terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O Maranhão é aqui! Em SP



Curioso ver meus conterrâneos paulistas abismados com a situação no Maranhão, onde ônibus são incendiados pelo crime organizado e as instituições estão fragilizadas por conta da “coronelização” implementada pela família Sarney durante décadas.

Ora, se não me falha a memória, São Paulo que sempre foi considerada a “Locomotiva do Brasil” está a mais de três décadas sob jugo do mesmo grupo político que controla as nossas instituições desde 1982.

É bem verdade que Orestes Quércia se elegeu em 1986 para o Palácio dos Bandeirantes em dissidência com boa parte do campo majoritário do PMDB, feito que contribuiu decisivamente para a criação do PSDB em 1988.

Porém, tanto no Governo Quércia, como no governo de seu sucessor Fleury, a atual “tropa de choque” do PSDB de São Paulo estava devidamente acomodada nas principais funções da burocracia estatal paulista.

O fato é que apesar da perplexidade paulista com o poder de Sarney no Maranhão, nosso estado está imerso em uma espécie de “coronelismo yuppie”, desde os anos 80. Ainda que tenham ocorrido breves dissidências no comando do Palácio dos Bandeirantes, as principais estruturas de governo e de comando em São Paulo estão blindadas por décadas.

Seja nas Polícias, no Detran, na Dersa, na Sabesp, no Metrô ou nas empresas privatizadas nas grandes confrarias dos quatrocentões que borbulharam pedágios neste estado insuportavelmente caro.

Lembra muito aquele Funk dos anos 90 que cantava assim: “Ta dominado, ta tudo dominado”.

É justo dizer que os governos tucanos foram eleitos democraticamente, na maioria das vezes com ampla maioria dos votos. Muitas eleições foram ganhas em primeiro turno, com a força do voto dos paulistas e também pela incapacidade das oposições apresentarem um projeto alternativo viável, com um candidato que tivesse reais condições de vitória.

Porém, é descabido enxergar o Maranhão como uma realidade tão distante dos paulistas. Seja na política e na administração pública, seja nas distorções sociais.

A elite paulista continua colocando o estado a serviço de seus interesses corporativos.

O parlamento permanece subserviente ao executivo e entregue gostosamente à agenda do Palácio dos Bandeirantes.

As oposições, na incapacidade de se articularem como forças políticas alternativa, compõem acordos sazonais em troca de cargos e alguns benefícios que deem alguma sobrevida política, já que o debate está cada vez mais diluído na população cada vez mais despolitizada.

A imprensa dispensa cobertura jornalística desequilibrada. Os inimigos do PSDB paulista são fuzilados e os grandes escândalos na gestão estadual recebem tratamento generoso e complacente. Em alguns municípios, os órgãos de imprensa regionais recebem anúncios generosos das empresas públicas paulistas. Perseguem as gestões municipais dos adversários políticos dos tucanos e alavancam as candidaturas dos aliados.

Prefeitos “inimigos” são esmagados pelas empresas públicas estaduais como a Sabesp que intimida as gestões “não simpáticas”, esburacando as cidades com obras mal acabadas em período eleitoral e estrangulando financeiramente as prefeituras.

Desde a morte do ex-governador Mário Covas, o partido do governo estadual disponibilizou apenas dois candidatos para o cardápio do eleitorado paulista, sejam em eleições para Presidente, Governador ou Prefeito. São eles: José Serra e Geraldo Alckmin.

Infelizmente, o cenário de São Paulo não é tão diferente do que ocorre Brasil afora.

No entanto, é importante que a opinião pública paulista saiba que não estamos tão distantes do Maranhão como imaginam.

Muito embora nós paulistas certas vezes prefiramos nos enxergar como nova-iorquinos, se olharmos com atenção a absurda má distribuição das riquezas, veremos que “o Haiti é aqui”, que a Somália é aqui e que o Maranhão é aqui.

Quanto à queima dos ônibus e a morte de inocentes nos ataques terroristas do Crime Organizado, é desnecessário dizer que isso virou rotina em São Paulo de um tempo pra cá.

Lamento frustrar a auto-imagem forjada por nós paulistas. Mas é só viajar um pouco e enxergar um Brasil que cresce. Mesmo com os problemas históricos sociais e estruturais. Enquanto isso estamos estagnados e submersos à paralisia.   

Estamos mais para Maranhão do que para Nova Iorque.


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