quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O Populismo e o "NORMAL"





Dá-se o nome de populismo a toda e qualquer aliança política, que não sejam as regulares com as elites e a alta burguesia.

São chamadas de populistas as lideranças políticas que estabelecem canais e mecanismos de comunicação com diferentes camadas da sociedade, sem o intermédio dos grandes meios de comunicação "eleitos" para estabelecer tais contatos, construindo e organizando os discursos e agendas das elites, para com as grandes massas.

O que não é populismo é o "normal".

O "normal" é o que está naturalizado como "o estado das coisas". O "normal" é o que se fez entender como a "realidade". O "mundo em que vivemos". Aquilo que se considera "maduro", "razoável" e "comum" (desculpem o excesso de aspas). O "normal" é aquilo que se pode vestir. O "normal" é o que se pode falar numa roda de conversa com cavalheiros brancos ou senhoras de família. É aquilo que pode ser dito sem que ninguém da facul te considere um adorador do discurso populista.

Lutar contra a fome e a miséria, quando não coisa de comunista, é considerado mecanismo de cooptação política dos pobres por meio de auxílios, subvensões e ajuda indevida, mobilizando as capacidades políticas das massas de desvalidos, através de banalidades (como um prato de comida), tirando proveito político e mudando a normalidade da correlação de forças. É populismo. O "normal" é que existam famintos e miseráveis. Fazer o quê? Triste, porém o "normal".

Garantir (pra valer) que o pobre possa fazer universidade para se tornar um médico é coisa de populista.

Falar de soberania, defesa nacional, desenvolvimento e principalmente independência e liberdade. Deus do céu. Coisa de populista. Defender e fazer política para que as riquezas nacionais sejam utilizadas em favor do bem estar social e do desenvolvimento humano dos irmãos e irmãs que são filhos desse chão. Puta discurso populista. O "normal" é aceitar que somos menores. É naturalizar a lei do mais forte. É assumir que quem tem mais armas e mais poder deve mandar e quem supostamente é mais fraco deve obedecer gostosamente. É considerar normal a barbárie. É ser entreguista. Afinal, é isso que se ouve todos os dias nos telejornais. É isso que as pessoas razoáveis e inteligentes entendem. Falar algo que seja diferente desta convenção de aceitação é populismo.

Defender auditoria na dívida pública brasileira é populismo. Um discurso terrível que desencoraja os voluntariosos investidores que não suportam o intervencionismo do Estado. Assim como eram populistas aqueles que defendiam, há pouco mais de um século (só um século), o fim da escravidão. Assim como o comércio de escravos era a base de fomento e sustentação da economia nacional, quem hoje, em sã consciência, provocaria a ira de banqueiros e especuladores que sugam setenta por cento da energia produtiva dos brasileiros, sequestrando os Estados, a mídia, a mente dos filósofos de planilha de excel, mas em troca deixam seus capitais pernoitarem em nossas bolsas de valores. Só um populista faria um discurso contra o "normal" que já está estabelecido.

Populista é o Papa Francisco. Que critica o consumismo desenfreado, o neoliberalismo, a cultura do descartável, as guerras santas, o tráfico de armas, o imperialismo. Tudo aquilo que é tão "normal". O Papa é Populista. Mas deixem ele como um sacerdote falando das coisas do céu, enquanto nós aqui na terra continuamos cuidando do "normal". Temendo o surgimento ou o retorno de mais uma liderança "populista". Reproduzindo o discurso "normal" mesmo sem saber. Tentando fazer a política Xóvem, com carinha de prafrentex, se ocupando do que é colateral enquanto o "NORMAL", o SISTEMA, mina nossos instrumentos de solidariedade e nos impede de pensar sobre tudo aquilo que é estrutural. De avançarmos como sociedade.

Afinal de contas, pensar estrategicamente é coisa de político antiquado. Coisa de populista.

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