terça-feira, 28 de junho de 2011

Sociedade do Vale Tudo



Sempre gostei de boxe.

Cresci vendo as lutas do incrível Mike Tyson.

Pra quem não é desta época basta dizer que se fazia reserva em bares e restaurantes para assistir às lutas que muitas vezes terminavam em segundos.

Tyson parecia ser indestrutível e sobre humano.

Certa vez uma turma grande se juntou para ver a luta do século.

Tyson havia estado preso durante anos acusado de estupro e nesse meio tempo emergiu o Evander Hollyfield.

Havia uma percepção geral de que o novo campeão seria o responsável pela desgraça de Tyson, já que Hollyfield foi o maior beneficiário da ausência de Mike Tyson dos ringues.

As pessoas se amontoaram em frente o telão e puderam ver a vingança do animal Mike Tyson que arrancou com os dentes a orelha de seu algoz Hollyfield. Foi uma cena impressionante que jamais esquecerei.

Tyson foi amaldiçoado e sua vingança contra a sociedade americana foi incorporar tudo o que ela mais detesta. Converteu-se ao islamismo e tatuou em seu corpo Mao Tse Tung e Che Guevara. Derreteu seu patrimônio e encarnou a figura do derrotado, antítese do modelo de estereótipo do norte americano “ideal”.

Aqui no Brasil tínhamos o Maguila. Havia até uma música dos Paralamas chamada “Perplexo” que cantava a barra pesada de ser brasileiro subdesenvolvido e dizia em certo momento: “Eu vou lutar, eu vou lutar. Eu sou Maguila não sou Tyson”.

O boxeador Maguila confirmava a afirmação de Euclides da Cunha de que o sertanejo é antes de tudo um forte. Sergipano, era servente de pedreiro e se preparou para lutar na base da superação. Não era técnico. Sua arma era a tijolada que guardava na mão direita.

Mas as pessoas zombavam do pobre Maguila e, num tempo em que ninguém podia pensar em Brasil potência, riam da nossa versão subdesenvolvida de Mike Tyson.

Depois descobrimos que o Mike Tyson não era tão mais inteligente do que o Maguila. A diferença é que aprendeu inglês desde criancinha.

Bom, tudo isso é só pra dizer que sinto saudades dos grandes lutadores de boxe e que não suporto esse tal de Vale Tudo.

Este “esporte” é a síntese do que o capitalismo exige do indivíduo. Na arena não está em questão a honra, a nacionalidade, a personalidade do atleta ou os propósitos do lutador. Luta-se tão somente pelo cachê.

O público não tem paciência para um combate técnico que às vezes termina em empate. Os expectadores exigem o gozo imediato que está diretamente ligado à punição física do oponente. Da destruição do adversário que se coloca entre cada um de nós e a satisfação imediata dos desejos.

E assim tem sido em todas as esferas da vida social. É a cultura do gozo rápido e instantâneo. Aos indivíduos não interessa ostentar técnica, conhecimento, resistência e personalidade. Valorizado é aquele que é mais forte. Que tem mais músculos nos braços ou nos bolsos.

A estes, o deus Capital exige a eliminação e sacrifício de seus oponentes que cobram o convívio social em igualdade com os demais. Algo indesejável nos nossos tempos.

  

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