quinta-feira, 4 de julho de 2013

1 Ano da Conquista da Libertadores. Precisava ser assim. VaiCorinthians!



A conquista da Copa Libertadores não era um fetiche.
Não era o capricho dos Corinthianos.
Tampouco, as permanentes tentativas de vencer esse campeonato traziam um sentimento de inferioridade perante os demais clubes. Não precisávamos desse campeonato para superar nosso complexo e ficar no mesmo nível de outros grandes clubes. Bobagem! Besteira! Não era nada disso.
Existia sim um trauma por conta dos momentos de frustração e de tristeza. 
Dos empreendimentos equivocados do Corinthians. 
Das vezes em que nos distanciamos das nossas características e tradições.
Quando a cada nova contratação, ouvíamos a sirene do Parque São Jorge e olhávamos meio de lado a fuça do jogador e pensávamos: "Será que esse vai ser o cara que vai nos trazer a Libertadores?".
A torcida também cometeu seus erros, emprestando uma solenidade desmedida aos jogos da Libertadores. Gritávamos "é quarta-feira" logo no começo da semana e aumentávamos o peso que carregávamos nas nossas costas.
A Libertadores não era fetiche, não era capricho, não era obsessão, não era objeto de desejo. Era o que então?
Não queríamos ser os novos reis ou os novos donos da América. Aliás, parece-me um contrasenso um clube vencer uma taça chamada LIBERTADORES da América, em homenagem à grandes homens que lutaram pela emancipação do continente, livrando-nos do jugo colonialista - luta essa que até hoje não se concluiu - para depois de campeão se proclamar Rei da América... Estranho isso.
O Corinthians queria vencer a Libertadores por dois motivos principais. O primeiro era para se libertar de uma aflição que recaiu sobre a nossa história e nos impedia de avançar. Nossos projetos ficavam todos subordinados à Libertadores e isso nos atrapalhava demais. O segundo e principal motivo é a vocação do Corinthians para alcançar esse continente.
No fundo, todo Corinthiano sabia que seria uma questão de tempo. Mas que depois de vencido esse campeonato, poderíamos chegar as vilas espalhadas pela América Latina proclamando um destino compartilhado com o proletariado corinthiano espalhado nas quebradas de São Paulo.
Precisaríamos mostrar ao mundo o que é o Corinthians.
Não queríamos render ninguém, a não ser o pensamento tacanho e preconceituoso. Queríamos sim era compartilhar aquilo de melhor que possuímos. Aquilo que é definitivo na vida de uma pessoa. A experiência de ser corinthiano.
Alguns pensavam nos ofender quando diziam que éramos um time da ZL. Ora, de verdade isso nunca nos pegou. Jamais nos ofendeu. Somos sim o time do povo.
Portanto, a verdadeira realização em vencer a Libertadores estava na afirmação da nossa própria identidade. Que a vitória fosse conquistada reforçando nossas próprias potencialidades. 
Não precisávamos de nenhum "cara". Talvez demoramos para entender que a nossa força está justamente na estrutura, não nos agentes. 
E aquele time de 2012 não tínha nenhum ídolo. Talvez sequer esteja entre os três ou quatro melhores times da nossa história. Mas creio que o time de 2012 entrará para a história como o mais querido da nossa gente.
Muitos jogadores de "jogo difícil" no mesmo time. Jogadores que crescem em momento de decisão. Identificados com o Corinthians que aprendemos a amar. O Corinthians que joga o jogo, assim como a gente joga a vida.
Precisava o Tite assistir o jogo no meio da torcida para tomar um banho de povo. Olhar com nossos olhos e comemorarmos abraçados o Gol do Corinthians para deixar claro que aqui o mundo gira diferente. O gol não sai do campo e vem pra arquibancada. Porra nenhuma! Aqui é Corinthians. A coisa vem de fora pra dentro. E não é só da arquibancada. O Gol brota na presença de espírito de cada corinthiano espalhado em suas casas, barracos, botecos, celas, leitos de hospitais.
Uma energia que ungiu o Paulinho que subiu aos céus e cabeceou pro fundo do gol quando o jogo estava no fim...
Que emoção. Impossível não chorar.
Precisava sim o Paulinho subir no alambrado e abraçar o torcedor.
Uma cena linda que vai ficar para sempre na retina de cada corinthiano. Deus do céu!
Precisava vencer o time da moda. Derrotar o time do Pelé na casa deles e vingar o meu pai, coitado. Como sofreu! Essa molecada deveria entender que a vida nem sempre foi tão fácil para o Corinthians.
O time da moda tinha que saber melhor quem era o Emerson Sheik. Puta golaço.
O Santos jogava dando risada e fazendo dancinha. Vai te catar!
Fizemos o jogo ficar sério e o bicho pegar. 
Precisavam ver o Danilo frio e concentrado colocando a gente na final. 
Estaríamos vivendo a realidade? Venceríamos mesmo esse campeonato depois de tanto sofrimento?
Veio o Boca Juniors. O bicho papão dos clubes brasileiros.
Se os outros times morriam de medo do Boca, nós sabíamos que não deveríamos temer. O que eles tem de melhor - e que assusta todo mundo - nós temos de sobra, pô.
Nós somos o time do povo. Nós enfrentamos as decisões como enfrentamos as grandes dificuldades da vida.
Precisava sim calar a Bombonera.
Precisava surgir um novo personagem. Um moleque que surgiu do nada, como se tivesse baixado alguém da arquibancada ou de algum campinho perdido na periferia pra jogar na Argentina e tirar a nossa zica.
Aquele toque leve que encobriu o goleiro do Boca serviu para dizer: "é isso". O Corinthians vai ganhar invicto essa tal Libertadores. Anticorinthianos, se acostumem com a idéia. Isso não deveria ser tão dificil assim. A frieza do Romarinho recém chegado no Corinthians era para dizer que não precisávamos de redentores, pois a redenção estava em nós mesmos,
No dia 4 de julho de 2012 voltei de viagem. Interrompi minhas férias planejadas meses e meses atrás porque não fazia sentido ver o Corinthians campeão longe de casa. Ainda que não conseguisse ir ao estádio eu queria ver a cidade.
Cheguei em casa e meu pai me esperava na porta. Com a bandeira do Corinthians nas mãos. Um sorriso de felicidade por ele, pelo Corinthians e também por mim. Pois ele sabia que no meu peito explodia uma alegria de viver o nosso Corinthians.
A casa enfeitada. Minha mãe feliz. Todo mundo feliz. Era o meu Corinthians, meu Deus.
Tinha escrito um texto: "O porquê do Vai Corinthians". Enquanto eu viajava o texto explodira aqui no Brasil e muita gente compartilhava. Foram milhões de pessoas...
Vivia realmente um momento de plenitude de amor pelo Corinthians.
Porque não estávamos alí depois de vender a alma para o Diabo. Nem passado por cima das nossas tradições. Seria o nosso velho Corinthians a jogar no Pacaembu.
Sentei no boteco ao lado do estádio. Ganhei um ingresso de um amigo. Nunca agradeci a ele como deveria. A verdade é que quando ele me deu o ingresso pensei que fosse piada. Pegadinha.
Deus abençoe para sempre esse cara.
Assisti ao jogo no Tobogã. A noite era mágica. Vestia a camisa mais velha que tinha no armário.
Precisava sim o Sheik esmerilhar naquela partida.
Precisava dizer pra todo mundo que não tremeria naquele jogo depois de enfrentar todas as dificuldades na vida dele, mas tão presentes na vida de tantos corinthianos favelados.
Quando o Sheik matou aquela bola com as costelas e executou o goleiro do Boca eu não podia acreditar. Pulava como Criança. A bola tinha entrado. Era verdade. O Pacaembu veio abaixo e não tinha mais como o Boca segurar a bucha. Nem um time "traiçoeiro" como aquele poderia surpreender o Corinthians.
Mas a certeza veio quando o Sheik roubou a bola no meio de campo. Correu como um foguete até a entrada da área. Eu gritei "mata o jogo. Mata o jogo". 
Ele matou. 
O Corinthians foi campeão invicto da Libertadores.
Não existia mais nenhum obstáculo que o Corinthians não pudesse superar.
Contra tudo e contra todos, nós vencemos. Mais unidos do que nunca!


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