segunda-feira, 6 de junho de 2011

Cai no Peru um dos últimos bastiões do conservadorismo de direita na América Latina


Caiu hoje um dos últimos bastiões do conservadorismo de direita na América Latina.
O Peru elegeu Humala e derrotou Keiko Fujimori.
Não podemos diminuir a importância deste resultado.
De um lado estava um projeto nacionalista, alinhado com os demais governos de perfil neo-desenvolvimentista na América Latina. Com projeto de retomada da participação do Estado na economia como condutor do desenvolvimento, favorecendo o combate à miséria e buscando uma maior equidade social. Projeto este que causa pavor nas elites arcaicas do nosso continente.
No outro corner estava Keiko Baby Fujimori. Filha do demo.
Fujimori foi o neoliberal que todos os outros neoliberais gostariam de ser. Ou pelo menos, depois de avaliarem os novos rumos dos países do continente, entendem que deveriam ter sido. Um ditador.

Nos anos 90, Carlos Menem da Argentina e Fernando Henrique Cardoso no Brasil modificaram os textos de suas constituições para serem autorizados a disputar um segundo mandato. Menem ainda tentou um terceiro, mas a economia já havia naufragado e não reuniu condições políticas para tanto. Mas ambos mantiveram a “grife” constitucional para justificar seus feitos.
Fujimori fez isso na base da força, aproveitando para exterminar os movimentos de resistência guerrilheira no interior do país.
Os governos neoliberais da América Latina adotaram a agenda do Consenso de Washington, promovendo a abertura de seus mercados e destruindo os setores produtivos nacionais. Privatizaram empresas e serviços públicos que foram entregues a preço de banana para empresários financiadores e alinhados com seus projetos políticos locais. Alguns países dolarizaram suas economias, outros supervalorizaram suas moedas de forma que com suas indústrias quebradas, a única saída para a maioria destas nações era a importação de manufaturados dos países do centro. Com o argumento de combater a inflação, enxugaram ao máximo os investimentos públicos e milhões de homens e mulheres ficaram na absoluta miséria.
A imprensa tratava de reproduzir os discursos das elites locais incorporados pelas classes médias urbanas, chamadas de “formadores de opinião”.
Mas e os pobres?
As classes pobres dos países católicos da América do Sul condenados à pobreza eterna, sequer eram atores políticos relevantes. A extrema pobreza estabelecia entre o indivíduo miserável e o proprietário de terra um vínculo pernicioso de dependência econômica que se refletia na adesão eleitoral.
Humala foi eleito no Peru com o voto das regiões mais pobres e com o ódio dos mais ricos que não tiveram pudor de defender o projeto Fujimori. Foi uma grande vitória que deve ser comemorada.
Na Europa, a bancarrota neoliberal tem levado à ascensão das direitas xenofóbicas e racistas. Os povos civilizados têm entendido que o melhor remédio contra as chagas deste sistema econômico falido é eliminar a concorrência com a mão-de-obra escrava estrangeira que se beneficiariam das proteções sociais de seus Estados.

Como não existem ainda condições políticas nem consenso ideológico para destituir do poder os governos neoliberais europeus que levaram seus países, juntamente com os Estados Unidos, à falência de suas economias, as extremas direitas, muito menos dependentes da organização coerente de seu discurso, tira proveito e cresce a olhos vistos, para espanto e temor da comunidade global.
Mas na América Latina foi diferente. As classes pobres, empilhadas nas vilas, favelas, lavouras, moinhos, minas, usinas e terras inférteis passaram a votar segundo uma escolha racional.
Os inconformados vivem dizendo que os pobres votam em troca de um prato de comida.
Mas algum destes faz idéia do que é não ter sequer uma refeição diária?
As classes médias urbanas não têm elegido seus governantes em troca de seu bem-estar? Não escolhem seus candidatos em troca de pontes, estradas ou por um televisor ou automóvel novos?
Os inconformados alegam que os programas de transferência de renda estimulam a vagabundagem.
Será que eles não percebem que são os maiores beneficiados com o aumento do consumo das classes pobres e o incremento de suas economias?
Os salários miseráveis pagos aos trabalhadores não se sustentou historicamente por conta de uma legião de desempregados que para sobreviverem podiam oferecer unicamente sua força de trabalho? A lógica de livre concorrência, de oferta e demanda tão apreciada pelos liberais não se sustenta neste caso?
Por que alguns se ofendem quando um miserável recebe uma bolsa equivalente a US$ 30,00 e eventualmente deixa de aceitar qualquer trabalho, enquanto especuladores e falsos auditores roubaram mais de US$ 1 trilhão, cobertos com dinheiro dos Estados?
Amigas e amigos. Não quero dizer com isso que os governos latino-americanos desta primeira década do novo milênio sejam imunes de erros e críticas. Ao contrário.
O que eu comemoro aqui é a emancipação dos povos. E este caminho não tem volta. Uma vez que se adquire uma nova perspectiva não se retorna mais ao estágio anterior.
Por isso a eleição de Humala, com a derrota de Fujimori foi magnífica.










Um comentário:

  1. 2016 - O Peru elegeu o centrista e banqueiro PPK na eleição mais acirrada de sua história contra Keiko Fujimori, 68% do congresso é fujimorista e vários atos do governo de Humala são investigados.
    Humala não entregou crescimento satisfatório, perdeu diversas oportunidades de fechar parcerias econômicas importantes, não diversificou a economia e aumentou a inflação.
    Típico governo de esquerda destruindo tudo que toca.

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