segunda-feira, 18 de junho de 2012

O Acordo Lula-Maluf e o Limite das Alianças Políticas.



A queda do presidente Fernando Collor de Melo, há vinte anos deixou alguns “legados” na política brasileira.

Alguns destes “legados” são verdadeiros, como a necessidade de os governos eleitos construírem uma coalizão política, que venha a incluir uma parte dos derrotados no processo eleitoral como forma de construir uma maioria no legislativo (e também na sociedade).

Mas a experiência do impeachment deixou também alguns “traumas” e “medos” nos políticos mais pragmáticos. A famosa “governabilidade” tornou-se uma espécie de “seguro conspiração”. Algo perseguido por todos governantes desde então, em todos os níveis da federação.

O fato de que os governos dependem de alianças políticas bem sedimentadas não é uma inverdade. Ao contrário, a história da nossa república nos mostra que é impossível governar sozinho. Até mesmo nos períodos de ditaduras, os governos construíram hegemonias polícias que garantiram o atendimento de interesses heterogêneos.

Mesmo no período imperial, o poder moderador exercia de alguma forma o equilíbrio no nosso absolutismo jabuticaba tupiniquim.

Mas o que derrubou Collor, não foi somente a falta de base de apoio no legislativo.

Faltou, sobretudo, apoio na sociedade civil organizada. Collor esteve só desde o início. São vários motivos para esta “solidão” em relação aos diferentes grupos de pressão, mas trataremos disso numa próxima análise.

Com o fracasso das medidas econômicas de seu governo, sua popularidade derreteu. E não havia nenhum braço da sociedade civil que desse sustentação ao seu governo.

O caso de Lula foi diferente.  Conciliador, o presidente foi feliz na construção de sua base de apoio. Mas Lula não chegou ao Planalto por um acaso ou um golpe de sorte. Sua eleição foi construída durante mais de uma década e existia uma equivalência entre os dotes políticos de Lula e o apoio que ele contava na sociedade. Foi isso que permitiu a reeleição do presidente mesmo depois da “crise do mensalão”.

Não foi somente a base de apoio de Lula que criou as condições para que no segundo mandato o presidente contasse com uma aprovação histórica. O inverso também é verdadeiro. A grande aprovação de seu governo colaborou decisivamente para garantir uma confortável sustentação política no congresso.

Enquanto escrevo este post, acompanho um desconforto tremendo nas redes sociais com a aliança entre Lula e Maluf em São Paulo para a eleição de Fernando Haddad.

Certas coisas se explicam, mas não se justificam.

Vamos então à explicação. Petismo e lulismo, definitivamente são fenômenos políticos distintos. Embora haja indiscutivelmente uma intersecção entre eles.

O lulismo chegou ao poder e se consolidou como uma frente política ampla na medida em que o ex-presidente soube – com muita habilidade e grandeza – atender aos anseios políticos nacionais depreciados no período FHC. Lula caminhou para o centro e empurrou os tucanos para a direita. E de lá o PSDB não saiu até hoje. Estão lá, prensados na direitona mais boçal, regozijando gostosamente.

Para implantação do projeto neoliberal, o governo FHC (aliado à grande mídia) aniquilou diversos quadros do “desenvolvimentismo” brasileiro. Desde à esquerda até à direita.

Este processo “arrasa quarteirão” gerou ressentimentos e deixaram expostas feridas no Brasil. A política do governo FHC efetivou-se como uma traição ao projeto nacional, pelo qual sacrificaram-se gerações de brasileiros.

Os desenvolvimentistas estavam órfãos de representação política. O governo Lula soube atender aos anseios nacionais muito além do que já contemplava originalmente o programa do PT.

Lula tem a consciência de sua importância como elemento aglutinador destas diferentes expressões políticas brasileiras. E sabe muito bem quem são seus inimigos.

O PT sabe que se manterá no poder durante o tempo que for capaz de liderar uma hegemonia política. O que é bem diferente de mandar e ser obedecido.

Mas a aliança política com Maluf na cidade de São Paulo é um erro. Se este acordo político atende aos interesses imediatos das duas correntes políticas da capital paulista, por outro lado fortalece o discurso dos oponentes.

E pior, desagrada ao eleitorado dos dois políticos.

Os petistas (ou lulistas) se ofendem com esta aliança que inibe o ímpeto de sua militância, fator conhecidamente decisivo no processo eleitoral.

Mesmo o eleitor malufista não irá aceitar este acordo tão improvável. Aliás, no segundo turno das eleições em 2008, a candidatura de Marta já havia contado com o apoio de Paulo Maluf, mas isso não significou sequer uma possibilidade de vitória.

Para os malufistas, a rejeição a esta aliança pode até reforçar o voto conservador. E se o ex-governador Serra tem sido bem sucedido em alguma coisa nos últimos tempos é em atrair este eleitorado de direita.

Tudo bem que a candidatura de Haddad ganha mais um minuto na campanha de TV (e tira um minuto do principal adversário).

Mas por outro lado, esta eleição em São Paulo tem um forte apelo por renovação política. Os paulistanos estão fartos da velha política que vem condenando São Paulo ao atraso. Esta cidade, acostumada a liderar o Brasil, nos últimos anos está à reboque, perdendo a chance de crescer junto com um Brasil vibrante e transformador.

A aliança com Maluf representa a velha política. Inibe o potencial renovador da candidatura de Haddad.

Lula pretende desenhar um novo mapa político nas principais cidades brasileiras. Interferiu em diversas candidaturas e será testado nestas eleições.

No caso de São Paulo, nunca é demais lembrar que certo tipo de interferência na política local tende a não ser bem recebido.

O “dedaço” de Lula e a soberba de Serra – que rendeu o PSDB em benefício de seu projeto político – podem fortalecer uma terceira via. Quem viver verá!

9 comentários:

  1. Como Petista acho um equívoco lamentável esta aliança, que não trará nenhum voto para o inexpressivo haddad. esta aliança certamente foi forjada pelo Lula, que apesar de seus méritos nunca foi um homem de esquerda. Triste...muito triste

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  2. Como justificar alianças criminosas com a mais pura falácia lulista, lição 1

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  3. Não há, em São Paulo, uma terceira via. Nos países onde ela existe, é formada por partido(s) independente(s) dos majoritários. Aqui, todos os candidatos além de Serra e Haddad são de partidos aliados a um ou outro em diferentes estados ou no plano federal, uma anomalia consequente da falta de autenticidade dos partidos existentes. Só isto já inutiliza o resultado das eleições, porque cerceia a vontade de eleitores que não aceitam um ou outro. Vivemos num país democrático na forma(com suas formalidades inaplicáveis na prática), mas não na realidade dos direitos dos cidadãos. Uma democracia no papel, com uma realidade oligárquica na prática.

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  4. Como petista me sinto traida com essa aliança vergonhosa.

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