quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Próximo presidente estará no fio da navalha


Durante o horário eleitoral, diferentes correntes políticas fizeram esforço para se apropriarem do "sentimento popular" exprimido nas manifestações de 2013.
Aparentemente, houve uma espécie de supervalorização do potencial eleitoral dos protestos. Pior, os partidos que exibiram imagens dos protestos e tentaram capturar o tal "sentimento", demonstraram uma absoluta incompreensão do fenômeno político ocorrido.
O estopim dos grandes protestos foi a reação popular e uma manifestação de repúdio de boa parte da sociedade à repressão e violência policial aos atos públicos organizados pela juventude contra o aumento do preço e a qualidade do transporte público nas grandes cidades.
Posteriormente, outras forças políticas que há tempos desejavam manifestar-se, mas não tinham acúmulo para realizarem grandes protestos, foram de carona. As manifestações se converteram em protestos "self service", onde cada um se servia de uma bandeja de reivindicações e se juntava à massa para reclamar o seu quinhão.
Peneirando o oportunismo político e toda ordem de fenômenos sociais e políticos que se juntaram às jornadas de junho de 2013, podemos dizer que há um desgaste e saturamento da qualidade de vida da vida urbana nas grandes cidades, que existe uma camada da população que não tem na memória outros momentos mais caóticos e problemáticos da nossa história e agora quer e deseja "mais". Que em grande parte dos extratos sociais, não existe mais a obsessão pelo progresso, mas a valorização do bem-estar social e a exigência de serviços públicos de qualidade.
Feito este preâmbulo que de forma nenhuma pretende resolver todas as questões envolvidas nos protestos do ano passado, temos um importante pano de fundo para perceber como o próximo presidente ou presidenta terá imensas dificuldades para administrar as tensões sociais que vão além da composição de uma coalizão partidária que dê conta da maioria no Congresso Nacional e garanta a "governabilidade".
Caso Dilma se reeleja, será por uma margem muito estreita. 
Com o desgaste natural de um partido que caminha para seu quarto mandato. Com uma parte da sociedade que anseia por mudanças e renovação política, mas que não encontrou neste momento a segurança para votar nos candidatos de oposição. Sem o apoio e a aprovação de grande parte das classes médias urbanas que demonstram rejeitar o PT quase que cegamente. E por fim, com sua própria base de apoio na sociedade civil impaciente e em parte descontente com seu último mandato, clamando por posições firmes e de ruptura com o projeto neoliberal, já devidamente representado pelo PSDB.
Se Aécio Neves vencer as eleições, também será por margem muito estreita. Eleito majoritariamente pelas classes médias das grandes cidades do centro-sul, mas sem apoio nos movimentos sociais, sindicatos e entidades de classe. 
Aécio já antecipou que seu Ministro da Fazenda seria o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga. Espera-se a cartilha que todos conhecem. Um duro ajuste fiscal, corte de gastos públicos, queda nos investimentos do Estado, controle da inflação com queda no consumo e na atividade econômica. Difícil não supor que haverá retração no mercado interno e consequente aumento no desemprego. A inflação deve voltar para o centro da meta. Os tucanos entregarão o seu pacote. O mercado financeiro deve ficar mais satisfeito e momentaneamente mais confiante e seguro, até que todo o sangue tenha sido chupado e uma nova e mais violenta crise de confiança se avizinhe.
Aécio deve mexer em questões delicadas como o controle do Estado sobre o preço da gasolina, o papel dos bancos públicos, a Petrobras, o câmbio e a independência do Banco Central.
Passada a calmaria muito breve por sua chegada no Planalto, não há como acreditar que para a implantação de sua agenda não haja um elevado nível de tensão social.
Soma-se aos movimentos sociais que já estão nas ruas em protestos, as entidades lideradas pelo PT e seus aliados, que ainda não colocaram o bloco na rua para preservar o projeto político principal e estratégico.
Para além de todo este cenário, Aécio teria que conviver também com o "fantasma" de Lula, que certamente seria invocado para as próximas eleições.
A fim de "exorcizar" Lula, Aécio poderia recair em outro desgaste, que seria uma espécie de caça às bruxas, tentando dinamitar o PT dentro do governo. Pior ainda, poderia propor, como tem falado, o fim da reeleição, mas em contrapartida uma mudança para o Parlamentarismo, o que afastaria a possibilidade de Lula voltar nos braços do povo.
A sociedade está dividida. A polarização não é somente partidária, mas de visões distintas referentes ao papel do Estado na sociedade e com relação aos direitos humanos e civis.
Talvez - somente talvez - estejamos prestes a presenciar a ruptura da cultura de conciliação política, onde no final todos ficam amigos e evitam grandes traumas.
Quem aprendeu a ser livre, não quer mais ser subjugado. Quem apreciou um suculento bife não quer comer farinha seca.
Seja quem for que ganhar as eleições no fim do mês terá que lidar não somente com a economia, o que todos discutem neste momento, mas com a política. Não deverá se concentrar apenas na construção da maioria no Congresso, mas também lidar com os estresses e transformações em nossa sociedade.

Um comentário:

  1. Porventura caro blogueiro o governo Dilma nao esta seguindo a risca o modelo proposto pelo PSDB,so que com muitas imperfeiçoes,pois como ja e sabido os comunistas nao sabem o que é mercado.

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