segunda-feira, 20 de junho de 2011

Blog do Nassif: O risco da bolha dos sites de compra

Segue matéria do brilhante http://www.luisnassif.com.br/

O risco da bolha dos sites de compra
Coluna Econômica - 20/06/2011
Como escrevi outro dia, a última bolha da Internet norte-americana são os chamados sites de compra coletiva, os "groupons".
O modelo do "groupon" é o seguinte:
1. O site vai até o comerciante e compra, digamos, R$ 21.000,00 em promoção. Paga em três prestações: em 5 dias, em 30 e em 60 dias.
2. Em seguida faz a promoção no seu site, incluindo no preço de promoção sua comissão. Recebe à vista dos clientes e roda com parte do dinheiro em até 60 dias.
3. Quita a última prestação com o comerciante e fecha o ciclo. Isso, em tese.
No fundo, trata-se de uma versão moderna da operação chamada de compra de recebíveis". Paga-se na frente o que a empresa irá produzir nos próximos meses.
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Pegou como febre nos Estados Unidos, gerando um negócio altamente inflamável.
O primeiro ponto são os custos de comercialização do "groupon", campanhas caras para atrair o maior número possível de interessados.
Depois, a corrida para evitar "encalhes" de promoção. Se encalhar, consome parte de seu capital de giro.
A receita do “groupon” é função do valor do vale, da parcela de receita que fica com o site e da quantidade de promoções vendidas. Essa quantidade é função, entre outros fatores, do tamanho do desconto. Quanto maior o desconto, maior será o volume negociado.
Por isso mesmo, os vendedores do site são instados a procurar promoções cada vez mais agressivas.
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Ocorre então o fenômeno da seleção adversa. Em princípio, a operação só irá interessar a comerciantes em dificuldades. Há baixa probabilidade de fidelização do cliente atraído por esse tipo de promoção.
Com as condições cada vez mais restritivas do site, acabam entrando apenas as empresas com maiores dificuldades com o sistema bancário.
Está certo que o risco do site é minimizado pelo fato do ciclo de venda ser de apenas 60 dias. Mesmo assim, corre-se o risco de comprar o produto e o comerciante quebrar antes da entrega.
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Os riscos da bolha norte-americana são enormes. Grandes players - como Google e Facebook - estão entrando nesse mercado. Há uma corrida dos "groupons" atuais para formar um estoque de clientes cadastrados e poder vender para os gigantes que chegam.
De certo modo é o que está ocorrendo com o "groupon" Peixe Urbano. O investimento publicitário feito é tipicamente para consolidar uma multidão de usuários e aumentar o valor na hora de vender para um player estrangeiro.
Foi esse movimento que levou Luciano Huk a aproveitar os desastres da região Serrana do Rio para captar clientes - induzindo o público a dar contribuições através de inscrições no site.
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Nessa corrida, pelo menos nos EUA está de abrindo mão da cautela financeira. Eventuais estoques encalhados de promoção acabam sendo cobertos em um efeito corrente da felicidade - os clientes de hoje ajudando a bancar os compromissos de ontem.
Por ser uma atividade não-bancária, estão fora do sistema de supervisão das autoridades.
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Há o risco, então, do desequilíbrio do fluxo de caixa do "groupon", do acúmulo de estoques não vendidos, da não entrega de produtos combinados (da parte dos comerciantes em maior dificuldade).

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