terça-feira, 20 de agosto de 2013

O "selinho" e a subversão possível dos nossos tempos.





Vivemos um tempo em que os empreendimentos coletivos da humanidade estão entregues às grandes elites.

Ao homem comum, resta a busca do bem-estar material. As tensões de âmbito privado. O consumo. A auto-ajuda.

A história foi sequestrada.

Não é por acaso que as questões relativas aos direitos individuais mobilizem as pessoas muito mais do que as lutas sociais e as grandes aspirações históricas.

Isso serve para os empreendimentos de guerra. Para o mundo do trabalho. E claro, para o mundo de futebol (que é parte consistente da sociedade).

As grandes conquistas não mobilizam a energia dos futebolistas, assim como os grandes movimentos sociais não atraem os trabalhadores, nem as grandes vitórias impulsionam os soldados.

Vivemos a plenitude do individualismo.

Deixando um pouco de lado os moralismos e também os discursos politicamente corretos, o o "selinho" se tornou uma espécie de subversão possível para os nossos tempos.

Não é possível dar marcha ré na história. É lógico que os direitos individuais devem ser preservados.

Começando pelo direito do homem amar a quem quiser e como quiser.

É preciso proteger as diferenças e lutar pelas igualdades.

Mas a batalha pelo direito de beijar quem se quer e como se quer é uma guerra possível de ser ganha num mundo de inimigos ao mesmo tempo gigantescos e ocultos.

Depois de tantos percalços, estas são as intrigas disponíveis para a humanidade neste triste Século XXI.

A estagnação e mediocridade estão à serviço da "preservação" da espécie humana que deve renunciar às guerras e entregar a história aos grandes arquitetos escondidos nas casamatas, bunkers e caixas fortes.

Os antigos senhores das guerras regozijam: "Divirtam-se com estas intrigas e deixem a história conosco".

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O último prato



Dizem que todo condenado ao “corredor da morte” tem o direito de pedir uma última refeição para se deliciar antes de fritar na cadeira elétrica, receber  uma injeção letal, ser enforcado, fuzilado, estrangulado esquartejado ou aspirar gazes venenosos, afim de embarcar desta para melhor. Ou para pior, vai saber...
O mundo está repleto de gente boa cheia de certezas, a favor e contra a pena de morte.
São tantas estas certezas que não sei ao certo se é verdade ou mentira a tal oferenda desta última refeição ao condenado à morte.
Isso sempre me chamou a atenção.
Mesmo os maiores facínoras, teriam direito a um último prazer antes da morte. Seria uma amostra da generosidade dos carrascos, evidenciando que a condenação seria fruto de uma decisão técnica, preservando as preocupações humanistas.
Pois bem, às vezes eu me pego pensando e refletindo sobre qual prato derradeiro eu pediria aos meus algozes.
Se bem que não seria nada confortável a gente se empanturrar do prato predileto e depois ser enforcado ou eletrocutado. Deve dar um mal estar filho da puta. Muito embora ninguém jamais tenha voltado para dizer como é ao certo.
Hoje eu finalmente decidi qual prato eu pediria.
No meu caso, seria uma suculenta rabada com polenta arroz, feijão, farofa  e aquela pimentinha “marvada” para gotejar por cima do rango.
Não mudaria esse pedido. Já está decidido e pronto.
No Brasil não tem pena de morte. Pelo menos institucionalmente. As que ocorrem à margem das instituições do Estado não te dão esta chance de saborear a comida preferida.
A gente está sentado no boteco. Os assassinos chegam de preto numa moto sem placa e fuzilam o desgraçado sem menor compaixão. Eles não te dão o direito de pedir um prato ao garçom antes de morrer. Deve ser por isso que ainda somos do terceiro mundo.
Mas se eu morresse numa prisão estadunidense não teria a menor dúvida em pedir uma rabada.
Os ianques de merda que se virem para encontrar este corte do boi e arranjar uma cozinheira brasileira para preparar o meu prato.
Hoje, enquanto eu almoçava a minha rabada, eu pensei que ninguém jamais pediria uma comida muito sofisticada no corredor da morte.
 Isso seria improvável, ou até mesmo impossível.
Seria uma despedida da experiência terrena. Certamente, isso estaria ligado às questões afetivas e sentimentais.
Amigo leitor. Pense bem. O que você pediria para comer no corredor da morte?
Esta questão pode ser ampliada. Qual seria o último filme que você assistiria? Duvido que seja um lançamento. Aposto que seria algum clássico que te faz rir ou chorar. Que toca os sentimentos que existem dentro de você.
E a última transa? Com quem seria? Aposto que você abriria mão de algum símbolo sexual, preferindo um dos grandes amores da sua vida, ao qual você se entregaria pela última vez.
Andei pensando. Talvez a gente complique demais as coisas.
Fazemos exigências exageradas para as realizações cada vez mais instantâneas, nesta sociedade onde as relações afetivas adquiriram as mesmas lógicas das relações de consumo.
Mas no final das contas a gente é muito simples.
Eu nunca morri. Mas tenho a impressão que no último suspiro ninguém aspira o que não viveu. A gente respira fundo e se inspira em tudo aquilo que nos faz feliz. Por mais simples que seja.