Há vinte anos morria Raul Seixas.
Morreu o Maluco Beleza?
Ora, eu não rejeito totalmente o rótulo, até porque o próprio Raul compôs uma linda canção destacando a sua maluques misturada com sua lucidez.
Mas ele se admite maluco em uma medida comparativa com o sujeito normal que faz tudo igual.
O maluco é o lugar social dado aqueles que têm um comportamento distante do senso comum.
Na verdade, Raul era muito lúcido.
Sua lucidez era capaz de dar a ele uma visão crítica e irreverente acerca do cotidiano.
Questionava de maneira escandalosa os valores e a moral dos homens que se consideram justos.
Era um crente e militante dos direitos individuais.
Desestruturava impiedosamente o sistema de uma maneira que variava entre o malicioso e o ingênuo.
Frente à elite intelectual agia com absoluto desbunde. Estes, até hoje, são incapazes de compreender a obra do Raul. Entender a sua força. A sua incrível permanência.
Ainda que suas canções não toquem nas rádios. Ainda que essa elite babaca não reconheça a genialidade de Raul, ele permanece nas rodas de amigos e nas descobertas individuais de cada dia. Em verdade Raul Seixas era um filósofo. A música (como ele dizia) era um instrumento para difusão de suas idéias.
Com quinze anos eu já sabia da existência de Raul. Mas foi naquela idade que obtive a revelação. Um vizinho me chamou para perto de sua vitrola e mostrou um bolachão de vinil com o rosto do Raul. Achei estranho. Mas quando começou a rolar aquele som, entendi o que estava além da canção e algo mudou em minha vida.
Desde então compreendi que não era tão solitário. Percebi que minhas inquietudes, questionamentos, aflições, tristezas, expectativas e prazeres não eram exclusividades minhas.
Não era mais de outro planeta, mas ainda que eu fosse um alienígena, aquilo não era mais um problema.
Raul Seixas era um cara místico. E de uma maneira absolutamente estranha, sua obra continua sendo passada de boca em boca, de copo em copo, de mesa em mesa e de mente em mente.
Por mais vinte anos seguidos: Toca Raul!
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