quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A Lama do Neoliberalismo




A lama do neoliberalismo se desloca tranquilamente.
Engole as cidades, as casas das pessoas, toma as ruas, as praças, as igrejas.
A lama do capitalismo predatório destrói a natureza, polui os rios. Mata os peixes, destrói as vidas na Terra.
Ninguém sabe ao certo como surgiu esse barro todo. Ousam culpar a própria natureza. Colocam na conta de Deus.
O neoliberalismo conquista corações e mentes vendendo a ideia de que o Estado seria inimigo dos indivíduos. Repressor, autoritário, inibidor das livres iniciativas, ineficiente, fonte de todos os males.
Mas a lama que agora cruza o país, partindo das Minas Gerais, rumo ao Espírito Santo. Essa lama já tomou antes Brasília, foi gestada na Bovespa. Essa lama que dizem ser parte da natureza, é justamente a lama que corrompe o Estado. Interfere no processo decisório. Compra os partidos políticos. Financia as campanhas eleitorais. É dona dos meios de comunicação. Patrocina o telejornal. Faz você acreditar que o problema do Brasil "é porque os políticos são ladrões".
E a lama cresce. Ganha força. Cria corporações internacionais quase que indestrutíveis. Permeia todas as instituições. Entra nas universidades. No cérebro dos jovens arrivistas que não foram treinados para pensar e aceitam tudo de bom grado. O presidente da companhia que empurrou todo aquele barro na linda Mariana, recebe cartas e e-mails. Mas não são processos nem protestos. São currículos de quem sonha em fazer parte de tudo isso. De quem já tem a lama introjetada na cabeça, sedimentada depois de tantas palestras motivacionais e livros de autoajuda.
Os criacionistas dizem que o homem veio do barro. Pois então: "do barro ao barro". A lama teria surgido dum terremoto. Da natureza. Assim como a natureza haveria criado por ela mesma as metas inflacionárias, o ajuste fiscal, o superávit primário, o teto da dívida, entre outros elementos que estariam entre todas as outras coisas criadas por Deus, sobre as quais os homens não possuiriam menor jugo.
A lama das privatizações também chegou em Cubatão. A cidade está desesperada. Resumindo a história: Privatizaram a Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), já que a empresa nas mãos do Estado seria "ineficiente e daria prejuízo". Privatizaram no mesmo período a Usiminas.
A iniciativa privada que provocaria concorrência, melhoraria o desempenho e aumentaria a arrecadação do Estado tem um jeito particular de resolver as coisas. A Usiminas comprou a Cosipa. Concentrou o mercado. Agora, resolveu "melhorar seu desempenho financeiro". Aproveitou o argumento da crise e centralizou sua produção. Anunciou que irá desativar a produção de aço em Cubatão. Centenas de famílias desempregadas. O município irá falir. A estimativa é que Cubatão perca 100 milhões de reais em arrecadação de impostos todos os anos. Fora as perdas indiretas na economia local.
As empresas estatais não serviam apenas para dar lucro (que davam) no balancete. Elas geravam divisas para o Brasil. Estavam alinhadas com nossa estratégia de desenvolvimento. Foram subtraídas em tenebrosas transações. Do dia para a noite.
Com a privatização, o Estado poderia investir mais em educação. As estatais foram derretidas e em São Paulo, terra da Cosipa, centenas de escolas estão sendo fechadas e os alunos "concentrados" em salas de aula cada vez mais apertadas para melhorar a logística e caber nas planilhas financeiras dos nossos gestores neoliberais.
O Rio Doce que dava nome à Vale se converte em um rio de lama. Vendo agora, não parece por acaso que a Vale privatizada tenha tirado o Rio Doce de sua marca. Talvez tenha sido um prenúncio de tudo que estaria por vir.
O neoliberalismo obriga ao homem um esforço "re-civilizatório". Estamos permanentemente inadequados no mundo, tentando aprender a nos comportar, nos vestir e a nos adaptar aos novos parâmetros do mundo corporativo e do mercado financeiro.
Talvez até, esperam que sejamos gratos à lama que empesteia o Brasil. Que agradeçamos de joelhos, dizendo "Deus lhe pague".
Olhem bem para essa lama. Ela é a cara do neoliberalismo. Por trás dos cabelos bem penteados, dos perfumes importados, do discurso corporativo, da "responsabilidade social", da "sustentabilidade ambiental". Dos slides em data show. Do discurso atraente. Dos ternos bem cortados. Da fala dinâmica de quem carregaria o Brasil nas costas.
Por trás de tudo isso está essa lama nojenta.

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