corinthiana. O clube virou um balcão de negócios e os interesses econômicos do presidente prejudicaram a modernização e desenvolvimento do Corinthians. Neste período, o clube tinha dono. E nada é mais contrário à vocação corinthiana do que um clube privatizado.
Mas qual seria o grande legado da gestão de Andrés Sanchez como presidente do Corinthians?
Durante a presidência de Andrés, o Corinthians conquistou três títulos importantes. O Paulista e a Copa do Brasil em 2009, além do recente Campeonato Brasileiro de 2011.
A contratação de Ronaldo foi fundamental para o sucesso do projeto. As últimas equipes da “era Dualib” eram compostas por uma maioria de jogadores cafajestes totalmente desconectados das tradições corinthianas. O desrespeito à história e a representação do clube era visível. Alguns eram contratados e saudavam a “Sociedade Esportiva Corinthians” ou o “Corinthians Futebol Clube”. Terrível!
Não era pra menos. Se a própria diretoria do clube não respeitava suas instituições e se configuravam como uma confraria de malfeitores, não seriam os jogadores que valorizariam nossas tradições.
Mas o fato de um dos maiores jogadores da história do futebol mundial escolher o Corinthians para jogar, fazer sucesso e principalmente ganhar dinheiro abriu os olhos de outros jogadores mais incautos. O sucesso do projeto Ronaldo revelou a imbecilidade de outros jogadores de meia tigela que viraram as costas para o clube em nome de uns trocadinhos a mais.
A construção do Centro de Treinamentos, suporte fundamental para a infra-estrutura do futebol, também merece destaque.
A construção do estádio por si só seria motivo de glória para qualquer gestão na história do Corinthians, já que este tema atravessou mais de meio século no cotidiano do clube. Mas a viabilização de Itaquera tem um significado muito mais que especial.
O Corinthians caminha para a modernidade, mas fincado nas suas raízes históricas. Bem no meio da “corinthianada”. Sendo fertilizado pelo solo sagrado da zona leste paulistana.
Mas nenhuma conquista material ou esportiva pode se comparar com a recuperação institucional do clube.
O novo estatuto é a maior obra de Andrés.
Era muito triste ver o Parque São Jorge desabitado e entregue à obscuridade. Andar nas alamedas do clube era tarefa indigesta, já que o time do povo havia se transformado no quintal do Dualib.
O novo estatuto permite eleições transparentes. Temos chapa de situação e de oposição.
Minha posição quanto à gestão de Andrés sempre foi de um apoio crítico.
Não escondo que vou votar no candidato da situação.
Porém, não veria problema algum em ver a oposição vencer o pleito.
A eleição de uma chapa pela maioria dos associados não seria tragédia para ninguém, desde que seja garantida a alternância do cargo e o impedimento de reeleições subseqüentes. Esta é uma regra de ouro que jamais pode ser quebrada.
Havia prometido jamais votar no Andrés Sanchez caso ele modificasse o estatuto que ele mesmo ajudou a aprovar e viabilizasse um terceiro mandato.
Este seria um verdadeiro desastre para o Corinthians.
Logo, considero importante destacar a coerência do presidente em deixar o cargo e preservar as instituições do clube.
Não é difícil de supor, que depois das importantes conquistas do último período, Andrés Sanchez não teria dificuldades para se reeleger por mais um período. Mas esta prática abriria oportunidade para que qualquer outro aventureiro lançasse mão do mesmo expediente no futuro para se perpetuar no poder.
Andrés não é simpático para uma grande parcela da opinião pública. Demonstra impaciência nas entrevistas, comete erros grosseiros de português, provoca os adversários, expõe os seus vícios e não é nada polido.
Mas para o corinthiano ele entrará para a história como o presidente mais vitorioso e realizador, tudo isso sem deixar de resgatar as raízes históricas do corinthianismo.
O Corinthians agora se destaca como a maior arrecadação dos clubes da América do Sul e está pronto para grandes desafios globais, porém, sem abrir mão da sua identidade.
Andrés foi para a CBF.
Sua estratégia é se viabilizar como uma alternativa conservadora para uma eventual e talvez inevitável saída de Ricardo Teixeira.
Não duvido que ele seja bem sucedido.
Andrés tem virtude política, algo decisivo e necessário para quem deseja exercer o poder.
E nenhum diploma poderia garantir esta habilidade muito particular.