quarta-feira, 9 de abril de 2014

Rala Mandada! Rala Mandado! Quem são então os "pensadores"?




Que tempos são esses. A livre provocação do professor de filosofia, qualificando a funkeira Valesca Popozuda como pensadora de seu tempo, desencadeia uma onda de protestos nas redes sociais brasileiras, com manifestações de indignação.
Alguns demonstram uma súbita percepção de que estaríamos reféns da mediocridade e da falta de cultura, numa sociedade com “valores” invertidos.
Grande coisa!
Tudo bem que a mediocridade boia e salta aos olhos de maneira imediata. É muito mais fácil perceber as estupidezes cotidianas do que a profundidade do pensamento transformador.
Porém, não somos mais nem menos medíocres por conta da existência da Valesca ou qualquer outro funkeiro.
As pessoas que apontam o dedo contra a Valesca sentem-se automaticamente mais inteligentes e eruditos por supostamente estarem “do lado de cá”. Certas personalidades públicas cumprem um papel social interessante. Elas servem para que alguns deixem de se sentir tão ignorantes.
Ao reparar nos erros de português de alguma celebridade televisiva ou até mesmo do ex-presidente da República, alguns ficam satisfeitos e passam a acreditar mais em si mesmos. Supõem que os estúpidos sejam os outros e que suas vidas ordinárias são reflexos de uma sociedade que não soube reconhecer seus verdadeiros valores.
O treinador de futebol Joel Santana ficou mais famoso ainda depois de dar uma corajosa entrevista em inglês, quando era técnico da África do Sul. A imensa maioria – na qual eu me incluo - dos que acharam graça do inglês “cariocado” do Joel, sequer domina duas dúzias de palavras na língua inglesa e jamais conseguiria elaborar uma frase, muito menos transmitir uma linha de raciocínio.
Particularmente, eu invejo muito a coragem do Joel. Talvez se eu tivesse a mesma manha conseguiria superar as minhas dificuldades crônicas com este idioma.
Voltando à Valesca. Por que ela não seria uma pensadora de seu tempo? O que vem a ser um pensador? Quem decide o que é e quem poderia ser chamado de pensador?
O que mais se vê pelos quatro cantos deste país é supostos intelectuais que só falam besteira. Com o peito estufado de pedantismo destilam as piores atrocidades repletas de rancor e preconceito.
Como disse Darcy Ribeiro, alguns destes utilizam o conhecimento como uma forma de adorno. Um elemento de distinção social. Alguns escrevem de maneira incompreensível, se escondendo na areia movediça dos relativismos sobre tudo aquilo que é socialmente irrelevante.
Claro que possuímos muitos intelectuais brilhantes no Brasil, mas estes não são tão satisfeitos e crentes em si mesmos.
Será que a Valesca Pensadora causou furor por ser funkeira? O que então seria melhor?
E se a alcunha de pensador fosse destinada a algum ex-roqueiro, carcomido pelo tempo. Apavorado por envelhecer e vivendo de aparições esporádicas na mídia. Soltando ao vento conceitos rasos e argumentos torpes em busca de um pouco de atenção?
O pensador do nosso tempo estaria em algum festival de rock gritando jargões batidos como: “Fora Sarney!”, “Fora Renan!” ou “É a porra do Brasil!”. Que inovador, heim? Resolvemos a questão. Grande merda.
Os verdadeiros pensadores seriam comediantes apresentandoalgum talk show de horror? Fazendo piada contra “os políticos corruptos do Brasil”? Escrachando alguma empregada doméstica, alguma mulher estuprada ou um pobre desfrutando sua piscina de plástico na laje de sua casa?
Onde estão nossos verdadeiros pensadores? Estariam espalhados na “classe artística” da televisão brasileira? Nesse apanhado de gente obediente que protesta de preto a serviço do patrão, demonstrando sua indignação seletiva? Seriam os artistas que simplesmente ficaram em silêncio no aniversário de 50 anos do golpe militar? No país inteiro houve um monte de manifestações contra a ditadura, e nossos “pensadores” artistas simplesmente fingiram que não viram nada acontecer. Ficaram na deles. Escondidos.
A Valesca pode não ser uma compositora sofisticada. Mas não deixa de ser genial! Ué? Por que não? Quem é genial então?
Ela faz parte de uma porção viva da sociedade. Que sente vontade de dançar, falar palavrão, chocar, viver, comprar, transar, conhecer e experimentar.
Não esta outra sociedade morta e carcomida que sente vergonha de si mesma. Este monte de gente hipócrita e ressentida que não cria nada e tem raiva de quem cria. Que não vive nada e tem raiva de quem vive.  Que não come ninguém e tem raiva de quem come.
Nada pode ser mais atormentador do que passar a vida inteira obedecendo ao patrão e “fazendo tudo direitinho” , para depois ser ultrapassado na escala social por quem veio “de baixo”.
O Brasil é muito mais do que essa gente triste que se envergonha da própria mestiçagem e se enxerga como ianque. Que morre de medo de “pagar mico” e ser confundida com os pobres. Que sente vergonha das favelas, mas não quer acabar com a pobreza para ver preservados seus espaços de privilégio.
O “beijinho no ombro” da Valesca é, sobretudo, pra essa gente recalcada que se sente apavorada ao não saber conviver numa sociedade em transformação. Que exige que as mulheres, os “bichas”, os “baianos” e os “favelados” ocupem o mesmo espaço de subordinação de outrora.
Rala mandada. Rala mandado!




5 comentários:

  1. Rafael , com tanta baboseira que encontramos na internet , fico feliz de ter te encontrado. Adoro ler o que você escreve , parabéns.

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  2. roqueiros náo são pensadores, os cara do talkshow idem, os cara da grande imprensa idem. Os academicos intelectualoides tem essas idiossincrasias que voce descreveu. Valesca representa uma forma de viver e pensar popular ligada aos excluidos da opulencia burguesa mas esses funk são vazios rasteiros grosseiros. Excelente seu texto

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  3. roqueiros náo são pensadores, os cara do talkshow idem, os cara da grande imprensa idem. Os academicos intelectualoides tem essas idiossincrasias que voce descreveu. Valesca representa uma forma de viver e pensar popular ligada aos excluidos da opulencia burguesa mas esses funk são vazios rasteiros grosseiros. Excelente seu texto

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  4. roqueiros náo são pensadores, os cara do talkshow idem, os cara da grande imprensa idem. Os academicos intelectualoides tem essas idiossincrasias que voce descreveu. Valesca representa uma forma de viver e pensar popular ligada aos excluidos da opulencia burguesa mas esses funk são vazios rasteiros grosseiros. Excelente seu texto

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  5. roqueiros náo são pensadores, os cara do talkshow idem, os cara da grande imprensa idem. Os academicos intelectualoides tem essas idiossincrasias que voce descreveu. Valesca representa uma forma de viver e pensar popular ligada aos excluidos da opulencia burguesa mas esses funk são vazios rasteiros grosseiros. Excelente seu texto

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