sexta-feira, 20 de maio de 2011

Tropa da Elite acusa a sociedade brasileira de invejar os mais ricos

Certas coisas no Brasil não mudam.
Depois da reação da sociedade contra a recusa da quanto à instalação do Metrô na Avenida Angélica por parte de alguns moradores de Higienópolis e a posterior aceitação do argumento por parte do Governo do Estado e do Metrô, alguns dos expoentes do conservadorismo torpe se mobilizaram e tentaram defender o indefensável.
Entre outras bobagens, o argumento comum desta tropa da elite era de que no Brasil os ricos são acusados de todas as mazelas da nação por conta da inveja dos mais pobres. Disseram que no Brasil existe uma cultura de detestar o sucesso alheio e que uma das chaves do nosso subdesenvolvimento é o fato de não admirarmos os mais ricos. Nos EUA, por exemplo, os ricos seriam cultuados pela sociedade e por isso os americanos têm tanto dinheiro.
Portanto, seriamos todos invejosos e ingratos por toda contribuição da elite para a formação cultural, econômica e social do Brasil.
Pois bem. Vamos refletir um pouco.
A formação patriarcal brasileira, nos moldes da “Casa-Grande e Senzala” de Gilberto Freyre, nos remonta à idéia do grande proprietário de terra com direito sobre as coisas e sobre as pessoas no seu território. Era considerado bondoso com seus agregados que podiam usufruir da sua terra e até com seus escravos por sua benevolência. Alguns de seus escravos podiam até mesmo adentrar à casa grande e o chefe até gostava da sua comida, da sua música e até do cheiro de suas escravas. Vez por outra mostrava seu gosto pela “sua gente” em seus intercursos sexuais com as escravas que inevitavelmente traziam ao mundo e à sua propriedade os mulatinhos, que embora jamais deixassem de ser também os bastardinhos, eram aceitos na casa grande e no futuro seriam indicados até mesmo para cargos públicos.
Aliás, os “recursos humanos” que não cabiam na empresa familiar agrícola e com o passar dos anos, empresa familiar industrial, eram absorvidos pelo Estado. Os filhos dos agregados e os amigos da família eram indicados para cargos e funções públicas importantes
Dessa forma, as coisas do Estado sempre foram confundidas com as coisas do patriarca, do fazendeiro, do industrial, do banqueiro, do dono do jornal. No Brasil, as instituições privadas, antecedem e são mais importantes que as públicas.
Jamais um agregado poderia afrontar os interesses do chefe em nome dos interesses públicos. Isso seria uma ingratidão depois de todo o bem que o chefe da casa-grande havia proporcionado aos seus afilhados. Os escravos tampouco podem reclamar do seu chefe benevolente que por tantas vezes foi compreensivo e lhes pouparam as chicotadas.

E os agregados continuam aí. Para eles enfrentar os interesses da elite em nome do bem-estar social é sinônimo de inveja e ingratidão.
O desejo de impedir que uma estação do Metrô aumente o fluxo de “gente diferenciada” que cause conseqüências indesejáveis não é uma reivindicação somente da elite, mas de seus agregados locais, também conhecidos como pequena burguesia.
  
Particularmente, acho o bairro de Higienópolis muito agradável e adoraria sim viver na região, até porque o trânsito nesta cidade tão carente de transporte público é insuportável e o bairro esta situado muito próximo ao centro.  Não tenho nenhum desejo íntimo de me apropriar dos bens da burguesia. Pouco me interessa aderir ao modo de vida dos chiques e famosos.
Mas os interesses coletivos devem ser o centro das prioridades do Estado. Os trilhos do desenvolvimento, do bem-estar social e da justiça não podem desviar o seu trajeto por conta de uma gente estúpida que quer ser única beneficiária da riqueza nacional e sente absoluto horror à igualdade. Jamais aceitará compartilhar o espaço público com seus antigos escravos que agora estão em toda parte. Não querem ver seu bairro igual aos aeroportos, abarrotados pela gentalha.

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