terça-feira, 23 de agosto de 2011

Os rebeldes dos outros

A ditadura de Gadaffi na Líbia parece viver suas últimas horas.

O presidente teve sua residência invadida e até o momento não foi encontrado.

Jornais do mundo todo dão conta de que a capital Trípoli está tomada pelos rebeldes.

Mas quem são estes rebeldes? Estes grupos teriam força para se mobilizarem e destituírem seu presidente?



Os grupos rebeldes foram fomentados com armas e estrutura pelos países mais interessados na queda do ditador. EUA, França e Itália têm grandes interesses neste país rico em petróleo com uma indústria de derivados bem desenvolvida.

Para chegar até a capital da Líbia, os rebeldes contaram com a “pequena” ajuda da ONU e dos ataques aéreos da OTAN que fragilizaram a resistência das forças de governo.

Ao despejar armas e dinheiro na mão destes rebeldes, os EUA cometem o mesmo erro que cometeram anos atrás quando turbinaram a força e o poder de Osama bin Laden na guerra do Afeganistão contra a União Soviética e também de Saddam Hussein na guerra do Iraque contra o Irã, onde os EUA tinham manifestos interesses.

Nos próximos anos, o “mundo ocidental” pode ter novos inimigos com poder, dinheiro e possivelmente Estados que foram fabricados pelo interesse imediato dos paises da OTAM em se apropriar do petróleo do oriente médio.

Aliás, se os europeus e norte-americanos estivessem tão envolvidos em proteger os povos africanos de ditaduras sanguinárias, por que não se preocupam também em intervir nos famintos países governados por tiranos, com guerras civis intermináveis, mas sem uma gota de petróleo?

Se os países ricos se preocupam tanto com os africanos, por que condenaram seus povos a séculos de escravidão e construíram regimes de separação racial em que alguns brancos ficaram com as riquezas sustentadas pelo trabalho de milhões de negros castigados?



Os rebeldes que atendem ao interesse dos governos imperialistas são tratados como heróis. Recebem armas e dinheiro e entram para história como precursores de uma nova era.

Já os rebeldes que ofendem os regimes excludentes e violentos deste sistema econômico decadente são tratados como marginais e são colocados na prisão como bandidos.



Se a ONU e a OTAM utilizassem o mesmo critério nas sanções à Líbia e a Síria, deveriam também apoiar os rebeldes insatisfeitos com seus governos na Grécia, Espanha, Portugal, Inglaterra e Chile.

Ora, o argumento utilizado para as ações militares foi o de proteger os manifestantes de seus governos opressores. O direito de manifestarem seu descontentamento contra os regimes.

A democracia que legitima os governos dos países do “eixo do bem” é representada por partidos políticos financiados pelo capital dos banqueiros e especuladores que mantém este modelo econômico nos Estados que garantem seus lucros, enquanto oprimem seus cidadãos.

Após os protestos em Londres, alguns manifestantes foram condenados a mais de quatro anos de prisão por incitarem a violência. As armas de destruição em massa destes jovens eram nada mais do que mensagens do facebook.



O brasileiro Anderson Fernandes de 22 anos está preso e será condenado pelos saques realizados nas manifestações de Londres. Segundo a acusação, Anderson roubou dois cones de sorvete e um café.

O brasileiro teria entregado os sorvetes às pessoas que passavam pelas ruas, já que não teria gostado do sabor do produto inglês.

Particularmente, não tenho simpatia por nenhuma ditadura. Entendo que qualquer líder que se mantenha indeterminadamente no poder, ainda que seja considerado um herói nacional, compromete seus projetos em nome do poder. Quando um ditador cai, a força de sua figura contamina seus projetos, ainda que estes tenham alguma relevância para a sociedade.

Mas o que está em jogo (e não se iludam), não é a defesa da democracia ou de qualquer outra forma de governo. O que está em disputa é a manutenção da hegemonia dos países do centro.

O método para sustentação desta riqueza neste novo século continua sendo o mesmo de sempre. O roubo puro e simples dos recursos dos países mais fracos.

E agora, com a decadência econômica destas potências velhacas e corroídas, os países emergentes devem abrir bem os olhos.

Inclusive o Brasil.






2 comentários:

  1. Muito lúcido. Parabéns!

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  2. Rafael, por favor, entre em contato no celular 11 9990.0401. É para possível entrevista sobre a crise no futebol brasileiro. obrigado.

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