sexta-feira, 25 de julho de 2014

Estaria o Santander ameaçando um golpe especulativo patrocinado pelos bancos?


Estaria o Santander ameaçando um golpe especulativo patrocinado pelos bancos?

 

Como diria o velho poeta, perguntar não ofende.

O comunicado do Banco Santander aos seus clientes, desenhando um cenário de desastre econômico caso a candidatura à reeleição da presidenta Dilma tenha êxito permite sim que a sociedade faça esse tipo de questionamento.

Diziam ser somente discurso de militantes de esquerda, quando se afirmava que os bancos tramavam contra a república, patrocinavam grupos políticos e faziam lobby para manter um Estado de joelho que sirva apenas para garantir seus interesses e lucros vertiginosos, em prejuízo de todo setor produtivo nacional e os investimentos tão necessários para a promoção da justiça social. O documento do Banco Santander aos seus clientes deixa tudo muito nítido.

Claro que uma parcela da sociedade ficou delirante com a ameaça que tem pitadas sutis de chantagem, proferida pelo Santander. Para alguns, importante mesmo é tirar o PT do governo. Para isso, vale o empurrão do Santander, do governo genocida de Israel ou até mesmo do tinhoso.

Poderíamos elaborar uma lista extensa com os erros políticos e gerenciais do Governo Federal, desde a posse de Lula em 2003. Talvez o maior deles seja justamente manter a política de juros que garante os maiores lucros do planeta que aumenta a riqueza justamente de seus conspiradores.

É compreensível que depois de 13 anos de governo, os eleitores tenham seus motivos para desejarem uma renovação. Porém, aqueles que são motivados pelo ódio puro e simples ao PT deveriam perceber que seriam responsáveis por entregar a nação aos seus principais algozes.

São os bancos que tornam a vida da classe média um inferno. Os impostos pagos dolorosamente pelo setor produtivo nacional, ao contrário do que se imagina, não serve somente para custear os programas sociais. O programa Bolsa Família custa cerca de 20 bilhões por ano ao Governo Federal. Enquanto isso, o país gasta com pagamento de juros aos credores cerca de 250 bilhões de reais.

Claro que o país deve honrar suas dívidas contraídas ao longo dos anos. Mas lembre-se que é o próprio governo que estabelece a taxa básica de juros. Não precisaria pagar tanto.

Além de gastar a maior parte de sua riqueza com o pagamento de juros, o setor produtivo fica gravemente comprometido. Vale muito mais à pena, para os grandes rentistas, manter o dinheiro aplicado do que investir na produção que pode favorecer o desenvolvimento do Brasil.

O Brasil deixa ainda de investir 99 bilhões para cumprir as metas do superávit primário, que na prática é a economia que o país faz para garantir o pagamento da dívida com os banqueiros.

Desde as eleições de 2012, o PT já havia publicado um documento em que prometia cumprir os acordos financeiros e os pilares que sustentavam a economia.

As ameaças proferidas pelo Santander não são novidade. Depois de Lula ter sido eleito, o cenário foi justamente este da carta do banco aos clientes, com juros nas alturas, queda vertiginosa do IBOVESPA e desvalorização do câmbio, com a moeda americana batendo recordes.

Ao assumir a presidência e depois no seu segundo mandato, Lula cumpriu os acordos e o tripé econômico que “sustenta” nossa economia. Dilma também manteve, ainda que tenha feito uma tentativa nos primeiros anos de governo para redução dos juros.

Ainda que os bancos tenham garantido seus lucros, isso não foi o suficiente para acalmar a sede de sangue dos banqueiros. Eles não exigem outra coisa senão a submissão completa do Brasil.

A independência com que o Brasil vem conduzindo sua política externa e o tratamento que o país vem recebendo dos Estados Unidos da América nos dão uma boa pista de como as coisas estão se desenrolando.

A tentativa é “venezuelar” o Brasil!

E o comunicado do Santander confirma que estamos sob a ameaça de um golpe especulativo para desestabilizar um eventual segundo governo de Dilma.

Aos nostálgicos de 1964 vale à pena lembrar que nossa sociedade não é mais a mesma. A população não depende mais de intermediadores outrora chamados de “formadores de opinião”. Mesmo a imprensa brasileira tendo convertido suas publicações em folhetins de oposição não obtém mais a mesma inflexão sobre o comportamento do eleitorado.

Os golpistas de plantão partem de um princípio tolo de que eles teriam o monopólio da violência.

A democracia no Brasil, com todos os percalços, é um grande exemplo de sucesso. Melhoramos em todos os indicadores e índices em todos os aspectos, principalmente os sociais.

Este é efetivamente um país diferente. Mesmo em nossos problemas, pagamos um preço pela democracia. Talvez um preço alto demais. Transtornos e decepções. Mas a democracia é sim um valor que devemos preservar, principalmente denunciando as violações que presenciamos quotidianamente.

Nossas elites talvez não tenham entendido que decisivamente as velhas hierarquias já foram quebradas. Um povo que se acostumou a ser livre não mais aceitará ser subjugado.

Existem outros atores no jogo. Homens e mulheres que possuem uma força que os velhos magnatas ainda subestimam. Lembrem-se disso antes de lançar o Brasil numa guerra de irmãos contra irmãos.

Muito provavelmente o Santander prefira que tenhamos aqui um governo igual ao de sua matriz na Espanha. Um país sob intervenção dos bancos, com um mercado interno aniquilado e com quase um terço da população desempregada. Isso o Brasil não quer mais, pois experimentamos nos anos de FHC. Não à toa ele seja tão rejeitado pelo eleitorado brasileiro.

Da Espanha queremos seu Estado de proteção social, serviços públicos de qualidade, uma classe média ampla. Tudo aquilo que o povo espanhol conquistou às duras penas e vocês destruíram com sua política neoliberal.

Seria bom o Santander esclarecer quais os seus planos políticos para o Brasil. Quem sabe não seja a hora de nacionalizar este banco estrangeiro que trata tão mal os seus clientes.

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