quarta-feira, 30 de maio de 2012

Wagner Moura foi muito mais corajoso que o Capitão Nascimento! Tributo Legião Urbana.





Wagner Moura realizou o sonho de qualquer cara da minha geração.

Cantou com a Legião Urbana.

E foi uma demonstração de coragem, porque ele sabia que inevitavelmente seria julgado, comparado, avaliado e invejado.

Mas ele foi muito bem.

Não se preocupou em imitar o Renato Russo, nem em interpretar as canções com um olhar próprio. Cumpriu a tarefa com o coração. Era mais um fã cantando. Muito longe de se qualificar como um cantor profissional.

Isso foi muito legal, porque ele não concorreu com a plateia. Ao contrário, adotou uma postura colaborativa.

Foi emocionante ver a Legião novamente num palco. Ainda que o Renato Russo não estivesse presente cantando, sua obra estava lá, nos mostrando sua humanidade. Aliás, o homem é o único animal que tem biografia. Talvez isso nos faça pensar, cada um no seu espaço e com sua vidinha em como nossas obras e ações podem ser perpétuas ou descartáveis, dependendo do que buscamos nesta experiência de vida.

Talvez, hoje em dia não se tenha muita dimensão, mas nada foi mais marcante na juventude da minha geração do que as canções da Legião.

A cada roda de amigos se cantarolavam alguns lindos versos da banda.

Lembro muito das viagens de ônibus que eu fazia Brasil afora com a galera do movimento estudantil. Não existia quem não soubesse quase todas as músicas do Renato.

E sempre tinha alguém que começava puxando:

“Não tinha medo o tal João de Santo Cristo era o que todos diziam quando ele se perdeu...”

Necessariamente, continuava o coro com a galera cantando: “deixou pra trás todo o marasmo da fazenda...”

E assim ia, até que finalmente chegava no “Sofreeeeer”!!!

Doze minutos de música.

Cada um tem suas experiências e momentos marcantes com as canções.

Ficamos adultos ouvindo a Legião. E essa nossa geração Coca-Cola de filhos da revolução e burgueses sem religião não tinha tantas coisas para celebrar. Quem conhece um pouco de história, sabe que os anos 80 foi a chamada “década perdida”. Tudo bem se as coisas nos anos 90 tivessem ficado melhores, mas o fato é que mergulhamos num poço de mediocridade e frustração.

Nossa geração não se alienou. Mas foi alienada do processo histórico. Roubaram-nos a possibilidade de decidir sobre o nosso próprio destino.  A década de noventa seria o “fim da história”. Com a queda do Muro de Berlim, deveríamos nos adequar a nova realidade global, com um único modelo político e econômico e um único modo de vida possível.

A felicidade e a realização poderiam ser somente encontradas no interior de cada indivíduo e nossa experiência pública estaria restrita, a partir de então. Viveríamos cada um por si.

A doença da nossa geração não foi a AIDS, mas a depressão.

Portanto, não é à toa que as canções da Legião Urbana não sejam contemplativas. Alguns críticos mais dados à euforia consideravam as letras depressivas.

Mas nos dias de hoje, introspecção significa necessariamente tristeza. Porque as pessoas não podem olhar para dentro de si. Devem evitar a dor a qualquer custo e desfrutar um permanente estado de êxtase.

A geração micareta não conseguia entender esse lance da Legião.

Não que curtir o som da Legião Urbana, seja um privilégio dos trintões ou quarentões. Ao contrário. As canções tem o potencial de tocar a alma de velhos, jovens, recém-adolescentes e até mesmo crianças.

Quando eu era moleque e ouvia a Legião todos os dias, detestava quando algum velho dizia: “no meu tempo as coisas eram melhores”.

Então eu não vou dizer nada disso.

Apenas que essas bandinhas EMO’s são muito ruins. E não é um problema necessariamente de uma geração de compositores e músicos. Trata-se de experiência histórica. Ninguém mais se arrisca, se doa ou se gasta para tratar de questões profundas e sensíveis ao ser humano.

Tá tudo na base da compulsão mesmo.

Mas o tributo foi muito legal.

Se a Legião Urbana perdeu com o Wagner Moura em afinação, ganhou em excitação e empolgação.

Até porque, verdade seja dita, o Renato Russo tinha uma má vontade dos infernos para fazer shows.

Vamos dar um desconto para o Wagner porque ele não é cantor. Já tinha gente gritando: “pede pra sair”!

Ele está de parabéns!









8 comentários:

  1. E quem nunca cantou, gritando: 'É preciso amaaaaaar as pessoas como se não houvesse o amanhã..." Cresci ao som da Legião e, ontem, ao assistir o show, passou um filme da minha vida, ao som de 'montes castelos', 'de faroestes caboclos', de 'Pais e filhos' e de ' ela não é bonitinha?'. Salve Legião. Salve Renato. Salve Dado, Salve Bonfá e salve tod@s aqueles que ainda, mesmo depois de muitos anos, conseguem se emocionar com cada música...

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  2. Salve, Rafael. Belíssimo texto. Legião tb fez parte da minha adolescencia, e concordo com os comentários sobre as lembranças que as músicas nos trazem. Ontem tb critiquei Wagner Moura na atuação de cantor, mas o principal papel dele ali foi cumprido com muito louvor : um fã apaixonado. E a emoção de estar naquele palco realizando um sonho ninguém nunca poderá tirar dele.

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  3. Perfeito, querido! Como você, também me emocionei...
    Um bjo no S2!

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  4. Perfeito, Querido!!!
    Como você também me emocionei...
    Bjoo

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  5. adorei, foi perfeito sim, e vc wagner moura mandou muito bem sim...parabens querido!!!!!!

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  6. Olha, sinceramente, esse tributo a Legião Urbana foi a prova típica do ocaso total que a música brasileira vem sofrendo. O rock nacional agoniza em praça pública. O saudosismo que muitos demonstraram frente ao evento (espécie de nostalgia da década perdida) não anula a completa falta de competência técnica do cantor, a produção digital fake e o oportunismo do negócio, mas que, enfim, é muito compatível com o "espírito neo-teen-messiânico" da Legião Urbana e da indústria cultural brasileira que vive sem vanguardas e com apelativos revivais disparatados.
    Tenho dito. Um brinde ao funk carioca!

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  7. Olha, sinceramente, esse tributo a Legião Urbana foi a prova típica do ocaso total que a música brasileira vem sofrendo. O rock nacional agoniza em praça pública. O saudosismo que muitos demonstraram frente ao evento (espécie de nostalgia da década perdida) não anula a completa falta de competência técnica do cantor, a produção digital fake e o oportunismo do negócio, mas que, enfim, é muito compatível com o "espírito neo-teen-messiânico" da Legião Urbana e da indústria cultural brasileira que vive sem vanguardas e com apelativos revivais disparatados.
    Tenho dito. Um brinde ao funk carioca!

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  8. Muito bom o texto! Saudades da época onde além do GRANDE Legião Urbana tinhámos também o Ultraje a Rigor, RPM, Titãns, Ira, Biquini Cavadão entre outros. Cantávamos por "horas e horas e horas" nas rodinhas de violão...

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