quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A Importância da Democracia Corinthiana





A Democracia Corinthiana foi a aventura histórica mais fantástica de todos os tempos. Uma experiência incrível que possibilitou ao torcedor comum compreender, a partir do interesse pelo futebol e sua paixão avassaladora pelo Corinthians, o valor deste sonho louco chamado liberdade. Que perder sendo livre é muito mais valioso do que uma vitória mentirosa baseada na servidão. Ganhar ou perder, mas sempre com Democracia!

O Corinthians é uma janela encantada por onde milhões de brasileiros entendem a vida. Aqui se vivenciam experiências definitivas como o desejo de vencer, a estratégia, a superação, a garra, a derrota, a injustiça, o ganhar e perder coletivo, a importância da organização, o poder das massas, a fantástica possibilidade que o Corinthians nos dá de, ao mesmo tempo, sermos o fragmento de um todo e também de nos tornarmos agentes protagonistas das transformações históricas.

Depois de um grande jogo, nada mais é como outrora. A roda da história não para de girar. Na sociedade acontece exatamente o mesmo. Da mesma forma que jogamos o jogo junto com o Corinthians e temos a certeza que influenciamos diretamente no resultado da partida, somos agentes decisivos para superar os mais terríveis adversários e fazer do mundo um lugar mais justo, humano, livre, em que todos os irmãos, maloqueiros e sofredores, possam ter a chance de vencer, educando seus filhos e construindo um país que possa um dia significar para o mundo o que o Corinthians significa para o futebol, ou seja, não apenas uma potência conquistadora, mas um elemento que permite elevar a experiência humana a valorizar a diversidade, a solidariedade, a plena satisfação que só pode ser alcançada com a felicidade compartilhada e a certeza de que mesmo sendo diferentes, certamente somos mais fortes unidos e em harmonia.

Os mais jovens talvez não saibam o que era o Corinthians antes da “Democracia”. Esse Corinthians vencedor que conhecemos hoje, bi-campeão do mundo, certamente foi em grande parte forjado no período da Democracia Corinthiana.

A “Democracia” ensinou ao Corinthians um novo jeito de jogar. Organizou e disciplinou nossos impulsos e a nossa euforia. É preciso que se diga, a “Democracia” ensinou também ao torcedor um outro jeito de torcer. A sermos cirúrgicos, pacientes, decisivos. A entendermos também um pouco mais de estratégia.

Quando se tenta reduzir a importância da “Democracia Corinthiana”, que vai muito além de um modelo institucional de “auto-gestão”, algo que por si só já provoca arrepios nas mentes conservadoras, certamente se revela a incompreensão, o alcance, a força e até o temor dessas duas palavras:

Democracia e Corinthians!

Nas nossas vilas e favelas. No lado B desta São Paulo tão “da hora” e tão injusta, certamente não poderá haver Democracia sem o Corinthians para conferir às liberdades um valor afetivo e pedagógico para a vida da gente.

Da mesma forma não podemos mais pensar um Corinthians Grande sem este importantíssimo e necessário valor chamado Democracia!

Corinthians e Democracia. Juntas, essas duas palavras se completam. Oferecem um sentido mágico uma à outra. Conferem uma incrível força capaz de mover o planeta!

Mas e os desafios de hoje? Será que a Democracia Corinthiana deve ser apenas uma experiência histórica do passado?

É evidente que não. A democracia continua sendo frágil, muitas vezes distante da vida das pessoas mais pobres, permanece em perigo e sobre ataque.

Nos dias atuais, não são somente as ditaduras e a violência de Estado que ameaçam a liberdade. Os desafios são diversos e os inimigos difusos. É muito mais difícil perceber quem é efetivamente o adversário a ser batido.

O Corinthians se insere na globalização forte, ameaçador e é bem verdade, sem muita certeza de todos os caminhos que deve percorrer. Da mesma forma que se intrometeu nesse esporte da oligarquia em seus primeiros anos. Tentando se estabelecer e triunfar, sem abrir mão de sua identidade.

Neste momento estou estudando as primeiras atas e estatutos do Sport Club Corinthians Paulista. O período é de 1913 a 1915. Estes documentos foram um presente do historiador Plínio Labriola Negreiros. Tais cópias foram conseguidas por ele em sua pesquisa de mestrado, ainda no início dos anos 90.

Lá, fica evidente desde o nosso surgimento, a preocupação com os instrumentos democráticos.

O direito a voz e voto já era garantido para todos os associados. O capitão do time era eleito pelos próprios jogadores. Capitão esse que, por sua vez, após eleito por maioria, passava a fazer parte da diretoria, participando das principais decisões do nosso clube. Praticas estas que sequer eram consideradas como possibilidades na sociedade daquele tempo.

A democracia está no nosso DNA! O Corinthians Grande só existe porque a Democracia foi uma condição necessária para que este clube, fundado por operários, se tornasse o Time do Povo, um clube das massas, que pudesse inclusive ser plural e abrigar os pensamentos divergentes, para acolher também as multidões que desconhecem o caráter transformador deste grande movimento chamado Sport Clube Corinthians Paulista.

Esse é o Corinthians, com contradições e diferenças que também fazem parte de sua natureza. Onde conservadores e progressistas estabelecem conflitos que muitas vezes estão também dentro da gente. Assim acontece com cada um de nós. Muitas vezes com dúvidas entre a precaução e a ousadia. Entre a transformação e a estagnação.



Importante saber que a liberdade é condição necessária para nossa existência. E que cada torcedor pode levar dentro de si esta conquista. Este sonho lindo e louco chamado Democracia Corinthiana!

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