quinta-feira, 12 de março de 2015

Os Perigos da Histeria Política Coletiva





Alguns dos momentos mais terríveis e tenebrosos da história foram precedidos de surtos de histeria política coletiva.

É só olhar com atenção e perceber como as epidemias de certezas são recorrentemente capturadas por forças políticas interessadas em fazer triunfar interesses inconfessáveis que só podem ser conquistados num ambiente de comoção e confusão generalizada.

Poucos parecem interessados em análises estruturais e raciocínio estratégico sobre o futuro do Brasil e o fortalecimento da nossa república, ainda em construção.

Estão todos com tochas nas mãos e espadas em punho, babando de ódio e fazendo política com o fígado. Colocando em prova todo o nosso analfabetismo político e as raízes sociais mais profundas do nosso subdesenvolvimento.

Emergem na nossa cara, como que em um pastiche remodelado em um novo figurino, todas as mazelas da nossa construção social. Ao que parece, estão caindo na nossa conta corrente vários cheques pré-datados desde quinhentos anos atrás.

Não há nada de novo. Tudo é velho e conhecido. Vemos desfilar na avenida o bloco do colonialismo, da exploração predatória das nossas riquezas. Os quase quatrocentos anos de escravidão no Brasil e a cultura escravocrata que orienta até hoje a vida mental dos brasileiros. O patriarcalismo. O clientelismo. O patrimonialismo. Todos os ismos sambando com a ponta dos dedos. Obviamente, também a nossa falta de educação (sob todos os aspectos). A construção do nosso capitalismo precarizado, onde a livre iniciativa, a competição, os resultados e as liberdades individuais foram esganados para a conservação dos velhos privilégios.

Talvez, tenhamos os únicos capitalistas do mundo que combatem justamente o fortalecimento do mercado interno. E quem o defende, ainda por cima é chamado de comunista. Vai entender… Mas dá pra entender. O que conta por essas bandas não é o desenvolvimento capitalista, mas a disputa sanguinária por um lugar mais alto na pirâmide. Se o importante para os nossos caboclos fosse a defesa do capitalismo brasileiro, muito provavelmente Getúlio, Juscelino e Lula fossem heróis das classes médias urbanas e não figuras amaldiçoadas, cada um em seu tempo.

A mobilidade social, num primeiro momento provoca o sentimento de euforia. Porém, imediatamente depois, surge o desejo de conservação do status adquirido. As novas classes médias não são mais potencialmente reacionárias. Agora elas são reacionárias de fato! Seja em 1954, em 1964 ou em 2015. Assim são por formação e por necessidade de sobrevivência. A memória de pobreza é pavorosa e terrível. Cada um se segura como pode.

Neste contexto em que o discurso conservador torna-se uma ferramenta de pertencimento social e as forças políticas populares foram incapazes ou desinteressadas em disputar espaço ideológico, entendendo, conhecendo e participando do cotidiano das pessoas, tudo ficou entregue de mão beijada para as igrejas, mídia ou mesmo para a ignorância “free lancer”.

No pior cenário, o crime organizado também comprou a alma de quem estava marginalizado e sucumbiu às promessas mentirosas desta sociedade baseada no prestígio.

Talvez aí resida um dos erros capitais dos governos populares. A incapacidade de reorientar os valores desta sociedade baseada no prestígio. E, honestamente, nem sei se isso seria possível, já que estamos todos submetidos ao triunfo global do neoliberalismo. Daí dá pra perceber que não é sem motivo o discurso contundente e as preocupações corajosas do Papa Francisco.

Os cachorros loucos estão todos soltos nas ruas. Muito difícil argumentar, debater e discutir sem o risco de tomar uma mordida e ficar raivoso também.

É mentira que a questão principal seja a corrupção. Não é! Também é mentira que seja a política econômica. Nem de longe este é o pior momento da nossa economia. A agenda econômica do segundo governo da Dilma é, em grande parte, a mesma defendida por seus adversários. A presidenta afaga quem a quer ver estrangulada. Isso simplesmente não funciona. Nem no resultado político, nem no resultado econômico.

O que vemos de fato é uma camada da sociedade que não se sente representada pelo governo do PT e que no pano de fundo quer se enxergar mais branca do que realmente é.

Não importa que ao fim todos os corruptos e cafajestes do Brasil sejam perdoados e absolvidos. O negócio agora é derrubar o PT e no dia seguinte ao “tão esperado” impeachment de Dilma, condenar à forca quem estiver na órbita de Lula.

E para a massa histérica e perfumada, tanto faz se para isso tivermos que vender a alma para o diabo condenando o futuro do Brasil. Recordo-me que tempos atrás alguns revoltados cibernéticos enviaram um “pedido de socorro” aos Estados Unidos da América. Muito provavelmente este pedido tenha sido escutado.

Obama dedicou todo seu primeiro governo para se livrar da agenda política internacional de W. Bush. O ex-presidente era um elefante numa loja de cristais. Naufragou com a ALCA. Passou seu mandato nas areias movediças do Oriente Médio. Não por acaso a América Latina conseguiu consagrar avanços na década passada.

Qualquer um que acompanhe com algum nível de atenção o noticiário internacional irá perceber que o inimigo central dos EUA no atual momento são os BRICS.

Para cada guerra há um tipo de arma. Em terras brasileiras temos algo mais devastador do que bombas, terremotos, vulcões e maremotos. Nossa elite perversa não está disposta a dividir nada. E não se importa em entregar de mão beijada nosso petróleo e nossas riquezas que poderiam significar um futuro de prosperidade e justiça social, justamente o que esta elite não quer.

Os revoltados de hoje serão os ressentidos de amanhã. Ninguém vai perder mais com a confusão que se anuncia do que a própria classe média. Mas não adianta falar com quem não quer escutar. Muita gente acreditou naquela história do “nós contra eles”. E pior, sem pestanejar, muita gente foi correndo pro lado “deles”, sem presumir que no final das contas, seremos todos nós que vamos pagar com o nosso futuro.

3 comentários:

  1. Rafa, cancelei o facebook mas estou sempre aqui lendo se blog que amo. Beijos.

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  2. Gi, quando quiser manter contato é só mandar um email. Obrigado por tudo. Bj 25brasil@gmail.com

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    1. Oba! Sempre vou querer contato com pessoas maravilhas.

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