domingo, 27 de janeiro de 2013

A tragédia anunciada das baladas brasileiras.

Nos dias de hoje, as baladas se tornaram as grandes mediadoras dos encontros sociais.

É o local onde os jovens se encontram.

Onde as pessoas com idades e interesses comuns se aproximam.

No imaginário do jovem, as discotecas ou boates se tornaram um lugar encantado, onde se pode experimentar um sentimento de protagonismo social.

Participar dos acontecimentos e estar atento aos movimentos culturais de juventude.

Se outrora o cenário destes acontecimentos foram os festivais de música popular brasileira ou depois os grandes concertos de rock, nos dias de hoje, as baladas são estes espaços dos grandes eventos.

Mas no interior das baladas se experimenta não apenas diversão e encontros.

Pode-se provar também, como em uma espécie de livre degustação, as verdadeiras mazelas da sociedade brasileira.

Em nenhum outro lugar, o famoso "sabe com quem você está falando" faz tanto sentido.

Os camarotes VIPs, que historicamente existem nos hospitais, universidades e no acesso à justiça, servem de elemento de distinção social, reproduzindo uma hierarquia existente em toda sociedade, transformada em glamour e diversão no cenário das baladas.

A segurança é privatizada e atende os indivíduos com com distinção não disfarçada, atendendo aos interesses sazonais de quem pode mais e chora menos.

Neste triste domingo de janeiro, o Brasil acorda com uma ressaca que vai demorar muito para ser curada. O caso de hoje vai muito além das livres observações sociológicas.

Não serei leviano e antecipar as causas desta tragédia em Santa Maria. Mas é importante dizer que a maioria das baladas brasileiras é uma "bomba relógio".

Principalmente pela ambição desmedida.

Os empresários de casa noturna sabem que o sucesso quase sempre é passageiro. Nenhuma boate passa muito tempo no auge.

Reproduzindo o tipo histórico brasileiro de empreendedor aventureiro, descrito por Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, procuram maximizar ao máximo os lucros durante o período que estiverem "bombando", ou seja, com sucesso de público.

É bem verdade, que boa parte destes empresários agem com senso de responsabilidade e se cercam de todos os cuidados e precauções, cumprindo as legislações locais. Vale lembrar que este tipo de regulação varia de Municipio para Municipio, não havendo legislações nacionais para controlar estas atividades.

Como em todas as áreas de atuação, existem pessoas decentes, mas também existem cretinos e desonestos que corrompem a fiscalização e burlam as normas de segurança.

Não se pode criminalizar os empresários do setor, mas é preciso que o poder público acompanhe de perto o que acontece nestas casas.

Porque existe um potencial danoso muito grande e quando ocorrem tragédias deste tipo, inevitavelmente, o número de mortos e feridos é sempre elevado.

Em Santa Maria, por exemplo, morreram mais pessoas do que em desastres aéreos.

No entanto, uma empresa de aviação cumpre normas de segurança e fiscalização muito mais rígidos do que o dono de uma casa noturna.

O sistema de comandas quase sempre deixa os freqüentadores encarcerados dentro destas verdadeiras armadilhas.

Fora do Brasil dificilmente se encontra o mesmo sistema que obriga os clientes a fazerem enormes filas antes de saírem das casas.

Quase sempre se entrega o dinheiro ao próprio "BarMan" que imediatamente serve o cliente e controla o seu caixa.

Mas aqui, os acessos às rotas de fuga são restringidos ao máximo para evitar os possíveis calotes.

A ordem é alcoolizar ao máximo os clientes - como nas promoções "open bar" ou quando garçonetes vestidas com roupas provocantes convencem os rapazes a comprarem novos drinques - mas se por acaso a situação se tornar indesejável, verdadeiros jagunços cães de guarda agem com a violência que lhes parece necessária para garantir a obediência da boiada.

Muitos casos se violência, incluindo homicídios e lesões corporais se iniciam com as ações exageradas dos seguranças das casas noturnas.

Os clientes ficam retidos no interior das baladas, as vezes por longos períodos, até que a conta seja devidamente paga.

Até que isso ocorra, as portas permanecem trancadas e as pessoas devem esperar obedientemente. Sem pânico nem maiores protestos.

Vale ressaltar, talvez isso em nada tenha a ver com o ocorrido nesta madrugada do Rio Grande do Sul. Porém, serve como um triste aviso para que outras tragédias não ocorram.


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