quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Diário da Invasão




Os corinthianos vieram aos montes.
Estão espalhados por todas as partes aqui no Japão.
Nas esquinas, no metrô, nas estações de trem, nos restaurantes e nos pontos turísticos.
Todos ostentando como podem o distintivo do Corinthians.
A chegada dos corinthianos à terra do sol nascente foi verdadeiramente impactante.
Quando se encontram pelas ruas das cidades japonesas, a saudação inevitável é um breve "Vai Corinthians". 
Mas sem muito estardalhaço. Sem causar nenhum incômodo aos anfitriões que tem recebido os torcedores com tanto carinho e atenção. Aliás, a educação dos "japas" ao tratar os turistas é tamanha que a gente fica até "sem jeito".
Ao que parece, a invasão corinthiana no Japão tem causado perturbação apenas no Brasil.
O preconceito social embutido no anticorinthianismo transborda o caráter futebolístico.
Durante esses meses que antecederam a vinda dos corinthianos ao Japão, viu-se todo tipo de manifestação ressentida. Fantasiaram torcedores de presidiários na televisão, disseram que os japoneses seriam assaltados, fizeram piadas e desdenharam da nossa empreitada. 


Teve até um jogador - que esqueci o nome -  dizendo que quem é acostumado com rodoviária não deveria freqüentar os aeroportos.
Realmente, o sucesso do Corinthians é absolutamente insuportável para alguns, pois revela uma espécie de quebra da hierarquia social pré estabelecida. É como se os velhos privilégios estivesses ameaçados pela insubordinação dos pobres.
Recebemos até uma cartilha de "bom comportamento" com instruções básicas para não desestabilizar a ordem local.
Mas o que se vê aqui no Japão é o povo brasileiro encantado com as novidades, saudando os benefícios dos serviços públicos de qualidade e desejosos que isso um dia esteja disponível para a corinthianada - e favelados de todas as agremiações - desprezados historicamente por uma elite burra e insensível.
Existe respeito pela diversidade cultural e pelas regras locais.
Não vi até o momento corinthianos fumando, bebendo ou gritando pelas ruas.
No caminho para o estádio de Toyota, palco da semi-final do Mundial de Clubes, a massa de corinthianos foi caminhando em silêncio. Com alguma angústia por não poder cantar o hino no metrô.
Quando nos aproximamos da estação do estádio, alguns cantavam quase sussurrando os versos de Lauro D'Ávila.
Na chegada ao estádio se via uma masa gigantesca. Muitas bandeiras corinthianas. A predominância absoluta de rostos ocidentais, ou seja, eram brasileiros de todas as partes do globo terrestre que cruzaram o mundo para acompanhar o Corinthians.
Haviam japoneses-brasileiros-corinthianos que literalmente se jogaram no meio da galera. Pareciam não suportar mais a saudade do nosso Coringão.
Uma fila gigantesca para trocar os vouchers dos ingressos revelava a desorganização da FIFA, mas também fazia lembrar os velhos tempos de Pacaembú, em que nos amontoávamos nas bilheterias do estádio para garantir um espaço no Tobogã.
A entrada do Corinthians foi emocionante. Podíamos enfim soltar a nossa voz. Podíamos agora acreditar que o sonho havia se convertido em realidade.
O choque entre o imaginário e a imaginação.
 O nosso Corinthians das vilas paulistanas jogando no outro lado do mundo. A memória afetiva que o Corinthians ocupa na nossa mente, com sentimentos tão domésticos e imagens da nossa infância.
Foi muito louco, essa é a verdade. 
É como se a história do Corinthians, com seus grandes feitos do passado, se passasse num filme de ficção cientifica, em paisagem futurística.
O Japão, para mim, se parece com aqueles filmes em que a história acontece centenas de anos à frente. Já o Corinthians me remete a sentimentos do passado que compõem a construção social do nosso povo.
Ta bom! Eu sei que viajei...
Mas foi tudo muito diferente. Catarses acontecem.
Trinta e uma mil pessoas estavam no estádio. Noventa e nove vírgula nove por cento apoiando o Corinthians. Se tirarmos os japoneses que foram ao jogo apenas como fãs do esporte - o que não era muita gente, pois o jogo foi num dia de semana a noite e com um frio dos diabos - dá para ter uma boa margem do tamanho desta invasão.
O Corinthians ganhou. Certas coisas não mudam no tempo nem no espaço. Tivemos que sofrer bastante, até o final.
Na volta do estádio a imagem era impressionante. Dezenas de milhares de corinthianos saindo ao mesmo tempo para garantir a chegada ao trem antes de seu fechamento. Senão, "só amanhã de manhã".
A policia foi acionada. Carregavam uns bastões vermelhos no punho. Ergueram o material que se parecia com um cacetete, mas logo descobrimos que se tratavam de sinalizadores iluminados.
Eles orientavam os torcedores para que seguissem o caminho correto. Sorriam e saudavam educadamente as pessoas. 
Se violência gera violência, gentileza também gera gentileza.
As pessoas tratam como são tratadas.
A volta foi em paz.
Os jovens e crianças japoneses se juntavam e gritavam bem alto: "poro pó pó pó pó pó pó" e rapidamente aprenderam a dizer para todo mundo ouvir: Vai Corinthians!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Niemeyer Morreu Jovem!


Oscar Niemeyer sempre testou os limites exatos da ciência.

Suas obras arquitetônicas parecem contrariar as leis da física. O concreto flutua e suas linhas percorrem as paisagens de maneira leve, graciosa e até mesmo improvável.

Em suas obras, captamos traços de sua ideologia.

Sentimo-nos pequenos diante do espaço coletivo. De imediato, podemos ter a falsa impressão de um estruturalismo  exacerbado.  Mas, ainda que aparentemente menores, somos parte necessária, consistente e imprescindível da concepção de sua arte.

Oscar Niemeyer, antes de tudo foi um rebelde. Um abusado. Sua ousadia e modernidade fizeram com que ele fosse permanentemente um jovem.  

Mesmo com 104 anos de idade, Niemeyer se manteve como um jovem comunista.

E nada mais controverso do que renunciar a própria morte.

A sua obra nos indica que este grande brasileiro jamais desaparecerá!

Tempos atrás ele caiu da escada. Foi ao médico, fez algumas cirurgias e seguiu firme.

Niemeyer resistiu a tudo. Não somente às enfermidades, tombos e velhice. O velho Oscar sobreviveu duramente em um século vinte de guerras, massacres e ditaduras violentas.

Cruzou a virada do milênio e sobreviveu também à desilusão do século XXI. Este nosso tempo em que a modernidade e o avanço estão restritos à quinquilharias eletrônicas e ao consumismo exagerado, disseminando entre todos uma vazia infelicidade. 

Ao contrário do que foi prometido aos idealistas e sonhadores, o ser humano desapareceu e tornou-se cada vez mais desnecessário frente à cifras e números.

Niemeyer é a vitória dos ousados! Os covardes começam a morrer no momento exato em que iniciam suas precauções. Escondem-se atrás de salas, ternos e empregos com medo do dia em que a morte se lembre de suas tímidas existências.

Mas a morte vem!  

Podemos resistir a velhice do corpo, se mantivermos a cabeça e o espírito jovens.

Podemos vencer a morte, se deixarmos obras firmes, íntegras e corajosas, porque estas sim serão eternas.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Vai com Deus, Corinthians!




Que momento tão especial.
A fiel se reuniu e abraçou o Corinthians.
Mostrando que não há nada que separe  torcida e Corinthians, porque, em verdade, esta é uma santíssima união. Não há nada que divorcie uma coisa da outra.
A fiel é o Corinthians e o Corinthians é a fiel.
A ocasião não era de celebração por nenhum campeonato.
Tampouco, qualquer tipo de comemoração antecipada. Nada disso. Nem pensar. Não era isso.
O que aconteceu hoje no Aeroporto de Guarulhos foi um beijo e um abraço de despedida.
Um último carinho. A manifestação do desejo que tudo ocorra bem.
Os anticorinthianos diziam com um regozijo de desprezo que o Corinthians não tinha passaporte.
Eles tinham razão.
Não tínhamos mesmo.
Vencemos o mundial de 2000 com um dos maiores times de futebol dos últimos anos, num campeonato dificílimo e valioso, disputado no Brasil.
Mas esta é a nossa primeira viagem para tão longe.
E nos orgulhamos muito de tudo isso. Não nos ressentimos de nossa história. Nos orgulhamos das vitórias, mas não nos escondemos das nossas derrotas.
Nos orgulhamos de cem anos atrás termos nos intrometido na oligarquia paulista para construir um time do povo.
Nos orgulhamos  de ter esperado 23 anos sem conquistar um título sequer. E nossa torcida se multiplicar nesses anos todos.
Orgulhamos-nos de ter esperado 90 anos por um título brasileiro.
E de ter esperado 30, 40 ou 102 anos para conquistarmos a América.
Não nos envergonhamos de esperar tanto tempo para conhecer o outro lado do mundo. Está tudo certo!
O que aconteceu hoje se compara com a primeira viajem de um filho, sobrinho ou irmão que vai embarcar para o exterior.
E vai a família toda até o aeroporto. Para beijar, abraçar e desejar sorte ao parente querido que irá viajar.
Tirando fotos. Dando tchau e esperando o avião decolar. Como se fosse possível enxergar através daquelas janelinhas tão pequeninas dos aviões.
Tudo isso para irritação geral dos mais ricos tão acostumados com viagens deste porte.
Nós não temos complexos!
Foi um adeus tão lindo...
O nosso Corinthians já foi.
Vai com Deus, Corinthians.
Amor das nossas vidas.
Pedaço que resta das nossas infâncias.
Felicidades meu Corinthians!
Aproveite meu filho. Meu amor.
Inspiração da nossa existência.
Ligue quando puder. Eu te amo meu Corinthians.
Se der, trás uma taça de presentinho, mas se não for possível, tudo bem. Nós vamos entender.
Que Deus te abençoe, meu Corinthians.
Cuidado pra não se machucar. Porém, vai com fé. Vai com raça. Mostra quem é você. Não sinta medo de nada, pois estaremos rezando por você.
Nós estamos tão felizes. Muito felizes.
Vai Corinthians!


sábado, 1 de dezembro de 2012

Homenagem aos corinthianos que não podem viajar ao Japão.




Tenho muitos amigos chateados por não poderem viajar ao Japão para ver o Corinthians no mundial de clubes da FIFA.
Corinthianos dedicados, que acompanham o clube nos quatro cantos do Brasil. 
Corinthianos doentes, que vão aos estádios em meio de semana, às dez da noite, com frio e chuva, voltando pra casa quando o metrô já está fechado, ainda que a partida tenha transmissão ao vivo pela televisão.
Corinthianos históricos que há décadas freqüentam os jogos e tem mil histórias para contar. São ratos de estádio que conhecem todas as manhas para sobreviver nesta selva, tendo vivenciado, inclusive, momentos de muita tensão.
Corinthianos militantes que acompanham a vida política do clube, torcem por todas as categorias e modalidades, reivindicam um Corinthians mais próximo à identidade de seu povo. Cobram os jogadores e os fazem entender o privilégio e a responsabilidade de representarem o Corinthians dentro das quatro linhas.
Corinthianos intelectualizados, conhecedores da nossa história, sabem de tudo sobre a nossa trajetória e explicam, com riqueza de detalhes, para que os mais jovens saibam muito bem o que representa vestir essa camisa e porque somos tão diferentes dos demais torcedores. São a âncora das nossas tradições e impedem que o Corinthians se perca, em meio a qualquer deslumbramento.
Corinthianos fieis que freqüentam os jogos muito antes de o Timão adquirir esta atmosfera pop e ser "engolido" goela abaixo pela elite e pelo establishment futebolístico. Antes do Ronaldo, antes do CT, antes do estádio em Itaquera, antes da Libertadores, muito antes de tudo isso. Os Corinthianos que apoiaram o time na época de vacas magras, no sofrimento, no jejum de duas décadas sem títulos, na segunda divisão, na ditadura do Dualib.
Quero render minhas homenagens a todos estes Corinthianos que são a melhor parte do todo que é o Corinthians.
Os Corinthianos que estão enfermos e que não podem viajar.
Os Corinthianos que estão sem grana para pagar o busão (imagina para viajar até o Japão?).  Meus irmãos, tudo isso logo vai passar. Recebam minha homenagem.
Os Corinthianos que estão juntando uma grana para conseguir comprar a casa própria.
Aqueles que não conseguiram férias no trabalho. É isso aí galera, haverá outras oportunidades certamente. O negócio é batalhar.
Existem aqueles que acabaram de ganhar um herdeiro. Nasceu aquele filho (ou filha) tão esperado. Os bebês precisam de cuidados para se tornarem um dia grandes corinthianos.
Os Corinthianos que cuidam de seus pais idosos e fazem companhia a quem sempre esteve ao seu lado, permitindo viver da melhor forma o amor pelo Corinthians.
Os Corinthianos que estão de luto.
Os que não podem se endividar. Que têm responsabilidades aos montes. Que fazem de tudo para honrar seus compromissos e sabem que toda loucura só é saudável quando "misturada com a lucidez".
Talvez, alguns imaginem que o Corinthians alcance suas vitórias mais "impossíveis" somente pelo grito da torcida.
Que o barulho forte que vem das arquibancadas faz com que nossas equipes joguem com raça e se superem.
Tudo bem, isso não deixa de ser verdade.
Mas não é só isso.
Acontece que o Corinthians tem presença de espírito!
Nossa corrente é muito forte.
Imaginem só os corinthianos que vivem longe de São Paulo? Como eles sofrem tantas vezes por não poderem se fazer presentes?
A magia do Corinthians se revela no inconsciente coletivo. No consciente coletivo. Na inspiração coletiva. Na catarse coletiva. Na vibração coletiva. Num sonho que se sonha junto! Na força espiritual da nossa coletividade. 
As nossas almas estarão presentes!
Não fiquem tristes, meus amigos. Mais importante do que estar lá no Japão, é merecer estar lá com o Corinthians.
E é claro que vocês estarão lá porque vocês são o Corinthians.
AQUI é Corinthians!
AQUI onde bate o seu coração!