quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

25 anos do 1º Campeonato Brasileiro em 1990

A molecada talvez não saiba. Talvez não se dê conta.

Depois do sexto campeonato brasileiro, somado aos três da Copa do Brasil, Libertadores e os dois Mundiais, fica difícil mesmo explicar como era difícil para o Corinthians ganhar um título para além do estado de São Paulo até 1990.

Havia quem dissesse que a culpa era do nome. Corinthians Paulista nos condenaria a ficarmos eternamente restritos às conquistas regionais.
E comemorávamos muito o Campeonato Paulista. Valia muito mesmo.
Era tudo muito mais simples. Pra gente, durante muito tempo, talvez nem fosse tão importante como é hoje ganhar esses campeonatos “distantes”.
O mundo era muito maior. A gente não dizia: “vou à praia”. A gente viajava para “Santos”. “Santos” era como se chamava todo o litoral paulista antigamente, desde Peruíbe até Ubatuba. Era solene. Importante. Na volta das férias a gente fazia um desenho para a professora escrito: “MINHAS FÉRIAS EM SANTOS”
E no Corinthians que aprendemos a amar, a realidade era mais simples ainda. O clube era bem simples. Nas alamedas do Parque São Jorge os senhorezinhos falavam com aquela voz de Adoniran Barbosa.
Hoje em dia, se o Corinthians passar dois anos sem ser campeão já é crise. 
O Setor Oeste de Itaquera, muda de cor a cada camisa nova que a Nike lança. Antigamente, camisa do Corinthians, comprada na loja ou no camelô, era feita pra durar. A gente usava até o tecido ficar parecendo uma lixa. A camisa ficava desbotada, cheia de bolinhas. No segundo-tempo do jogo, a gente suava e aquele pano fervia e dava uma fedentina desgraçada. Mesmo assim, a gente abraçava o amigo na hora do gol. Colocava e recebia aquele sovacão no meio da cara.
Em 1990, a camisa do Corinthians produzida pela “Finta” ganhou uma golinha preta. Já era uma variação. 
O time tinha o Ronaldo que era um monstro. Uma força da natureza corinthiana. Quem jogasse bola na rua, aceitava ser goleiro só pra fazer uns malabarismos, dar um salto e gritar: ESPAAAAAAALMA RONAAAAALDO! 
Tinha o Giba que era ótimo. Hoje seria seleção. O Marcelo era de família corinthiana. Grande Zagueiro. O Márcio não perdia viagem. Era folgado. Corinthiano. No ataque tinha o Fabinho de ponta direita. Hoje o Fabinho seria titular de qualquer time. Era rápido, habilidoso e principalmente esforçado. O Fabinho tinha habilidade, mas não era firulento. Era mais raçudo mesmo. Incansável. O Dinei era feito no terrão. O Mauro de ponta esquerda era meio grosso, mas tudo bem. Jogava para o time. O Tupãzinho jogava muito. Em todas as posições. Conseguia ser decisivo sendo titular ou entrando no segundo-tempo. Era minúsculo, com habilidade maiúscula. O Wilson Mano era como se fosse um torcedor jogando. Parecia que tinha saído da arquibancada direto para o campo. Não se parecia com um jogador profissional. Não tinha cacoete. Mas era aplicado ao máximo. Tinha estrela. Era como se a gente tivesse entrado em campo arrumasse um jeito pra ajudar o time com o recurso que fosse possível. Foi assim que o Mano fez o gol de joelho no primeiro jogo da final. Se não desse de joelho, seria de algum outro jeito. A bola tinha que entrar. E entrou. Graças a Deus.
O Neto era uma espécie de redentor. Ele já era um craque reconhecido quando veio para o Corinthians. Um cara com personalidade forte, meio problemático, que os técnicos não gostavam. Mas um craque. A gente não teria dinheiro para contratá-lo. Veio parar numa troca com o Palmeiras, porque o Leão queria se livrar dele. Um negócio improvável. Por isso que deu certo.
Ele entendeu como quase ninguém o que significa ser ídolo no Corinthians. Ele se forjou como ídolo. Como ele já era Corinthiano, sabia muito bem o que deveria fazer. A diferença do Neto para os outros ídolos talvez seja essa. Ele queria ser ídolo no Corinthians. Não era blasé. Não estava fazendo escada para a Europa. Não via o futebol com indiferença. Não se ressentia dos apuros de ser ídolo do Corinthians. Não tinha medo da torcida. 
O Neto jogou muito em 1990. Muito! O Neto está para o Corinthians em 1990, assim como o Maradona está para a Argentina em 1986. Não é exagero dizer que o Neto ganhou o campeonato para o Corinthians.
Quartas de final contra o Atlético Mineiro. Jogo no Pacaembu. Precisávamos ganhar. Começamos perdendo. O Corinthians mais uma vez perderia para qualquer time nacional e ficaria de fora da disputa pelo Brasileiro, que seria conquistado por qualquer outro protagonista acostumado com esse campeonato. Talvez, ainda não tivéssemos superado totalmente os 23 anos de fila.
Não acho que havia só zica. Tirando o time da Democracia que, de verdade, consolidou o Corinthians como um clube nacional, tínhamos realmente times inferiores aos demais esquadrões nacionais nas décadas anteriores. 
Durante o final da década de 80 se ouvia dos rivais no estádio:
“ERO ERO ERO, CABAÇO BRASILEIRO”.
Perdendo de 1x0 para o Atlético. Parecia que a sina iria se repetir. O Nelsinho iria tirar o Neto. Ele foi ao ataque para um último lance. Já pensou se ele tivesse saído antes? Neto foi para a área com a vontade dos deuses. Subiu de cabeça como nunca. Mandou pro fundo das redes. É gol! Vai Corinthians. Vamo que dá…
Neto faz um lançamento absurdo. Ele estava na linha direita bem no meio de campo. Lançou a bola para a ponta-esquerda. Incrível o lançamento. A bola caiu no pé do Paulo Sérgio. Bom jogador também. O Neto Atravessou o campo. Correu muito. Entrou na grande área. A bola cruzada veio para o Tupãzinho. Escapou. Não dominou. Sobrou inesperadamente para o Neto que fuzilou. Puta que pariu foi gol! Que gol! O Pacaembu veio abaixo. Gritos que saiam do fundo da alma. Gritos que brotavam direito do peito. Nem passavam pela garganta. Meu Deus, foi gol!
Contra o Bahia foi a mesma coisa. O Neto arrasou. Fez o gol de falta que nos colocou na final do Campeonato Brasileiro, revertendo a segunda vantagem, já que nos classificamos em oitavo, quase havíamos ficado de fora.
Já falei do gol do Wilson Mano, no primeiro dos jogos da decisão.
Na última final contra o São Paulo, que tinha um time tecnicamente melhor que o do Corinthians, repleto de jogadores que vieram a ficar posteriormente consagrados, a conquista já parecia mais materializada.
Eu tinha 14 anos. Só falava de Corinthians. Só pensava no Corinthians. Com 14 anos o menino não é mais criança. Também não é adulto. Naquela época, o moleque dessa idade não tinha porra nenhuma. Não tinha nem celular, nem computador pra criança. Nada. Era só o Corinthians dia e noite. Mais nada.
Assisti o jogo ao lado do meu pai. Neto tocou para o Fabinho. Ele foi costurando na entrada da área e soltou a bola para o Tupã. Ele enfiou a bola no meio das canetas do Ivã, um zagueiro muito grosso do nosso eterno freguês. Tupã generosamente devolve a bola para Fabinho. Ele chuta ao gol meio espremido. O Zetti defende. A bola sobra de novo para o Tupanzinho que de carrinho, se esticando todo, empurra a bola para dentro do gol. Que emoção. Saia muita água dos meus olhos. Olhei para o meu pai. Ele chorava e me dizia:
“Você tá pensando o que, filho? Pra mim também é a primeira vez que eu vejo o Corinthians Campeão Brasileiro”.
Eu choro agora de novo, só de lembrar. Vencemos! Era verdade. Não era sonho.
Foi tão importante aquele campeonato. Eu vibro como se fosse hoje. Volto aos catorze anos.
O Corinthians tem esse poder. De nos manter meninos. 
De fazer quem não tinha nem nascido, chorar “lembrando” daquele 16 de Dezembro de 1990 no Morumbi. Vinte e cinco anos atrás.
Mal sabia que essa data se tornaria mais sagrada ainda. Não podia imaginar naquela altura da minha vida que duas décadas depois eu estaria no Japão vendo o Corinthians ser Campeão do Mundo.
De certo, que os desafios de 2012 também estavam impostos em 1990. Talvez com maior grau de dificuldade.
Não existe nem existirá tarefa inalcançável para o Corinthians. 
Os desafios surgem e a gente supera.
Não existe nenhuma luta que a força do nosso povo unido não possa vencer.


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