segunda-feira, 30 de maio de 2011

Agora só falta FHC responder onde fica Sapopemba. Lembranças de 1985.


A eleição para a prefeitura de São Paulo em 1985 foi uma das mais marcantes da história do Brasil.
Foram as primeiras eleições após o término da ditadura militar.
Fernando Henrique Cardoso era o candidato do PMDB e favorito nas pesquisas.
Jânio Quadros disputava sua segunda eleição depois de sua longínqua renúncia ao cargo de Presidente da República em 1961.
Naquela ocasião, FHC era o candidato da renovação. Agregava a maior parte dos votos da esquerda enquanto Jânio era o bastião do conservadorismo paulistano.
Como todos sabem, Jânio Quadros e o conservadorismo triunfaram nas eleições. O PMDB que havia vencido praticamente em todas as capitais brasileiras, perdeu a prefeitura paulistana de maneira surpreendente.
Fernando Henrique havia inclusive sentado antecipadamente na cadeira de prefeito com o propósito de tirar uma foto para a revista Veja.
Ao vencer as eleições, Jânio desinfetou a cadeira na frente das câmeras de tevê antes de tomar posse como prefeito.
Mas quais pontos foram significativos e explorados por Jânio Quadros para catalisar o eleitorado conservador e vencer as eleições?
Nos debates, nas entrevistas e nos comícios, Jânio constrangeu Fernando Henrique a responder questões referentes à sua crença em Deus e suas posições quanto ao uso da maconha.  
No dia de finados, pouco antes da eleições, foram distribuídos nos cemitérios panfletos dizendo que para FHC os mortos não estariam ao lado de Deus.
FHC não conseguiu ser suficientemente claro em suas posições e sua sorte (ou azar) foi decidida quando não soube responder em um debate onde fica o bairro de Sapopemba, um dos mais populosos da cidade.
Após completar 80 anos de idade, Fernando Henrique surpreende a todos e se declara abertamente a favor da descriminalização e até da legalização do uso da maconha. Esta seria uma maneira eficaz de encerrar a guerra contra o tráfico de drogas e proteger o usuário não tratando o mesmo como bandido.
A atitude de FHC é curiosa, principalmente porque, ao contrário de 1985, é o próprio ex-presidente um dos principais expoentes do conservadorismo político.

Estaria tudo perfeito e poderíamos louvar a atitude de FHC em se posicionar sobre um tema tão arriscado e até impopular.
O problema é que tais declarações não são coerentes com o tipo de campanha eleitoral conduzida por seu partido nas últimas eleições.
Em 2010 foi o partido de FHC que “acusou” Dilma de não acreditar em Deus, de aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, de ser favorável a descriminalização das drogas e do aborto. Panfletos misteriosos também foram distribuídos nas igrejas dizendo que Dilma seria atéia. A ex-futura primeira dama disse nas ruas que Dilma queria “matar criancinhas”.
Como qualquer conservador, o PSDB entra em sérias contradições que deixam claros os motivos da sua crise política ou até mesmo sua crise de identidade.
Quase 30 anos depois, Fernando Henrique respondeu a pergunta de Jânio sobre a maconha.
Agora só falta dizer onde fica Sapopemba.




Atenção a partir do 4:35 do video.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Uma pessoa corajosa para você - Redação de Mariana Natália Lorenci de Castilho

Esta é uma carta da minha filha Mariana, agora com 14 anos.
Da minha parte, acho que a maneira como ela aprendeu a lidar com o sentimento de perda é um sinal importante de crescimento. Ontem quando lí a redação da Marianinha me dei conta que minha pretinha havia crescido.
Resolvi publicar no blog esta mensagem da Mariana porque eu sei que muitas pessoas sofrem por conta do "mal de alzheimer". Algumas podem se identificar com o problema e outras aprenderem um pouquinho mais.

Abraços



Uma pessoa corajosa pra mim é o meu avô.
Para mim além de corajoso foi um homem de muita boa índole e muito bondoso.
Meu avô já fez muitas coisas para ajudar as pessoas, passou por muitos perrengues na vida e sempre seguiu em frente com cabeça erguida, fazendo sempre o que era certo. Nunca tratou ninguém mau, sempre foi pai, marido, e avô carinhoso.
Faria de tudo nessa vida pra ver meu avô bem de novo, só queria ele falando comigo como falava antigamente, só queria que ele me levasse nos lugares como antes, me buscasse na escola, me chamasse de “Pequena Princesa” ou de "Neném".
Sinto falta das coisas de antes, sinto falta de dançar com ele no meio da cozinha enquanto minha avó cozinhava um macarrão com queijo, a única coisa que eu comia naquela época. Tantas e tantas coisas, tantas briguinhas que eu tinha com o meu avó por ele ser super protetor, foi tudo besteira, não precisava de tudo aquilo, ele sempre me tratou  bem, sempre foi pessoa exemplar, na verdade sinto falta da super proteção dele, eu me sentia segura com um ponto de paz, ele sempre pegava as coisas que eu deixava jogada na casa pra eu não perder, e eu como sempre com a minha arrogância falava que era besteira que eu não ia perder coisíssima nenhuma e hoje eu sei que ele estava certo, não acho mais nada em nenhum lugar por conta da minha bagunça que ele sempre arrumava.
Assistir Silvio Santos de Domingo no sofá da sala era tão legal quanto ir para a Disney, pena que agora ele não para sentado nem para ver o Palmeiras jogando.
Coragem, não precisa ser um ato heróico, não precisa aparecer na tevê, sair nos jornais ou ser motivo de Outdoors nem de propagandas no rádio, só necessita de gestos simples que normalmente ninguém repara ninguém nota ou não acha importante, são com pessoas normais, da sua família, pessoas do cotidiano, seu irmão, seu pai, seu avô. Um dia desses escutei uma pessoa falando que queria que sua avó morresse. Que desaparecesse, porque a avó era muito chata, se intrometia na vida dessa pessoa, então eu falei que ela iria sentir falta da avó quando isso acontecesse; Ela falou que não. Já eu, queria tudo ao contrario, não sei como alguém pode desejar que isso aconteça, não sei explicar, em fim não estou aqui para julgar ninguém, só acho isso o maior pecado do mundo.
 Eu sinceramente não sei se estou fugindo do assunto que é "uma pessoa corajosa pra você" mais estou tentando falar superficialmente sobre a pessoa que meu avô representa pra mim. Há quatro anos eu era a casula da família; Em 14 anos passei mais tempo com o meu avô do que meus primos com 22 anos.
Meu avô sofreu com a separação dos meus pais e dos meus tios, com a morte de sua cunhada, como ninguém mais na família sofreu. Mais ele é homem forte, não deixou cair uma lágrima se quer com essa situação. Deveria ter chorado. A depressão pegou de jeito meu vozinho. Ninguém sabia quando ele estava com dor ou triste, simplesmente se percebia no fundo do olho azul penetrante. Bom, mesmo assim não dava pra perceber o que ele estava sentindo. Vovô é mais fechado do que um baú trancado a sete chaves.
Tudo mudou no ano novo de 2010 pra 2011. Estava tudo tão calmo e tudo tão normal, mais repentinamente um furacão veio e estragou tudo de uma vez. Ele não é o mesmo vozinho carinhoso de antes, virou uma criança... Tudo isso até agora sem explicação científica, sem uma certeza do que está acontecendo com a "cabeça" dele. Antonio Cassiano Lorenci, sim esse é o nome do meu avô. Meu aniversário foi dia 10 de maio, mais acho que ele não se lembrou disso, por que parabéns da pessoa mais importante pra mim eu não recebi, o resto não valeu de nada. Não importa; quantos presentes eu ganhei, quantas pessoas me ligaram ou me mandaram um recado em alguma rede social. Isso não vale nada.  Eu não precisaria de NADA disso se eu tivesse escutado essas palavras: “oi filhinha, Feliz aniversário". Tantas vezes eu ouvi isso vindo do meu vovô, mais só me dei conta de como faz falta quando pela primeira vez na minha vida não escutei e nem senti o abraço... Como pode uma coisa tão ruim acontecer com uma pessoa tão boa? Não encontro explicações. Meu avô não merecia estar passando por isso, não ele. EU nunca mais vou conhecer uma pessoa tão bondosa, cuidadosa, querida, carinhosa entre outras coisas; Meu avô é único para mim, igual ele não existe, é meu exemplo, minha força, minha felicidade.
Tantas histórias do meu avô. Que hoje, ele não sabe mais contar.
Agora só me resta esperar um milagre acontecer. Eu confio em Deus, acredito que meu milagre vai chegar, eu quero mais que tudo que meu avô fique bem, e com toda confiança que eu tenho em Deus eu repouso. Deus diz em Isaías 30:15 : .. Fiquem tranqüilos e confiem em mim, e eu lhes darei vitória. Pois Ele ressuscitou Lázaro e também a filha de Jairo; Curou os dois homens cegos de Jericó, os dez leprosos, o surdo e o mudo, cura um homem paralítico e cura o menino possuído pelo demônio. Por que não faria o meu milagre? Estou com uma fé de mover montanhas, entreguei tudo nas mãos do Senhor e Nele eu confio.
            Hoje o meu milagre vai chegar eu vou crer não vou duvidar!

domingo, 22 de maio de 2011

O estádio da Copa e a paralisia do estado de São Paulo.


O pior ponto em sediar Copa do Mundo e Olimpíada é aturar alguns cronistas esportivos se arriscando em falar de políticas públicas. Quase sempre dizendo muitas besteiras.
Todo mundo sabe que sou corinthiano, mas essa discussão sobre estádio da copa está longe de ser orientada por preferência futebolística.
O evento é positivo para a cidade. Tanto no que se refere à sua imagem institucional, quanto no retorno direto em negócios e investimentos.
O estádio da copa deve ser construído em região periférica da cidade. Assim tem sido nos últimos países sedes.
Em São Paulo, todos padecem de esgotamento e tédio devido às horas inúteis que passamos nos congestionamentos. Mas pouco se fala sobre a descentralização do desenvolvimento.
Como qualquer negócio bilionário, o local dos jogos é objeto de disputa e lobby. Mas sejamos francos, um estádio no Morumbi não acrescenta nada para a cidade. Nem em termos econômicos, nem urbanísticos.
Defendo que o Corinthians faça seu estádio, independentemente da Copa do Mundo. Retorne ao projeto anterior e saia deste fogo cruzado em que é acusado de se apropriar de recursos públicos. Na verdade, o Corinthians nem precisa da Copa para fazer seu estádio. Ao contrário, o evento tende em aumentar em muito os gastos para construção e manutenção do esperado estádio.
O governo do estado e a prefeitura há tempos deveriam ter planejado não somente um estádio, mas um centro público de convenções, já que nossos espaços estão saturados.
Na periferia da cidade. Apoiando o desenvolvimento regional e a geração de renda.
Muita gente diz (não sem motivos justos) que o governo não deveria gastar dinheiro com Copa do Mundo e dar atenção a outras prioridades urgentes.
Sem prejuízo das políticas públicas sociais, a Copa do Mundo é sim uma grande oportunidade para que São Paulo se consolide como uma cidade global, aumentando seu potencial de investimento e olhe para o futuro corrigindo os erros do passado.
Mas investir em infra-estrutura urbana em regiões da cidade que já são ricas e desenvolvidas é contraproducente. Neste caso, realmente não se justificaria o investimento público.
Falta pouco tempo para a copa. Uma coisa já ficou clara, a iniciativa privada tem seus limites e interesses. Qualquer estudante de economia sabe que o Estado deve suprir a carência de demanda privada em áreas estratégicas, com vistas ao retorno futuro.
Mas São Paulo, considerada historicamente como locomotiva do Brasil, de um tempo pra cá vem perdendo liderança em diferentes áreas por inércia e covardia.
Aqui em Sampa é comum ouvir alguém dizer que o Maranhão “não sai daquilo” por culpa da família Sarney, que há anos manda desmanda e não sai do trono.
Mas é preciso lembrar também que a camarilha tucana está prestes a completar vinte anos no Palácio dos Bandeirantes e oito anos no Palácio do Anhangabaú. São Paulo parou no tempo.
Neste caso, não falo somente de Copa do Mundo.  

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Bem-vindos

Sejam bem-vindos ao meu novo blog.
Agora com mais recursos e melhor visual.
Há dois anos quando conheci esta nova ferramenta, meu desejo era muito simples.
 Expressar meus sentimentos e falar de tudo que me é importante de maneira despretensiosa, sem o desejo de “resolver” as questões ou dar conta da “grande verdade” das coisas.
Por isso havia escolhido o nome de politicamente incorreto para o blog.
O tempo passou e este conceito de politicamente incorreto se tornou mais amplo.
 Os que se apropriaram desta expressão, quase sempre o fizeram para justificar argumentos preconceituosos e defender posições atrasadas e superadas, com certa nostalgia de um tempo em que a distinção entre dominantes e dominados era mais clara e facilmente se controlava a manutenção do status quo.
Portanto, entendo que o nosso blog deu um salto.
Eu digo “nós”, porque não estou mais sozinho. Nesta jornada encontrei novos parceiros e colaboradores. Aprendi um pouco mais sobre este universo e agora podemos até mesmo fazer reportagens e entrevistas. A primeira delas aconteceu no protesto de “gente diferenciada”.
O que era uma brincadeira despretensiosa está se transformando em algo muito bacana.
E quem diria: não estou mais falando sozinho. Passamos a receber bom número de visitas e acredito que isso ainda vai melhorar bastante.
Peço aos meus amigos que divulguem o meu novo endereço e nossos primeiros posts.
Aos que desejarem colaborar com o blog mandem seus artigos ou sugestões, pois terei imenso prazer em publicá-los.
Os cem primeiros seguidores do blog concorrerão à um “Kit Bukowski” com livros e whisky ou vinho (depende do gosto).

Por falar nisso, para quebrar o gelo, o primeiro post que publico é sobre o AMOR.

Esta é uma crônica que escrevi faz um tempo e foi a postagem que teve maior audiência no blog antigo.
Um forte abraço!

Amor

AMOR



Quem tem dúvidas em saber se já amou alguma vez na vida, é porque em verdade ainda não amou.
Não estou falando do amor cristão. Da maravilhosa fraternidade entre os homens.
Também não falo do amor entre pais e filhos ou entre irmãos.  Nem da paz e amor dos hippies.
Nem da gratidão.
Tampouco falo do bêbado depois do porre que agarra os amigos pelo cangote  e com o hálito notadamente etílico setencia o amor.
Eu falo do amor estúpido, invasivo e mau caráter.
Do amor pleno, cúmplice e generoso
Daquele amor suado, fluido e exausto.
Do amor em que o nó na garganta faz perder a voz e o fôlego e os pés quando os olhos vêem a esperada pessoa.
Falo do amor sujo, sem escrúpulos e sem pudores.
Sem limites do certo, do errado, do crime e do ridículo. Aliás, o ridículo passa a não existir. É um mero conceito externo totalmente estranho ao amor em exercício.
Das manhãs com os dentes por escovar e beijos inundados de saliva.
Com o café posto à mesa ou à cama. 
Os documentos jogados em algum canto.
Já não servem para mais nada. Não faz mais sentido a carteira de identidade, nem o cartão do banco. 
Quando quem se é e o que se tem de mais caro é a pessoa que esta à sua frente.
Com uma camiseta velha, larga e confortável. Abre o sorriso, abre o jogo e abre o coração dizendo:
EU TE AMO!

Palocci e seus clientes

Palocci e seus clientes

As denúncias sobre o aumento do patrimônio de Antônio Palocci abrem discussão sobre as atividades empresariais relacionadas à experiência governamental e os limites éticos para a execução de tais atividades.
O grande patrimônio de uma empresa de consultoria é a informação. O negócio não é tão difícil de entender.
Uma empresa, pertencente a determinado político ou técnico que detém informações privilegiadas, cobra serviço de consultoria para orientar investimentos e “apresentar cenários favoráveis” aos seus clientes.
Quando o negócio está relacionado meramente ao conhecimento adquirido, com vistas às projeções futuras, ele  é lícito.
Mas quando um “serviço de consultoria” recebe aspas e começa a trabalhar com informações presentes e, pior, desenhar cenários e políticas públicas ao sabor de interesses privados isso se torna algo muito pior do que corrupção. É crime contra o interesse nacional.

Por isso não vou aqui ficar falando dos apartamentos do Palocci, porque sinceramente, não sei se foram conquistados de forma lícita. Espero que sejam.
Mas quero falar um pouquinho – e não precisa muito – sobre a presença de Antônio Palocci na recente vida nacional.
Palocci colocou em risco o sucesso do governo Lula. Pior do que isso colocou em risco a retomada do desenvolvimento econômico no Brasil. Se o governo de Lula tivesse naufragado, seria muito difícil que novamente fosse eleito para a presidência um político que não fosse membro das elites econômicas. E mais, tal fracasso abriria as portas para um longo ciclo de governos neoliberais no Brasil, e por conseqüência inevitável, na América Latina.
Quando alguém ouve na rua aquela história de que o governo Lula deu certo porque manteve as bases da política econômica de FHC, a culpa é de Palocci. Na verdade, o governo Lula somente deslanchou depois da renúncia do modelo econômico de FHC, tal ruptura se deu depois da saída de Palocci.
Para quem ainda acha que os modelos são iguais, basta comparar o comportamento do governo Lula no pós crise de 2008, apoiando a produção e o consumo, com o comportamento de FHC na crise do final dos anos 90, elevando os juros, freando o consumo, boicotando a economia nacional e esperando em troca alguma migalha do FMI e dos especuladores.
É claro que o assunto é mais complexo e merece uma discussão extensa, mas no início do governo Lula foi necessário recuar e adquirir condições políticas para avanços posteriores. O governo Dilma não precisa retroceder.
Mas Palocci, que ganhou peso no governo justamente por essa relação promíscua com o “mercado”, o credenciando como uma espécie de diplomata para acalmar os “investidores”, agora esta pondo em risco o futuro do governo Dilma. Na Casa Civil, o neoliberal Palocci colocou os principais projetos de desenvolvimento do Brasil em baixo do braço e quer continuar sendo o “consultor do mercado” dentro do Palácio do Planalto.
O sucesso da empresa de Palocci é sua gigantesca eficiência para com seus clientes. E os clientes do ministro são os bancos e grandes corporações financeiras desinteressadas no desenvolvimento do Brasil para permanecerem sugando o sangue da nação.
Dilma deve aproveitar esse momento e se livrar do Corvo Palocci.

Churrasco de gente diferenciada




Esta é a primeira reportagem do meu Blog.

Um vídeo sobre o protesto por ampliação do transporte público e contra o preconceito social.

Espero que gostem.

Tropa da Elite acusa a sociedade brasileira de invejar os mais ricos

Certas coisas no Brasil não mudam.
Depois da reação da sociedade contra a recusa da quanto à instalação do Metrô na Avenida Angélica por parte de alguns moradores de Higienópolis e a posterior aceitação do argumento por parte do Governo do Estado e do Metrô, alguns dos expoentes do conservadorismo torpe se mobilizaram e tentaram defender o indefensável.
Entre outras bobagens, o argumento comum desta tropa da elite era de que no Brasil os ricos são acusados de todas as mazelas da nação por conta da inveja dos mais pobres. Disseram que no Brasil existe uma cultura de detestar o sucesso alheio e que uma das chaves do nosso subdesenvolvimento é o fato de não admirarmos os mais ricos. Nos EUA, por exemplo, os ricos seriam cultuados pela sociedade e por isso os americanos têm tanto dinheiro.
Portanto, seriamos todos invejosos e ingratos por toda contribuição da elite para a formação cultural, econômica e social do Brasil.
Pois bem. Vamos refletir um pouco.
A formação patriarcal brasileira, nos moldes da “Casa-Grande e Senzala” de Gilberto Freyre, nos remonta à idéia do grande proprietário de terra com direito sobre as coisas e sobre as pessoas no seu território. Era considerado bondoso com seus agregados que podiam usufruir da sua terra e até com seus escravos por sua benevolência. Alguns de seus escravos podiam até mesmo adentrar à casa grande e o chefe até gostava da sua comida, da sua música e até do cheiro de suas escravas. Vez por outra mostrava seu gosto pela “sua gente” em seus intercursos sexuais com as escravas que inevitavelmente traziam ao mundo e à sua propriedade os mulatinhos, que embora jamais deixassem de ser também os bastardinhos, eram aceitos na casa grande e no futuro seriam indicados até mesmo para cargos públicos.
Aliás, os “recursos humanos” que não cabiam na empresa familiar agrícola e com o passar dos anos, empresa familiar industrial, eram absorvidos pelo Estado. Os filhos dos agregados e os amigos da família eram indicados para cargos e funções públicas importantes
Dessa forma, as coisas do Estado sempre foram confundidas com as coisas do patriarca, do fazendeiro, do industrial, do banqueiro, do dono do jornal. No Brasil, as instituições privadas, antecedem e são mais importantes que as públicas.
Jamais um agregado poderia afrontar os interesses do chefe em nome dos interesses públicos. Isso seria uma ingratidão depois de todo o bem que o chefe da casa-grande havia proporcionado aos seus afilhados. Os escravos tampouco podem reclamar do seu chefe benevolente que por tantas vezes foi compreensivo e lhes pouparam as chicotadas.

E os agregados continuam aí. Para eles enfrentar os interesses da elite em nome do bem-estar social é sinônimo de inveja e ingratidão.
O desejo de impedir que uma estação do Metrô aumente o fluxo de “gente diferenciada” que cause conseqüências indesejáveis não é uma reivindicação somente da elite, mas de seus agregados locais, também conhecidos como pequena burguesia.
  
Particularmente, acho o bairro de Higienópolis muito agradável e adoraria sim viver na região, até porque o trânsito nesta cidade tão carente de transporte público é insuportável e o bairro esta situado muito próximo ao centro.  Não tenho nenhum desejo íntimo de me apropriar dos bens da burguesia. Pouco me interessa aderir ao modo de vida dos chiques e famosos.
Mas os interesses coletivos devem ser o centro das prioridades do Estado. Os trilhos do desenvolvimento, do bem-estar social e da justiça não podem desviar o seu trajeto por conta de uma gente estúpida que quer ser única beneficiária da riqueza nacional e sente absoluto horror à igualdade. Jamais aceitará compartilhar o espaço público com seus antigos escravos que agora estão em toda parte. Não querem ver seu bairro igual aos aeroportos, abarrotados pela gentalha.

CQC acha seu humor anárquico, pois eu digo que é udenista!

CQC

Não vou dizer que o humorista (?) Rafinha Bastos fez piadas de mau gosto porque, sinceramente, jamais achei graça em nenhuma de suas pseudo- anedotas. Ou seja, não conheço as de bom gosto.
Aliás, cada vez que eu vejo as apresentações dessa geração stand up mais eu gosto do Costinha.
O humorista (?) zombou dos órfãos no dia das mães via twitter. Outro dia desses disse que as mulheres que reclamam de estupro são todas feias.
Quem me conhece sabe que eu não sou do tipo politicamente correto, mas vou aproveitar essa oportunidade para falar algumas coisas sobre o CQC. Aquele programa que recentemente ofereceu um palanque eletrônico para o Deputado Jair Bolsonaro fidelizar ainda mais o seu eleitorado tão afeito às declarações torpes do parlamentar. Tem gosto pra tudo. Aliás, o Rafinha Bastos tem mais de dois milhões de seguidores.


Existe um consenso estabelecido há tempos de que o brasileiro é um povo conformado e acomodado. Seria este um dos problemas do nosso “atraso”.
Mas nos transformarmos em um povo meramente reativo não é garantia nenhuma de sucesso e desenvolvimento para a nossa sociedade.
Um humorista (?) vestido de terno, gravata e óculos escuros em uma repartição pública, destilando arrogância e constrangendo um servidor, não é certamente um exemplo de maturidade institucional.
Este tipo de atitude não ajuda em nada o desenvolvimento e aprimoramento das nossas instituições. Ao contrário, reforçam a idéia de que a autoridade individual se sobrepõe à igualdade desejada nas relações entre os indivíduos e a sociedade.  
Quando um humorista (?) constrange um funcionário público ou um político obrigando que ele responda a sua pergunta, segundo seus próprios métodos, utilizando recursos de edição e fazendo valer sua autoridade de formador de opinião, está lançando mão do bom e velho “SABE COM QUEM VOCÊ ESTÁ FALANDO?”. É uma carteirada!
Da mesma forma, não é desejável para nossa sociedade que os indivíduos, ainda que justificadamente descontentes, entrem num hospital público e agridam os servidores e a equipe médica porque o serviço não é satisfatório. Até porque isso não resolve em nada o problema.
O que aparentemente seria o outro lado do conformismo brasileiro, na verdade é o outro lado do nosso subdesenvolvimento.
Construir instituições sólidas e democráticas em que os indivíduos saibam como se relacionar servindo-se de seus direitos e cumprindo seus deveres parece ser um caminho dos mais difíceis, no entanto é a única garantia de vivermos em uma sociedade equilibrada e mais justa.
Alguém vai dizer que a função do humor é justamente ser anárquico.
Pois eu digo que esse CQC não tem nada de anárquico. Ao contrário, sua função é a de reproduzir a ideologia do patrão que deseja justamente a manutenção do status quo.
Lembrem-se sempre que o bobo da corte não serve ao riso. Ele serve ao rei.


Essa gente quer mandar no mundo inteiro

Ano passado Obama perdeu a maioria no parlamento norte-americano.

Ainda que esteja cometendo erros políticos, Obama tem tentado salvar o capitalismo Yankee depois da crise econômica deflagrada por W. Bush e pelo “livre mercado” em 2008.

Obama aumentou a participação do Estado na economia e tenta executar políticas públicas com maior inclusão social, como a reforma da saúde, por exemplo.

Mas o contra ataque foi violento. Por defender a universalização da saúde, Obama foi chamado de comunista.

Depois da vitória parlamentar, a estratégia dos republicanos é humilhar o presidente Obama. Para que nunca mais nenhum negro, filho de estrangeiros e defensor de maior equilíbrio geopolítico possa pisar na Casa Branca.

Quando Obama tomou posse, ouvi algumas pessoas dizendo que ele deveria tomar cuidado para não ser assassinado. Pois bem, felizmente isso ainda não ocorreu, em parte porque Obama tem recuado vergonhosamente em suas propostas iniciais, mas também por que a estratégia de fazer com que Obama saia pelas portas dos fundos parece ser predominante no campo conservador.

Ainda que os principais atores políticos do Partido Republicano saibam os motivos da crise e a dificuldade estadunidense para manter sua posição de maior potência econômica do mundo, existem motivações muito especificas para humilhar o primeiro presidente negro do país.


Uma dirigente republicana do condado de Orange, no sul da Califórnia, Marilyn Davenport divulgou através de seu e-mail uma montagem fotográfica comparando Obama a um macaco. A foto ainda dizia “agora você sabe porque não há certidão de nascimento”.

Republicanos protestam para que Obama apresente sua certidão de nascimento, já que alguns deles acreditam que o presidente não nasceu no estado do Havaí. Se isso fosse verdade, Obama seria obrigado a renunciar.

Racistas, xenófobos e religiosos fundamentalistas são as principais bases políticas da oposição norte-americana. A filha da senadora Sarah Palin é militante do movimento pela abstinência sexual. Tenho dito e repito mais uma vez, existe uma grave crise no pensamento político conservador internacional. Isso abre espaço para todo tipo de manifestação desorganizada, carregada de motivações odiosas.

E isso me dá muito mais medo quanto ao futuro do que o aquecimento global.


A crise do PSDB e a reorganização da direita

A Crise do PSDB e a Reorganização da Direita



A reorganização do campo conservador é o efeito mais imediato e visível da derrota de José Serra nas eleições de 2010.

A princípio pensava-se que somente o DEM se esfacelaria como pena por dezesseis anos na garupa tucana, abrindo mão da construção de um programa partidário próprio. Hoje vemos que inclusive o PSDB sofre (e continuará sofrendo) baixas sensíveis.

Mas para entendermos esta decomposição temos de entender como se compôs este campo político que agora parece ter finalizado seu ciclo.

A chegada do PSDB ao poder em 1994 foi um acidente histórico. O partido nunca foi o representante da social democracia brasileira. Este papel coube posteriormente ao PT. Os tucanos, por ocasião histórica, tiveram que se preparar para serem os representantes do liberalismo e organizar a direita nacional.

No raiar da década de 90, os países latino-americanos deveriam cumprir uma agenda internacional de liberalização econômica. Deveriam “desregular” seus Estados e flexibilizar suas legislações, privatizando e abrindo suas economias para o “investimento” estrangeiro.

Este papel caberia inicialmente a Fernando Collor de Melo que conseguiu viabilizar sua eleição – mesmo sem respaldo partidário – se qualificando como o adversário mais potente contra a ameaça chamada Leonel Brizola, conquistando o apoio da grande mídia.

Acontece que Collor fez tudo errado. Apropriou-se do aparelho governamental e cometendo uma série de erros políticos, unificou seus oponentes que (cada um com sua cota de contribuição) foram responsáveis por sua queda. Nas últimas semanas de Collor, o PSDB foi convidado a participar do governo. Alguns desejavam aderir, mas a escolha final foi a de depor o presidente.

Fernando Henrique Cardoso, até então era senador por São Paulo. Havia sido eleito graças ao Plano Cruzado e a expressiva votação de Mario Covas que ficou em primeiro lugar na disputa. FHC até então não era um político destacado. Sequer teria peso para se eleger prefeito ou governador de São Paulo. Há alguns anos, havia perdido a disputa na capital para Jânio Quadros.

Pois bem, o PSDB participou do governo Itamar.

Em 1993 o PMDB enfrentou uma grave crise com denúncias de corrupção no orçamento do congresso nacional.

Depois de ser Ministro das Relações Exteriores, FHC foi chamado para comandar a economia. Itamar havia percebido que a estabilização financeira só seria possível com apoio político e FHC era um bom articulador.
O sucesso do Plano Real qualificou FHC para se eleger em turno único nas eleições de 1994. Mario Covas também se elegeu governador.

O PSDB incorporou a agenda econômica da direita, chamou para a aliança o PFL de ACM e atraiu a direita do PMDB. Com a cumplicidade total da grande mídia, açambarcou o patrimônio nacional. Seu modelo econômico tinha prazo de validade. FHC se reelegeu presidente primeiro através da demagogia cambial (somente desvalorizou o real após as eleições de 1998), depois comprando o PMDB que não lançou candidato a presidente e destruindo as pretensões de Maluf que naquele ano tinha potencial para abocanhar quase metade da votação paulista e desistiu da disputa federal.

O segundo mandato de FHC foi um dos períodos mais tristes de nossa história, com recessão e desemprego. O PSDB saiu do governo sem deixar saudades.

No psicológico tucano, habitava a idéia (como continua habitando) de que são eles os iluminados numa terra de silvícolas. Passaram oito anos esperando o fracasso político de Lula. Não digeriram a idéia de que o novo presidente foi superior em todos os aspectos: político, econômico e social. Inclusive no que eles achavam que faziam de melhor, como as relações internacionais e a articulação com o “deus mercado”.


A derrota de Serra foi acachapante. Foi uma derrota eleitoral, mas também programática e ideológica.

A crise de 2008 gerou uma crise no pensamento político conservador internacional.

Quem conhece a história do Brasil sabe que não existe uma tradição do pensamento liberal no nosso país. Existe sim, uma obsessão pelo desenvolvimento e pela modernidade.

Ou seja, o PSDB não fracassou somente como alternativa de governo para o Brasil. O PSDB fracassou também como alternativa para a direita brasileira que terá que se reorganizar.

Estes últimos episódios de crise são pequenos tremores que antecedem um grande terremoto que ainda está por vir.


O discurso de FHC e a crise do pensamento político conservador



Gerou polêmica o artigo que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicou ontem, a respeito dos novos caminhos da oposição no Brasil.

Entre outras coisas, FHC disse que a oposição deveria concentrar seus esforços para conquistar a nova classe média, que embora tenha emergido durante o governo Lula, não o apoiou majoritariamente. A oposição, em especial o PSDB, deveria construir um discurso que atenda a este novo ator político, além de buscar ferramentas de comunicação com esta massa apta a adquirir novas informações, antes que Dilma – que para FHC tem um perfil diferente de Lula – os agregue em sua base de apoio.

Para isso, FHC defende que a oposição deixe de disputar o voto das classes mais pobres, para ele, desinformada e já cooptada pelo lulismo.

As principais figuras da oposição, ainda que tenham absorvido as lições do professor Fernando Henrique Cardoso, repudiaram o desejo de FHC de deixar de lado as demandas políticas das classes mais pobres.

O artigo de FHC tinha um ar de carta de testamento. O que ele quis dizer, sem pudores pelo cinismo, que alguns futuros candidatos ainda mantém, é que este ainda desconhecido e incompreendido ator político chamado por muitos de nova classe média, possui um terreno muito fértil para o discurso conservador.

A mobilidade social, que inicialmente gera sentimentos de euforia na nova massa, posteriormente gera o desejo de manutenção do novo status, ou seja, este é um eleitorado potencialmente conservador.

Estas pessoas, recém integradas ao mercado de trabalho, e muitos ainda informais, tradicionalmente não foram ligados a instituições representativas e não possuem vínculo partidário. Possuem sim, um forte apego à religião (grande parte é composta por evangélicos) e estaria disponível para receber a plataforma política da oposição.

Não é preciso ser nenhum gênio da ciência política para perceber que os tucanos estão perplexos, sem identidade e sem um rumo certo. Pela primeira vez, desde que saiu do poder, FHC foi abertamente contrariado por seus correligionários.

Independentemente do “público” a ser atingido pelo discurso tucano, alguns problemas ficam evidentes.

A oposição carece de quadros políticos. São pouquíssimos os que conseguem pensar o Brasil e estabelecer novas diretrizes políticas. Falta disposição política para “pisar no barro” e ouvir (mais do que falar) o que a população tem a dizer. Durante os últimos anos a direita se acostumou a confiar seu discurso político à grande mídia.

Finalmente, existe uma crise no pensamento político conservador internacional. Depois da crise econômica de 2008 os preceitos quase que religiosos do liberalismo econômico foram colocados na fogueira. Tradicionalmente, o conservadorismo político brasileiro “importou” uma agenda política internacional. Umas vezes a agenda era o combate ao comunismo, em outras a abertura econômica, a desregulação do Estado, as privatizações, etc.

Neste momento não há uma agenda. Por isso, a oposição tende mais a reagir contra o governo do que pensar a nova política.

FHC bem que tentou. Já com idade avançada, dificilmente será novamente candidato a alguma coisa. Mas seus pupilos ficaram com vergonha do cinismo despudorado do professor.

100 dias de governo Dilma (11-04-11)

Os desafios de Dilma

O governo Dilma completa 100 dias de mandato.
Desde a posse de Lula em 2003, passaram-se 100 meses de uma administração que se propôs a mudar o Brasil.
Mas as principais e verdadeiras transformações não se dão somente pela troca de comando. Elas dependem de arranjos políticos permanentes.
Não estou falando somente de barganhas e favores. Existem disputas entre grupos de interesses que oscilam entre o equilíbrio e o desequilíbrio.
A elite não é uma classe homogenia. Na medida em que determinado grupo político ou econômico ganha força, maior é seu poder de interferir no processo decisório.
O desempenho pessoal de Dilma foi positivo. Surpreendeu aos que não conseguiam ver sua figura política dissociada do ex-presidente Lula. Dilma têm se mostrado segura e centrada. Embora não possua os mesmos recursos de comunicação de Lula, a presidenta aparenta ter objetivos, prioridades e um modo próprio de comandar.
Mas, normalmente, os primeiros dias de governo são momentos de lua-de-mel com o poder. É quando os opositores ainda desenham suas estratégias de combate, esperando o tempo adequado para não parecerem negativos e revanchistas. Mas daqui em diante, os desafios de Dilma serão imensos.
Sob o ponto de vista político, Dilma terá de lidar com uma oposição que procura se reorganizar em torno de novos nomes e novos paradigmas.
Durante o governo Lula, a oposição, com quadros políticos sofríveis, cometeu erros estratégicos, levando um “chocolate” do governo.
Durante a crise do mensalão (2005), a estratégia era esperar para matar Lula na campanha eleitoral. O desempenho pessoal de Lula e a incapacidade do PSDB em se unificar diante da candidatura de Alckmin, além do discurso insuficiente do “moralismo político”, facilitaram a vida do governo.
No segundo mandato os erros foram ainda maiores. A oposição fez um cálculo estratégico de que embora a aprovação pessoal do presidente fosse alta, jamais Lula teria fôlego para eleger a ainda desconhecida Dilma. A população fatalmente optaria por um dos candidatos tucanos, supostamente mais preparados para a disputa.
Ao antecipar para 2007 a escolha de sua candidata, Lula impediu que sua base de apoio se esfacelasse em meio à guerra pela indicação do presidente. Já a oposição, deixou de fazer oposição. Preferiu não enfrentar a popularidade e astúcia do presidente e assumir os avanços de seu governo, concentrando seus esforços em eleger o “pós Lula”. Essa atitude ajudou a mitificar para sempre a figura de Lula.
Mas agora a oposição promete agir. Seu principal líder será Aécio Neves. É bem verdade que será necessário mais do que vontade. Será preciso elaborar um discurso mais abrangente, que vá além das classes médias urbanas. Por isso, enquanto o programa da oposição não consegue ser criativo, ele tende a ser reativo.
E é a economia o ponto mais sensível do governo Dilma. Sobretudo, por conta da recente alta de preços. A inflação volta a tirar o sono dos brasileiros. Mas é importante entendermos as raízes deste problema.
1-    Em 2009 e 2010 o governo fez um esforço gigantesco para manter aquecida a economia e evitar que o Brasil entrasse em recessão, por conta da crise mundial. O Estado procurou suprir a demanda privada, aumentando seus gastos. Isso não viria sem custos. Por mais que seja desconfortável a alta dos preços, seria muito pior se o Brasil interrompesse seu ciclo de crescimento com uma nova recessão e conseqüente aumento no desemprego.
2-    Existe uma inflação internacional. Países como China e EUA também tem sofrido esta pressão. Primeiro pela alta de preços das commodities, produtos como alimentos e minérios nunca tiveram preços tão altos no mercado internacional. Depois por conta da enxurrada de Dólares americanos nas economias globais. Para superar a crise econômica e competir com os produtos chineses no mercado mundial, os EUA injetaram centenas de bilhões de dólares mundo afora, também para desvalorizar sua moeda. É a chamada guerra cambial.
3-    E desvalorizar o Real frente ao Dólar não é tão simples quanto parece. É claro que o Real mais barato facilitaria o setor exportador e as contas externas brasileiras. Mas boa parte dos produtos que tiveram seus preços aumentados nos últimos meses, como a carne e o etanol, por exemplo, se deve ao fato de que as empresas preferem exportar sua  produção por ser mais vantajoso do que abastecer o mercado interno. Ou seja, ao contrário do que se diz, a desvalorização do Real provocaria de imediato uma alta geral dos preços para os brasileiros
4-    As medidas do governo nos últimos dezesseis anos são sempre para frear ou aquecer o consumo. O Brasil não consegue crescer mais porque os investimentos em infra-estrutura foram muito menores do que o necessário nos últimos governos. Não temos como escoar nossa produção e como não é possível vender mais, os preços ficam mais caros. É preciso aumentar o investimento.
Como se vê, a tarefa não é fácil. Os desafios sempre existem. Além de competência, Dilma precisará fazer as escolhas políticas corretas, apostar no desenvolvimento do Brasil e saber se livrar dos chacais e aves de rapina que estão mais perto do que parece. Estes são muito mais hábeis do que aqueles que se posicionaram assumidamente na oposição. Muitas vezes o inimigo mora ao lado.

Violência e Exibicionismo (08-04-11)



Vou evitar atribuir mais adjetivos ao assassino do Realengo.
Até porque de ontem para hoje o estoque foi quase que totalmente gasto: genocida, maníaco, psicopata, louco, animal, cretino, etc.
O que o mundo todo tenta entender é o porquê deste tipo de crime. Ninguém até hoje conseguiu explicar. E não sou eu que teria tal pretensão.
Mas podemos refletir sobre alguns aspectos.
Quem comete um ato desta natureza está buscando reconhecimento. Talvez uma visibilidade que nunca lhe foi ofertada, ou mesmo que ele jamais percebeu.
Foi uma atitude exibicionista. Uma extravagância. Vinda de um indivíduo tímido e retraído que não lograva se posicionar. Certamente, uma pessoa que tinha dificuldade em lidar com sua imagem pública. Em como se é visto pelo outro.
E nos dias de hoje, em que as ações coletivas são diminuídas, os empreendimentos individuais ganham uma importância atormentadora.
Não se vive mais para o exército, para o clube, para o partido, para a família, para a pátria ou para a escola.  As pessoas vivem para si mesmas. Para seus corpos que devem ser esculpidos. Para o sexo em cada subcategoria de prática ou de orientação. Para suas carreiras. Até mesmo a prática religiosa está ligada a uma salvação individual. Reza-se por uma melhoria na própria condição de vida. Espera-se uma redenção pelos seus próprios pecados, cometidos ou não.  
A atitude individual e o exibicionismo são os canais por onde se busca a satisfação humana.  Mas, os projetos individuais e o consumo, não são suficientes para garantir a felicidade. As pessoas precisam de mais. A depressão já é uma epidemia.
 Existe uma pressão para que a personalidade seja elevada a um lugar de destaque.
Desde criança se aprende isso. Na escola já existem as categorias dos vencedores e dos perdedores. Dos aceitos e dos rejeitados. Dos fortes e dos fracos. Constroem-se estigmas que alguns convivem por toda sua vida. Desde pequeno se aprende a perseguir ou ser perseguido. A punir ou ser punido.
O homem queria punir, perseguir, se vingar. E principalmente, buscava o reconhecimento social. Queria exibir seu potencial ofensivo que (para ele) seria legítimo, por sua pureza e castidade. Puniu, sobretudo, as meninas.
Este não é um discurso contra o individualismo. Ao longo da história muitas loucuras também foram executadas em nome da coletividade. Mas podemos refletir sobre as transformações do nosso tempo que não são somente benfeitorias tecnológicas.
Por que este tipo de evento vem ocorrendo de uns tempos para cá? Ora, os indivíduos reproduzem os modelos que estão disponíveis na nossa sociedade. É o famoso “alguém deu a idéia”. Uma espécie de “holocausto, faça você mesmo”.
E o mais assustador é que não há ações preventivas para evitar este tipo de coisas.
Pelo menos, não no âmbito das políticas públicas de segurança.

A Morte do Consenso de Washington (04-04-11)

O FMI decretou hoje a morte do Consenso de Washington.
Depois da crise financeira de 2008, que devastou a economia mundial, o Estado deve exercer um papel maior e controlar os excessos do mercado, segundo o discurso do diretor-gerente do fundo, feito na Universidade George Washington, na capital americana
"O Consenso de Washington tinha uma série de lemas básicos: regras simples para a política monetária e fiscal, que previam garantir a estabilidade, a desregulação e a privatização, liberalizando o crescimento e a prosperidade, e os mercados financeiros canalizariam os recursos para as áreas mais produtivas", explicou Strauss-Kahn.
"Tudo isso caiu com a crise. O 'Consenso de Washington' já é passado", completou.
O Consenso de Washington, propagado no final dos anos 80 até a década de 90 do século passado se configurou como uma série de medidas sugeridas aos países em desenvolvimento para modernizarem suas economias a partir da diminuição da capacidade de regulação do Estado, favorecendo o ambiente para os negócios. Os Estados deveriam diminuir sua interferência sobre os mercados, flexibilizar suas legislações consideradas excessivamente protecionistas e apoiar as privatizações. Desta forma, seria possível aos Estados estabilizar suas moedas canalizar os recursos financeiros para setores onde sua participação seria mais necessária.

O consenso original de Washington de 19891
Disciplina fiscal. Altos e contínuos déficits fiscais contribuem para a inflação e fugas de capital.
Reforma tributária. A base de arrecadação tributária deve ser ampla e as MARGINAL TAX RATES moderadas.
Taxas de juros. Os mercados financeiros domésticos devem determinar as taxas de juros de um país. Taxas de juros
reais e positivas desfavorecem fugas de capitais e aumentam a poupança local.
Taxas de câmbio. Países em desenvolvimento devem adotar uma taxa de câmbio competitiva que favoreça as
exportações tornando-as mais baratas no exterior.
Abertura comercial. As tarifas devem ser minimizadas e não devem incidir sobre bens intermediários utilizados como
insumos para as exportações.
Investimento direto estrangeiro. Investimentos estrangeiros podem introduzir o capital e as tecnologias que faltam no
país, devendo, portanto ser incentivados.
Privatização. As indústrias privadas operam com mais eficiência porque os executivos possuem um “interesse pessoal
direto nos ganhos de uma empresa ou respondem àqueles que tem.” As estatais devem ser privatizadas.
Desregulação. A regulação excessiva pode promover a corrupção e a discriminação contra empresas menores com
pouco acesso aos maiores escalões da burocracia. Os governos precisam desregular a economia.
Direito de propriedade. Os direitos de propriedade devem ser aplicados. Sistemas judiciários pobres e leis fracas
reduzem os incentivos para poupar e acumular riqueza.


Ao final dos anos 90, países como o México, Rússia, Brasil e Argentina viveram graves crises econômicas.
 A partir da abertura de seus mercados e a “desregulação” de suas economias, inicialmente foi possível para alguns países estabilizarem suas moedas. A diminuição nos índices de inflação possibilitou, em um primeiro momento, a melhoria nas condições de vida das populações, a partir do aumento da capacidade de compra.
No entanto, as medidas sugeridas no Consenso de Washington, ocasionaram a quebra dos setores produtivos nacionais que foram negligenciados em detrimento do capital especulativo financeiro, que se tornou (irresponsavelmente) o combustível das economias dos países emergentes.
Ao perceberem que as economias emergentes não poderiam suportar por muito tempo o financiamento de seus títulos  e a rolagem de suas dívidas, houve uma fuga em massa dos capitais aplicados nas bolsas.
O resultado foi uma grave recessão econômica. O FMI que hoje decretou o fim do Consenso de Washington, através do discurso de seu diretor-gerente Dominique Strauss Kahn, na ocasião da crise dos anos 90, condicionou os empréstimos aos países emergentes à adoção de “metas inflacionárias” que representavam importantes cortes nos gastos e investimentos destes países. Foram anos de desemprego e de estagnação econômica. Algumas economias, como a Argentina, jamais se recuperaram totalmente.
A crise mundial de 2008 tem mostrado ao mundo que a falta de regulação do Estado foi decisiva para o desmantelamento das economias mais importantes do globo. O discurso de que o mercado auto-regula se enfraqueceu, talvez de forma definitiva.
Países europeus na tentativa de superarem a grave crise em que estão submetidos apelam para medidas de arrocho e controle dos investimentos públicos. Para cobrir o rombo deixado pelos especuladores, os Estados foram chamados para pagar a conta. Agora, com o aumento de seu endividamento recorrem ao velho receituário neoliberal que, já vimos, é incapaz de fazer superar a estagnação econômica.
Nenhum chefe dos Estados mais ricos do mundo foi capaz de propor transformações sérias em seus sistemas econômicos.
Primeiro porque não conseguiram reunir condições políticas para contrariar os interesses de suas elites econômicas. Obama bem que tentou salvar o capitalismo estadunidense, mas tem sofrido graves revezes e corre o risco de sair do governo humilhado pelos setores mais conservadores.
Segundo porque existe neste momento especial da história uma transitória crise no pensamento político conservador dominante.  
Não existe uma agenda política da direita internacional. O combate ao comunismo já virou um pastiche perdido em meio ao saudosismo retrô das décadas passadas. E a agenda da liberalização econômica parece estar desbotando. O discurso do diretor-gerente do FMI parece ser mais um importante indício deste momento.
Está aberta uma janela de oportunidades para o Brasil. Devemos acelerar decisivamente rumo ao desenvolvimento. É preciso coragem! 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Para minha mãe

Estava deitado na poltrona. Minhas pernas ainda não eram grandes de forma que eu consegui deitar horizontalmente com a cabeça apoiada num braço da poltrona e meus pés em outro. Minha mãe acordou-me com um sorriso brilhante que me fazia entender, ainda que tivesse apenas quatro anos, a sua imensa felicidade. Não havia dúvidas que era um sorriso de profunda satisfação.
 Dei-me conta que estava com uma roupa diferente. Um short vermelho acompanhado de uma camisa branca. Era o meu primeiro dia na escola. Agora sim me lembrava. Minha mãe me despertou absurdamente cedo, me vestiu e me serviu uma mamadeira na poltrona onde me deitei. Mamei durante muito tempo. Minha mãe me protegeu durante muito tempo.
Não sei por que essa é a minha lembrança mais remota. Na verdade, não me lembro de mais nada daquele dia. Sequer me lembro da primeira professora. O que ficou na minha mente para sempre foi o sorriso da mamãe. Sem dúvidas era aquele um momento solene.
Disse que acordei absurdamente cedo porque desse dia em diante sempre tive que acordar cedo, com raras exceções. Essa é nossa vida.
E lá fui eu. Rumo à escola. Rumo ao trabalho. Rumo á vida longe da saia da mamãe. Nada pode ser mais confortável do que os cuidados da nossa mãe. De resto tudo parece ser uma agressão. Inclusive os momentos que hoje entendemos como felizes. O Simples fato de nos arriscarmos em busca da felicidade é estupidamente desconfortável. Descobrimos outras formas de satisfação, mas nada se compara a plenitude do amor materno. Mas temos que seguir em diante e encarar o mundo.
Acho que as mães devem se sentir traídas pelo abandono dos filhos. Na verdade não é um abandono, mas unilateralmente decidimos não mais aceitar os beijos públicos e os mimos dengosos. Mas a vida é tão difícil que de alguma forma nos endurecemos para criar cascos capazes de nos proteger de um mundo que seria incapaz de proporcionar o mesmo bem-estar do colinho de mãe.
Mamãe, difícil encontrar um presente para você tão acostumada a se doar que chega a estranhar quando recebe algo.
Então eu posso dizer a você que sou um homem feliz. Faz tempo que eu preciso te dizer isso. Eu sou uma pessoa feliz. Fiz um montão de coisas bacanas, tenho bons amigos, trabalho com o que gosto e aprendi a estabelecer um modo de vida que me agrada. Descobri uma porção de coisas que me dão prazer e consigo passar a maior parte do tempo alegre e satisfeito.
E tudo o que consegui na vida foi graças à segurança proporcionada pelo seu amor. Enfrentei o medo das entrevistas de trabalho, das reuniões, das provas, das mulheres as quais me declarei e o medo da rejeição ao falar em público. Todos estes medos foram superados por causa do seu amor. Ele sempre me pareceu tão grande que me deu o conforto necessário para cada empreitada.
Hoje eu também tenho uma filha e meu maior desejo é que ela seja feliz e sinta o quanto a amo. Portanto, mamãe, saiba que eu sou feliz e que sinto de verdade o seu amor. Ele é meu maior patrimônio.
Ainda preciso muito de você. Mesmo longe consigo ouvir seus conselhos porque eles estão dentro da minha mente. Fazem parte do que eu sou. E para sempre serei o filho da Dona Irene.
Feliz dia das mães