sexta-feira, 28 de março de 2014

Reaça Pop e a Opinião de Grife.



Tenho visto alguns amigos dizendo que ser reacionário esta na moda. E que não há limites para o absurdo.

Creio que eles tenham bons motivos para pensarem assim. 

Na verdade a opinião, entre outras coisas, também tornou-se uma espécie de grife. Há tempos os jornais deixaram de vender notícia. Em suas peças publicitárias, quase sempre eles vendem como produto uma espécie de "modo de pensar", "modo de agir", ou "modo de se posicionar diante das coisas". Nada muito diferente de uma camisa polo.

O Estadão é um caso clássico na venda deste tipo de "opinião de grife". Antigamente tinha aquela peça que dizia assim: "Acho melhor você começar a ler o Estadão". O comercial convidava o consumidor a se preocupar com a opinião (ou falta de) para que evitasse constrangimento em seus eventos sociais, para que não emitisse algum posicionamento inadequado para certo tipo de ambiente.

Hoje o Estadão tem uma peça ainda mais sintomática. Eles colocam um fantoche com cara de "inteligente médio de classe média e com recursos orais médios", dizendo que se ele tivesse um cérebro estaria lendo o Estadão. Ele diz entre outras coisas que se você estiver sentado num avião - conquista recente de boa parcela da classe média - e estiver ao lado de quem não "tem opinião" a viagem demora muito mais. No entanto, caso você esteja sentado ao lado de quem lê o Estadão, com as "opiniões certas", a viagem passaria muito mais rápida.

Duas pequenas observações a respeito deste comercial.

Primeiramente, não sei a quem convém ser um fantoche do Estadão. A não ser aquele indivíduo extremamente vulnerável e inseguro, buscando aceitação a qualquer custo, usando a camisa de grife certa para as ocasiões equivalentes. Admiro a sinceridade do Estadão em demonstrar finalmente que eles esperam que seus leitores se comportem como fantoches.

Segunda observação. Eu não sei quanto a vocês, mas ficar no avião, durante horas, sentado ao lado de um leitor fantoche do Estadão destilando sua visão de mundo cheia de certezas, me pareceria a coisa mais terrível do mundo. Talvez em dado momento eu prefira que o avião mude de rota e vá para outra dimensão, igual àquele vôo da Malásia.

A Veja era "indispensável", hoje não tem grana nem cara de pau pra fazer comercial. A Folha quase sempre coloca um yuppie despenteado e com a gravata frouxa se mostrando muito articulado e quase nova-iorquino. Talvez, se você lesse a Folha ficaria um reacinha cult. Um pequeno burguês desajeitado e filho da puta.

A verdade é que os jornais andam em baixa. Na internet temos as celebridades que se alimentam do absurdo.

Para mim o blog nada mais é do que um hobby, mas é fácil perceber que para superar a  invisibilidade é preciso buscar o escândalo. Eu to bem aqui no meu canto. 

Mas os reacionários da selva cibernética fazem de tudo para serem lidos e garantirem a simpatia dos chefes. Se alimentam do ódio. Não há limites para a verborragia.

Na moda mesmo estão os apresentadores de talk show. Surgiram como comediantes que se diziam defensores de uma espécie de "humor anárquico". Porém, inevitavelmente uma anarquia a serviço do patrão. O bobo da corte não serve ao riso, mas serve ao rei. E assim eles fazem.

Disseminam a lógica da opressão aos mais fracos, fazendo com que seus telespectadores sintam-se regozijados por não mais pertenceram a classe tão infame. Aliás, como exercício de pertencimento  a nova classe e ao novo status, necessário se faz pisar no pescoço de quem está embaixo.

Ou seja, não é o direitismo nem o reacionarismo que estão na moda. É a nossa sociedade que permanece vertical, violenta e intolerante.

O sujeito passa boa parte da vida andando de ônibus. Quando compra seu primeiro carro se sente no direito - e até na obrigação - de passar por cima da poça de água e molhar os pedestres que caminham na calçada.

O cidadão cansou de ser humilhado na empresa, no banco, na fila do SUS. Agora que ele viaja de avião, se reveste de uma cidadania que ele nunca teve. Despeja todo seu ressentimento e muitas vezes humilha as comissárias e comissários de bordo. Isso acontece muito e é insuportável.

No Brasil as pessoas se penduram no camarote que for. Dão um jeito para não serem confundidas com os pobres. Pois não há chaga maior do que ser pobre. A gente pode ser ladrão, fraudador, estelionatário, ou apresentador de tak show. Só não pode ser confundido com pobre.

Não são os reaças que estão na moda. A moda é que serve para distinguir os indivíduos. 

E quando um coitado qualquer destila absurdos carregados de preconceito, racismo e violência, sente-se automaticamente mais longe dos pobres e mais próximo do discurso da classe dominante.

Um comentário:

  1. Perfeito como sempre. Uma das coisas que mais me irrita nessa vida são pessoas que crescem um pouquinho e começam a achar que são melhores que outros. Hoje tenho uma vida melhor do que na minha infância e nem por isso me acho melhor que outra pessoa. É triste pois vejo pessoas assim na minha família.

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