quarta-feira, 30 de maio de 2012

Wagner Moura foi muito mais corajoso que o Capitão Nascimento! Tributo Legião Urbana.





Wagner Moura realizou o sonho de qualquer cara da minha geração.

Cantou com a Legião Urbana.

E foi uma demonstração de coragem, porque ele sabia que inevitavelmente seria julgado, comparado, avaliado e invejado.

Mas ele foi muito bem.

Não se preocupou em imitar o Renato Russo, nem em interpretar as canções com um olhar próprio. Cumpriu a tarefa com o coração. Era mais um fã cantando. Muito longe de se qualificar como um cantor profissional.

Isso foi muito legal, porque ele não concorreu com a plateia. Ao contrário, adotou uma postura colaborativa.

Foi emocionante ver a Legião novamente num palco. Ainda que o Renato Russo não estivesse presente cantando, sua obra estava lá, nos mostrando sua humanidade. Aliás, o homem é o único animal que tem biografia. Talvez isso nos faça pensar, cada um no seu espaço e com sua vidinha em como nossas obras e ações podem ser perpétuas ou descartáveis, dependendo do que buscamos nesta experiência de vida.

Talvez, hoje em dia não se tenha muita dimensão, mas nada foi mais marcante na juventude da minha geração do que as canções da Legião.

A cada roda de amigos se cantarolavam alguns lindos versos da banda.

Lembro muito das viagens de ônibus que eu fazia Brasil afora com a galera do movimento estudantil. Não existia quem não soubesse quase todas as músicas do Renato.

E sempre tinha alguém que começava puxando:

“Não tinha medo o tal João de Santo Cristo era o que todos diziam quando ele se perdeu...”

Necessariamente, continuava o coro com a galera cantando: “deixou pra trás todo o marasmo da fazenda...”

E assim ia, até que finalmente chegava no “Sofreeeeer”!!!

Doze minutos de música.

Cada um tem suas experiências e momentos marcantes com as canções.

Ficamos adultos ouvindo a Legião. E essa nossa geração Coca-Cola de filhos da revolução e burgueses sem religião não tinha tantas coisas para celebrar. Quem conhece um pouco de história, sabe que os anos 80 foi a chamada “década perdida”. Tudo bem se as coisas nos anos 90 tivessem ficado melhores, mas o fato é que mergulhamos num poço de mediocridade e frustração.

Nossa geração não se alienou. Mas foi alienada do processo histórico. Roubaram-nos a possibilidade de decidir sobre o nosso próprio destino.  A década de noventa seria o “fim da história”. Com a queda do Muro de Berlim, deveríamos nos adequar a nova realidade global, com um único modelo político e econômico e um único modo de vida possível.

A felicidade e a realização poderiam ser somente encontradas no interior de cada indivíduo e nossa experiência pública estaria restrita, a partir de então. Viveríamos cada um por si.

A doença da nossa geração não foi a AIDS, mas a depressão.

Portanto, não é à toa que as canções da Legião Urbana não sejam contemplativas. Alguns críticos mais dados à euforia consideravam as letras depressivas.

Mas nos dias de hoje, introspecção significa necessariamente tristeza. Porque as pessoas não podem olhar para dentro de si. Devem evitar a dor a qualquer custo e desfrutar um permanente estado de êxtase.

A geração micareta não conseguia entender esse lance da Legião.

Não que curtir o som da Legião Urbana, seja um privilégio dos trintões ou quarentões. Ao contrário. As canções tem o potencial de tocar a alma de velhos, jovens, recém-adolescentes e até mesmo crianças.

Quando eu era moleque e ouvia a Legião todos os dias, detestava quando algum velho dizia: “no meu tempo as coisas eram melhores”.

Então eu não vou dizer nada disso.

Apenas que essas bandinhas EMO’s são muito ruins. E não é um problema necessariamente de uma geração de compositores e músicos. Trata-se de experiência histórica. Ninguém mais se arrisca, se doa ou se gasta para tratar de questões profundas e sensíveis ao ser humano.

Tá tudo na base da compulsão mesmo.

Mas o tributo foi muito legal.

Se a Legião Urbana perdeu com o Wagner Moura em afinação, ganhou em excitação e empolgação.

Até porque, verdade seja dita, o Renato Russo tinha uma má vontade dos infernos para fazer shows.

Vamos dar um desconto para o Wagner porque ele não é cantor. Já tinha gente gritando: “pede pra sair”!

Ele está de parabéns!









terça-feira, 29 de maio de 2012

Sem forças para conspirar, imprensa reclama da democracia!


A acusação de que Lula esteja pressionando o impoluto Ministro do STF Gilmar Mendes para interferir no cronograma do julgamento do mensalão, expõe dois interesses principais que são agora vendidos para a opinião pública.

O primeiro interesse é requentar o chamado escândalo do mensalão. Criar um ambiente político que obrigue a justiça a condenar os réus, sob o risco de abalar a credibilidade das instituições brasileiras.

O desejo de justiça está longe de ser o principal interesse da imprensa.

A oposição está esfacelada. Sem um projeto nacional alternativo e afogada nas águas sujas do Cachoeira.  O discurso moralista, adotado nos anos de Lula na presidência, tornou-se incompatível com as peripécias dos DEMóstenes espalhados pelo Congresso.

Daí vem o segundo grande interesse da imprensa. Vender a imagem de que o governo estaria destruindo a oposição, colocando nossa democracia em risco.

Como se o governo estivesse interferindo nas instituições nacionais e rendendo seus opositores

A CPI do Cachoeira está sendo tratada como uma tentativa de destruir a oposição neste país.

A descoberta das promíscuas relações entre Carlinhos Cachoeira e a Revista Veja também são consideradas como atentados contra a liberdade de expressão.

Deveríamos então fechar os olhos para estes verdadeiros atentados contra a república para preservar o “equilíbrio de poder” na representação política brasileira?

É evidente que não.

Até porque a oposição não está derretendo por culpa do governo.

A verdade é que projeto político conservador deixou de oferecer alternativas para o Brasil.

O PSDB chegou ao poder para cumprir uma agenda externa. Implantar o projeto neoliberal no Brasil, o que significava subordinar nossas forças produtivas aos mercados internacionais especulativos das economias dos países do centro.

Historicamente, as forças políticas conservadoras no Brasil, internalizaram as demandas estrangeiras, hora combatendo o comunismo, hora defendendo o livre mercado.

O medo do comunismo caiu com o Muro de Berlin.

E o neoliberalismo deixou se significar uma alternativa para o mundo, imediatamente após a crise de 2008.

Este país fez uma opção clara pelo desenvolvimento com justiça social.

O governo Dilma finalmente consegue superar alguns interesses poderosos. Depois de mais de uma década, o país enfrenta os bancos e reduz os juros.

A oposição no Brasil está sem agenda. Sem projeto. E fica difícil fazer política só com teatro.

Parte dos políticos conservadores, simplesmente não pôde viver sem os benefícios do poder. Portanto, não conseguiram passar muito tempo na oposição. Alguns foram excluídos do processo político eleitoral. Outros, mais sagazes, aderiram às fileiras governistas.

Nem o governo Dilma, nem o governo Lula interferiram no funcionamento de nenhuma instituição nacional.

A imprensa tem liberdade total. Ninguém foi censurado. As empresas estão aí funcionando livremente, inclusive para conspirar.

Nunca antes na história deste país o judiciário teve tanta independência. Inclusive, durante o governo Lula, a interferência do Poder Judiciário no processo político eleitoral passou a ser tema de grande debate nacional.

Ao contrário do que fez FHC, o presidente Lula não modificou a constituição para tornar possível mais um mandato como presidente, ainda que tivesse condições políticas e popularidade de sobra para fazê-lo.

Por que então vender a ideia de que o governo estaria destruindo a oposição e interferindo nas instituições brasileiras?

Este comportamento da velha imprensa revela na verdade seu descontentamento com a democracia.

Os principais órgãos de imprensa deste país foram gestados durante a ditadura militar brasileira.  Tinham relações promíscuas com o regime.

Durante o governo FHC, articularam para minar as resistências da opinião pública e garantir as privatizações à toque de caixa.

A chegada ao processo político eleitoral da grande massa de trabalhadores brasileiros que estavam entregues à miséria e subordinados aos chamados “formadores de opinião” mudou o panorama político brasileiro.

A verdade é que esta imprensa velhaca queria mesmo é conspirar contra o governo Dilma. Defender os interesses de seus patrões banqueiros e desestabilizar a política.

Mas com oposição desarticulada e com aprovação de 80% do governo Dilma, resta agora chorar pelas regras do jogo e lamentar a democracia.

Além de cobrar exílio do presidente Lula.

Impedir que ele faça política.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sensação em São Paulo é de APAGÃO tucano



Ao apagar das luzes do Governo Fernando Henrique Cardoso, o Brasil efetivamente estava no escuro.

A escuridão do “apagão” que deixou cidades à meia luz durante mais de um ano marcou a gestão de FHC.

A falta de investimentos e as agora famosas na Europa “metas de austeridade” condenaram a população a um caos na infra-estrutura nacional.

O corte nos investimentos do Estado era incompatível com o esforço realizado para a privatização das empresas estratégicas nacionais. A grande justificativa da “privataria tucana” era livrar o Estado dos prejuízos que os neoliberais diziam provocar as empresas estatais, além do esforço administrativo que elas exigiam.

Em troca, o Brasil teria investimentos do Estado em serviços sociais e infra-estrutura, já que o Brasil receberia uma bolada de dólares e o governo estaria livre de suas obrigações com as estatais, podendo enfim cuidar de sua gente.

Mas o corte nos investimentos do Estado, a desregulação da economia, a entrega da economia nacional ao capital especulativo e a quebra da indústria nacional com a supervalorização do câmbio e a abertura escancarada para os produtos importados provocou o maior desemprego da história nacional e uma grande recessão econômica. O Estado estava muito mais endividado, mesmo entregando todo o seu patrimônio construído durante anos de esforços de sua gente.

São Paulo foi à cidade mais afetada. O desmonte das indústrias e o desemprego fizeram com que São Paulo ficasse estagnado e de certo modo parasse no tempo. Durante anos, sequer uma estação de Metrô foi inaugurada e as rodovias foram oferecidas a concessionárias privadas com pedágios altíssimos.

O apagão do final do governo FHC é sentido agora de múltiplas formas pela população de São Paulo ao final de duas décadas de governo do PSDB. Soma-se a isso os quase oito anos de administração Serra-Kassab na capital paulista.

Enquanto existe um Brasil vibrante e transformador no Rio e no Nordeste, a locomotiva do Brasil enferrujou e estagnou em panes, acidentes, greves e congestionamentos.

Ao invés de oferecer soluções, o Governo do Estado de São Paulo acusa a população pelos problemas.

A greve do Metrô é coisa de radicais.

As panes na CPTM e o acidente no Metrô, para o governo, é por conta de sabotagens.

Os desabrigados do Pinheirinho, que resistiram à destruição de seus lares em favor de um fraudador da BOVESPA são chamados de traficantes.

Os estudantes da USP que resistiram à opressão na universidade são simplesmente maconheiros.

Os trabalhadores que reclamam ao prefeito sobre as condições da saúde pública municipal são xingados de vagabundos.

Os tucanos não conseguem compreender que a realidade social transborda à imaginada em suas planilhas. A arrogância de certos técnicos impede uma compreensão mais atenda da nova realidade nacional.

A aprovação recebida pelo governo federal por parte da população, é vista pelos tucanos de forma torpe e distorcida. Entendem eles, que este fenômeno está reduzido à “compra de votos” gerada pelos programas sociais, em especial ao Bolsa Família. Acusam, além de tudo, a população de se vender por um prato de comida ou por alguns reais no orçamento mensal que permitira ao povo “parar de trabalhar”.

É uma tentativa de reduzir a realidade ao tamanho de sua compreensão.

O eleitorado de São Paulo talvez seja o mais conservador do Brasil, mas já percebeu que o jeito tucano de governar é uma tragédia. As eleições deste ano vão demonstrar esta insatisfação.

O poder concentrado nas mãos do PSDB só vem sendo possível graças à rejeição que o PT ainda sofre em algumas camadas do eleitorado paulista.

Mas este “medo do PT” que ainda persiste em alguma proporção no Estado de São Paulo não pode significar um cheque em branco para que os tucanos destruam nosso estado e nossa cidade.

O lulismo construiu alianças estratégicas em diversos estados com partidos aliados que vem realizando governos com grande aprovação, como é o caso do Rio de Janeiro (PMDB) e de Pernambuco e Ceará (PSB).

A situação em São Paulo se parece com o que ocorreu nos EUA na última década, em que o medo do bin Laden permitiu uma grande concentração de poder nas mãos de George Bush que mergulhou os EUA numa decadência econômica talvez irreversível.

Esta gestão tucana de duas décadas aproveita-se do conservadorismo paulista, chantageando a população com temores de sabotagens, greves e caos. É terrorismo puro para seqüestrar o estado mais importante da nação.

Se o PSDB ainda pretende rivalizar com o PT no plano nacional, deveria aproveitar enquanto tem dois dos maiores estados do Brasil em suas mãos (São Paulo e Minas Gerais). Apresentar modelos inovadores de gestão e oferecer a população destes estados melhorias nos serviços sociais.

Mas isso parece estar muito distante do horizonte deste partido decadente que esgotou sua missão para os brasileiros.

O PSDB chegou ao poder como uma intervenção do projeto neoliberal e naufragou junto com ele.

O castigo de nós paulistas será aturar com desgosto estes últimos anos de apagão na gestão tucana.










terça-feira, 15 de maio de 2012

A Kassablândia e a Ciranda Imobiliária



A população de São Paulo levou um soco no estômago com as denuncias da Folha sobre o instantâneo enriquecimento de um funcionário da prefeitura muito próximo à Kassab.

Segundo o jornal,  Hussain Aref Saab, diretor responsável pela aprovação de empreendimentos imobiliários de médio e grande porte na cidade de São Paulo adquiriu 106 imóveis somente durante a gestão do atual prefeito.


No total,  Hussain Aref Saab, possui 118 imóveis na "Kassabilândia".


Mais do que um aparente caso de corrupção - ou de milagre econômico - essa noticia revolta a todos por deixar escancarada a orgia especulativa que tornou São Paulo um lugar insuportável para se viver.


Para alguém que é apaixonado por Sampa, é muito triste e difícil dizer que São Paulo ficou insuportável.


Mas enquanto a farra imobiliária corria solta, São Paulo se transformou em uma cidade insuportavelmente cara. Insuportavelmente congestionada. Insuportavelmente proibitiva. Insuportavelmente burra.


Enquanto favelas pegavam fogo e albergues eram fechados, prédios gigantes foram erguidos de maneira surpreendente e impulsionram a especulação nos quatro cantos da cidade.


Shoppings apareceram no útero do centro urbano e os congestionamentos brotaram cada vez maiores, não somente nos principais corredores de tráfico,  mas também no interior dos bairros.




É verdade que o Brasil, nos últimos anos, entrou num ciclo de crescimento econômico acelerado e que estava represado durante décadas.


A solução, não deveria ser inibir os investimentos e a geração de empregos.


A prefeitura deveria disciplinar, organizar e orientar os investimentos, favorecendo as regiões mais carentes e com potencialidade de crescimento, em que os investimentos privados estivessem relacionados com a melhoria dos equipamentos públicos nas regiões mais desamparadas que necessariamente receberiam investimentos públicos em infra-estrutura.


Mas ao invés disso, as regiões que já eram ricas e fartas de infra-estrutura foram disputadas palmo a palmo pelas grandes construtoras.


O resultado foi uma insuportável carestia.


São Paulo se tornou uma das cidades mais caras do mundo.


A população de baixa renda foi empurrada para longe. Nas encostas dos morros, nas áreas de enchente, na periferia esquecida, em ocupações e invasões.


Todo dia, para trabalhar ou passear, os paulistanos se abarrotam de um lado para outro em um transporte público abarrotado e desinteligente.


Os centros econômicos ficam concentrados em um pequeno circuito da cidade. Mesmo com a grande impulsão dos investimentos imobiliários, não houve políticas publicas para decentralizar o desenvolvimento.


A prefeitura deixou correr solto.


Seja no transporte publico ou individual, a questão do deslocamento  é o grande drama de quem vive em São Paulo.


A ciranda da especulação imobiliária na kassablândia rolou solta.


A dupla Serra-Kassab  prometeu 60 km de corredores de ônibus. Mas não foram capazes de entregar nenhum.



A prefeitura aumentou impostos, criou novas e severas proibições e foi extremamente rígida com comerciantes, industriais, prestadores de serviço, feirantes e até camelôs.


 Turbinou a industria da multa com radares modernos e inteligentes, mas com semáforos ultrapassados e burros. Ninguém escapou das multas, nem das novas tarifas criadas para os proprietários de veículos.


Mas, ao que parece, essa rigidez toda é reservada aos "vagabundos" de Kassab.


Para os amigos do rei, os empreendimentos não possuem limite.


São Paulo é uma casa de tolerância para os milionários.


Uma verdadeira zona para as classes médias.


E uma putaria para com os pobres.


Se o carimbo da prefeitura é generoso para os especuladores.


A patrulha de choque e os tratores são extremamente cruéis com os desabrigados.


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Bob Freire quer ser a Sarah Palin brasileira



Quem não se lembra daquele famoso ditado popular que diz assim:

“Para quem está morrendo afogado, jacaré é tronco”.

O Deputado Federal Roberto Freire agarrou com gosto o “jacaré” plantado pelo portal G17, especializado em humor jornalístico.

O site brincou, criando uma noticia dizendo que para evitar conflitos com grupos religiosos, a presidenta Dilma havia decidido substituir o famoso “Deus seja louvado” das notas de Real para o inédito “Lula seja louvado”.

A escassez da agenda política oposicionista é tanta que qualquer notícia, por mais absurda que seja, representa um alento.

Sem o Carlinhos Cachoeira para “pautar” a Revista Veja, a direitona vem se sentido órfã de novos escândalos.

Na falta de Carlinhos Cachoeira, Bob Freire foi de G17 mesmo.

Alguns conservadores mais eruditos devem lamentar a infeliz sorte de contar com uma direita tão desastrosa aqui no Brasil.

Mas o fato é que com a crise do discurso neoliberal pós crise de 2008, nossas forças políticas conservadoras que sempre papagaiaram a agenda política importada dos ianques, vêem-se agora sem nenhuma cartilha para reproduzir.

O principal quadro da oposição, que deveria ser o pré-candidato a presidência Aécio Neves, simplesmente pipocou na hora “H”. Aécio se mostra absolutamente incapaz de propor uma nova agenda para o Brasil.

Sem um projeto nacional que atenda a vocação brasileira para o desenvolvimento com justiça social e sem a cartilha gringa, comprometida pelo colapso do neoliberalismo, as forças políticas conservadoras adotaram o discurso “moralizador” como ferramenta de participação política.

Dia e noite a direita sonha com um fato político que modifique a correlação de forças e gere as condições políticas para um golpe. Assim foi feito no passado e esse é o jeito que eles sabem fazer.

Bob Freire foi com muita sede ao pote e fez papel de bobo. Cometeu uma gafe digna das madames do Tea Party estadunidense.

De ex-comunista, Roberto Freire agora está mais para a  Ex-Quase Miss do Alasca Sarah Palin, com sua verborragia estúpida e moralista.  




O culto a euforia



Quando eu era criança, o "XU XU XU XA XA XA" era o jeito novo de se dançar.

Agora é o tal de "quero tchu e quero tcha tchu tcha tchu tcha..."

Sem contar o "tche tcherere tche tche".

Pelo visto não evoluímos muito, não é?

Não sou adepto da corrente moralista e higienizadora que reivindica uma suposta pureza da música brasileira.

Até porque nossa maior marca é justamente a mistura. E falar em pureza e origem é algo que não da pé.

Também não tenho nada contra a música feita unicamente para diversão. Nem sempre a arte deve atender a um propósito maior.

Mas vocês tem reparado como estamos superficiais?

A aparente euforia das canções e coreografias esconde uma misteriosa tristeza no coração das pessoas.

O negocio é "zuar e beber" e "quem esta feliz dá um grito". Tira o pé do chão.

A felicidade deve ser berrada, bebida e saltada.

As canções não devem necessariamente tratar das grandes questões nacionais, como em outros tempos. Mas hoje, sequer podem esbarrar em dilemas existenciais.

Outro dia eu ouvia uma linda canção que falava das coisas da vida mas fui interrompido com um: "credo, que música triste".

A música não era triste. Ao contrario, era até contemplativa. Mas hoje em dia estamos absolutamente impedidos de sermos introspectivos ou reflexivos.

A questão é a seguinte: tudo o que caminha em direção ao interior do ser humano leva necessariamente à tristeza ou a melancolia.

E o estado de tristeza e melancolia tornou-se o maior dos sacrilégios.

Devemos estar em permanente euforia. Não podemos de forma nenhuma sofrer e devemos contemplar a felicidade a cada segundo, num permanente estado de êxtase.

Seja na academia, com o professor berrando mais alto que o som estridente. Ou seja na igreja, com o padre (ou o pastor) obrigando os fieis a levantarem seus braços e sacudirem seus corpos.

Quando a melancolia insiste em emergir, o negócio é curar a dor trocando de namorado ou mesmo na liquidação da out let mais próxima.

Está difícil encontrar alguns minutos de reflexão nesta sociedade compulsiva e endonista.

Mas sem moralismos.

Cada um vive do jeito que gosta. E ainda bem que os fones de ouvido estão cada vez mais modernos e baratos.

Os psiquiatras e a industria farmacêutica agradecem este verdadeiro culto à euforia.

Nas urnas, França e Grécia dizem basta ao neoliberalismo



Há duas décadas os telejornais do mundo celebravam como grande acontecimento histórico a queda do muro de Berlim e a ruína do socialismo no leste europeu.

Sem a mesma pompa e pirotecnia e com incontido desgosto do estabelishment internacional, o mundo assiste agora um acontecimento de proporções gigantescas.

Diante dos olhos ainda céticos da comunidade internacional acompanhamos a queda do telhado neoliberal.

Claro que as estruturas econômicas fincadas pelo deus Mercado continuam  fortes.

Não digo aqui de forma nenhuma que caiu hoje o neoliberalismo.

Mas o telhado ruiu.  Esgotou.

O modelo baseado na especulação financeira, boicotando a produção e subjugando o trabalho a condição de subalterno descartável não tem mais nada para oferecer a humanidade.

A questão agora não é mais econômica.

O mundo já percebeu que o discurso neoliberal - em que o endividamento dos Estados é o maior responsável pela crise - é um engodo.

Como se os Estados tivessem se endividado para honrar as garantias sociais de seus cidadãos. Como se a economia global tivesse quebrado por proteger os indivíduos.

Em qualquer parte do mundo se sabe que os Estados quebraram por cobrir a farra especulativa dos grandes magnatas do sistema financeiro. E ao contrario do que se diz, os trabalhadores do mundo estão desamparados, endividados, desempregados e sem participação nenhuma no grande bolo com cobertura de trilhões de dolares que foi servido imediatamente após a crise de 2008.

Os países do centro jamais sairão da crise mantendo adesão modelo neoliberal. Nunca.

A questão não é mais econômica.

Agora, a questão é política.

O deus Mercado seqüestrou os Estados.

A grande imprensa internacional é controlada pelas grandes corporações financeiras e fazem seus últimos e derradeiros esforços para controlar corações e mentes, evitando que a grande massa de trabalhadores perceba quem é realmente o verdadeiro inimigo a ser batido.

O único caminho possível são decisivas transformações na hegemonia política dos Estados.

E neste domingo França e Grécia deram passos importantíssimos para virar o jogo.

O neoliberalismo foi derrotado nas urnas de maneira retumbante.

Na Grécia, a coalizão que ajoelhou perante o Mercado e condenou o povo a pagar a conta dos banqueiros com a famosa "metas de austeridade" ficou com menos de 40% dos votos.

A expressão é bonita: "metas de austeridade". Ninguém poderia ser contrario a austeridade. Parece tão serio e moralizador.

Mas na prática, a disciplina exigida ao Estado com relação aos seus gastos em investimentos e custeios das garantias sociais é a salgada conta da orgia financeira dos banqueiros e especuladores.

Hollande foi eleito na França com críticas duras, abertas e diretas aos ricos. Prometeu taxar as grandes fortunas e disse que não é justo a sociedade pagar sozinha pela crise criada pelos magnatas.

Recebeu ataques de toda natureza, mas manteve seu discurso até o fim, prometendo recuperar o mercado interno e transformar as bases da economia.

Sarckozy fez de tudo para se manter no poder e garantir o banquete grátis aos magnatas. Recebeu apoios poderosos e obscuros.

Executou Gadaffi para pilhar o petróleo Líbio.

Seu potencial concorrente, Dominique Strauss Khan se embaraçou numa arapuca surpreendente.

Mesmo assim o marido da Carla Bruni foi derrotado.

Não há mais campanha midiática que de jeito.

Não há mais teoria econômica difundida por almofadinhas servis que satisfaça a sanha de transformação e o desejo de mudança.

Assistam sentados a queda do telhado neoliberal.

Melhor, assistam de pé.

Se possível marchando.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A Libertadores e a subordinação cultural. Carta aos corinthianos.

Esta obsessão geral dos clubes e torcedores brasileiros pela conquista da Copa Libertadores da América pode ser discutida restritamente sob o ponto de vista da rivalidade futebolística.

Mas quero propor uma discussão mais abrangente sobre o tema.

Não sou besta de dizer que os corinthianos não se ressintam de ainda não terem ganhado esse campeonato. Melhor seria vencer o quanto antes, se possível ja este ano.

Mas como a Libertadores virou uma unanimidade, nada como contrariar estas "verdades" gerais e provocar embaraço nos acomodados, satisfeitos e dominantes. Ate porque, conforme dizia Nelson Rodrigues "toda unanimidade é burra".

O grande e controverso intelectual brasileiro, disse também em outra oportunidade que o povo brasileiro padeceria de um "complexo de vira-latas".

Disse Nelson Rodrigues

“ por 'complexo de vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo ”

“ o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima. ”

A conquista da Copa do Mundo de 1958 teria dado fim a este sentimento.

No entanto, não é difícil perceber ainda nos dias de hoje, espalhados pelas ruas, milhões de brasileiros que arrastam pelo asfalto os seus complexos. Estes, são incapazes de conviver com o nosso próprio processo de desenvolvimento e permanecem perplexos buscando uma afirmação externa que explique a própria natureza de sua existência.

A mestiçagem, a marginalização no processo de desenvolvimento capitalista, o atraso tecnológico industrial, a inferioridade militar e a precariedade das nossas instituições seriam potenciais motivos para o sentimento de subordinação ao padrão europeu de desenvolvimento.

Mas por que o brasileiro se subordina também quando o assunto é futebol?

Ainda que sejamos os maiores vencedores da história do futebol mundial e a maior referencia internacional neste esporte, permanecemos desejando uma chancela gringa para ter certeza de tudo o que somos na realidade.

Recebi de um amigo uma noticia "fake" (uma pagina falsa do globoesporte.com) em que o ex-técnico do Barcelona Pepe Guardiola, teria recusado treinar o Corinthians porque o clube não seria um campeão reconhecido internacionalmente.

Logo, ele somente aceitaria treinar o São Paulo ou o Santos. Tudo bem que a falsa noticia é uma brincadeira da internet.

Aliás, brincadeira que não ofende ninguém. Tudo numa boa.

veja como funciona esta construção mental.

Para provocar o rival Corinthians, a piada parte de um principio que um time seria melhor que outro ao ser reconhecido pelo Guardiola.

Cria-se uma noticia falsa, fantasiando que o clube seria aceito e reconhecido pelas "autoridades futebolísticas internacionais" - nenhuma delas brasileiras - que por fim legitimaria a própria existência e permitiria sua paixão sem complexos nem temores.

Na verdade, a realidade parece não ser suficiente para alimentar o gosto clubistico.

Além de tudo, o Corinthians é chamado como contraponto para que finalmente o torcedor construa toda uma ilusão fantasiosa capaz de distinguir o seu clube dos demais.

É uma verdadeira masturbação mental.

Ou seja, se eu não sou reconhecido pelo outro, logo deixo de existir.

Claro que um mundial de clubes realizado no Brasil não poderia ser levado a sério.

Seria preciso ser visto e reconhecido pelo estrangeiro para que a conquista torne-se realidade. Que a Copa Libertadores seja o campeonato mais importante do continente tudo bem. Mas hoje as coisas estão assim:

O campeonato paulista não vale nada porque não leva à Libertadores. Portanto, é melhor ganhar a Copa do Brasil, que também não vale nada, mas da uma vaga à Libertadores.

O Campeonato Brasileiro também não vale muita coisa. Na virada do primeiro para o segundo turno a imensa maioria dos times renuncia a possibilidade de título para disputar uma das vagas na Libertadores.

Não podemos organizar um emocionante "mata-mata" porque o futebol do "primeiro mundo" é todo com pontos corridos.

Pouco importa que no Brasil tenhamos todos os anos uma dezena de times com chance de título e nosso pais tenha dimensões geográficas continentais.

A imprensa exige que nos adequamos ao "calendário europeu" e que os craques joguem na Europa para ganhar experiência.

Quando, por fim, um clube conquista a Copa Libertadores, esta é comemorada porque garante uma vaga para disputar o mundial de clubes.

Finalmente será possível disputar uma única partida com um clube europeu.

Eis a grande oportunidade de reverenciar os craques surpreendentemente saídos do vídeo game. O festival de subserviência tende a ser patético.

Em alguns casos se enfrenta uma equipe desinteressada que se entrega na véspera do jogo aos prazeres noturnos.

É uma maneira muito sutil de tratar os times "subdesenvolvidos", deixando claro que a partida pouco importa para os europeus que não estão dispostos a se rebaixarem numa disputa franca com um time da periferia internacional.

As vezes a subordinação é tanta que os jogadores brasileiros permitem um passeio do adversário, pois jámais seriam rudes o bastante para ofender o oponente.

Melhor mesmo é trocar camisetas e garantir um retrato com o ídolo do PlayStation.

Os títulos dos campeonatos não tem mais valor em si mesmos.

Todos tem que levar para algum outro lugar que garanta uma etiqueta diferente.

As conquistas ficam em segundo plano. Tudo parece ser uma questão de status, consumo e compulsão.

Para adquirir a grife da Libertadores vale de tudo. Tomar porrada, levar cusparada, receber ofensas racistas. Vale de tudo, porque segundo os viajados "este é o espirito de libertadores" e só conheçe quem tem passaporte.

Para alguns, ter passaporte é mais importante do que ter identidade.

Pois eu prefiro que o meu Corinthians jamais abra mão de sua origem e esteja sempre ancorado no espirito da sua gente e da sua história.

Tomara que a gente ganhe a Libertadores.

Mas que jamais sejamos menores do que qualquer uma de nossas conquistas.

E que nunca sejamos subordinados a estas grifes tolas.

Pois não dependemos de nenhum visto no exterior para atestar a nossa grandeza e o nosso destino manifesto de ser a expressão mais genuína da nossa gente corinthiana.