Sinto pena das próximas gerações que não mais verão no estádio de futebol os clássicos com a presença de duas torcidas rivais, pelo menos em São Paulo.
Era muito bacana ir ao Morumbi e assistir aos jogos com a presença de duas grandes torcidas.
O torcedor era realmente inserido dentro da disputa. Sim, porque parte importante do jogo era ficar frente a frente com o oponente. O espetáculo era, sem dúvidas, muito mais humano.
Nas vitórias era possível se dar conta da própria euforia e satisfação ao ver o outro lado do estádio em completa desolação. Da mesma forma, a felicidade alheia mostrava como era decepcionante conviver com a derrota.
Era uma representação da vida. A gente só existe de verdade em comparação e oposição ao outro.
Existia uma teia de solidariedade e até cumplicidade.
O fim da presença de duas torcidas aos jogos de futebol já era defendido por aqueles que achavam que o espetáculo gerava violência.
Tudo balela. A violência não acabou, ao contrário, ela se espalhou por toda cidade com ponto de encontro de torcedores. Não é o futebol em si que gera tal violência, existem inúmeros outros aspectos da vida social que podem nos dar pistas dos estímulos que levam indivíduos a se digladiarem. Acontece no futebol, mas também acontece na política, nas escolas, nos bailes, nos bairros e até nas religiões.
O futebol, na verdade, tem um aspecto pedagógico que pode ajudar o indivíduo a lidar com a euforia e até com as inevitáveis frustrações.
O que mais incomoda é que não foi o interesse público pela paz social que acabou com os jogos de duas torcidas. Foram os interesses corporativos.
O gosto popular fez com que o futebol virasse um grande negócio com grandes anunciantes.
Os estádios deixaram de ser a arena das massas, palco da grandiosidade pública e se transformaram em um imenso cenário para a televisão.
Os clubes passaram a reivindicar sua participação na propriedade sobre o show. Mas fazem isso de maneira equivocada, preocupados mais com a ostentação do que com a eficiência.
Proibir a torcida adversária de assistir ao jogo na “sua casa” é uma atitude cretina, desnecessária e atrasada. Vai contra a essência do esporte e impede que a gente possa evoluir para uma sociedade com maior espírito público.
Pelo visto os tempos mudaram. O “pão e circo” parece agora serem insuficientes. O pão precisa ao menos vir com gergelim e o circo foi entregue aos leões.
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