Gerou polêmica o artigo que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicou ontem, a respeito dos novos caminhos da oposição no Brasil.
Entre outras coisas, FHC disse que a oposição deveria concentrar seus esforços para conquistar a nova classe média, que embora tenha emergido durante o governo Lula, não o apoiou majoritariamente. A oposição, em especial o PSDB, deveria construir um discurso que atenda a este novo ator político, além de buscar ferramentas de comunicação com esta massa apta a adquirir novas informações, antes que Dilma – que para FHC tem um perfil diferente de Lula – os agregue em sua base de apoio.
Para isso, FHC defende que a oposição deixe de disputar o voto das classes mais pobres, para ele, desinformada e já cooptada pelo lulismo.
As principais figuras da oposição, ainda que tenham absorvido as lições do professor Fernando Henrique Cardoso, repudiaram o desejo de FHC de deixar de lado as demandas políticas das classes mais pobres.
O artigo de FHC tinha um ar de carta de testamento. O que ele quis dizer, sem pudores pelo cinismo, que alguns futuros candidatos ainda mantém, é que este ainda desconhecido e incompreendido ator político chamado por muitos de nova classe média, possui um terreno muito fértil para o discurso conservador.
A mobilidade social, que inicialmente gera sentimentos de euforia na nova massa, posteriormente gera o desejo de manutenção do novo status, ou seja, este é um eleitorado potencialmente conservador.
Estas pessoas, recém integradas ao mercado de trabalho, e muitos ainda informais, tradicionalmente não foram ligados a instituições representativas e não possuem vínculo partidário. Possuem sim, um forte apego à religião (grande parte é composta por evangélicos) e estaria disponível para receber a plataforma política da oposição.
Não é preciso ser nenhum gênio da ciência política para perceber que os tucanos estão perplexos, sem identidade e sem um rumo certo. Pela primeira vez, desde que saiu do poder, FHC foi abertamente contrariado por seus correligionários.
Independentemente do “público” a ser atingido pelo discurso tucano, alguns problemas ficam evidentes.
A oposição carece de quadros políticos. São pouquíssimos os que conseguem pensar o Brasil e estabelecer novas diretrizes políticas. Falta disposição política para “pisar no barro” e ouvir (mais do que falar) o que a população tem a dizer. Durante os últimos anos a direita se acostumou a confiar seu discurso político à grande mídia.
Finalmente, existe uma crise no pensamento político conservador internacional. Depois da crise econômica de 2008 os preceitos quase que religiosos do liberalismo econômico foram colocados na fogueira. Tradicionalmente, o conservadorismo político brasileiro “importou” uma agenda política internacional. Umas vezes a agenda era o combate ao comunismo, em outras a abertura econômica, a desregulação do Estado, as privatizações, etc.
Neste momento não há uma agenda. Por isso, a oposição tende mais a reagir contra o governo do que pensar a nova política.
FHC bem que tentou. Já com idade avançada, dificilmente será novamente candidato a alguma coisa. Mas seus pupilos ficaram com vergonha do cinismo despudorado do professor.
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